The Rose Of Darkness escrita por Pye


Capítulo 24
Capítulo 14 – Gatinho Ferido.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus botões de chá *-*, trago pra vocês mais um capítulo fresquinho. E à todos aqueles que continuam comigo, obrigada de verdade viu? Amo todos vocês, e não sabem como me emociona cada review e recomendação, de verdade.

Esse capítulo vai continuar com nossa protagonista narrando, e nele terá o mistério do Nathaniel e uma surpresa no final com cenas extras.

*NÃO ESQUEÇAM DE VER AS IMAGENS E MÚSICAS DO CAPÍTULO*

Bom, boa leitura seus lindos.



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Capítulo Quatorze,

Gatinho Ferido.

Música de abertura

“Os olhos turbulentos invadiam-me com fervor,

Como se facas afiadas estivessem a ponto de cortar-me o coração,

Os pequenos movimentos e o tão preciso silêncio,

Era como se de repente, fossem brotar dentre seus loiros cabelos um par de orelhas de gato,

Orelhas de gato? Perguntaram-me,

Oh, sim, orelhas de um pequeno e inofensivo felino, aos prantos do desespero, as garras para fora, os olhos gritantes por socorro,

Precisa de ajuda, pequeno gatinho?

Disse-me que não, que seu coração estava bem, que tudo estava bem,

Não minta, seus lábios dizem a mentira, mas seus olhos gritam pela verdade,

Expresse os sorrisos alegres, como de costume,

Oh, meu amor,

Cante-me silenciosamente em seus pensamentos oque sente, e o quanto é profundo e negro o poço da solidão,

Quem feriu-lhe? Quem desferiu tantos golpes em ti?

Não digo agressões físicas, mas sim as mais graves,

Aquelas que abalam o coração,

Oh, meu pobre gatinho ferido, diga-me oque há (...)”

~ ~

Narrado pelo Personagem – POV’S Mellanie;


(...) A porta então se abriu, quebrando meus pensamentos, quaisquer naquele momento. Era como se tivessem virado fumaça e se dissipando no ar, ao meu redor. Olhei para frente, e da brecha da porta pude ver os profundos olhos âmbar e os caramelados cabelos dele.







— Nathaniel, — eu comecei dando um passo para perto dele, que se esquivou um centímetro.
















— D-Desculpe, você precisa de ajuda? — que modo era aquele de falar? Tão formal, tão... vazio.





















Eu o olhei com os olhos apertados em desconfiança. A metade de seu rosto escondia-se atrás da porta, e em um instante a puxei por completo, revelando-o.
















Naquele mesmo segundo senti meu peito se apertar, como se algo ou alguém o estivesse espremendo com garras fortes. Meus olhos se abriram ao máximo, arregalados, enquanto eu encarava aquele rosto pálido.







— Ei! Oque é isso? — avancei nele sem hesitar, segurando em seu rosto com ambas as mãos em preocupação.


Mas oque...?

— Mellanie... por favor, eu...

— Quem fez isso em você? — questionei séria, fitando à fundo a marca levemente arroxeada em volta de seu olho direito.

Ele abaixou a cabeça, envergonhado.

— Se não precisa de nada, por favor, saia.

Arqueei as sombracelhas, incrédula.

— Sair? Não, eu vou ficar, e vamos conversar. — disse em um tom autoritário talvez além da conta, passando por ele e fechando a porta atrás de mim em um baque.

A sala estava perfeitamente arrumada, o vaso de flores amarelas ao centro da mesa de reuniões, e dois armários grandes quais as pastas e documentos ficavam.

Me virei para ele e o olhei séria.

— Oque é isso, Nathaniel? — insisti.

Ele por sua vez suspirou,

— Por favor, não me faça perguntas, Mellanie. Não agora. — respondeu e então foi pro chão, sentando lá e encostando as costas no armário.

Eu sorri me dando por vencida, também sentando ao seu lado, fitando mais uma vez aquele hematoma em seu olho.

Porque bateriam em alguém como ele? Um cara tão tranqüilo e simpático, então, por quê?

Uma marca de soco, isso era sem dúvida visível.

— Vou te ajudar com isso, — eu me curvei um pouco, tirando bem do fundo da minha mochila um potinho de “creme”.

Me sentei ao lado dele, e então abri aquele minúsculo pote, tomando dentre os dedos um pouco daquela pomada.

— Oque é isso aí? — perguntou com um semblante curioso, porém o olho ferido permanecia entreaberto.

— É pra curar ferimentos. Minha tia sempre me obrigou a levar isso na mochila, ela diz que cura em um piscar de olhos e diminui a dor bem rápido. — eu sorri ao me lembrar de uma vez que me machuquei, acho que deveria ter uns onze anos. Ela me passou aquilo nos joelhos arranhados, e no dia seguinte como mágica não havia nem sinal das marcas feridas.

Mágica? Não. Aquilo era especialidade da minha mãe. Lunna me dizia que aprendeu a receita desta pomada “mágica” com minha mãe, que a fazia para ajudar os feridos nas missões. Missões essas que eu nunca soube muito a respeito.

Passei a pomada de leve ao redor do olho do loiro, que suspirou fundo por alguns instantes.

— Espero que me conte um dia sobre isso, talvez quando sentir confiança em mim... — eu disse ao terminar de passar a pomada, que por si era bem discreta, além de ocultar um pouco o arroxeado.

— Eu confio em você, mas é que... — ele pausou ao olhar para mim com os olhos tristes — Há coisas que não podemos contar pra ninguém.

Coisas que não podemos contar para ninguém...

Mais do que qualquer outro, talvez, eu pudesse entendê-lo. Eu tinha segredos que não poderia contar para ninguém, nem para aqueles que tenho confiança e amo. Segredos de um passado que manchava minhas memórias por sangue. E mais do que ninguém, eu podia entendê-lo, compreender como era esse sentimento.

Eu assenti, acariciando os cabelos louros dele.

Mas ao abaixar os olhos para a ponta de seus braços, qual as mangas da camisa tapavam quase por completo, marcas e arranhões vermelhos foram “captados” por meus olhos, e com um puxão rápido em sua manga da camisa, eu a levantei um pouco e conclui que; não era somente o olho que havia sido atingido.

— Nathaniel, tira a camisa. — eu ordenei sem tirar os olhos das marcas vermelhas nos braços.

Ele arregalou os olhos um pouco surpreso.

— Oque?

— Anda logo, ou prefere que eu mesma faça isso?

Ele abaixou os olhos, envergonhado, enquanto sem pressa desapertava a gravata azul e a tirava, colocando sobre o colo. O mesmo foi feito com a camisa branca; desabotoou e a abriu.

Apertei o potinho de creme nas mãos e olhei em seus braços e costas, horrorizada. Marcas vermelhas e roxas por todo o canto, como se fosse uma trilha violenta, era como se alguém o tivesse chutado sem piedade. Apertei os olhos.

— Isso é caso de polícia... — murmurei ao aproximar minhas mãos de suas costas, analisando os ferimentos.

Ele gemeu baixinho de dor.

— Não se preocupe comigo.

Eu suspirei, derrotada, pegando novamente com os dedos pequenas porções de creme e espalhando pela região afetada em suas costas.

Não demorou muito para que eu terminasse, e então deixei o pote de creme em cima da mochila, me virando novamente para encará-lo. Os olhos piedosos, como se estivessem gritando por ajuda, por alguém que ficasse ao seu lado.

Não tinha idéia do que estava acontecendo, mas de certa forma podia entender sua dor.

E então sorri levemente triste ao canto dos lábios, me lembrando de um passado distante de minha infância.

“Isso poderá acalmá-lo.”

— Sabe, eu nunca contei pra ninguém, mas eu tive um amigo no primário. Não me lembro de datas ou nomes, mas eu era apenas uma pequena garota de nove anos, ainda com a mente marcada por um acontecimento macabro do passado. Mas foi naquele parquinho da escola que o conheci, é, o meu primeiro amigo. Eu me aproximei e me sentei timidamente ao seu lado no balanço. Ele não me olhou, nem sequer expressou qualquer reação. Mas, foi a partir daquele dia que ficamos próximos. Ele era bastante quieto e sério, talvez um pouco assustador. Não demorou muito para que eu descobrisse seus segredos. Ele tinha grandes traumas e uma mente oculta, viajante. Mas ouve um dia em que o encontrei ao pé da escadaria aos fundos da escola, sentado e isolado com os braços manchados de sangue, pude reparar que seus braços se estendiam em marcas de mordidas, sim, suas próprias mordidas. Os pulsos levemente cortados por lâmina e os olhos caídos e mortos para o chão daquele pátio. Eu o acolhi, dei meu apoio naquele dia. Os meses se passaram com os mesmos acontecimentos; ele feria a si mesmo. Não demorou muito para que eu descobrisse também que ele tinha transtorno de personalidade grave, e saber daquilo de certa forma era assustador, me fazia ter um peso na consciência entende? Mas, talvez por ele sempre ter se sustentado em uma aparência fria e indiferente, fosse a razão pela qual todas as crianças o rejeitavam. — meus olhos estavam rasos por lágrimas? Mas oque é isso sua idiota, não vá chorar na frente desse loiro por causa de memórias bobas. Ele precisa do seu apoio agora, seja firme — Passou exatamente dois meses, e me lembro muito bem daqueles dias de primavera. Ele parecia feliz, como se finalmente tivesse se libertado. E os ferimentos e crises? Haviam sido controlados. Eu também estava muito feliz, porque acreditava ter ajudado-o com a dor, mas estava enganada. Naquela mesma semana quando fui procurá-lo novamente naquelas escadarias, ele estava lá, encostado na parede e encharcado por sangue e, uma faca sobre o colo. Estava morto. Não me pergunte qual foi minha reação naquele momento, porque, eu não saberia responder ou explicar. Simplesmente me veio à escuridão, e então apaguei ali mesmo diante de seu corpo. Fui recobrar a consciência em casa, bem mais tarde. Mas por fim, ele era um ótimo garoto, não me importava quantos defeitos ele tinha ou quantos o julgavam, de qualquer forma, ele continuaria sendo especial pra mim. Mas além de tudo, é realmente doloroso não poder salvar alguém que ama da escuridão. E, eu não pude evitar que ele machucasse a si próprio. — eu suspirei, levando uma das mãos para os cabelos e colocando uma mecha por trás da orelha — Então, entre tantos cortes e ferimentos que ele cometia, que acabei aprendendo a tratar basicamente de primeiros socorros, eu o ajudava freqüentemente e passava inclusive este creme. Talvez seja por isso que pude te ajudar tão bem agora, com seus machucados, Nathaniel.

Esfreguei de leve os olhos, espantando quaisquer lágrimas que pretendiam cair. Olhei pro loiro novamente, e algo mágico me atingiu. Seus olhos estavam tomados por uma admiração fora de série, um sorriso estampado e bem interessado no que eu dizia. Havia ajudado-o com a dor? Porque, naquele momento, ele parecia ter deixado-a de lado.

— Ele teve sorte de ter tido uma garota como você por perto para ajudá-lo nas dificuldades. Uma pessoa como você, que o apoiou enquanto ele sofria por seus problemas. Mas foi uma pena apesar de tudo isso, ele ter seguido um final desses, tão... sei lá, cruel. — ele disse, e aquelas palavras fizeram meu coração pular.

— Nem sempre somos capazes de ajudar todos que gostamos, Nathaniel. — eu afirmei — Mas enquanto eu estiver aqui, conte comigo. Vou ser sua enfermeira se precisar de ajuda de novo.

Ele assentiu com mais um sorriso.

— Pode deixar, senhorita!

— Mas não é por isso que quero te ver machucado assim outra vez. Quero que fique bom e supere. Enfrente quem quer que tenha feito isso em você da próxima vez. Certo?

Ele me olhou ao terminar de colocar a camisa branca. Aquele olhar vazio, outra vez.

— Obrigado pela força, baixinha. — disse me dando um pequeno soco no braço, e então se levantou de uma vez só, levando junto a gravata azul.

— Sem essa de baixinha, anã, pedaço de toco, e blá blá blá. — eu ri — Já basta o demônio tingido me dando apelidinhos, sério.

Me levantei também, o fitando, que parecia divertido com minha repreensão.

— Tudo bem madame. — e então esticou a gravata na minha direção — Poderia me ajudar?

Eu sorri, assentindo. Mas antes que fizesse qualquer coisa, peguei minha mochila e enfiei o pote dentro dela. Abri a porta e a coloquei no canto da parede, ao lado de fora.

Nós ficamos na frente da entrada daquela sala, bem ao lado daquele corredor vazio e abandonado. Eu coloquei a gravata em volta de seu pescoço, dando o devido nó nela. Como havia conseguido dar um nó tão bom? Eu não faço idéia. E talvez, esse seja o problema em mim. Há simplesmente coisas que eu não me lembro. Como esse simples ato de dar um nó em uma gravata. Me lembro de pequenos fleches em minha memória, eu muito pequena colocando uma gravata negra em um homem desconhecido, enquanto minha mãe me olhava com um sorriso doce. Quem era ele, afinal?

Ao terminar com a gravata, ajeitei sua camisa branca com os dedos gentilmente.

— Uau, você sabe mesmo fazer isso. Obrigado. — ele disse com um sorriso torto — Sempre quem arruma a gravata em mim é a rosada psicopata, mas ela não está... então...

Eu sorri sem jeito, lembrando-me de Miha.

— Eu costumava dar nó em gravatas de alguém quando pequena, mas de algum modo não consigo me lembrar. Isso me incomoda, de vez em quando... — eu disse sentindo meu peito esquentar.

Ele sorriu torto.

— Será que não ajudava o seu pai com as gravatas? Sei lá, filhas costumam fazer isso também.

Meu... pai?

— Não sei, talvez não.

— Por quê? Você não o vê?

— Não. Nunca o conheci, quero dizer, as vezes tenho memórias pequenas de quando era bem pequena, ele vivia comigo, sei lá. Mas é como se ele nunca tivesse existido. Não me lembro de seu rosto ou voz. — meus olhos brilharam em nostalgia.

Como seria os cabelos... os olhos e o temperamento de meu pai? Tudo que me lembro é dele abandonando minha mãe em uma noite de inverno. Eles haviam brigado, pela última vez.

Será que eu... era apegada à ele... antigamente?

Chacoalhei a cabeça, distanciando os pensamentos infantis.

E então percebi o loiro se encostar na parede e abaixar a cabeça, disfarçando o ferimento no olho.

Olhei na direção contrária naquele corredor, e lá pude ver uma certa garota com longos cabelos rosados vindo até nós.

“Espero que esteja de bom humor,”

Acompanhei com o olhar ela parar bem ao nosso lado, com os ombros caídos e os olhos marcados por leves olheiras.

Havia dormido no hospital?

— Miha, vida difícil hein? — eu dei uma risadinha, e ela retribuiu.

— Pois é, pequena rainha dos maloqueiros. — ela provocou.

Eu revirei os olhos. Ela queria me deixar irritada, como sempre conseguia quando tocava no assunto; Castiel. “Oh, seu namorado maloqueiro está vindo, ou “Olha baixinha, é hora de dar uma de babá de demônios” Mas tudo bem, já era de costume afinal, Miha sempre Miha.

Sorri enquanto rapidamente recolhia minha mochila do chão.

— Acho que vocês dois tem muito oque conversar, então, tô indo nessa. — disse indo para o outro lado do corredor, e de relance a vi pegando o loiro pelo colarinho da camisa com raiva, enquanto ele por reflexo levantava a cabeça.

— Espero que você tenha ordenado corretamente as pastas dos alunos, ou eu mesma vou ordenar um chute nas suas costelas e... — mas ela parou, quando ele deixou por descuido os cabelos loiros saírem do olho, revelando finalmente o ferimento — Oh, merda. — a rosada deixou os olhos sobressaltados na marca roxa em seu olho e então soltou de leve os dedos do colarinho da camisa dele. Seu olhar não era de fúria, mas agora, de preocupação.

“Miha, deixo em suas mãos esse problemático. Cuide dele.”

Sorri pequenamente ao canto dos lábios, me virando e ignorando o resto da conversa, até porque à esse ponto ela já teria o jogado dentro daquela sala para “conversar”.

Cruzei o corredor, entrando finalmente no pátio principal, absolutamente vazio. Olhei para o lado, fitando a placa da biblioteca.

Mas ao avançar um passo sem sequer olhar para frente, senti um baque violento. Havia me chocado contra algo duro e alto. Olhei para frente com um pouco de dificuldade. Um homem?

Ele vestia-se estranhamente; com um longo manto esverdeado e um capuz que lhe cobria praticamente o rosto inteiro, somente os lábios eram visíveis.

Apertei os olhos, sentindo minha mente rodar em confusão.

O escutei murmurar alguma coisa, mas não entendi.

Quem era aquele cara?

— Desculpe-me, eu a machuquei? — e então escutei claramente sua voz. Uma voz máscula, levemente rouca e aguda.

Me fez tremer, de certa forma.

— N-Não... eu ‘tô bem, não se preocupe... — eu disse um pouco abobalhada? Não, completamente abobalhada.

‘Quê isso produção. Eu tinha acabado de trombar com um homem alto e desconhecido. Estranho? Imagina, tá tudo bem.

— Poderia me informar onde posso encontrar a orientadora e professora de literatura? — ele perguntou, enquanto eu fixava meus olhos verdes pesadamente naqueles lábios.

— Não tenho certeza, mas ela deve estar na sala dela, — eu pausei e pensei por um momento — Fica no segundo corredor depois deste aqui, você vai até o final e a segunda porta a direita vai ter uma placa de metal escrito; Sala do Orientador.

Percebi um pequeno sorriso se formar nos lábios daquele homem anônimo. Estremeci.

— Muito obrigado pela informação, senhorita. Foi um prazer conhecê-la. — ele então finalizou, andando calmamente e sumindo de minha visão, entrando no corredor indicado por mim.

Aquele manto pesado e longo... aquele capuz... era tão semelhante à... Ao meu perseguidor em minha outra cidade, porém ele era um pouco maior na altura e os lábios eram completamente diferentes. Não existia malícia neles.

Mas de qualquer forma, algo estava suspeito aí.

“Com certeza, esse cara precisa realmente de orientação...”

~~

— Cena extra do Capítulo — Miha e Nathaniel.

A rosada afrouxou os dedos de sua camisa, com olhar agora estranhamente preocupado.

— Oh, merda. — e então o agarrou pelo braço, praticamente o jogando para dentro da sala dos representantes. Fechou a porta com violência atrás de si.

Se entreolharam, enquanto o loiro parecia sem jeito.

— Miha-

Ela bateu com violência o punho contra a mesa de madeira em um golpe, assustando o loiro que deu um pulo em reflexo. Ela o fitou mortalmente.

— Aconteceu... de novo? — ela disse deixando os ombros caírem, se acalmando novamente.

Se aproximou dele, sentando-se agora no chão e encostando as costas no armário. Ele fez o mesmo.

— Eu prometi que iria enfrentá-lo da próxima vez, eu prometi pra você que não apareceria mais nesse estado, mas eu fui um fraco mais uma vez. Eu sinto muito, Miha. — ele falou talvez mais baixo do que deveria, mas ela havia escutado cada palavra, e era isso que importava.

Ela soltou um ‘Tsc e virou para o seu lado, com olhar desanimado.

— Faça suas próprias escolhas, seja quem você é de verdade, não oque ele quer fazer de você. Eu mais do que ninguém nesse pedaço de lixo, sei oque você sente e oque passa naquele buraco que você chama de casa. Nathaniel, não deixa que aquele velho te controle. Quantas vezes já ameacei que iria naquele escritório de merda socar aquele homem arrogante que diz ser seu “papai”? — ela suspirou antes que continuasse — As escolhas são suas, mas quem parece comandar sua vida é aquele ordinário. Sua mãe está morta agora, mas não por sua culpa como ele diz em todas as briguinhas idiotas e violentas, mas se ela está morta agora, é por causa dele. Porque não põe isso na sua cabeça, seu imbecil?

— Tudo que eu quero é fugir pra bem longe daquela casa, arrumar um trabalho e morar no meu pequeno espaço, um apartamento apertado e bagunçado. Não quero casas grandes ou compromissos importantes. Quero algo só meu, meu espaço e viajar pelo mundo. Conhecer oque eu quero e não ser obrigado a fazer uma droga de faculdade de contabilidade ou essa merda toda.

Miha sorriu,

— As vezes eu quero socar você, esmagar os seus ossos, seu inútil. Mas em outros casos, como agora, eu quero só dar meu apoio, sem te atingir de forma violenta. Mas tenho que admitir que fico louca quando isso te acontece, sabe, queria pegar uma barra bem grande de ferro e acertar aquele ogro nas costas, até ele agonizar e sangrar no chão e... ficar lá.

— Provavelmente você iria presa. — o loiro riu divertido, olhando a cara de frustração da rosada.

— Iria mofar na cadeia feliz, porque estaria ajudando você, e ajudando o mundo livrando todos de um maníaco psicopata.

Nathaniel sorriu, mexendo com os dedos nos botões da blusa da representante estressadinha ao seu lado.

— Você sempre esteve do meu lado, né? Sempre quando cheguei machucado aqui e me tranquei, você me ajudava. Claro, me dava uns socos antes de me deixar mais calmo. Mas, mesmo assim...

— Isso porque eu sei, Nathaniel, que você não é aquele garoto enjoativo e todo perfeitinho a príncipe que todas essas vacas daqui acham. Você pode ser inútil, mas por favor, continue sendo esse inútil pra sempre. Não deixe que ninguém manipule seu cérebro, apenas aproveite e haja aqui nesse hospício como você é de verdade, sem mascaras, haja de um modo que você não pode agir perto dele. Seja o idiota que é... perto de mim, perto de todos especiais pra você.

— Você tomou seus remédios hoje, porque tá me assustando. — ele zombou com algumas gargalhadas.

Ela deu um soco na cabeça dele, disfarçando o quanto divertido estava sendo aquela situação toda. Mesmo que ele estivesse ferido, mesmo que estivesse em um dia ruim...

— Você quer ver eu te assustar de verdade, idiota? — ela tornou um falso semblante irritadiço, e então levantou o punho fechado.

Ele apertou levemente os olhos, já sabendo oque iria acontecer. Como de costume, ao fim dessas conversas “melosas”, levaria um belo soco na cara. Ela não tinha piedade, mas de qualquer forma, esse era seu jeito de dizer; vou sempre estar ao seu lado.

Ele se esquivou por um momento, mas quando ela avançou nele, rapidamente desfez o punho firme e agarrou nos cabelos loiros com agilidade, beijando-o nos lábios em seguida. Um beijo calmo e doce.

Os dedos pálidos do loiro foram levados automaticamente para a face da rosada e então os olhos se fecharam, deixando a mente voar naquele momento, naquele pedacinho de sonho, que talvez nunca mais voltaria a acontecer...

Essa sim, era a verdadeira forma de dizer-lhe; vou sempre estar ao seu lado (...)








~~



















































— Cena extra do Capítulo² — Biblioteca, onde habitam os demônios...?








Os olhos verdes da baixinha se fixavam com interesse naquele livro em suas mãos, no mesmo momento em que a garota de cabelos alaranjados se sentou com alegria ao seu lado, naquela mesa redonda da biblioteca.








— Ei, Mellanie! — ela falou animada, se esticando e dando uma olhadinha na capa do livro que estavam nas mãos da baixinha.
















— Tudo bem, Íris...?





















Mellanie olhou com a ponta dos olhos para a criatura a sua frente toda sorridente.
















— Tudo, claro, e você oque faz aqui? A maioria das salas está de aula vaga e você aqui nesse buraco apertado cheio livros? Porque não vamos pra outro lugar?







— Outro lugar? Qual, por exemplo? — ela perguntou e sorriu sarcástica, encenando um bom e velho interesse.


— Ah, qual é, os garotos estão na quadra de basquete agora, estão aproveitando pra jogar. Todas as garotas estão lá assistindo. Você deveria vir comigo...

Mellanie riu pequenamente,

— Íris, escuta. Eu não sou todas. Sou diferente delas, então não vou ficar no meio daquela multidão de vadias loucas implorando por um aceno dos rapazes. Qual é...

Íris pareceu desapontada, mas continuou ao lado da morena.

— E você não vai me dizer por quem está... você sabe, interessada?

“Essa garota tá tirando com a minha cara, fala sério.”

— Interessada, eu? Por esse bando de idiotas? Não, obrigada, gosto da minha vida de garota isolada. — ela respondeu com um sorriso impaciente, tentando voltar a ler.

Íris suspirou,

— Tem que ter um, vai, me conta. Não somos amigas? — insistiu.

Mellanie abaixou o livro para a metade de seu rosto, fitando aquela criatura estranha.

“Amigas? Onde?”

— Prefiro ser lésbica a ficar com algum garoto daqui. — Mellanie respondeu em um tom de gozação,

E quando estava prestes a voltar para sua leitura, uma voz “surgiu” do nada naquela biblioteca praticamente abandonada ao relento.

— Então eu posso te apresentar umas amigas, elas fazem um ótimo trabalho na esquina da minha casa. — aquela voz rouca e provocante... com um “pequeno” toque de ironia e sarcasmo... ela reconhecia muito bem

Revirou os olhos, virando-se na cadeira e fitando o ruivo bem no fundo, esticado na cadeira com os pés em cima da mesa.

A garota baixinha ameaçou se levantar, mas a garota de cabelos alaranjados a impediu com um agarro no pulso.

— Ei, cuidado, dizem os boatos que esse cara já provou o gosto da carne humana... — Íris disse com aquelas típicas vozes de narradores de filmes de terror.

Mellanie riu por dentro,

“Carne humana? Só faltava essa pra essa garota ser mais retardada.”

— Sei, vou me lembrar disso quando estiver enfiando minha unha na garganta dele. — a baixinha disse com um sorriso, dando um pequeno tapinha nos ombros da garota irritante.

Íris a puxou de novo, impedindo-a de avançar um passo que fosse.

— Muitos diziam e dizem até hoje que ele perfurou o estômago de três caras de gangues escolares vizinhas, e que antigamente seu pai estuprava meninas do colegial. E parece que hoje, sempre quando vai se vingar da morte de seu pai, ele mata uma garota em sua homenagem e joga os ossos sobre o túmulo. Fique longe dele, ou você será a próxima... — outra vez aquela voz obscura e sombrosa.

“Puta que pariu. Era pra ser assustador?”

Ela riu baixo,

— Nossa, que excitante. Vou ser a próxima vítima dele. Uau. — ela zombou, puxando o pulso de volta e andando pra perto do ruivo perturbado.

Deu um golpe na mesa com o punho, oque o fez abrir os olhos em sua direção.

Oque significava aquele olhar maligno?

Kami-sama, Kami-sama, Kami-sama (…)

— Qual o seu problema? — ele revirou os olhos — Será que nem nessa merda de biblioteca eu vou conseguir sossego?

Ela sorriu ao canto dos lábios.

— Pense antes de falar suas besteiras pra mim. — ela provocou,

— Será que não dá pra me deixar em paz? — ele se aproximou bem perto dela, com seu típico sorrisinho sensualmente sarcástico — Ah, esqueci dessa parte. Você não consegue me deixar em paz, quer sempre ficar perto de mim. Eu sei que sou lindo e que te faço ter sonhos eróticos à noite, mas preciso de privacidade meu amor.

A garota apertou os olhos e arqueou um das sombracelhas, incrédula.

— E você? Brotou do chão? Pulou a janela pra chegar aqui? Porque eu não te vi entrar. — retrucou.

Ele sorriu, afastando-se e se ajeitando na cadeira, com os pés ainda em cima da mesa.

— Eu apareci como mágica, anã de jardim. — provocou.

— Oh, muito bom, então vou te mostrar agora meu soco, e olha que legal, ele vai aparecer como “mágica”. — ela sorriu com o mesmo sorriso provocante, mostrando o punho fechado na sua direção.

Íris arregalou os olhos e correu quase em um pulo pra cima da morena, agarrando em seus ombros e a afastando da mesa aos poucos.

— Hahaha, isso seria realmente muito divertido Castiel-sama, mas nós íamos mesmo embora... Temos que assistir aos meninos jogarem, tchauzinho! — ela disse histérica e nervosa, enquanto praticamente arrastava Mellanie para a porta.

— Temos? Mas, espera aí... Íris...

O ruivo arqueou uma sombracelha, e em seguida sorriu ao canto dos lábios.

“Garota irritante.”

**

Deixe-me cuidar de você,

Deixe-me tratar dos ferimentos,

Conte-me oque ouve,

Diga-me sobre seus problemas,

Mas, de certa forma, é como se algo estivesse puxando-me para a escuridão...

Você compreende?

Quero ajudar-te,

Tirar-te o peso sobre os ombros,

Cuidar de você,

Oh, mas vejo sangue,

Sangue escorrer por seus dedos,

Escorrer por todo seu corpo,

Grite,

Levante,

Dessa cama de espinhos que você próprio criou,

Vamos dar as mãos, e reviver esse caminho para a luz,

Ele não poderá te alcançar aqui,

Nesse buraco de coelho,

Segure minha mão, então,

E eu te guiarei pelo país das maravilhas,

Meu...

Gatinho Ferido (...)

**

[Música de Encerramento - Oh Love]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Nathaniel]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Miha]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Mellanie]

[Imagem Extra do Capitulo ~ Castiel]

Fim do Capítulo 14.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não custa deixar-me feliz com um review, tudo bem? Complementem, elogiem, opinem, dizem oque mais gostaram, enfim, me abracem õ/