Mesmo já estando na garagem, minha bolsa e sapato estavam no quarto de hóspedes, logo, saí correndo feito uma louca, seguida por Justin, que precisava colocar o par de tênis.

Ao pegar tudo o que queria, voltei para a garagem, onde Justin pegou a chave do carro de minha mãe – já que precisávamos deixá-lo em minha casa –, e nós entramos rapidamente, sem enrolações como ele abrindo a porta para mim ou algo do tipo.

– Você ainda não me contou o que aconteceu... – falou, abrindo o portão da garagem e acelerando bruscamente.

– Continua nesse ritmo e eu vou te explicando no caminho, ok? – disse, vendo-o concordar com a cabeça. – Isso se der tempo... – murmurei, suspirando. – Enfim, hoje quando estávamos na piscina e eu liguei para minha mãe, falei que estava na casa da Sophie. E aí adivinha quem apareceu na minha casa agora? – perguntei, já sabendo a resposta. – Ela! – respondi minha própria pergunta com um sorriso cínico. – Ela apareceu agora de noite lá, então minha mãe já suspeita que eu não fui pra casa dela, sabe? – contei rapidamente, mas Justin fez cara de desentido, indicando que minha explicação tinha sido horrível. – Ah, você entendeu...

– Entendi mais ou menos – confessou. – E como a sua mãe ainda não te ligou? O que a Sophie falou pra ela?

– Ela disse que eu falei que ia pra casa, mas antes passei em algum lugar, que agora não me lembro onde.

– Como assim não lembra?! Quantos anos você tem? 80?

– Desculpa se minha memória é horrível... Mas não importa o lugar! – exclamei. – O que importa é chegar em casa, porque não dá tempo de passar em lugar nenhum, ou ela vai desconfiar mais do que já desconfia.

– Mas, espera aí, por que você mentiu sobre onde estava? – indagou com uma das sobrancelhas arqueadas.

– Não ia falar pra minha mãe que estava na casa do Justin Bieber, né.

– Por quê? É tão ruim assim?

– Pelo contrário! Ela ia achar que eu tinha ficado louca, ou estivesse drogada.

– Meninas... – resmungou. – Em cinco minutos, mais ou menos, chegamos – anunciou, tirando um sorriso de meus lábios.

Sophie ficou me mandando algumas mensagens, mas nada importante, já que eram só perguntas como “Onde está?!” “Está chegando?!” , ou pedidos para que eu me apressasse.

– Por que a irritação? – indagou Justin.

– Porque eu já estou estressada e Sophie não para de me mandar mensagens...

– Dá o celular.

– Não.

– Dá aqui!

– Não! – retruquei, escondendo-o.

Quando paramos por causa do farol vermelho, Justin puxou-o de meu falho esconderijo – isso é, atrás de mim.

– Ei! – exclamei, tentando pegá-lo de volta.

– Agora se acalma, porque vai dar tudo certo e não precisamos ver essas mensagens, ok? – Colocou a mão na minha perna, tentando me dar segurança, mas me senti um pouco desconfortável com aquilo e sorri, afastando a mão dele depois.

Justin acelerou quando viu a luz verde do farol acender, e eu tentei me acalmar, como ele havia pedido. O celular continuava apitando e ele mesmo já estava ficando irritado, então deixou no silencioso, após resmungar algo que não consegui ouvir.

– Chegamos – anunciou.

– A chave – ordenei.

– Sim, senhora!

Apanhei a chave que ele me entregou e saí do carro às presssas. Depois de pegar minha bolsa, fechei a porta, dirigindo-me à minha casa.

– Tchau pra você também! – gritou.

– Tchau! – gritei de volta, revirando minha bolsa em busca de minhas chaves.

Ao perceber que eu não estava para conversas, ele saiu andando, ligando para alguém, talvez um taxista, já que disse que não tinha mais motorista. Me sentia um pouco culpada por não dar um jeito de deixá-lo em casa, mas tinha que encontrar minha mãe o mais rápido possível.

– Oi! – exclamei, tentando ser o mais simpática possível para que ela não desconfiasse que eu havia mentido sobre onde estava.

– Oi, filha! – falou, cumprimentando-me quando cheguei na sala.

– Oi, Sophy! – Dei um beijo em sua bochecha, continuando com minha simpatia, mesmo que ainda estivéssemos brigadas, já que minha mãe não podia saber disso.

– Espero que a torta esteja boa, porque com essa demora... – comentou minha mãe, tentando ser engraçada.

– Ah... – Bati em minha cabeça, suspirando depois. – Sabe o que aconteceu? – indaguei, tentando pensar em alguma desculpa.

– O que houve, filha? Você parece tão pálida...

– Não é nada demais, mãe. É só impressão! É só a luz! – exclamei, confusa. Afastei-me dela, para que a mesma não pudesse me enxergar muito bem e notar meu estado de surpresa.

– Bom, se você diz... E a torta?

Olhei para Sophie, esperando que ela me salvasse, mas recebi um olhar desesperado como resposta. Ou ela não sabia o que fazer, ou talvez soubesse, mas não quisesse se meter na conversa, o que não era uma boa opção. Por fim, como era tão boa em desculpas como Sophy – talvez nem tanto –, disse:

– A padaria estava tão lotada que depois de ficar na fila por meia hora, Sophie me ligou e falou que você estava me esperando, então decidi ir embora! Não queria deixar minha mãe esperando, né? – Abri um meio sorriso, esperando que minha desculpa tivesse sido convincente o bastante.

Minha mãe lançou um olhar desconfiado para mim, mas no fim sorriu e disse que estava tudo bem. Sophy abriu um sorriso, como se estivesse me parabenizando e ao mesmo tempo se sentisse aliviada, assim como eu.

– Bom, Sophie queria conversar com você, então vou dormir. – Minha mãe deu um beijo em nós duas e saiu da sala, deixando-nos sozinhas.

– Então... – falei, depois de algum tempo em silêncio. – Isso é estranho, sempre temos o que falar.

– Pois é – concordou, cabisbaixa.

O silêncio voltou a dominar o local logo depois daquela frase, mas eu me recusava a tentar puxar assunto de novo, pois Sophie que tinha vindo me procurar e ela que estava errada. Ela não tinha motivos para ter sido uma vadia comigo, quando só tinha me visto conversando com Justin na festa. E se soubesse que dormimos juntos? Mesmo que não tivéssemos feito nada, era capaz de se matar – ou, o mais provável, me matar.

– Não aguento mais esse silêncio! – exclamou, levantando do sofá. – Candice, você sabe o porquê de eu estar aqui, certo? Podemos apressar as coisas e tornar isso mais fácil pra mim? Eu vim me desculpar, porque sinto sua falta e te amo! Você é minha melhor amiga, não posso deixar que um menino... – Tudo estava indo bem, até que ela pausou e recebeu um olhar de desdém vindo de mim como resposta. – Tá, ele é o menino mais perfeito do mundo, mas... – “Menino mais perfeito do mundo”?

– Olha, Sophie, se você veio elogiar o Justin Bieber, pode ir embora – retruco secamente, fazendo menção de levantar.

– Calma, calma! – implorou, empurrando-me, levemente, de volta para o sofá. – É o seguinte, eu apoio qualquer coisa que você estiver tendo com...

– O quê? – interrompi, gargalhando depois.

– Eu que te pergunto....

– Você acha que eu e o Justin estamos tendo alguma coisa? – indago entre gargalhadas. – Você é uma piada!

– Pe-Pelo que vi, foi o que pareceu! – gaguejou, abafando risos forçados.

– Pelo que viu? O que você viu?

– Vocês dois conversando na festa, depois chegando juntos na escola... O que eu poderia pensar? “Ah, são só amigos”?! – exclamou, desesperada.

– Calma, Sophie! Não aconteceu nada entre nós, eu te juro. Você acha que Justin Bieber olharia pra alguém como eu? – indaguei entre risos irônicos. Dei ênfase ao falar o nome dele, tentando convencer Sophie de que Justin e eu nunca teríamos nada.

– É, você tem razão. Bobeira minha!

– Sim, bobeira sua! – concordei.

Por dentro, queria que não fosse bobeira, mas não poderia – ou melhor, não queria – admitir isso nem a mim, e muito menos a Sophie, que não gostaria nem um pouco da ideia. Não era como se eu tivesse apaixonada por Justin, mas tinha algo que só sentia quando estava perto dele. O pior é que não poderia desabafar sobre isso com ninguém, nem comigo mesma, porque preferia esquecer aquilo rapidamente em vez de admitir para mim mesma que sentia alguma coisa estranha por ele.

– Amigas? – indagou, estendendo os braços em minha direção.

Sorri como resposta e me aproximei, puxando-a para um abraço. Rimos um pouco da cena, a qual era engraçada para nós duas, já que estávamos nos tratando como desconhecidas há algumas horas atrás e depois, no mesmo dia, estávamos nos abraçando como melhores amigas.

– Já tá tarde, melhor eu ir...

– Se quiser dormir aqui, tudo bem.

– Minha mãe deve estar me esperando, mas podemos fazer alguma coisa esse fim de semana, ok?

– Ok.

Fui até a porta com ela e dei um beijo em sua bochecha, o qual ela retribuiu. Puxei a maçaneta para abri-la e Sophy saiu após se despedir. Tranquei a porta e dirigi-me ao meu quarto.

Minha mãe já havia dormido, pois quando passei em frente ao seu quarto, a porta estava fechada e pude ver que a luz estava apagada pelo vão embaixo da porta. Tentei fazer o mínimo de barulho possível para chegar ao meu quarto, onde me tranquei.

Tomei uma ducha, vesti meu pijama e escovei os dentes, voltando para o quarto depois. Já eram dez horas da noite e eu estava sonolenta, o que era um milagre, quando sempre fui a menina que não consegue dormir antes da meia noite.

Como de costume, peguei meu notebook para ler alguns tweets e fofocas sobre famosos. Mesmo sem muita coisa de interessante, passei meia hora procurando algo que chamasse minha atenção.

Confesso que procurei algumas coisas sobre o próprio Justin, mas quando ia clicar no link, desisti, sentindo-me muito stalker. Não queria ficar lendo sobre ele, era insignificante.

Deixei o notebook no chão após desligá-lo e apaguei a luz, preparando-me para dormir. Quando estava quase adormecendo, um barulho irritante me acordou.

– Sophy, vou te matar... – resmunguei, apanhando meu celular debaixo do travesseiro, onde sempre o deixava.

Por mais estranho que fosse, era uma mensagem privada no twitter. Não era de Sophie, era da pessoa que eu menos esperava.

“Queria te mandar uma mensagem, mas não tenho seu número, então vim por aqui. Sim, fiquei procurando seu twitter... E confesso que fiquei surpreso em saber que você me seguia.”

“Não fui eu que te segui, foi a Sophie! E saiba que acabou de me acordar.”

“Desculpa, só queria dizer que sinto falta de dormir do seu lado.”

“Babaca!” – Enviei, tentando parecer séria, mesmo quando havia sorrido com a mensagem anterior.

“Boa noite, Candice.”

“Boa noite, Justin. Obrigada pelo carro, de novo.”

“Já te disse que não precisa agradecer.”

“Chegou bem em casa?”

“Sim, depois de demorar anos, no frio, para encontrar um táxi...”

“Que drama! Aposto que não foi tão ruim assim.”

“É, foi só para você ficar com pena.”

“Ah, entendi, mas não funcionou. Bom, preciso dormir, amanhã tenho aula.”

“Eu também, esqueceu?”

“É, preciso me acostumar com a ideia de que você estuda na minha escola...”

“Até lá, beijos.”

“Até...”

Guardei o celular no mesmo lugar que encontrava-se antes da mensagem e me cobri com o edredom, adormecendo logo depois.