Acordo no meio da noite, ao som de um trovão. Mais um pesadelo. Eles vêm com frequência, geralmente envolvem meus medos e coisas assim. Acordo sempre gritando e suando frio, e hoje não foi diferente.

O tempo lá fora está tenebroso e chove muito. Peeta foi embora assim que chegamos à metade daquele livro, pois já tinha começado a ameaça de chuva.

Fico encolhida e tento fechar os olhos, em vão. Tenho vontade de abrir a porta do quarto de meus pais pedindo para dormir com eles hoje. Mas não faço isso. Fico assim, enrolada nos cobertores, olhos constantemente abertos. Até que ouço o despertador tocar. Desligo e levanto da cama, decidida a tomar um banho.

Continua a chover, talvez um pouco menos do que antes, mas continua.

Deixo a água quente cair sobre meu corpo e não penso em mais nada. Até canto um pouquinho, coisa que não faço faz muito tempo.

Saio e me seco, depois coloco minha roupa: calças jeans, blusa verde de mangas compridas, meu casaco preto e meu fiel tênis All Star vermelho.

Prendo meus cabelos em uma trança.

A mudança de tempo foi drástica, ontem a temperatura estava normal e de repente, frio pra caramba.

Desço as escadas e tomo meu chocolate quente.

- Pai, pode me levar na escola hoje? – pergunto – Não estou afim de encarar essa chuva hoje.

- Claro, tenho que ir pra empresa mais cedo também – responde

Terminamos o café da manhã em silêncio.

Meu pai e eu vamos para a garagem e entramos no carro.

A viagem até a escola é silenciosa, nenhum dos dois tem assunto para ficar conversando. Logo já estamos na porta da escola.

- Tchau pai – digo

- Tchau Katniss

Fico observando o carro sumi e quando me viro sou surpreendida por Peeta.

- Oi Katniss – diz

- Oi Peeta

- Gostou da história?

Finjo pensar.

- Até que ela era boa, mas você não soube contar. – minto

Peeta olha pra mim, ofendido.

- A senhorita pareceu gostar ontem.

Rio.

- Claro que gostei Peeta, só estou brincando.

- Eu sei – diz ele rindo – eu também tava só brincando

- A gente podia repetir isso mais vezes... – digo meio tímida

- A proposta é tentadora... Mas depois do trabalho – diz ele – você não vai conseguir me enrolar, já disse. Pode desistir mocinha.

- É o que você pensa Peeta Mellark – digo

É impressionante como hoje eu acordei de bom humor mesmo não dormindo quase nada.

Vamos andando e conversando até a sala de aula e encontramos Clove e Cato, de novo. Esses dois estão muito juntinhos ultimamente, e algo me diz que não é por causa do trabalho...

Clove está vermelha de tanto rir.

- Eu não acredito que ela acreditou nisso – diz ela rindo ainda mais

- Pode acreditar! – diz Cato rindo também – até hoje ela faz isso!

- Ei, eu quero rir também – diz Peeta – Qual a piada?

- Conta Clove – diz Cato

- Conta você, eu não consigo falar um frase inteira sem rir! – diz ela rindo ainda mais

- Tá bom... – Cato revira os olhos e sorri para nós – eu tava contando pra Clove que eu tenho uma prima muito chatinha e viciada na própria imagem. O Marvel tinha ido em casa e ela tava lá. Ela encheu tanto o saco que, quando ela foi para a sala assistir TV, o Marvel apostou comigo que se a gente dissesse que água sanitária fazia bem para o cabelo, ela iria acreditar.

“Eu disse que não, porque nunca imaginei que ela seria tão burra a ponto de fazer isso. Marvel apostou cinquenta de que ela faria, e eu cinquenta que não. Nós fizemos um teatrinho e ela acabou acreditando e foi na hora procurar água sanitária. Acabei perdendo a aposta, mas foi tão engraçado... Ela é uma completa sem noção!”

Nós todos estamos rindo.

- Não acredito nisso! – digo, enxugando uma lágrima – Impossível, até a Glimmer saberia a verdade, e olha que ela não é uma das mais espertas...

- Mas foi Katniss – diz Cato – Acredite se quiser, foi um dos dias mais engraçados da minha vida!

- Do que vocês estão rindo? – pergunta Gale que acabou de chegar

- De nada... – como eu adoro irritar ele

- Ah vai Katniss conta, por favor! – diz Madge fazendo carinha de cachorro que caiu da mudança

Como é Madge, permito que Cato conte a história. A medida que ele vai contando, Madge começa a rir muito. Gale fica que nem um idiota olhando para ela.

- Ela acreditou mesmo nisso?! – pergunta Madge – sua prima é meio burrinha ein?

Cato ri.

- Concordo plenamente – diz ele – Não achou graça Gale?

- Ein? – diz ele acordando de seu transe

Todos rimos e o sinal toca.

Entramos na sala de aula e nos sentamos um perto do outro.

É estranho ficar sentada perto de Peeta, Madge e Cato. Peeta e Madge estão constantemente levantando as mãos para responder as questões e conversando sobre elétrons e coisas do gênero. Gale até ficou com ciúmes.

Quanto a Cato, sempre fazendo piadinhas e dando em cima de Clove. Todos sabem que ele gosta dela e ela dele, menos eles mesmos.

Peeta está sentado ao meu lado e faz alguns exercícios que o professor passou. Fico observando-o. Sua expressão é de alguém concentrado no que faz. Constantemente, Peeta afasta os cabelos louros dos olhos, pois sempre que ele abaixa a cabeça, os cabelos tapam sua visão. Ele para de repente e olha para mim. Fico sobressaltada e sinto meu rosto queimar.

- O que foi? – pergunta ele

- Nada – respondo envergonhada e volto à atenção aos meus exercícios.

Eu me sinto tão estranha ultimamente. Geralmente, eu simplesmente olharia para frente ou até mesmo dormiria, nunca faria exercício algum.

O sinal do intervalo bate e vamos para o pátio.

Sento-me ao redor da árvore grande, que se localiza bem no meio dele.

Peeta e Madge foram sentar-se com os amigos deles. Finnick Odair e Annie Cresta, que estão de mãos dadas. Os dois namoram a mais de dois anos e são completamente apaixonados. Os quatro estão rindo de algo muito engraçado, e de repente desejo saber o porque. Estou quase levantando quando Clove senta ao meu lado.

- Admirando a paisagem? – pergunta sorrindo

Eu balanço a cabeça e sinto meu rosto queimar um pouco.

- Eu só... eu só... – gaguejo

Ela ri.

- Ah qual é Kat – diz - eu te conheço. E Gale também.

- Ei! – digo

- Peeta vem aí, finja-se de desinteressada, homens adoram isso – diz Clove brincando

- Eu vou te matar garota... – começo

Não termino, porque Peeta está aqui mesmo.

- Oi Peeta – digo tímida

- Oi – diz ele – pela enésima vez

Clove ri.

- Gente, eu já volto. Tenho que falar uma coisa lá com o Cato – diz ela piscando para mim

Lanço um olhar mortal para ela. Eu ainda te mato Clove.

- Tchau – diz Peeta

Ele se senta ao meu lado.

- O que você acha de fazermos trabalho na minha casa hoje? – pergunta – meus pais vão sair e eu não esqueci as chaves

Dou risada.

- Tudo bem, só preciso avisar aos meus mais tarde – respondo

- Só não liga muito para minha mãe – diz ele – em matéria de mau humor, ela é pior que você.

Dou um tapa nele e finjo estar ofendida.

- É essa a idéia que você tem de mim? – pergunto

- Sim – brinca ele – você estava soltando faíscas pelos olhos ontem.

Dou a língua.

- Enfim – diz – não se ofenda com o que ela diz ok?

- Ok, mas...

O sinal bate.

- Vamos Katniss – diz ele levantando e oferecendo a mão

Pego a mão dele para levantar e assim que nossas mãos se tocam uma corrente elétrica atravessa meu corpo. A mão de Peeta é quente e macia, daquelas que quando você pega, não quer soltar mais. Mas eu tenho, pois ficar segurando a mão dele pela eternidade (O que não seria nem um pouco ruim) é meio estranho.

Vamos para a classe e temos mais algumas aulas, até que o sinal bate.

Peeta me ajuda a arrumar o material e nós dois saímos.

Ele me conta um pouco sobre sua vida quando se lembra de algo.

- Você não tinha que ligar pra sua mãe? – pergunta

- Ah, é – digo

Ligo para meus pais, que não atendem, e deixo um recado na caixa postal.

Peeta e eu não temos pressa, vamos caminhando e conversando o caminho inteiro, mas não vejo a hora de chegar, quero conhecer logo a casa dele.