Estava na entrada do castelo esperando a chegada de Cássius e a convidada especial, Zacariah, o odioso Danyel, a Serpente do Éden. Era uma criatura magra e com corpo de serpente, imitando o visual dos deuses-monstros. Da cintura para cima um corpo normal, exceto pelas asas depenadas. Da cintura para baixo, um corpo serpentino. Tinha conseguido tal forma bizarra através de magias esquecidas no tempo, na intenção de tentar Eva.

Zacariah, Cássius e Danyel subiram as escadas até chegar ao alto do castelo. O caminho era claustrofóbico e escuro. Fogos azulados iluminavam a subida, brotando de mãos esqueléticas presas à parede como se fossem candelabros. Chegaram.

Lúcifer, o Portador de Luz, estava elegantemente sentado em seu trono de crânios. Sua postura majestosa era uma eterna busca de imitar a imponência de Deus. Fora a ausência de um olho, este arrancado pela própria Zacariah deixando apenas o buraco, tinha o rosto belíssimo, juvenil, angelical, delicado. A pele era macia. O olho azul. Os longos cabelos loiros presos numa trança. Uma túnica vermelha cobria todo o seu corpo, escondendo os músculos bem definidos, e deixando a mostra a sua marca principal: um par enorme de asas de morcego.

Ao seu lado, em pé, estava o seu primogênito, o duque Belzebul, o ser de maior poder de influencia na hierarquia infernal depois de Lúcifer. Diferente do pai era feio. A pele vermelha, patas de bode, chifres enrolados. Segurava o poderoso tridente Vingador Eterno.

Danyel tenta ajoelhar-se diante de Lúcifer. Cássius faz apenas um cumprimento com a cabeça. O Arcanjo Sombrio se levanta calmamente e diz que todos podem se retirar, exceto Zacariah. Obediente Cássius e Belzebul saem. Danyel é o último, indo antes beijar as mãos de seu senhor

- Poupe-me de suas amabilidades – diz seco. Danyel obedece e sai, arrastando-se pelo chão sujo. Lúcifer vira-se para a convidada – Estou muito alegre por ter vindo. Faz tempo que não nos víamos... Desde quando você me fez perder um olho.

Zacariah recorda com triunfo da flechada que atingiu o Portador de Luz.

- Espero que tenha compreendido meu pedido. Precisava da disciplina de uma líder querubim. Agora a tenho. Você será um perfeito comandante para minhas tropas contra os céus.

- Que minhas recompensas sejam à altura de minha traição. Daqui para frente serei perseguida por mercenários de Miguel. – Zacariah fala com os olhos brilhando, pensando nas poderosas tropas que lideraria e nas províncias que governaria. – Mas quanto a Yaweh?

- Se Ele ainda despertar o que duvido muito que aconteça me parabenizará pelo meu crescimento. Sou o novo Deus, sempre fui. E a propósito... Já lhe tenho uma missão! - Fala com um malígno sorriso no rosto.

...

Foram feitos apenas dois artefatos, forjados nos furiosos vulcões da província do fogo, no Quarto Céu. Eram dois medalhões místicos. Um deles, dado por Gabriel de presente a sua filha Eva, ficou pendurado no pescoço dela. O outro foi implantado pelo próprio Gabriel em seu coração, por baixo da carne. O primeiro artefato, se destruído, marcaria o início do apocalipse. O que ninguém esperava era que ele era quase indestrutível. Já o segundo, guardado no peito de Gabriel, era a chave para o despertar do Altíssimo, ou seja é o último selo do fim do mundo.

...

Halael saiu para beber um pouco. Gostara de Becca e queria protegê-la, mas tinha que manter seus vícios, que ele julgava uma ótima forma de se sentir mais humano. Seu preferido era o álcool, mas boa parte dos anjos caídos preferia o cigarro. Estava num bar. Para um querubim normal seria um lugar horrível, pois os cheiros fortes de perfumes, cigarro e paixões fingidas os entorpeceriam. Mas para Halael, que já tinha o costume de conviver com os mais diversos vícios humanos, era um lugar até mesmo agradável.

O ex-Primeiro General pede um drink, mas antes do garçom trazer a bebida uma mulher sexy, com roupa justíssima, chupando um pirulito, aparece com uma dose. Ela tinha uma pele bronzeada. O cabelo negro, comprido e oleoso exalava um cheiro atraente. Halael sentiu como se a conhecesse. Na verdade ele a conhecia, mas não lembrava. Era Eva.

- Belo músculo! – diz ela apalpando o braço de Halael.

- Aproximação sutil... – fala, sem expressão, mas já atraído por ela.

- E daí? Não pode? – ela tira o pirulito da boca e molha os lábios com ele, atiçando a excitação do anjo caído.

- Se quiser... Sinta-se a vontade... – Halael sorri para a mulher. Como que despertado de supetão, ele se lembra dela. – Eva! O que quer comigo?

- Só curtir. Dei uma escapulida do inferno... – ela joga o pirulito numa lixeira, e convida num tom suave e sexy – Vamos dançar?

Ela o seduzia de modo que Halael não tinha como reagir. Não se importando com o passado de Eva ou com quem era seu pai, o anjo renegado, tomado pela luxúria, só pensava em beijá-la e transar com ela. Vão para a pista de dança e se beijam ardentemente. Halael a leva para um quartinho de hotel alí próximo. Mal entrando, Eva vai logo tirando a camisa dele. Tinha um espelho pendurado na parede atrás deles. Halael percebe que Eva olha para a cicatriz em forma de V de cabeça para baixo. O casal vai para a cama.

Após a relação sexual, Eva sente as vibrações mágicas de um revólver portador de balas místicas. Atraída pela curiosidade, ela abre a mochila na qual Halael escondia a arma. Halael segura sua mão para impedi-la de pegar o revólver. Eva vira-se para o anjo caído com os olhos vermelhos e exibindo ameaçadores caninos afiados, tais quais os lendários vampiros.

Halael deu dois passos para trás e se refaz do susto. Não esperava a transformação repentina. Eva pula sobre ele, mas o querubim se defende com um chute. Ela cai a alguns metros de distância. Halael aproveita os segundos de vantagem e pega o revólver. Sem pensar duas vezes ele aperta o gatilho, mas a arma falha e não dispara. Ele entendeu logo que era uma defesa psíquica de Eva. Sabia que por ela ser filha do arcanjo Gabriel, herdara alguns poderes mentais.

- Sabe o que me irrita nos bonzinhos? – ela pergunta – É essa esperança que vocês têm em ainda querer salvar a humanidade. – com um movimento de mão, garantiu que Halael estaria paralisado e virou-se de costas – Vocês se arriscam por estes pervertidos, indignos de qualquer glória.

- Falou a Rainha das Succubus, aquela que fornicou com milhões. – Halael falava com ódio – Falou aquela que é mãe dos humanos e traiu os próprios filhos por luxúria e ganância.

- Quem ouve acha que é um ofanim puríssimo falando. Ora! Um querubim que desonrou as ordens da casta por uma humana. – ela olha para o revólver, curiosa – Deixemos de conversas bobas... O que este instrumento humano tem de tão especial? Suas vibrações são magnânimas.

Antes de responder, Halael se percebe livre da paralisia causada por Eva. Como a infernal não costumava usar seus dons psíquicos qualquer distração os anularia. No momento em que ela tentou compreender as emanações da arma, esqueceu que mantinha Halael imóvel. Enfim, com a rapidez que lhe é característica, Halael atira.

Baleada, Eva para e olha para Halael com ódio. Inicialmente sua pele fica roxa. Logo, ela cai de joelhos e começa a gritar. O sangue escorre. Uma neblina estranha envolve a agonizante. O corpo já sem vida incendeia e se transforma em cinzas.

Halael percebe que só resta um colar. Era o lendário medalhão dado por Gabriel, o qual Eva nunca conseguira tirar do pescoço. Estava rachado... Da rachadura surge uma grande luz. Halael larga o objeto, que de repente ficara muito quente e tenta fugir, mas a porta do quarto está misteriosamente trancada. A luz aumenta e um som agudo e muito alto se faz ouvir. Por alguns instantes, Halael fica cego e surdo. O primeiro selo está aberto.

...

O mundo enfrentava uma situação tensa entre as maiores potencias do mundo. Após uma crise financeira que abalara as bolsas de valores em todo o mundo, os Estados Unidos da América buscavam expandir seus territórios de influencia, invadindo países como Cuba, Panamá e Turquia.

Para manter o contingente de tropas nas áreas ocupadas, os EUA selaram acordo com grande parte da Europa. Liderada pela Alemanha e pela Inglaterra fundou-se a Liga de Amsterdã, em homenagem a capital que abrigou os chefes de Estado durante a conferencia que formalizou o acordo.

Na Cuba e no Panamá, o poder paralelo de facções criminosas e traficantes de drogas se aproveitou do clima de tensão para atacar instituições públicas, órgãos governamentais, delegacias de polícia e quartéis do exército. Teve início uma guerra civil que mergulhou os dois países em sangue e medo.

Os Estados Unidos escolheram Filipinas como posto de operações no Oriente. O governo do pequeno país aceitou de bom grado o capital investido pelos patronos ocidentais.

Entretanto a China e a Coréia do Norte, nações que também desejavam expandir territórios de influencia, não gostaram da aliança entre a Liga de Amsterdã e Filipinas. Os dois países exigiram a evacuação das empresas ocidentais do arquipélago. A recusa levou a um conflito que vitimou cem mil pessoas. Os países do Oriente foram os vencedores e a Liga de Amsterdã obrigada a deixar as ilhas.

A China e a Coréia do Norte selaram acordos com a Índia, Mongólia, Tailândia, Malásia e Indonésia. Os russos e outras ex-repúblicas soviéticas abraçaram com todas as forças a causa chinesa. Surgiu a Liga de Pequim.

Ambas as Ligas estavam bastante fortes, mas as últimas alianças antes de estourar a Guerra estavam para acontecer. O Japão aderiu à Liga de Pequim. Os americanos conseguiram o apoio do Canadá e da Oceania.

O palco para a Terceira Guerra Mundial estava armado.