Eu estava no meio de um sonho quando ouvi o toque ensurdecedor do meu celular. Acordei, ou melhor, pulei da cama e atendi:

– Alô? – minha voz era pior do que a de um menino que está na puberdade.

– Candy! Candy! Oi! – Sophie, claro.

– Ah, oi.

– Você tava dormindo? – ela perguntou inocentemente.

– Não, não, só tô com essa voz porque tô com febre. – respondi estupidamente, sem nem pensar antes de falar.

"Candice, qual o seu problema? O que febre tem a ver com mudança na voz?"

– Sério?! Poxa... Melhoras. – Sophie definitivamente era a pessoa mais ingênua do mundo.

– Sophie, desde quando a voz das pessoas muda quando elas estão com febre?

– Ah, não sei...

– Então é óbvio que foi uma frase irônica! Meu Deus do céu. – exclamei enquanto levantava da cama. – Enfim, por que me ligou às dez horas da manhã? – perguntei, dando ênfase no horário, como se fosse uma coisa absurda.

– Ah, eu queria que você viesse aqui... Aluguei um filme legal.

– E nós vamos ver o filme às dez horas da manhã? – e mais uma vez, outra ênfase no horário.

– Você que sabe, só não quero ficar sozinha.

– Tá, eu vou pra aí, mas não vou assistir o filme agora, ok? Se quiser assistir, tudo bem, mas vou dormir mais um pouco.

– Ok! Tô te esperando.

– Até daqui a pouco. – desliguei o telefone.

Caminhei até o banheiro e tomei um banho rápido, apenas para acordar um pouco e tentar abandonar a preguiça por alguns minutos até chegar na casa de Sophie. Ela era minha melhor amiga e morava super perto de mim, apenas uns dois quarteirões nos separavam, o que era bom, porque vivíamos "trocando" de casa.

Vesti um short jeans claro e rasgado na parte da frente, uma blusa branca de alcinha com rendinhas na parte de baixo e uma sapatilha rosa clara. Decidi arrumar uma malinha básica antes de ir, apenas por precaução, pois tinha quase certeza que acabaria passando alguns dias na casa de Sophy – esse era o apelido que eu tinha inventado para ela, já que ela me chamava de Candy.

– Mãe, cadê aquela calça de moletom cinza?! – gritei enquanto revirava o meu armário inteiro.

– Tá aqui embaixo na lavanderia! Quer que eu leve pra você?

Ouvi meu celular novamente, mas agora não era uma ligação, era uma mensagem:

"Não esquece da festa que o Josh falou, hein? É hoje à noite.

XX, Sophy."

Eu tinha esquecido completamente da tal festa que ela havia me avisado há alguns dias atrás. Esperava passar o dia inteiro em casa, que é o que eu gosto da fazer nas férias, ao contrário de todas as outras pessoas.

"Ah, claro que não esqueci! Já separei meu vestido!

Xoxo, Candy."

– Esquece tudo, mãe! Mudança de planos! Mas obrigada, de qualquer jeito.

Peguei um vestido e um par de peep toe, colocando-os dentro da mochila. Após uns dez minutos, tudo que eu precisava já estava lá dentro. Coloquei a mochila nas costas e desci as escadas apressadamente, porque Sophie já havia perguntado onde eu estava.

– Mãe, tô indo na Sophie, ok? Qualquer coisa tô com o celular! – dei um beijo nela.

– Não quer comer nada antes de ir?

– Não, como lá... Não precisa se preocupar.

– Ok, filha. Até depois.

Quando saí de casa, senti como se eu fosse uma vampira. Parecia que era o primeiro dia dentre anos que eu estava fora de casa, até meus olhos começaram a arder devido ao Sol. Apanhei meus óculos de sol, aliviando minha dor. Naquele momento entendi minha mãe, ela estava certa: eu tinha que sair mais de casa ao invés de dormir às cinco horas da manhã e acordar às quatro da tarde.

"Acabei de sair de casa, chego aí em um minuto."

Enviei a mensagem para Sophie antes que ela surtasse, e como dito, cheguei em sua casa rapidamente. Toquei a campainha e fiquei esperando que ela viesse abrir a porta.

– O que é isso? – murmurei enquanto abaixava, pegando alguns papéis que pareciam panfletos. Ou melhor, convites.

Eram os convites para festa de hoje, suspeitei. Tinham três, o que fazia sentido, já que deveriam ser para nós três – eu, Sophie e Megan, uma outra amiga nossa que estava conosco.

– Virou carteira, Candy? – perguntou Sophy entre risos.

– C-Claro que não! – gaguejei devido ao susto. – Só fiquei curiosa para saber o que era isso. – entreguei os convites para ela.

– Você de óculos?! A noite foi boa, né? Ressaca é foda... – falou com um tom brincalhão. – Ah, sobre os convites, Josh disse que ia mandar um motoboy deixar aqui. São pra festa de hoje!

– Entendi... Afinal, que horas é essa tal festa? É do pessoal do colégio, como uma festa de "Tchau, Férias!"? – perguntei sarcasticamente.

– Claro que não! – ela ignorou completamente a primeira pergunta, partindo para a segunda: – Josh tem uns amigos riquinhos por aí que deram alguns convites pra ele, entende? É uma festa de gente famosa.

– E quem vai estar lá? É tipo um show?

– Não, é uma festa mesmo, tipo balada, só que alguns cantores vão fazer algumas apresentações.

– Entendi... E você sabe quem vai estar lá? – repeti.

– Não sei, Josh não comentou nada.

– Como assim?

– É, quando eu perguntei pra ele, ele disse que não sabia, mas eu acho que ele sabe, só que não quis me contar.

– Por que ele não contaria?

– Ah, não sei. Pensei em uma coisa, mas nunca vai acontecer.

– No que?

– Esquece. – forçou um sorrisinho, que não me convenceu. – E entra logo! Ou vamos ficar conversando aqui fora?

– Ok, ok... – respondi, adentrando à casa.

Sophie adorava me deixar curiosa, porém eu odiava isso. Por esse motivo eu iria fazer ela me contar, porque do mesmo jeito que ela é boa em deixar as pessoas curiosas, eu sou boa em fazê-las revelar seus "mistérios".

– E aí, o que vamos fazer?

– Vamos? – indaguei com uma das sobrancelhas arqueada. –Você vai assistir o filme, certo? Eu quero dormir, tô acabada.

– Ah, sério? Achei que fosse brincadeira isso de você dormir... Você é sempre tão irônica.

– Não, é sério. Fui dormir tarde ontem, não aguento ficar acordada.

– Poxa, Candy... – ela me lançou um seu olhar de cachorro-que-caiu-do-caminhão-de-mudança e fez voz de coitadinha.

– Nós temos uma festa hoje, não posso ficar com sono lá, certo? Você sabe que eu sou muito chata quando fico com sono.

– Ok, ok. – ela cedeu e eu agradeci.

Sophy ligou a televisão e colocou o filme, sentando de um lado da cama. Fui até o banheiro e coloquei o pijama, voltando para o quarto. Deitei do outro lado da cama e fechei os olhos, tentando ignorar o barulho de tiros que vinha da tv.

– Hahahahahaha! Não acredito que ele caiu nessa! – ela exclamou entre gargalhadas.

Lancei um olhar desaprovador e virei para o lado oposto, enfiando a cabeça no travesseiro. Acho que mais de meia hora se passou até eu conseguir dormir. Nesse pouco tempo, ouvi Sophie chorar, gritar, rir... Não consegui entender se o filme era um drama, comédia ou ação.

– Candy... – senti algo em meu ombro. – Candy, acorda... – a voz foi ficando mais alta. – Candy, vamos, acorde! – mais alta e mais alta a cada palavra.

– Candice, porra, acorda! – mais alta impossível.

Percebi que Megan foi a última a tentar me acordar – ou melhor, me fazer infartar. Ela gritou no meu ouvido, quase me deixando surda.

– Quem vocês acham que são? Não sabem acordar alguém? Vão tomar no cu, sério. – levantei e fui para o banheiro.

Pensamentos estranhos tomaram a minha mente. Raiva, ódio... Tudo isso era muito pouco para o que eu estava sentindo no momento.

"Ok, calma, Candy, elas só foram ridículas por te acordar daquele jeito." – meu lado anjinho agiu.

"Coloca ridícula nisso, né... Se eu fosse você, não ia mais à festa." – o lado diabinho interrompeu, quase me convencendo.

– Nós não devíamos ter acordado ela... Eu disse! Eu disse! Ela sempre fica estranhíssima depois que alguém acorda ela... – ouvi a voz de Sophy. – Acho que nesses momentos ela até seria capaz de se matar.

Quase ri com o comentário, mas meu mau-humor era maior, portanto continuei com a cara fechada. E mesmo que seja estranho, Sophie estava certa.

Saí do banheiro com um bico maior do que o de um pato, o que fez Sophy tentar me acalmar. Apenas ignorei, tentando fingir que já estava tudo bem. Megan entendeu que eu estava brava por causa dela e ficou longe de mim, apenas trocando mensagens com algum ficantezinho.

– Por que vocês estão vestidas assim? – perguntei, por fim, quando reparei que elas estavam todas maquiadas e produzidas.

– Porque são nove horas! – Sophie respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– E...? – respondi com indiferença.

– Festa... Josh... Famosos... Hello?!

– Ah, a festa... Tá, mas que horas começa?

– Dez horas.

– Nossa, então preciso me arrumar agora!

– Finalmente, hein? Por que ainda não foi? – Megan se intrometeu, fazendo-me olhá-la com desdém. – Desculpa, desculpa! É brincadeira! Melhor você melhorar esse humor, ok? Vamos encontrar vários gatinhos lá.

– "Gatinhos"? Sério? – perguntei debochadamente.

Elas riram e eu esbocei um sorrisinho. Dirigi-me em direção a minha mala e peguei meu vestido e roupas íntimas. Voltei para o banheiro, onde tomei um banho rápido antes que as duas me deixassem para trás.

– Vamos logo, Candy! Já são nove e meia! – Sophie me apressou.

– Estou indo, estou indo! – respondi enquanto colocava o vestido.

Sequei meu cabelo rapidamente, deixando-o um pouco molhado devido à pressa. Devido a isso, ele ficaria ondulado nas pontas, mas eu não me importava, afinal, quem estaria lá? Não era louca por nenhum famoso, apenas gostava de algumas séries e dos atores que atuavam nas mesmas, mas nada demais. Diferente de Sophy, que adora – ou melhor, ama – o Justin Bieber. Megan, assim como eu, não é fã de ninguém, apenas diz quais homens famosos são gostosos – o que me faz ter quase certeza que ela vai tentar dar em cima de algum.

Terminei de passar maquiagem às pressas e abri a porta do banheiro. Guardei meus pertences na mochila, calcei meu peep toe, passei perfume e, por fim, disse:

– Estou pronta.

– Você fica muito melhor com o cabelo assim. – Megan me elogiou.

– É verdade, mas eu gosto do outro jeito também. – Sophie concordou.

– Obrigada, meninas. Mas não foi de propósito, foi só porque não consegui secar o cabelo direito. – agradeci modestamente.

– Ah, mas ficou legal.

Fomos até a sala e sentamos, esperando Josh aparecer. A propósito, Josh é o namorado de Sophy. Não nos falamos muito, mas ele é bem legal comigo. Eles namoram desde o primeiro ano do Ensino Médio, então conheço-o desde então. Sophie começou a ficar popular no colégio por causa dele, que era um dos meninos mais conhecidos por lá. Ela ligava bastante para toda essa “fama”, assim como Megan. Apesar de tudo, eu era a única entre nós que, mesmo andando com as duas e ser um pouco conhecida – não tanto quanto elas, claro –, não me importava com isso. O que adianta ser popular num colégio? Não muda muita coisa.

A campainha tocou e Sophie levantou rapidamente do sofá, caminhando até a porta. Ao chegar lá, pegou na maçaneta e virou para nós.

– Estou bonita? – sussurrou. Megan assentiu com a cabeça e eu fiz um joinha, indicando que sim. – Oi, amor! – ela disse quando, finalmente, abriu a porta.

– Oi, amor. – ele respondeu, selando os lábios dela. – Estão prontas? Jake e Adam estão esperando no carro.

Jake e Adam eram seus melhores amigos. Por mais que fossem legais com Sophie, eles eram ridículos comigo e com Megan. Não tentavam nada com Sophy, pois ela era namorada de Josh, porém ficavam dando em cima de mim e de Meggy, o que era nojento.

– Sim, estamos. Venham, meninas.

Nós levantamos e seguimos o casal para fora. O carro de Josh era grande, assim não teríamos que ouvir piadinhas do tipo “Ah, senta no meu colo, eu não me importo!”.

Uma música extremamente alta estava tocando, mas só pude ouví-la quando Megan abriu a porta do carro. Agradeci por isso. Entrei logo atrás de Meggy, sentando ao seu lado. Adam, Jake, Megan e eu – respectivamente – estávamos no banco de trás. A viagem seria ótima.

– E aí, meninas! Animadas para a festa com aqueles playboys? – perguntou Jake, fazendo Adam, seu capacho, rir.

– Playboys? Se eu fosse você, teria inveja deles. – Meggy retrucou.

Eu costumava retrucar também, mas estava cansada demais para gastar meu tempo com aqueles dois.

– Por que eu teria inveja desses caras?

– Por que? Sério? – ela perguntou com desdém. – Primeiro, eles são ricos; segundo, eles conseguem pegar quem eles quiserem sem ter que oferecer dinheiro ou fazer chantagem; terceiro, eles não agem como idiotas, são maduros.

Os dois eram tão retardados que não tiveram uma resposta, então passaram o resto do caminho quietos. Sorri para Megan como agradecimento, fazendo-a piscar de volta.

– Amor, me diz! Por favor! Quem vai estar lá? – decidi prestar atenção na conversa de Sophie e Josh.

– Não sei, amor, não sei.

– Como você não sabe? Aposto que sabe! Não era você que conhecia o dono do lugar?

– Conheço, claro, ele é amigo do meu pai, mas ele não me disse.

– Você jura?

– Esquece isso, Sophie.

Ela virou para a janela, um pouco brava por causa da resposta do namorado. Estiquei o braço, alcançando o ombro de Sophy.

– Calma, você vai descobrir. – sussurrei perto de seu ouvido.

Voltei para a posição que estava inicialmente e fiquei ouvindo Adam e Jake conversarem sobre futebol americano, o que era tediante.

– Amiga, viu aquela nova maquiagem?! – perguntei para Meggy com o tom de voz igual o das patricinhas do meu colégio.

– Claro que sim! Perfeita, né? – ela respondeu com o mesmo tom de voz.

Passamos o caminho inteiro falando sobre coisas que apenas meninas gostam de falar, tentando provocar os dois, que calaram-se rapidamente.

– Chegamos, pessoal. – Josh anunciou.

– Ufa! – Jake saiu do carro rapidamente, como se tivesse acabado de ver um fantasma.

– Boa, Meggy! – elogiei entre risos, estendendo a mão.

– Toca aí! – ela disse enquanto respondia ao meu sinal.

Adam saiu logo depois de Jake e ambos enfiaram-se no meio da multidão, desaparecendo. Josh, Sophie, eu e Megan, porém, como pessoas civilizadas, fomos para o fim da fila, esperando que nossa vez chegasse logo.