Mas de uma coisa eu tenho certeza, se depender de mim ela não vai sair daqui com esse trabalho pronto, ou então eu não me chamo Annabeth Chase.

Olhei em volta do meu quarto procurando algo útil para atormentar os dois patetas que vão fazer um trabalho de história agora.

Percorri meu quarto com os olhos e parei no meu amplificador, que estava em cima da minha bancada. Procurei meu celular, que estava na minha cama, e conectei ele ao amplificador, colocando no volume máximo. Só para começar, uma música do The Wanted (I Found You).

Como o volume da música estava topado eu tenho absoluta certeza que do quarto do Percy daria para ouvir então daqui a alguns segundos Percy ia vir reclamar e pedir para eu abaixar a música. Deitei na minha cama e fiquei cantarolando a letra da música, balançando meus ombros no ritmo.

Como eu previra, quando começou a tocar o refrão Percy escancara a porta do meu quarto.

- Dá pra abaixar ai ou tá muito difícil?

- Terrivelmente difícil.

- Annabeth, por favor – ele começou respirando fundo – eu estou tentando fazer um trabalho de história então dá para abaixar isso ou está muito difícil?! – ele finalizou quase berrando comigo.

- Se eu continuasse a dizer que está difícil o que você faria?

- Isso. – ele disse entrando no meu quarto e caminhando em direção à bancada. Então ele puxou o amplificador da tomada, desligando-o.

- Ei! – eu gritei me sentando na cama enquanto ele se virava para sair do quarto carregando meu amplificador e meu celular.

- O que é?! – ele perguntou.

- Você não pode fazer isso!

- Posso, por isso estou fazendo.

- Ei, espera! – eu gritei antes dele sair do quarto.

- Porra, que foi?!

- Meu celular. – eu respondi estendendo minha mão e ele me devolveu, mas levou o amplificador.

O que não me impede de escutar música alta do mesmo jeito. É claro.

Liguei meu computador e fiquei mexendo na internet e escutando música (não tão alta assim dessa vez) por um tempinho, até que deu fome e eu desci para fazer um lanche, passando pelo quarto do idiota ao fazer isso. A porta estava entreaberta e eu consegui ver Drew tagarelando algo sem sentido enquanto Percy mexia no computador impaciente. Assim que me notou ele olhou para mim e eu dei uma gargalhada, fazendo-o revirar os olhos.

Desci as escadas ainda rindo e procurei alguma coisa para comer. Peguei duas fatias de pão de forma para fazer um sanduiche para mim quando me veio na cabeça que eu tenho que ser uma boa anfitriã para meus hospedes, certo? Certo. Peguei mais quatro fatias de pão de forma e coloquei todas alinhadas na bancada.

Abri a geladeira e comecei a pegar coisas como peito de peru, queijo e cream cheese. Coloquei tudo perto dos pães e fui procurar o ingrediente especial. Revirei os armários e lá vi aquele charmoso e delicioso vidro vermelho cheio de pimenta extrapicante.  

Montei os três sanduiches e antes de concluir o terceiro abri o pote de pimenta e virei com bastante vontade no último sanduiche. Por último coloquei um em cada prato e um guardanapo no prato do sanduiche com pimenta (só para eu, na minha santa inteligência, não acabar comendo o sanduíche picante). Com muito esforço equilibrei os três pratos nas minhas mãos e subi as escadas.

Empurrei a porta do quarto do Percy com o meu corpo sem nem mesmo pedir licença.

- Pode entrar. – Percy disse irônico.

- Já entrei. – respondi no mesmo tom.

- Posso saber o motivo?

- Decidi fazer caridade. – eu respondi mostrando os pratos.

- Oh, isso é um milagre! – Percy disse numa falsa surpresa e eu apenas mostrei minha língua para ele, entregando um prato para ele e um para Drew.

Depois disso fui para meu quarto comer meu sanduiche e esperar que Percy viesse aqui reclamar por que a Drew estava com a boca ardendo. Peguei um livro, deitei na cama e comecei a morder meu sanduiche (sem pimenta, graças a Deus). Umas três páginas depois a porta do meu quarto é escancarada e eu vejo Percy olhando para mim.

- O que foi Percival, sentiu saudade de mim? – perguntei sentando-me na cama.

- Você colocou pimenta no sanduiche da Drew?! – ele disse e eu não sabia muito bem se ele estava perguntando ou afirmando isso.

- Coloquei? – eu perguntei fingindo surpresa. – Acho que deve ter caído sem querer. – eu disse uma cara de arrependimento muito fajuta.

- Sem querer? – ele perguntou desconfiado com as sobrancelhas erguidas.

- É... Eu nunca teria a intenção de fazer isso por vontade própria. – falei cínica. – Mas, agora já era. Ela já comeu a pimenta.

- Você é uma imprestável.

- Não sou não, eu poderia ter colocado pimenta no seu também... – eu disse antes de Percy sair do meu quarto e ele rolou os olhos balançando a cabeça.

Mas bom, digamos que a pimenta foi o “tempero inicial”.

Levantei da cama e sai do meu quarto em direção as escadas, para ir para a cozinha novamente. Assim que cheguei abri o armário e peguei um copo, enchendo-o de água logo em seguida. Bom, se “acidentalmente” eu coloquei pimenta no sanduiche dela, eu deveria levar água para ela agora.

Subi as escadas com o copo na mão e entrei no quarto do Percy, novamente sem bater.

- Que foi dessa vez? – ele perguntou impaciente.

- Vim trazer água. – eu disse e depois me virei em direção a Drew, que estava sentada na cama com os olhos ainda lacrimejando devido à pimenta. – Desculpa, Drew, foi realmente um acidente. Toma aqui a água.

Eu disse e caminhei em direção a ela com o copo estendido, mas acidentalmente, totalmente sem querer, eu tropecei do nada e derrubei todo o conteúdo do copo na roupa de Drew.

- Ai meu Deus, Drew, desculpa! – eu disse num tom falso de arrependimento me segurando para não ter uma crise de risos enquanto ela continuava olhando abismada para sua roupa toda encharcada.

Depois de alguns segundos de choque Drew levantou-se da cama com raiva e se virou para o Percy, dizendo:

- Chega! Eu desisto! Prefiro tirar zero do que ficar mais um minuto na casa dessa menina! – ela disse com sua voizinha irritante enquanto eu estava a beira de uma crise de risos.

Depois disso ela saiu marchando em seus saltos rosas escada abaixo enquanto Percy ainda tentava convencer Drew a ficar lá, mas a mesma apenas saiu de casa emburrada.

Assim que a porta se fechou quando ela saiu eu explodi em gargalhadas, enquanto Percy apenas me fuzilou com o olhar antes de subi novamente para seu quarto.

•••

- no outro dia... –

Estou eu em mais uma das minhas aulas de Terça-Feira. Agora mesmo estamos tendo aula de redação e o professor estava dividindo a sala em trios para cada trio discutir um tema para uma produção de texto. Como eu sou uma garota com a sorte abaixo de zero, eu fiquei com Percy e mais um menino que eu mal falo com ele.

 E se você acha que minha relação com Percy estava normal nos nossos padrões, você está completamente errado. Desde ontem, quando a Drew saiu lá de casa e deixou ele com um trabalho sem ser feito, ele simplesmente está com muita raiva. Principalmente pelo fato de que o professor tinha pedido o trabalho para hoje e mesmo depois que o professor disse que quem não tinha levado o trabalho hoje poderia levar a daqui a dois dias, na próxima aula, ele continuava com raiva.

- Então, que temas vocês sugerem? – o outro menino perguntou com um lápis na mão assim que juntamos as três cadeiras.

- Como as meninas podem ser chatas. – Percy começou.

- E os meninos idiotas.

- E as meninas irritantes.

- E os meninos orgulhos demais para desculparem algo.

- Ok. Primeiro tema: Guerra dos Sexos. – eu ouvi o outro menino murmurar e anotar isso no caderno.

- Só os meninos são orgulhosos? – Percy perguntou com as sobrancelhas erguidas.

- Sim, por que eu tenho certeza que as meninas desculpariam os meninos se eles pedissem desculpas.

- Mesmo quando isso acarretaria um zero no boletim?

- Mas existem casos em que o professor deixa o aluno entregar o trabalho depois e o aluno não ficaria com zero no boletim! – eu disse já estressada me apoiando na mesa e inclinando meu corpo em direção ao Percy.

- Mesmo assim o aluno teria tirado zero por conta da menina irritante que não deixou ele fazer o trabalho! – Percy disse também se inclinado em sua mesa.

- A menina irritante já pediu desculpas, será que o menino é tão idiota que não percebe isso?! – eu disse. Ou melhor, gritei, por que nesse ponto da conversa nós já estávamos um gritando com o outro.

- Talvez ele ache a menina muito chata para desculpar ela!

- Então talvez a menina devesse ter feito algo mais severo com o menino chato!

- Ah é? Tipo o que?

- Tipo ter tocado fogo nele, no trabalho dele, no quarto dele...! – eu respondi gritando.

Antes que Percy pudesse continuar nossa discussão, o professor nos interrompeu.

 - OK, chega os dois! – ele disse e nos nós calamos. – Acho que eu já sei o tema da nossa próxima aula: A permanente guerra entre os homens e as mulheres. Meninas e meninos preparem suas defesas, próxima aula faremos um debate. – ele disse se referindo aos debates em que ele divide a sala em duas partes e cada parte defende seu ponto de vista. – Por hoje é só, podem ir.

Eu levantei da cadeira ainda com raiva e sai marchando em direção ao refeitório, me encontrar com Thalia e Rachel para o almoço. Assim que entrei no refeitório as vi sentadas na mesa se sempre e caminhei direto para lá. Nada de muito mais interessante aconteceu no colégio, assim que tocou anunciando o fim da última aula eu fui pra casa e passei a tarde toda revezando entre TV, computador e livros. Além de comida.

Quando chegou de noite e eu desci para comer pizza, pois hoje Sally e meu pai iam para um jantar de alguma comemoração que eu me esqueci, o que significa que hoje eu ia passar a noite apenas com o Percy em casa e eu realmente espero que ele não aproveite a oportunidade para tentar me matar.

Desci as escadas a tempo de ver meu pai e Sally saindo de casa todos arrumados.

- Tchau filha! – meu pai disse.

- Tchau Annie!

- Tchau! - eu respondi e peguei um pedaço de pizza na bancada da cozinha. Peguei um copo de Coca-Cola e subi para o meu quarto. 

Sentei na cama e liguei a televisão, depois disso comecei a comer minha pizza na calma e tranquilidade do meu quarto. 

Um tempinho depois Thalia mandou uma mensagem dizendo que ela vinha para minha casa e que estava já estava chegando aqui, então eu decidi as escadas para abrir a porta para ela quando ela chegasse.

POV – Autor

Annabeth desceu as escadas em direção à porta de entrada da casa, passando por Percy, que estava deitado no sofá assistindo TV, mas os dois apenas se ignoraram. 

Annie girou a maçaneta da porta para sair de casa e esperar Thalia na varanda, mas a porta não abriu. A menina tentou mais uma vez, e tentou novamente, mas nada. "Ótimo." ela pensou "A porta está trancada". Desceu os olhos da maçaneta para a fechadura e viu que a chave não se encontrava ali.

- Percy? - ela chamou com um leve tom de irritação na voz.

- Quê? - ele respondeu do sofá olhando para a garota. 

- Por um acaso você pegou a chave de casa?

- Ah, sim peguei, está aqui. - ele disse com descaso mostrando a chave para a garota.

- Então me dá.

- Não.

- Como assim "não"? - ela perguntou com sua raiva crescendo à medida que ela se aproximava do sofá.

- Não, ué. Não vou dar a chave. - ele respondeu assim que a campainha tocou anunciando que Thalia chegara.

- Percy, a Thalia chegou, me dá a merda da chave!

- Não! Quer a chave? - ele disse mostrando a chave a loira. - Então vem pegar.

Dito isso Percy saiu correndo em direção ao outro extremo da sala assim que Annabeth correu na direção dele.

Percy pulou o sofá, fazendo algumas almofadas voarem, e a loira fez o mesmo logo em seguida. O moreno atravessou a mesinha de canto, esbarrando em um porta retrado e derrubando-o, enquanto Annabeth derrubou o outro porta retrado que havia ficado em pé assim que passou pela mesa. 

- Custa tanto assim abrir a porta?! - Annabeth gritou atrás dele.

- Sim! Considere isso como uma vingança por ontem! - Percy gritou de volta ao fazer uma curva quando chegou ao outro extremo da sala e correndo de volta em direção ao sofá em frente à porta, desviando de Annabeth ao fazer isso. 

- Percy, me dá a chave! - a loira gritou aumentando a velocidade e chegando ao lado de Percy.

- Já disse, tenta pegar! - ele respondeu levantando a chave no alto e como Annabeth era mais baixa que ele a mesma não conseguiu pegar.

Vendo que suas tentativas de pegar a chave enquanto Percy a segurava no alto estavam saindo por água abaixo, Annabeth resolveu pular mais alto com um impulso para trás, mas dessa vez, assim que pulou em direção a chave, a loira derrubando Percy e caindo em cima do mesmo. 

- Ai! - Percy exclamou.

- Bem feito!

- Que droga Annabeth! Da pra sair de cima?

- Assim que você me der a chave.

- Ótimo, temos uma vida toda para ficar aqui no chão então. - ele disse irônico.

- Ou não. - Annabeth disse avançando em direção a chave, mas Percy desviou, trocando as posições e ficando em cima da loira, apoiando as mãos no chão.

- Menina teimosa, será que não entende que não vai abrir a porta?

Annabeth fez um esforço e reverteu as posições novamente, sem nem ligar se naquele momento a posição em que os dois estavam era um pouco íntima demais.

- Mas eu vou. - ela disse e depois de sair rolando no chão com Percy ela conseguiu finalmente a chave.

- Aha! - ela gritou orgulhosa ainda deitada no chão. 

Então os dois ouviram um barulho de porta abrindo.
 

POV – Thalia

Tá legal faz bem uns cinco minutos que eu cheguei aqui e a nada da Annabeth vir abrir a droga da porta. E eu ainda estou escutando gritos e barulhos de coisas sendo derrubadas ou quebradas.

Ou eles estão se matando, ou...

Ok, vamos esquecer a segunda opção.

Sentei no degrau da varanda esperando alguém ter a bondade de vir abrir a porta quando me lembrei que Annabeth e seu pai sempre guardavam uma chave extra embaixo de um jarro de barro que tinha ao lado da porta.

Levantei-me com um pulo e caminhei em direção ao jarro, o levantando e pegando a chave embaixo dele. Coloquei a chave no trinco e abri a porta. 

Eis a cena que vejo: Annabeth deitada em cima de Percy, ambos deitados no chão e descabelados. Certo... O que houve aqui? 

- An... Oi? - perguntei receosa.

- Thalia! - Annabeth se levantou do chão vermelha e ofegando. Novamente, o que aconteceu aqui? - Como você abriu a porta?! - ela perguntou.

- Com a chave extra embaixo do jarro. - eu balancei a chave. 

- Merda! Eu esqueci da chave extra. - ela murmurou zangada.

- Tá, dá pra me dizer o que exatamente aconteceu aqui? 

- Claro, vamos lá pra cima. - Annabeth disse andando em direção à porta. - Mas antes... – ela trancou a porta.

- Agora você vai me deixar trancado? – Percy perguntou e eu simplesmente não entendi nada.

- Claro. – Annie respondeu com um sorriso cínico em sua direção e depois balançou a chave para ele. – Seus jogos, minhas regras.