O Pesadelo escrita por Fenix
Elenco: Aline Machado, Andressa , Bruna Mozzi, Drake Campbell, Freddy Martins, Jonathan Bazanella, Kerry J. Harvey, Narayani Martins e Nathan Torres.
Outubro 1988
Hospital Alpha 15 – Santa Bárbara – Califórnia
Uma mulher está deitada na maca do hospital com um bebe ao seus braços, um homem careca, forte e olhos castanhos, abre a porta com um olhar seco.
- Venha! – Diz a mulher.
O Hélio vai se aproximando devagar, ele encara o bebê.
- É um menino... – Diz Viviane.
- Sabe qual o nome?
- Ele vai se chamar Felipe! – Diz Viviane, em seguida o nina.
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Saindo do hospital em uma cadeira de rodas, Viviane mantém Felipe nos braços e Hélio vai levando-a até o carro. Próximos, Aline; uma jovem loira de pele branca, 10 anos; sai correndo do carro e vai até seus pais.
- Deixa eu vê, deixa eu vê! – Diz a menina, animada.
- Olhe meu anjo – Diz Viviane – Cuidado para não assustá-lo... Esse é seu irmãozinho Felipe.
Aline põe o dedo em sua barriga, Felipe da um sorriso fofo.
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O PESADELO
2002
- FELIPE, DESCE PARA O CAFÉ! – Grita Viviane.
O garoto de agora 14 anos, levanta-se da cama, ele coça os olhos e ergue-se. Ao sair do quarto, encontra Aline no corredor.
- Bom dia! – Ele diz.
Ela revira os olhos e bate a porta do quarto, Felipe da de ombros e desce a escada, seu olhar vaga pela cozinha, observando seus pais.
- Quantas vezes vou ter que dizer? Não posso ficar pagando escola particular – Diz Hélio, nervoso, seu tom de voz está mais alterado – Ele vai ter que se virar, esse filho foi ideia sua... – Hélio bate contra a mesa, assuntando Viviane – Mas que droga!
Felipe vai se aproximando da porta devagar.
- Ele também é seu filho – Diz Viviane, segurando o choro – Imagine ele num colégio público... Não da, não quero isso pra ele...
- Tivesse pensado nisso antes...! Eu nunca quis mais um filho.
- CALA A BOCA! – Grita Viviane, ela olha para Felipe na porta, então vira-se para pia, põe a mão na boca e chora baixinho.
Felipe entra na cozinha, Hélio o observa sentar na mesa, com um olhar amedrontador, Felipe abaixa a cabeça, Viviane põe o prato com pão em sua frente. Com medo, ele levanta o olhar para Hélio, que ainda o confrontava.
- Quando vai cortar o cabelo dele? – Pergunta Hélio – Ta parecendo um viado assim!
- HÉLIO CHEGA! – Grita Viviane.
Felipe continua a comer o pão, ignorando-o.
- Estou avisando – Diz Hélio – Você vai apanhar muito no colégio novo... Vai ser bom... Vai ser muito bom pra você!
Hélio sai da cozinha com seu jornal debaixo do braço. Viviane se aproxima e alisa sua cabeça.
- Calma... Não esquenta não... – Diz Viviane, as lágrimas continuam a escorrerem pelo seu rosto – Vai ficar tudo bem!
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Aline e Felipe estão saindo de casa, ela vai até a mesa de centro da sala, então fica procurando algo.
- Mãe... Mãe – Aline a chamava – Mãe!
- O que foi? – Pergunta Viviane, entrando na sala.
- Onde está a escova? – Pergunta Aline.
- Não sei! – Diz Viviane – Pergunta ao seu irmão.
Aline olha para ele com raiva e vai se aproximando.
- Onde está?
- E-eu não sei... – Ele responde.
- QUE DROGA! – Grita Aline – VOCÊ USA E NUNCA SABE ONDE ESTÁ!
Ela sobe a escada com raiva, o ônibus chega, Felipe sai correndo. Entrando no ônibus, ele olha para os alunos da escola pública, todos o encarava como aberração, André; o valentão da escola; estica a perna e o faz cair, Felipe bate com o peito no chão do ônibus, todos começam a rir. Ele fecha os olhos e vai levantando-se, as crianças começam a jogar bolinhas de papel em suas costas. Com um olhar deprimido e solitário, Felipe senta-se no último banco e olha para a janela.
Chegando no colégio, ele desce do ônibus, André joga uma bola de futebol americano, a bola acerta Felipe na barriga, ele cai no chão encolhido. André e mais três garotos vão correndo até ele.
- E como você está idiota? – Pergunta André, agachado em frente a ele – Está doendo?
Felipe fica de peito pro chão e tenta se levantar.
- É um gay – Diz André, rindo, ele levanta e pisa nas costas de Felipe – Só pra ficar atento!
Ele se afasta com seus amigos, Felipe olha para o lado, encarando-o com raiva. Logo consegue se levantar, ele caminha para a entrada do colégio, vai até seu armário e o abre, assim que o fecha, André passa por ele lhe da um tapa na cabeça, Felipe fecha os olhos, aturando todos os maus tratos.
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De noite, Felipe está no quarto em frente ao seu computador quando Aline abre a porta de repente.
- SEU IDIOTA! – Ela lhe acerta um tapa no rosto.
Felipe é lançado no chão, Aline está chorando desesperadamente.
- EU TE ODEIO – Grita Aline.
Viviane e Hélio chegam correndo.
- O que está havendo? – Pergunta Viviane, assustada, vendo Felipe no chão com a mão no rosto.
- ESSE IDIOTA FALOU PRO GABRIEL QUE EU FIQUEI COM OUTROS CARAS – Grita Aline, enfurecida.
- Eu não disse Aline – Diz Felipe – Eu juro!
- AAAAHHHHH EU TE ODEIO, QUERO QUE VOCÊ MORRA – Ela grita.
- PARAA! – Grita Viviane – CHEGA!
Viviane tira Aline do quarto, Hélio segura o braço de Felipe e o levanta brutalmente.
- Olha aqui – Diz Hélio, apertando seu braço – Amanhã seus primos vem pra cá, quero que se comporte, para pelo menos parecer normal!
Hélio o joga na cama, Felipe olha para ele com seus olhos cheios de lágrimas.
- Eu sou normal! – Diz Felipe.
- Não... O Freddy é normal, o Freddy é um ano mais jovem que você e já tem uma namorada, e você ai... Sem ninguém, você me da desgosto... – Diz Hélio.
- Você também não é o melhor pai do mundo – Diz Felipe.
Hélio aproxima-se e lança um tapa em seu rosto, a marca de seus dedos ficam na bochecha de Felipe.
- Quem me dera ter um filho igual ao Freddy – Diz Hélio, em seguida sai do quarto.
Felipe fica encolhido, chorando.
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No dia seguinte, todos estão no quintal preparando a mesa, Hélio está na churrasqueira, Aline chega com os pratos nas mãos, Felipe os observa da janela do quarto.
- Ainda faltam os copos – Diz Viviane.
- Deixa que eu pego – Diz Aline, voltando para dentro da casa.
Felipe olha para o lado, aquela expressão de menino inocente, havia saído, seus olhos eram frios, sérios, Felipe parecia que não tinha mais nada de bom, a dor e o ódio havia consumido toda sua alma.
Hélio põe a carne na grelha e vai até Viviane, ele a segura pela cintura e a gira.
- Ui! – Diz Viviane, ela da um sorriso.
- Eu estava pensando... O que acha de colocá-lo num orfanato? – Pergunta Hélio, ele a beija.
- O que?
- O Felipe... Pelo menos até a nossa família se estabelecer.
- Nossa família já está estabelecida, eu... Eu não to acreditando!
- Pense nisso.
Hélio a solta e vai até a churrasqueira, Viviane fica abismada, ela o encara com seus olhos arregalados.
- Quer ajuda? – Felipe assusta Aline, que estava de costas para a porta.
- Não preciso – Diz Aline, friamente.
Ele se aproxima.
- Eu quero te ajudar – Diz Felipe.
- Já disse que não precisa, agora sai daqui – Diz Aline, ela sobe na escada para pega os copos no armário.
- Eu sinto muito – Diz Felipe – Não queria te chatear.
- Sai daqui garoto! – Diz Aline – Você é repugnante! – Sua atenção está total para dentro do armário.
Aline pega um copo e o põe na pia, ela ergue-se e pega outro, Felipe fica ao seu lado, ela estica a mão para baixo.
- Eu te ajudo – Ele segura sua mão e a puxa.
- NÃÃÃOO – Grita Aline, ela pisa em falso e seu corpo cai para trás.
Aline bate de costas no chão, o copo quebra em sua mão, os cacos ficam fincados em sua carne.
- AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH – Grita Aline, com a mão sangrando e sem conseguir se levantar.
Viviane olha para Hélio rapidamente, eles arregalam os olhos e vão correndo para dentro da casa.
- ALINE – Grita Viviane, entrando correndo.
Logo depara-se com Aline no chão de costas, ela segurava seu punho, o sangue escorre com frequência, sua mão não podia ser fechada, três cacos grossos de vidro estão fincados nela, Viviane olha para o canto e avista Felipe, parado, sem qualquer emoção.
- Ai meu deus – Ela corre até Aline e lhe ajuda a levantar.
- AAAHHHHHH – Grita Aline, ao mexer a mão um pouco.
- Calma, calma meu anjo, calma – Diz Viviane, nervosa.
- O que você fez? – Pergunta Hélio, para Felipe.
- Eu só queria ajudar – Diz Felipe.
Hélio caminha até ele e o estapeia no rosto de um modo tão forte, que chega a estalar. Felipe cai no chão.
- OLHE QUE VOCÊ FEZ – Grita Hélio.
- Precisamos levá-la para o hospital – Diz Viviane, com sua mão debaixo a da Aline.
- Eu a levo, você fique aqui caso a Cláudia chegue – Diz Hélio.
Aline não para de chorar.
- Rápido, ela está perdendo muito sangue – Diz Viviane, chorando.
Hélio pega a chave do carro na bancada e vai com Aline até a porta da sala. Viviane olha para Felipe, ele estica a mão, para ela lhe ajudar, Viviane respira fundo, fecha os olhos e vira o rosto, Felipe arregala os olhos, ela vai para o quintal. Viviane põe a mão na boca e começa a chorar mais ainda.
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O médico remove o último caco da mão de Aline, ela fecha os olhos com muita dor, o sangue sai rapidamente.
- Ela vai ficar bem? – Pergunta Hélio.
- Vai sim, só vai precisar de pontos – Diz Jake, ele pega uma agulha.
- O que? – Aline fica assustada – Não! Pai, por favor!
- Pode continuar – Diz Hélio.
Aline chorava horrores, seu nariz está vermelho, seus olhos inchados, suas pernas encolhiam e esticavam toda hora. Jake passa a agulha furando sua pele.
- AAAAAAAAAAHHHHHHHHHH – Grita Aline, sentindo uma dor insuportável.
Jake puxa a linha, a pele se fecha, Aline não consegue parar de gritar, o sangue vai passando pelo lado aberto, a mão de Aline está toda ensanguentada. Jake puxa o ponto mais uma vez, ela da um grito.
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Momentos mais tarde, Hélio e Aline estão voltando pra casa, ela com sua mão toda enfaixada.
- Aquele moleque... Não será possível – Diz Hélio – Freddy não faria isso, eu duvido!
- Freddy é um idiota – Diz Aline, encostando sua cabeça no vidro.
- É, mas acontece que é mais esperto que seu irmão, que só pensa em computador – Diz Hélio – É um retardado que só fica vendo filmes pela internet.
Aline respira fundo.
- É por isso que temos que nos livrar dele – Diz Hélio.
- Como é?! – Aline olha para ele naquele instante.
- Falei com a sua mãe... Achei um orfanato para ele na outra cidade – Diz Hélio – Fica em São Francisco!
- Ca-calma ae... Pai, ele só... Tudo bem, ele pisa na bola várias vezes, mas ele é seu filho – Diz Aline.
- Dane-se... – Diz Hélio – Será o melhor para nossa família!
Viviane recebe os familiares em casa, Felipe fica na escada os observando com um olhar frio.
- Aquele garoto só nos trás problemas... – Diz Hélio.
Viviane o chama, Felipe desce a escada e aproxima de seus primos gêmeos, Narayani e Freddy.
- Ele precisa de uma boa lição – Diz Hélio.
Felipe encara Freddy com um olhar esquisito, Freddy o cumprimenta, Narayani o abraça e sorrir para ele.
- PAI CUIDADO! – Grita Aline, olhando para frente.
Hélio freia abruptamente, um caminhão passa em frente ao carro buzinando.
- Ai meu deus – Diz Aline, ofegante – O sinal... Estava vermelho!
- Droga! – Diz Hélio, batendo no volante – Esse garoto ainda vai matar a gente.
Hélio acelera com o carro.
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Viviane está com sua irmã Cláudia no quintal, elas tomam suco de laranja e conversam animadas.
- Então, onde está Hélio? – Pergunta Cláudia.
- Ele foi levar a Aline no hospital, ela cortou a mão na faca – Diz Viviane.
- Hmm... E Felipe, porque ele não desce aqui para brincar com o Freddy e a Narayani?
- É bom deixar ele lá em cima, daqui apouco ele desce – Diz Viviane – a Tammy virá?
- Ah sim, o Paulo virá trazê-la – Diz Cláudia.
Felipe está sozinho em seu quarto, Narayani bate na porta, ele levanta seu olhar para ela.
- Felipe? – Pergunta Narayani, ela da passos suaves até ele – Ta tudo bem?
- Meus pais me odeiam – Ele diz.
- Calma – Narayani senta ao seu lado – Vai ficar tudo bem!
Felipe olha para ela.
- Eles não te odeiam – Diz Narayani.
- Odeiam sim! – Diz Felipe, aumentando o tom de voz.
Felipe olha para Narayani e abaixa a cabeça.
- Desculpa!
- Ta tudo bem! – Ela diz – Você não quer brincar? Vamos... Eu brinco do que você quiser!
- Eu só quero ficar sozinho – Diz Felipe.
- Tudo bem... Qualquer coisa pode brincar comigo e com o Freddy – Diz Narayani.
- Ta bem!
Ela sai do quarto, Felipe da um sorriso de canto suave.
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- Olha quem chegou – Diz Cláudia, saudando Aline.
Ela vai até sua tia e a abraça.
- Que bom te vê amor – Diz Cláudia – Sua mãe me contou da mão...
- É, pois é... – Diz Aline.
- Vai ficar tudo bem – Diz Cláudia.
Aline acentua com a cabeça e senta na mesa de madeira, ela olha cima, em direção a janela do quarto de Felipe, ela o observa olhando para eles no quintal, Aline abaixa a cabeça.
Hélio leva Viviane até a sala puxando-a pela mão.
- O que foi? – Pergunta Viviane.
- Eu liguei para eles, virão buscá-lo amanhã pela manhã – Diz Hélio.
- Você fez o que? – Viviane fica impressionada.
Felipe vai descendo a escada quando ouve seus pais conversando, ele para de andar e fica encostado a parede apenas ouvindo.
- É o melhor para todos – Diz Hélio – Não podemos tê-lo aqui em casa, aquele garoto não é meu filho.
Felipe fecha a mão com raiva.
- E é assim que você resolve as coisas? – Diz Viviane – Não, não isso ta errado, ta errado!
- Meu amor – Diz Hélio, ele a segura pelos ombros – Acorda! Ele não é normal... Ele é só um garoto retardado que vai dar problemas pra gente no futuro... Olha isso, a família dele está aqui e ele não fala com ninguém, age com se todos fossem estranhos.
- Talvez... – Diz Viviane.
- Não podemos arriscar a vida da nossa filha – Diz Hélio.
- Foi um acidente – Diz Viviane.
- Não foi o que ela disse pra mim – Diz Hélio.
Viviane olha para ele com os olhos se enchendo de lágrimas.
- O que?
- Ela disse que ele a empurrou e a fez cair, ele causou todo o acidente... Deus me livre guarde, mas ele pode ter tentado matá-la!
- O nosso filho?... Hélio... – Diz Viviane, chorando.
Felipe trinca os dentes com muita raiva.
- Ele não é igual ao Freddy ou a quaisquer outros garotos... Ir para o orfanato, será o melhor para ele!
- É... E-eu acho que sim! – Diz Viviane.
Felipe respira fundo e volta para o quarto.
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