Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 7
Capítulo 7 - Perturbação


Notas iniciais do capítulo

Eu escrevo romances há muito tempo, e, creiam é um esforço muito grande manter meu "pote de mel" longe desta história. Eu sei que ela pode parecer meio arrasta e sem propósito, tipo sem relação com a sinopse... Mas acreditem que tudo se explica por isso no decorrer dos capítulos.
E agora realmente as coisas começam a ficar mais claras, já que Mr. Holmes está de volta a casa, ao lado de seu inseparável Dr. Watson.
Mas será mesmo que tudo está como antes?



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Quando voltou para o apartamento tinha certeza que ia encontrá-lo vazio. Vazio não. Estaria marcado, repleto de lembranças. Por que é que as coisas tinham que ser daquele jeito? "Você vai acabar de machucando" Era a voz de Mycroft. Agitou as mãos acima da cabeça tentando afastar aquela lembrança. Não era hora de ficar lembrando os conselhos do irmão. Riu. Era engraçado que fosse como fosse não conseguia ver Mycroft de outro modo. Ele era seu irmão, o outro não!

Era simples, não era? Não! Aquela droga toda não tinha nada de simples. Acendeu um cigarro a dois passos da porta de entrada do edifício. Passou pela entrada e voltou. Afinal, o que estava tentando evitar? Ela mesma vivera cinco anos em outro país, por que parecia tão difícil assim encarar que ele não estaria lá quando subisse? Ergueu a cabeça decidida, mas o seu telefone vibrou no bolso do casaco. Franziu a testa.

"Eu ainda estou aqui, SH"

Torceu os lábios. O que significava aquilo? Subiu sem se importar em ter um cigarro acesso entre os dedos. Sequer se preocupou em olhar a caixa de correio. Tinha sido muito clara, não tinha? Então por que é que as coisas estavam dando tão errado? Ia bater, mas percebeu a porta entreaberta. Ele devia colocar uma banca de adivinhação na esquina, daria um bom dinheiro! Entrou.

– Aí está! – ele disparou no mesmo instante em que ela entrou.

– Desculpe Mildred, eu... – iniciou John, mas ela não ouviu, passou diretamente por ele, com a testa duramente franzida.

– Posso saber o que você ainda faz aqui? – encarando o detetive.

– Pergunte a John! – disse serenamente. Mildred desviou o olhar furioso para o médico.

– Pensei que seria mais apropriado se conversássemos... – agora parecia uma má idéia.

– Oh! John! – suspirou. – Você é mesmo adorável! – tirando o casaco e parecendo bem mais tranqüila. – Mas deveria saber que essa criatura não se preocupa com esse tipo de expediente...

– Honestamente, eu queria conversar. – atravessou Sherlock. John e Mildred o olharam espantados.

– Colocou alguma coisa no chá depois que eu saí? – ela sussurrou. John sacudiu a cabeça. – Você tomou alguma droga alucinógena? – dirigindo-se ao outro.

– Como sempre, muito irreverente! – devolveu oferecendo a ela uma xícara.

– John... Tem certeza que ele não pôs nenhum veneno aqui? – espichando-se.

– Deus! Não! Eu espero que não! – achando graça.

John precisava admitir, aquele sorriso no rosto de Sherlock não era comum. Durante toda a tarde estiveram falando sobre Lestrade, Sra. Hudson, Mycroft e algumas das aventuras do detetive em seu exílio, mas em nenhum momento, mesmo nos mais divertidos ele viu aquele sorriso. Era nitidamente diferente! Procurou obter alguma resposta no rosto sóbrio da garota de vestido vermelho, mas não encontrou nada. Ela era um enigma tão complexo quanto seu amigo. A constatação o intrigou ainda mais.

– Deixe de bobagem Mildred! – disparou Sherlock. – Tome seu chá e depois... Poderia me devolver a minha caixa?

– Ah! – resmungou Mildred sorrindo. – Então é isso!

– Você ainda está com ela... – disse o outro erguendo as sobrancelhas.

Era um pequeno jogo particular e John sentiu-se tão desconfortável quanto uma criança que de repente apanha um dos pais saindo do banho. Por que é que tinha a impressão que não devia nem estar vendo, nem ouvindo aquilo?

– Eu pensei que era minha caixa agora... – fazendo um bico como uma criança.

– Está pensando em algum tipo de bruxaria? – revidou Sherlock.

– Vodu! – rindo. – Por que quer a caixa? Só tem coisas de quando éramos crianças lá, não é?

– Minhas coisas de quando éramos crianças, certo?

– Não sei mais Sherlock! – franzindo a testa. – Ficou comigo por tanto tempo...

– Sim! E agora você está aqui e a caixa deve estar aqui também... – estendendo o braço. – Por favor, devolva!

– Ok! – suspirando. – Que coisa mais sem propósito! – resmungou, largando a xícara e caminhando até o seu quarto.

John concentrou-se no amigo por um instante. Havia qualquer coisa de estranho naquela cena. Ele estava com as duas mãos no bolso agora e devia estar imóvel, mas continuava balançando, quase imperceptivelmente, trocando o peso para o calcanhar e para as pontas doas pés. Estava ansioso! John começou a se perguntar o que poderia haver de tão interessante na caixa.

– Coisas... – murmurou o outro.

– Mas o que? – espantando.

– Está curioso com o que há na caixa... – resumiu. – São apenas algumas coisas sem importância...

– Se são coisas sem importância... – murmurou John em voz baixa. – Por que insistiu em reavê-la?

– Por que há uma coisa que não devia estar com ela... – com o olhar fixado na porta do quarto dela.

– E o que seria? – insistiu John curioso.

– Aqui está! – disparou Mildred voltando para a sala com uma pequena caixa de madeira nas mãos. A caixa tinha um cadeado. – Ainda lembra a combinação?

– Nunca descobriu? – ele devolveu sorrindo.

– Se eu tivesse descoberto não estaria devolvendo.

– Hum... – apanhando a caixa com as duas mãos. – Vamos John?

– Ah! Sim! Até logo Mildred! – aproximando-se e cumprimentando-a.

– Use o apelido John... Mild! – sorrindo e dando um beijo na bochecha dele. – Vejo você por aí...

– Até... – disse Sherlock em pé diante dela, enquanto John se dirigia para a porta.

– Até... – ela murmurou de volta e John se voltou um segundo depois.

A única coisa que viu foi Mildred voltando a pôr o peso sobre a sola dos pés depois de parecer estar usando as pontas, com se tivesse se inclinado... E Sherlock dando as costas tão rápido que poderia jurar que ele estava fugindo. O detetive passou por John como uma rajada de vento. Aquilo era uma mancha de batom? John perdeu um segundo olhando outra vez para Mildred que passava o dedão pelo canto da bochecha e lhe acenou. Seguiu o outro que já descia as escadas.

Estar de volta a Baker Street com ele era algo como um sonho! E que ninguém pudesse ler seus pensamentos, por que iam pensar toda a sorte de besteiras possíveis! Sim! Ele estava realmente satisfeito de ter seu melhor amigo de volta! Como não estaria? A satisfação estava estampada em seus olhos, em seu rosto e naquele estúpido sorriso que não conseguia desfazer. Mas o sorriso se fechou sozinho quando, dentro do táxi, ele prestou atenção ao rosto contraído de Sherlock e ao modo como ele segurava a caixa de madeira.

– O que você tem?

– Nostalgia, talvez. – resmungou o outro. John lembrou-se da cena de quando saiam.

– Acho que tem... – apontando para os lábios do outro.

– Hum... – olhando o próprio reflexo na janela do automóvel. – Ela é especialista em deixar marcas... – limpando a ínfima mancha de batom no lábio inferior.

– Ela... – por que ia perguntar o que era óbvio?

– Ela é muito entusiasmada... – respondeu a pergunta mesmo assim. – Difícil sair de um encontro com ela sem uma dessas... – apontando para a bochecha do médico.

John olhou rápido para seu reflexo e viu a marca do batom. Deveria perguntar por que suas marcas estavam em lugares diferentes? Achou que não quando viu o modo como o outro apertava a caixa de madeira. O que ele estava tentando esconder com tanta decisão?

– E a caixa?

– Apenas uma caixa velha de lembranças... – erguendo o objeto e olhando-o.

– Eu posso? – estendendo o braço. Era arriscado, mas... Por que não? Surpreendeu-se quando recebeu o objeto nas mãos. – Por que o cadeado?

– Gosto de segredos. Quer tentar? – erguendo uma sobrancelha.

– Se a principal interessada não conseguiu... – murmurou e arrependeu-se no segundo seguinte ao ver a expressão insatisfeita no rosto do outro.

– Se sabe isso, sabe abri-la... – resmungou, apoiando o cotovelo na porta do veiculo e a cabeça no dorso da mão. – Não se acanhe, vá em frente. É um código alfa-numérico.

John olhou o cadeado. Percebeu que as quatro posições podiam conter letras ou números. Olhou outra vez para o amigo. Como é que ele ia saber o código? Concentrou-se em tudo o que tinha acontecido até ali. Parecia obvio demais! E improvável demais para alguém como ele. Mesmo assim prosseguiu com o palpite. Girou os pequenos cilindros até encontrar a combinação que queria: M. 1. 1. D. O cadeado abriu com um estalo.

– Ridiculamente óbvio! – deixou escapar. Sherlock soltou uma risada sem prazer. – Por quê?

– Abra!

John obedeceu. Dentro da caixa havia duas mechas de cabelo amarrados com fitas coloridas, separadamente. Um cartão de melhoras. Dois envelopes pequenos. Uma borracha no formato de um coração e algumas folhas dobradas em quatro onde reconheceu a letra do outro.

– O que é isso? – realmente não estava fazendo nenhum sentido. Ergueu a mecha de cabelo mais clara.

– Dela... Nove anos! Cortou e me entregou no meu aniversário. Nosso aniversário. Mycroft marcou o aniversário dela junto com o meu... – explicou olhando pela janela.

– Hum... – isso queria dizer... Levantou a outra mecha esperando por outra explicação.

– Minha. 18 anos. Ela cortou também. Devolveu-me quando ela fez 15 anos. Disse que não precisava mais... – sem desviar o olhar da rua.

– O cartão de melhoras?

– Braço quebrado! Meu braço quebrado! – foi tudo o que ele disse. Era óbvio que era um cartão dela.

– Envelopes? – desta vez o outro esboçou um sorriso.

– As únicas que Mycroft não jogou na lareira... – John resistiu a um impulso de ler o conteúdo. – Ela tinha dez anos quando escreveu. Não há nada de impróprio nelas se quiser lê-las. A borracha tem uma historia comprida e chata... Não vai querer saber.

– E por que isso estava com ela?

– Por que ela é uma pequena ladra! – com aquele sorriso torto de novo. – Ela roubou na última visita.

– E por que você a quis de volta?

– Por há algo aí que não pertence a ela... – estendendo o braço e apanhando as folhas de papel dobradas. – Essa é minha!

– Eu...

– Não! – colocando-as no bolso. – Ninguém deveria lê-la, por isso eu quis de volta.

– Vai ao menos dizer o que está escrito aí? – curioso e confuso.

– Não! Eu acabava de incorrer no meu pior erro... Não estava no meu estado normal quando escrevi isso...

– O que quer dizer com isso? – cada vez mais curioso. Aquilo só ficava mais estranho.

– Não é nada.

– Mas escreveu para ela?

– Foi. – de um modo seco e tão gélido que causou um arrepio no médico.

– Devia ser importante...

– Era importante na época... – o veículo parou e Sherlock saltou tão rápido que John chegou a sentir-se meio tonto.

John pagou ao taxista e ficou um instante parado em pé, na calçada. Não era muito bom com aquilo de juntar peças, mas aquela caixa de madeira em suas mãos estava queimando com evidências que contradiziam tudo o que ele conhecia daquele homem. Ele era insensível, frio, sem sentimentos, beirava a crueldade, desconhecia a gentileza... Por que guardaria uma caixa com mechas de cabelos e pequenas lembranças de uma garota? Por que escreveria uma carta? Uma que nunca tinha sido entregue? Eram perguntas demais em sua mente.

– Vamos entrar? – perguntou Sherlock de súbito arrancando o outro de seus devaneios.

– Ah! Sim! – abriu a porta em seguida. Meio minuto depois estavam do lado de dentro e ouviram passos que vinham em sua direção. Era a Sra. Hudson.

– Oh! Eu sabia! – disparou abraçando Sherlock imediatamente. – Assim que eu a vi eu tive certeza disso!

Ok! Pensou John. Parecia que todo mundo era perfeitamente capaz de ligar Mildred a Sherlock assim que colocava os olhos nela, exceto ele mesmo. Sentiu-se imensamente desconfortável. O outro sorriu e disse algumas coisas a velha senhora que logo estava com os olhos cheios de lágrimas e perguntava se ele tinha se alimentado direito e outras coisas típicas de uma mãe.

Enquanto o outro se ambientava outra vez ao lugar, demonstrando, para sua alegria, alguma satisfação, mesmo que discreta, por estar de volta, John se sentou em sua poltrona e deixou-se levar por seus pensamentos. Depois de tanto tempo de convivência era fácil começar a ver sinais e pistas até mesmo onde não havia nada. Mas havia algo lá...

John procurou lembrar-se com detalhes do dia em que a garota bateu a sua porta e se apresentou exigindo saber o que havia acontecido. Ele lembrava especialmente dos olhos dela. Naquela ocasião estavam perturbados, tensos e cheios de lágrimas. Sua lembrança passou diretamente para a conversa com Mycroft ao telefone e se percebeu perdido em meio a uma infinidade de reticências. "Brilhantes para deduzir qualquer coisa, menos sentimentos" fora isso que Mycroft dissera. Por quê?

Sabia que as emoções aborreciam profundamente a mentalidade equilibrada e fria daquele homem. Ele jamais falava de sentimentos, exceto quando fazia deles uma piada, que geralmente só tinha graça para ele próprio! Ele desprezava coisas como emoções e sentimentalismo. Considerava essas coisas quase como uma falha no caráter humano, um empecilho para uma mente perfeitamente ajustada. Emoções geravam dúvidas, não eram confiáveis!

Então, por que raios, por maior esforço que fizesse, aquela era a única explicação plausível que encontrava para tudo o que tinha visto, ouvido e percebido?

O outro estava visivelmente abalado, ou tanto quanto alguém de sua natureza podia se abalar! Não havia nada fora do lugar, mas quem conhecesse sua frieza severa como ele, quem tivesse estado com ele dia e noite perceberia. Era uma ondulação muito suave na superfície de perfeita calma... Mas estava lá! O que o preocupava eram as ondulações internas, subterrâneas... E a sua causa, que se realmente existisse, estava depositada no fundo daquele espírito insondável.

– Tudo bem com você? – perguntou o outro se sentando diante dele.

– Ahn? Sim, sim... – o médico percebeu que seu amigo estava vestindo um roupão e esfregava uma toalha felpuda nos cabelos. Sequer tinha percebido que tinha ido para o banho.

– John? – disse mais alto.

– Sim?

– Perguntei se está com fome...

– Perguntou? – sua mente ainda estava perturbada demais.

– O que há com você?

– Perdão. Mas não posso negar que a sua... – percebeu o outro trocar de posição na poltrona e contorcer o rosto. – Mildred me deixou um pouco perturbado.

– Deixou? – franzindo a testa. O médico percebeu que o interesse era genuíno.

– Quando Mycroft falou de vocês eu imaginei...

– Ah! Falou com ele sobre isso? – relaxando os músculos da face.

– Sim, quando ela veio da primeira vez. – cada vez mais ansioso. – E ele deu a entender...

– Vai ter que tirar suas próprias conclusões John! – levantando-se. – Não posso lhe ajudar... Não hoje à noite. – andando na direção do quarto. – E não se preocupe, não é o único a quem ela perturba... – a porta do quarto se fechou e John ouviu a tranca se fechando.



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