Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 12
Capítulo 12 – Não pense nisso!


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas aqui estamos. Talvez o capítulo tenha ficado meio sem pé nem cabeça, prometo melhorar. Espero que gostem!



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John não esperou um segundo convite. Tratou de apanhar o braço de Mildred e recebeu um sorriso afetuoso, mas que tinha algo de frustrado. Assim que chegaram a porta viu Sherlock entregar os convites a um porteiro uniformizado que abriu as portas permitindo que ele entrassem. Quando finalmente estavam dentro do salão, John finalmente entendeu a razão dos trajes e de toda a pompa.

Para qualquer um que chegasse a impressão era a de ter feito uma viagem no tempo. Era um salão de decoração vitoriana, ricamente decorado. Todos, sem exceção, vestiam trajes de gala e exibiam caríssimas joias. John não sabia direito para onde olhava primeiro. As pessoas se dividiam em vários pequenos grupos que conversavam animadamente empunhando taças de cristal cheias de champanhe caríssimo.

Careen e Sherlock estavam uns passos a frente e John percebeu seu braço sendo puxado para a direita. Ainda olhou para seu amigo uma ultima vez antes de Mildred tivesse desviado completamente sua atenção para o outro lado. Havia uma espécie de palco, oculto por uma cortina branca ao redor do qual alguns grupos também conversavam.

– Ali ele exibe suas aquisições... – sussurrou Mildred ao ouvido de John.

– Ah!- ele admirou-se.

– Acontece uma espécie de leilão, sabe?

– Sim... – ele concordou, mas alguma coisa o incomodava. Mildred estava falando dentro de sua orelha, numa voz tão baixa que ele mesmo encontrava dificuldades em ouvir. Um arrepio esquisito percorreu sua espinha.

– Está me apertando! – disparou Careen de repente.

– Sinto muito! – desculpou-se Sherlock soltando o braço dela imediatamente e deixando marcas avermelhadas onde os dedos haviam pressionado.

– Não leve a sério... – resmungou a garota caminhando para o outro lado da sala.

– O que eu não devo levar a sério? –devolveu Sherlock apertando os olhos por um instante e seguindo-a.

– Mildred está apenas flertando... – disse tranquilamente.

– Sim, ela está. – as palavras saíram mastigadas.

– Agora me diga, está com ciúmes exatamente de quem? –olhando-o com um sorriso.

–Oh! Não minha cara eu não... – ia dizer que não era homem de se deixar levar por aqueles sentimentos, mas naquele momento Mildred jogou a cabeça para trás num riso cheio de prazer. Um minuto antes era John que cochichava na orelha dela. Estava com ciúmes?

– Hum! Eu percebo... – resmungou Careen voltando a andar.

Enquanto Careen falava alguma coisa ao garçom, Sherlock prestou atenção outra vez aos dois que cochichavam. John sempre fizera algum sucesso com as mulheres! Afinal era gentil e atencioso sem fazer muito esforço, era sua natureza. Mildred era uma mulher bonita, embora insistisse em vê-la como uma garotinha. Era impossível se enganar diante da mulher que sorria ao lado do seu melhor amigo. Pensou apenas que não precisavam cochichar com aquela intimidade. Percebeu que estava com a garganta áspera e ressecada.

– Bebida? – ofereceu Careen entregando-lhe um copo.

– Obrigado! – olhando para o copo.

– Está dando demais na vista, senhor Holmes... - murmurou Carren inclinando-se na direção de Sherlock.

– Eu... - iniciou e percebeu que o esforço em mentir era muito menor que o esforço em tirar os olhos daqueles dois. Quando viu o médico apanhando gentilmente o braço da garota suspirou e sentiu alguma coisa queimar sua garganta... E teve certeza que não era o alcool em seu copo. - Não me importo com o que ela faz... - revirando os olhos e forçando-se a olhar para o outro lado.

– Se você diz... - resmungou Careen dando de ombros.

Sherlock concentrou-se no lugar e nas pessoas. Havia uma dúzia de conhecido ricaços de várias partes da Europa ali, alguns membros de governos inclusive! Supôs que a jóia que Mycroft desejava reaver estava entre as que seria apresentadas no palco armado a alguns metros dele. Tudo parecia extremamente inocente, não fossem aqueles butramontes guardando as saídas e uma outra porta que imaginou que ia dar exatamente onde estavam os objetos do leilão.

Arquitetou depressa um modo de atravessar os seguranças e alcançar seu objetivo, saindo dali sem ser percebido, rápido e limpo. Estariam longe antes que percebessem que alguma coisa tinha sido retirada. Ergueu o canto dos lábios num meio sorriso e buscou Mildred com os olhos, precisava dela para executar seu plano... Mas notou depressa que ela não estava mais no salão e mais forte que o ciúme foi o medo que estreitou-se em seu peito.

– Onde estão? - perguntou a Careen que divertia-se com o guarda-chuva em miniatura dentro do seu copo.

– Oh! Céus! Não me diga... - olhando para os lados com a maior discrição que pode.

– Maldita! - resmungou Sherlock batendo levemente o pé esquerdo no chão. - Careen aconteça o que acontecer, fique aqui e só sai se um de nós aparecer,comprendeu? - a jovem assentiu com a cabeça e Sherlock deixou-a.

Não era dificil imaginar onde Mildred estaria, teria deduzido o mesmo que ele, mas era uma criança impulsiva... Não, uma mulher. Percebeu a bancada e caminhou lentamente até lá. As cortinas eram uma excelente cobertura se alguém quisesse "sumir" por ali. Mal chegou do lado de fora percebeu que havia uma janela muito próxima, e estava aberta. O frio se encarregara de tornar o lugar desagradavelmente gelado.

Não precisou se esforçar para saber o que tinha acontecido. Havia marcas de borracha no peitoril da bancada, provavelmente dos sapatos de John; o modo como um pouco de neve acumulada tinha sido afastada correspondia a barra de um vestido e entre as hastes do gradil havia marcas parciais de pés. Mildred provavelmente tinha descalçado os sapatos para poder pular. Seguiu por onde eles tinham ido, tomando o cuidado de não ser apanhado...

Num corredor escuro, não muito distante da janela pela qual Sherlock acabara de entrar, John seguia tateando as paredes e seguindo a luz azulada e bruxelante do visor do celular de Mildred. Ainda era impressionante o modo como ela se comportava exatamente como seu amigo! Estava andando atenta, com uma ruga no meio dos olhos, os ombros tensos e ao mesmo tempo uma ridicula expressão de prazer. O coração de John estava aos saltos! A qualquer momento poderiam ser apanhados, como ela podia manter aquela tranquilidade?

Antes que qualquer que o corredor terminasse, Mildred percebeu uma brecha, uma passagem e se enfiou ali tão depressa quanto pode. Esqueceu-se completamente que estava sendo seguida pelo médico que apenas deu-se conta do desaparecimento da companheira de incursão quando o corredor voltou a mergulhar na escuridão total. Tateou os bolsos em busca do proprio celular, mas assim que o encontrou, sentiu-o vibrar em sua mão. Era uma mensagem.

"Fiquem exatamente onde estão. SH"

Uma mensagem de Sherlock. John teve um momento de pânico! Como explicaria que perdera Mildred?

Mildred seguiu pela passagem estreita até alcançar uma sala tão escuro quanto o corredor que estivera antes. Sorriu para si mesma ao perceber uma porta de vidro fechada e uma silhueta que ia e vinha. Estava certa! Aquele era o lugar. Virou a luz de seu telefone em redor e finalmente encontrou a pedra: uma gema oval, avermelhada e perfeita! Colocou o telefone na pequena bolsa de tecido junto ao vestido e esticou as duas mãos para apanhá-la...

– Parada onde está! - rosnou uma voz atrás dela e em seguida as luzes se acenderam. - Ora! O que temos aqui... Uma pequena gatuna?

Ela virou-se devagar, mantendo a respiração controlada. Tinha sido má ideia entrar lá sem Sherlock! Sabia disso! Mas estava zangada demais com ele para pedir que colaborasse. Ergueu os braços e encarou o homem que lhe apontava uma pistola. Era Gregor Smith, metido em um belíssimo smoking azul escuro... Alguma coisa nela vibrou. Aquele homem era conhecido principalmente por seu gosto pela carneficina.

– Tão bonita... - olhando-a seriamente. - Mas... Espere... - olhando na mesma direção do olhos de Mildred que, inconscientemente, olhava para a porta esperando que seu falso irmão pressentisse que ela estava em perigo. - Oh! Não está sozinha, hã? - ela sentiu-se transparente como uma vidraça e se amaldiçoou por isso. - Venha comigo, linda dama! - ele encostou o revolver na cintura dela e a conduziu por uma outra porta, oculta por trás de uma pesada cortina de veludo.

– Onde ela está? - foi a primeira coisa que saiu da boca de Sherlock quando avistou John.

– Estava aqui um minuto atrás... - murmurou John sentindo-se perdido.

– Estava? - andando de um lado para outro. - Como assim estava? Ela não pode ter simplesmente desaparecido!

– Sinto muito, Sherlock! - disse lamentando profundamente.

Sherlock não disse nada, apanhou o pulso de John e saiu andando a passos largos pelo corredor. Percebeu a passagem por onde Mildred entrar e entrou atraves dela trazendo John quase arrastado. Ele olhou em redor, imovel no centro da pequena sala e só então largou o braço do médico. A pedra estava ali, alguém tinha mexido nela... quando aproximou-se da mesa, notou uma das flores que enfeitavam a bolsinha de tecido de Mildred caida no chão.

– Migalhas de pão... - murmurou abaixando-se e recolhendo a pequena flor de cetim. - Ela esteve aqui, mas alguma coisa aconteceu. Venha, John! Não fique aí parado!

– Sim?! - o tom imperativo não escondia um tremor incomum na voz do detetive.

– Apanhe a pedra e esconda-a com você. Fique aqui! Eu vou acha-la... - saindo imediatamente por detras de uma cortina escura.

John suspirou e obedeceu Sherlock. Depois de apanhar a pedra, resolveu que era uma boa ideia ficar oculto atras de uma armadura antiga que parecia saida de algum filme sobre os cavaleiros de Arthur. Era melhor apenas esperar...

Sherlock andou depressa e quando sentiu uma brisa fresca alcança-lo, presumiu que havia outra bancada ali em algum lugar. Precisava manter a calma, mesmo sentindo o coração acelerado. Não podia estar prestes a perdê-la daquele modo! Não assim! Reparou que havia outra flor de cetim em seu caminho, diante de uma parede. Apalpou a madeira e encontrou uma passagem que dava para uma espécie de terraço. Sentiu um calafrio...

– Ora! Se não é o brilhante Sherlock Holmes... - murmurou Gregor que surgiu sozinho. Sherlock apressou-se em sacar sua catana. - Não faria isso se fosse você! - apontando para um canto mais escuro.

De lá, surgiu um homem que trazia Mildred presa quase em uma gravata e tinha uma arma apontada para a cabeça dela. A cena partiu o coração de Sherlock e afastou qualquer reação lógica que pudesse ter. Não podia pensar vendo-a sob a mira de um revolver... Mal conseguia respirar.

– Eu sinto muito... - ela murmurou sem pronunciar nenhum som. Sherlock abaixou-se e deixou a catana no chão.

– Muito bem, detetive! - resmungou Gregor. - Agora vejamos, por que está linda dama lhe interessa?

– É minha irmã... - respondeu com frieza.

– De fato? Pois não se parecem!

– Adotiva... - resmungou Mildred e o homem bateu com as costas do revolver na cabeça dela.

– Quieta, cadelinha! - ordenou Gregor em voz alta. Sherlock ergueu uma sobrancelha.

– Acredito que nos tem exatamente onde queria... - retomou Sherlock. - Creio que não seja necessário violência. - erguendo os braços. - Podemos ir embora agora mesmo se quiser...

– Imagine! É claro que não! - riu-se Gregor. - Tenho o detetive mais odiado da Europa em minhas mãos e uma inesperada vantagem, por que eu desperdiçaria? - rindo.

Sherlock e Mildred trocaram um olhar longo. Sherlock acenou levemente com a cabeça e ela repetiu o gesto. Ele entreabriu os lábios pronto a dizer alguma coisa, quando percebeu uma sombra se movendo por trás de Gregor. Sabia quem era...

– Parado! - ordenou John apontando a arma para a cabeça do homem. - Mande que ele a solte!

– E por que eu faria isso? - mal Gregor havia terminado a frase, outros dois homens armados surgiram colocando em suas miras, John e Sherlock, ao mesmo tempo. - Agora posso voltar a minha recepção. Matem todos! - saiu andando devagar.

Sherlock olhou brevemente para a catana que ainda estava a seus pés. Olhou novamente para Mildred e em seguida para John. O médico pareceu um pouco perdido, para no segundo seguinte estar certo que aqueles dois tinham tramado alguma coisa sem dizer uma única palavra. Manteve o olhar concentrado em Sherlock a fim de não perder a deixa. Ela veio assim que o homem atrás de Mildred afrouxou o braço e pareceu pronto a executar a ordem do seu patrão.

"Dance!"

Nada se ouviu, mas foi exatamente isso que os lábios de Sherlock pronunciaram. E o que John viu acontecer em seguida, parecia com uma queda de dominós perfeitamente orquestrada, ensaiada e executada...

Mildred abriu um espacate perfeito, tão rápido que deixou o homem que a ameaçava completamente sem ação por uma fração de segundo... Tempo suficiente para ela arrancar uma pequena adaga de dentro da luva e acertar os testiculos do homem. Ao mesmo tempo, Sherlock desarmava e golpeava o homem que o tinha na mira. Para John restou o mesmo, com uma cabeçada certeira, nocauteou o homem que o ameaçava. Os três correram para o parapeito e sem nada ser dito, pularam.

Desceram a colina rapidamente, sem olhar para trás e sem pararem para pensar em qualquer coisa... Mas não tão rápido que John não notasse que Sherlock apanhara a mão de Mildred e não soltara de modo algum até chegarem a uma pequena estrada de terra, atrás de uma massa densa de arvores. Careen estava lá com o carro...

– Como... - balbuciou o médico confuso.

– Sherlock me mandou uma mensagem... - informou a garota. John olhou Sherlock que sorria com certo orgulho. - E o pin de emergência de Mildred tabém disparou! - os dois olharam para a outra um tanto surpresos.

– É como aviso a ela. É um dispositivo que dispara um alerta... - ergueu um pé. - Está no calçado!!

Quando entraram no veiculo, John percebeu que não tinham mais um motorista e antes que tivesse tempo de assimilar qualquer coisa, viu o detetive puxar aquela que não era sia irmã para o assento traseiro e bater a porta.

– Não pense nisso... - murmurou Careen. - Venha! - oferecendo o banco do carona.


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