– Porra, Justin, que susto! - eu disse me afastando colocando a mão no peito, arfando.

Esse garoto ama aparecer do nada. Ainda mais quando eu estou tentando ficar sozinha, e apenas relaxar.

– Nossa, cadê a garotinha fofa e bonitinha que não fala palavrões? - ele disse rindo de mim.

– Nunca existiu, querido. - eu disse ajeitando a bolsa no meu ombro, colocando o meu livro de lado.

– Uau. - ele disse, ao me ver levantando com toda a minha ironia e fúria possível. - Mas, então, você não vai me responder mesmo? - ele disse com um olhar estranho.

– Te responder o quê, Bieber? - eu voltei a olhar nos seus olhos, virando pra trás e ele bufou.

– Você vai ou não vai no cinema com a gente? - ele disse sério, mas com um sorriso no canto da boca.

Eu não aguentei. Já estava brava e esse garoto aparece de repente.

– Pra quê? Pra você ficar se agarrando com a sua namorada e a gente ficar assistindo tudo? Ah, não, muito obrigada, Justin. - eu disse falando tudo rápido, daí eu percebi na merda que eu fiz.

– Hã? - ele pareceu confuso me olhando como se fosse um retardado. - Namora- Ah! - ele interrompeu a si mesmo e eu cruzei os braços olhando pra Justin levantando a sombrancelha esquerda. - Você não tá falando da Selena, tá? - ele disse sério e eu assenti. - Cara você só pode estar de brincadeira. - ele gargalhou alto.

– Garoto, você tem algum problema? - eu disse olhando pra ele séria. - Eu vim aqui só pra esvaziar meus pensamentos e relaxar, daí você vem do nada me encher o saco ou o quê? - eu disse brava apontando pra praça ao nosso redor e me virando pronta pra ir embora, mas Justin segurou meu braço.

– Ei, só me responde - ele disse olhando nos meus olhos. - você vai ou não vai comigo? - ele sorriu de canto.

– Vou, claro. - disse com um sorriso irônico. - Só se você me soltar e parar de falar. - ele disse me soltando suave com um sorriso no rosto. - Bom. - eu disse apertando meu braço.

Eu não tinha mais escolhas, ou eu ia pra casa, ou eu ficaria ali, naquele parque, com a minha leitura sendo interrompida, pensamentos e tudo! Talvez uma "caminhada", não tinha sido uma boa ideia.

{...}

Já era a noite, e nenhum sinal do meu pai chegar. Bom, ele costumava chegar bem tarde e... Por que eu estava me preocupando toda?

Tinha vezes que eu realmente achava que eu era uma bipolar. Ou retardada, tanto faz.

Eu estava jogada na minha cama, olhando pro teto, já que em nenhum lugar eu podia ter sossego, resolvi ficar em casa. Mas eu ia ter que sair dali em poucas horas. Eu tinha prometido pra Justin que eu iria com ele. Me culpei. Mas tudo tem suas circunstâncias, fazer o quê.

Meus planos eram de ficar em casa relaxando, mas até que poderia ser uma boa ideia. Eu iria sair e eu não precisaria encarar meu pai depois do que aconteceu.

Levantei minha cabeça olhando pro lado, e já eram quase 8:00 da noite. Quer dizer, 30 minutos para ás 8. Me levantei, e fui tomar um banho pra poder sair.

Após o banho, enrolei a toalha no meu corpo, e fiz um coque no meu cabelo, só pra não me atrapalhar. Escolhi a roupa e a vesti. Eu simplesmente adorava aquela camiseta. Era perfeita: com o símbolo da paz, preta e larguinha, do jeito que eu gostava. Me vesti satisfeita, e me olhei no espelho: faltava ajeitar meu cabelo.

O sequei, e penteei, como de sempre e ajeitei como eu queria. Passei rímel preto e um gloss. Eu não gostava de ficar me maquiando, na real. Só fazia o básico do básico sempre que saía. Já estava pronta.

Peguei a minha bolsa com listras vermelhas - aquela que eu fui, no parque - e procurei meu livro, aquele que ás vezes, eu anotava meus pensamentos com algumas notas, embaixo das páginas. Olha que ótimo: eu não o achei. Eu sentei na minha cama desesperada. Quero dizer, lá tinham os segredos que eu nunca contei pra ninguém sobre a minha vida pessoal. Era o meu livro favorito, disfarçado com uma espécie de diário. E eu tinha perdido ele, que maravilha. Daí eu lembrei: quando eu estava relendo meu livro no parque, eu deixei-o de lado quando Justin chegou e fui embora, sem pegá-lo de volta.

Eu estava prestes a perder a cabeça quando meu celular tocou. Eu bufei e peguei-o com violência. Meu Deus, aquilo definitivamente não poderia estar acontecendo! E se alguém tivesse lido?

Tinha uma nova mensagem de Justin. Abri.

jess, estou na porta com o pessoal. já tá pronta?

JB

Nem respondi, peguei minha bolsa e saí correndo. Cumprimentei todos com um falso sorriso no rosto, e sentei no banco de trás, com Chaz e Ryan.

Vamos fingir que nada daquilo e estava acontecendo.

{...}

– Que filme vocês vão querer ver? - Justin apareceu com Selena grudada nele perguntando.

– Hm, tanto faz pra mim. - respondi rápido. Eu disse a mim mesma que eu ia esquecer que eu tinha aquele livro, mas não dava. Simplesmente, não.

– O que tá em cartaz? - Chaz que estava do meu lado, perguntou.

– Vai lá ver. - Justin disse em um tom "nossa-como-você-é-folgado" e Selena riu. - Não dá pra citar todos aqui. - ele riu.

Chaz e Ryan se levantaram e foram até aquelas TV's onde passavam a programação bufando, e então, Justin e Selena sentaram ao meu lado. Eu evitei contato com os olhos, eu parecia uma maníaca olhando pra um lado e pro outro. Quero dizer, eles estavam se beijando do meu lado, e eu estava lá igual uma idiota.

Chaz e Ryan chegaram com os ingressos na mão, balançando. Ryan pigarreou para interromper o beijo dos dois do meu lado.

– Já compraram o ingresso? - Justin perguntou meio avoado. - Mas a gente nem falou nada ainda sobre qual filme e-

– Tá bom Justin, levanta a bunda daí porque a sessão já vai começar. - Ryan disse interrompendo-o me fazendo rir.

Fomos até a sala e nós ainda não sabíamos qual era o filme que íamos assistir. Chaz passou o braço pelos meus ombros. Me senti meio desconfortável, mas não ia dar um fora no garoto.

– Hm, Chaz - eu disse amigável sorrindo de canto - qual filme vocês escolheram?

– Atividade paranormal 4. - ele sorriu e minha boca se abriu fazendo um perfeito "O" maiúsculo. - Acabou de lançar. - ele virou os olhos para a tela que passava propagandas com instruções de como permanecer no cinema.

– Você só pode estar de brincadeira comigo. - eu disse gargalhando baixo. - Filme de terror? - perguntei irônica.

– É... Por que? - Chaz perguntou inocente.

– Cara, você ainda me paga. - eu disse rindo.

– Você não gosta? - ele perguntou.

– Dúvido que você não sabia. - disse voltando os olhos pra tela, lembrando que precisava desligar meu celular, então logo fiz. Chaz riu com a minha resposta.

O filme começou e eu já comecei a ficar com receio. Mas nada me assustava mais do que o fato de eu ter esquecido meu livro naquele parque. Todo mundo focava no filme, mas eu olhava pra um outro ponto da tela só pensando naquilo. Meus pensamentos foram interrompidos com um calafrio percorrendo meu corpo, após uma mão masculina pousar na minha coxa direita. Me virei lentamente e vi Chaz sorrindo de canto, como se não tivesse feito nada. Fiquei mais desconfortável ainda, mas o quê eu poderia fazer. Não ia chegar pro garoto e dizer "Oi, será que dá pra você tirar a mão da minha perna? Não me sinto confortável com você. Obrigada.". Na verdade, me controlei pra não dizer isso. Meus pensamentos, minha cabeça, estava tão conturbada, que eu era capaz.

A cada ponto do filme, ele ia subindo, então cruzei as pernas com intenção de a mão dele cair pro lado conforme o ato. Deu certo, mas a partir do momento que descruzei minhas pernas, ele pousou a mão de novo sem nenhuma dificuldade. Que ótimo, pensei, ele nunca vai se tocar.

{...}

A verdade é que eu não prestei atenção em nada do filme, mesmo nas partes mais assustadoras. Eu queria era ir embora. Quando o filme acabou, eu apenas levantei e fui em direção ao lado oposto ao que Chaz ia. Ele era um cara fofo e tudo, mas ele era meu amigo. E eu não queria estragar isso.

Fomos direto ao carro de Justin e Chaz, Ryan, Selena e ele comentaram um pouco sobre o filme, mas eu fiquei na minha.

– Jess, tá tudo bem? Você tá um pouco quieta. - Chaz notou dizendo.

– Ah, magina. - menti. - Tá tudo bem. - sorri falso.

Só olhei para a janela e vi a casa vizinha da casa em frente a minha. Já tínhamos chegado. Abracei todos (até Selena, afinal sou uma garota muito educada), e quando cheguei para dar um abraço de despedida em Justin, eu tive vontade de morrer ali.

– Eu sinto muito. - sussurrou ele no meu ouvido com um livro nas mãos. O meu livro.