Olhos da Meia-noite escrita por Débora Falcão


Capítulo 5
A Fome


Notas iniciais do capítulo

Todos os personagens são fictícios, criados por mim. Algumas coisas são retiradas do livro Vampiro - A Máscara, mas muitas delas são criações minhas.



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Milena não sabia explicar o que sentia. Um aperto por dentro, uma ansiedade, agonia. Seus olhos ficaram ainda mais brilhantes dentro do quarto escuro. Não queria velas. Não queria luz. Somente a escuridão. Seus caninos haviam crescido pela primeira vez. Não sabia como isso acontecia, mas sentiu dor. Uma dor rápida e fina. Com o tempo, acostumaria. E tempo, Milena já sabia que lhe sobrava, até demais. Não gritava. Urrava. Subia, literalmente, pelas paredes. Chegava ao teto e se jogava, caía de pé no chão, para começar tudo outra vez. Uma agonia que não tinha explicação, até Lady Anthonya chegar.

Lady Anthonya não disse uma palavra. Apenas assistia a cena, com seus olhos dourados, brilhando na escuridão. Percebia claramente a dor e a agonia de Milena. Sentira isso quando fora transformada, sentia isso até hoje. Mas Milena não sabia o que estava acontecendo. Precisava avisá-la. Ergueu-se no ar e segurou Milena no exato momento em que ela caía do teto. Com voz rude e modificada, gritou:

— Pare!

Ante a voz de trovão da senhora, Milena acalmou-se, mas a agonia corroía seu interior.

— Você está sentindo na pele e na mente o que irá sentir por muito tempo. Essa é a Fome.

— Mas não sinto vontade de comer... eu nem sei o que quero... um desejo imenso...

— Você precisa de sangue. Sangue humano, fresco, quente. Já.

Milena grita. Seu corpo se contorce em convulsões fortíssimas. Não conseguia nem pensar. Lady Anthonya bate palmas e, quase imediatamente, o lacaio surge na porta do quarto.

— Pois não, senhora.

— Traga um de meu rebanho. Por favor.

— Sim senhora.

O lacaio sai e deixa Milena e Lady Anthonya no quarto. Volta em seguida, quase arrastando o que seria uma mulher. Baixa, magra, cabelos emaranhados tingidos de loiro. Os olhos grogues observam a escuridão, não enxerga nada. A garota já estava acostumada com isso. As mordidas em seu corpo tinham muito o que contar.

Milena, com seus olhos brilhantes, aguçadamente vê o lacaio chegar com a loira. Num impulso incontrolável, voa até ela e a morde. Suga o puro sangue, vermelho, quente, vivo! Milena não consegue descrever a sensação de matar a Fome. Sente-se rejuvenescer, e até corar. A garota não se debate, não luta, simplesmente espera a morte chegar, passivamente. Milena sente que a vida dela está se esvaindo, mas não consegue parar. É muito mais forte. Sugou, até que não houvesse mais suspiro na garota, e deixou de lado seu corpo inerte.

Lady Anthonya assiste a tudo, seu rosto duro, sem expressão. Mas por dentro, não sabia se aprovava ou não a atitude de Milena, ou dela própria. Naquele momento, Milena deixou-se dominar pelo seu lado animal, não podendo controlar-se. Mas Lady Anthonya sabia muito bem a sensação da Fome, e começava a senti-la naquele momento.

Ainda assim, Milena precisava se controlar.

— Milena, tem mais uma coisa que precisa saber.

O sangue nos lábios de Milena é totalmente absorvido pela sua pele, que fica completamente seca.

— O quê?

— Somos animais. Mortos. Foi nos tirado o direito de conhecer o Paraíso e estamos condenados a viver eternamente neste mundo. Mas nem tudo está perdido. Podemos adquirir humanidade e morrer, passarmos para o Caminho da Vida. Para isso, precisamos controlar nossa Fome. É ela quem nos faz diferentes dos humanos. É ela quem nos tira o Paraíso. Se a controlarmos, se conseguirmos superar isso, poderemos conhecer Aquele que expurgou Caim de sua terra pelo seu assassinato. Estaremos livres desse jugo e morreremos para a verdadeira vida.

— A Fome é forte demais...

— Eu sei, eu a conheço de perto, mas precisamos controlá-la. Precisamos. Se quisermos ver o Paraíso que nos foi tirado, precisamos.

— E isso demora?

Lady Anthonya olha para Milena e hesita por um instante.

— Estou na espera há mais de mil anos.

Lady Anthonya se retira do quarto, deixando com ar perplexo sua aprendiz. O lacaio arrasta o corpo sem vida da garota para fora do quarto e Milena se vê sozinha, nas sombras.


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