Abraços Perdidos escrita por Graziele


Capítulo 15
Revelações da alma.


Notas iniciais do capítulo

Obg à: Elle Vedder, Caroline, suzana_quintana, Marianas2, Lio Cullen, Suzana Dias, Bruna Cullen, camila almeida, Ana Caroline, Barbara Gordon, leyde, Marcela, Laix, whatsername, Sil Araujo, Lili Swan, LittleDoll, novacullen, elispreta,
LalaiStew, Eclipse She por comentarem *o*
Olá, meninas (: Aí está o capítulo revelador, haha. Espero não decepcioná-las, pq algumas tiveram hipóteses tão mirabolantes que eu estou cm medo de não atingir as expectativas o.o kkkk enfim, vcs vão perceber qe não houve um vilão específico nas tragédias passadas da bailarinas, além dela mesma e de sua ganância. Espero que não a odeiem '-' kkk
Boa leitura! Ah, as partes em itálico são flashbacks ;)



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Janeiro de 2006

Bella segurou nas barras e observou seu reflexo no grande espelho que adornava toda a sala de chão de madeira, plenamente satisfeita com o que via. Seus cabelos castanhos estavam presos num coque disciplinado, o vestido de túli vermelho e preto caía perfeito sobre seu corpo de 40 quilos, e o sorriso enorme dizia que ela estava caminhando para a perfeição.

Há uma semana, havia estreado no Teatro Municipal de Paris e, mesmo não tendo conseguido interpretar o papel principal da peça, atraiu todos os olhares para si. Seria questão de tempo até tornar-se a bailarina principal.

Alargou seu sorriso ao avistar, pelo espelho, atrás de si, a figura de Jordan Hastings, o produtor artístico da companhia.

Ele era, simplesmente, o homem mais importante daquilo tudo. Com suas costas largas e seus cabelos negros como piche, ele mandava e desmandava na companhia, dizendo quem era perfeito suficiente para permanecer e quem deveria dar o fora.

Bella sabia que, dando uma “atenção especial” à ele, seria muito mais fácil pegar todos os papéis e tornar-se a bailarina mais importante.

E não lhe importava o fato de que ele ostentava uma aliança enorme no dedo anelar da mão esquerda. A única coisa que passava na cabeça de Isabella Swan era que ela já tinha 20 anos e não poderia esperar a boa vontade de ninguém em torná-la bailarina principal, tampouco passar o resto de sua vida sendo coadjuvante. Precisava mexer seus pauzinhos por si só.

“Olá, Jordan.” Ela virou-se pra ele, dando seu melhor sorriso e penetrando-o com seus olhos perfuradores.

“Olá, Isabella.” Ele respondeu, também sorrindo. Bella viu que ele era um pouco mais agradável quando sorria. “Ensaiando muito?”

Bella deu de ombros. “O normal.”

“Todos estão comentando seu desempenho na peça. Acharam-na espetacular.”

“Oh, imagine.” Bella fez-se de constrangida. “Apenas fiz meu trabalho.”

“Fez muito bem feito.” Abaixou a voz levemente. “Se continuar assim, conseguirá papéis de destaque muito rapidamente.” E deu-lhe uma piscadela antes de girar nos calcanhares e sair do estúdio de piso amadeirado.

Bella mordeu os lábios e depois sorriu enormemente.

Ela bem sabia o quão rápido os papéis principais cairiam em sua mão.



Março de 2006

“Tem certeza que sua mulher não vai chegar?” Bella indagou, em meio aos arquejos.

“Absoluta.” Jordan limitou-se a responder, voltando a distribuir beijos lascivos e insuportavelmente babados pelo pescoço da bailarina. Bella revirou os olhos, enojada; no entanto, cantou um mantra em sua mente, dizendo paras si mesma, incansavelmente, que aquilo era um mal necessário.

Com violência, Jordan jogou-a na cama e pairou sobre ela, com seu corpo pesado e sua total falta de noção de como tratar uma mulher. Para piorar, ele cheirava a cigarros.

Todas aquelas coisas ruins deveriam ter afastado a esposa, provocando uma crise no casamento e deixando que a tarefa de seduzi-lo fosse infinitamente fácil.

Sorte sua.

Jordan parecia desconhecer completamente as aclamadas ‘preliminares’, pois nem se dignou em, ao menos, deixar Bella excitada, já tirando suas roupas, as dela e penetrando-a numa ferocidade quase animalesca.

Bella segurou um gemido de dor. Ela não estava excitada, tampouco estava gostando daquilo tudo, então, fingir que estava enlouquecendo de prazer era uma tarefa deveras difícil.

No entanto, buscou no fundo de sua alma forças para gemer, arfar, arquear as costas e fazer caras e bocas, como se estivesse tendo um orgasmo múltiplo.

Sabia que era algo que lhe traria, posteriormente, bens maiores.


Junho de 2006

Todas as bailarinas e os bailarinos estavam perfeitamente enfileirados e eretos, como se estivessem no exército. Seus olhares miravam o horizonte e todos mascaravam a dor insuportável de ter aquelas sapatilhas esmagando seus pés num sorriso encantador.

Logo, Jordan Hastings apareceu no estúdio, acompanhado da coreógrafa Marie Adams, também sorrindo ao olhar para os bailarinos.

Isabella Swan sentiu um embrulho no estômago. Queria acreditar que era por causa da fome, entretanto ela bem sabia que o mais provável era que seu estômago estava se revirando de nojo. Nojo de si mesma por estar transando com aquele homem asqueroso por quase três meses, e raiva por todo seu esforço não ter resultado em absolutamente nada.

Não remorso por estar quase acabando com uma família. Mas nojo de si mesma, por não servir nem para tapear um diretor maldito.

“Como todos aqui sabem, vamos apresentar Cisne Negro na Rússia, daqui a seis meses.” Jordan começou, ainda sorrindo, ziguezagueando por entre os bailarinos. Bella mordeu os lábios; aquela seria a apresentação mais importante da companhia e, simultaneamente, seria sua chance de ouro de ingressar de uma vez por todas no Bolshoi. Precisava, mais do que tudo, que Jordan tivesse caído em seus encantos e lhe desse logo a porra do papel principal. E o resto... Bem, ela sabia que tinha capacidade de fazer sozinha. “Vocês se esforçaram bastante e, juntamente com Marie, eu os observei incansavelmente e já tenho meu veredicto dos bailarinos que desempenharão os papeis principais.” Um burburinho animado surgiu entre os bailarinos e Jordan esperou, impassivelmente, até que esse se cessasse. Logo, estendeu a mão calejada – que, há um dia, estava possessivamente marcando as nádegas de Bella – a Marie, recolhendo-a quando a senhora de óculos grossos entregou-lhe um papel. “O Cisne Negro e o Branco será interpretado por Isabella Swan.” Foi a única frase que a mente, de repente enlevada, de Bella conseguiu captar; não ouviu a quem foram entregues os outros papéis, nem sequer percebeu que as bailarinas mais antigas da companhia a fuzilavam com o olhar. A bailarina apenas sorriu grandemente e parabenizou a si mesma. Finalmente estava colhendo os frutos de seus esforços.


Agosto de 2006

As mãos trêmulas de Isabella seguravam o pequeno teste, com uma força que não era suficiente para impedi-lo de cair no chão. Seus olhos achocolatados estavam lacrimejantes, a boca tremia e seu coração parecia que iria saltar pela boca a qualquer momento.

Positivo.

A palavra ecoava em sua cabeça, sussurrada com uma voz atemorizante, retumbava como uma maldição... Lembrando-a de como fora burra e como estava incrivelmente perdida.

Arfando, a bailarina sentou-se na tampa do vaso sanitário e levou as mãos aos cabelos, com um grito de desespero entalado na garganta, que saiu como um grunhido agoniado, que implorava aos céus uma solução.

Aquilo não podia estar acontecendo com ela...

Não agora que tinha o papel principal num espetáculo mais do que importante, não agora que estava a praticamente dois passos de Bolshoi... Não agora que estava quase conseguindo alcançar a perfeição...

Grávida...

Há um mês, vinha sentindo enjoos, sono em excesso, e já estava desconfiada, mas não queria admitir para si mesma. Porque parecia que admitir seria assinar um atestado de fraqueza e de completa tolice.

Em que mundo vivia? Por que não passara em sua cabeça que ter relações sem proteção – mesmo que fosse apenas uma vez, como realmente havia sido, há pouco mais de dois meses – poderia acarretar a essa tragédia?

As lágrimas começaram a cair sem pedir permissão.

A bailarina levantou e bateu sua cabeça na parede azulejada no pequeno banheiro do alojamento, não repreendendo sua mente por lembrá-la, a cada golpe, o quão imbecil ela era.

E o que faria? A apresentação seria dali a quatro meses e, se estivesse certa de que estava grávida de quase três meses, sua barriga já estaria saliente até lá... E mesmo que não esteja... Ela jamais poderia ir para Bolshoi com uma criança no ventre...

Jordan. Ele precisava saber daquilo. Ela não carregaria aquele fardo sozinha. Se a carreira dela seria destruída por causa de um erro dos dois, nada mais justo que a família dele também fosse destruída pelo mesmo.


Setembro de 2006

“Você só pode estar brincando comigo.” Isabella Swan escarneceu com a voz seca, totalmente desacreditada. “Não pode me tirar da companhia desse jeito!”

Jordan estalou a língua, impassível. “Sou o diretor disso aqui. Eu posso fazer o que eu bem entender.” Batucou os dedos longos na mesa de mogno de seu escritório.

Isabella sentiu-se em ebulição por dentro, seu sangue fervia e a vontade de socar a cara daquele infeliz vinha com toda força. “Falta menos de dois meses para a apresentação, Jordan!”

“Exatamente.” Ele pontuou, girando a cadeira no próprio eixo, inatingível. “E você não conseguirá mais disfarçar.”

Era por causa daquela maldita criança!

Há um mês, ela havia contado pra ele e, obviamente, o diretor não ficou nenhum um pouco feliz com a notícia. No entanto, não havia feito alarde algum e somente disse que eles dariam um jeito. Mas não havia passado pela cabeça de Bella que esse ‘jeito’ envolvia tirá-la da companhia!

“Eu vou te dar algum dinheiro, e daí você some do país com essa coisa” gesticulou displicentemente para a barriga proeminente da bailarina. “Não quero saber de alarde.”

“Não é tão fácil assim, Jordan! Você está acabando com a minha carreira!” Bella sibilou, sentindo que toda sua vida, todos seus planos, escorregavam por entre seus dedos sem que ela pudesse fazer nada. Considerando toda sua luta para chegar aonde chegou, perder tudo daquela forma tão banal soava mais do que idiota.

“Eu não estou acabando com nada, querida.” Jordan permanecia impossivelmente calmo, enquanto Bella tinha as mãos trêmulas e os olhos vermelhos de cólera. “Você mesmo resolveu fazer isso, quando não pensou duas vezes em abrir as pernas pra mim, a fim de conseguir alavancar sua carreira. Eu não pedi que você se deitasse comigo, foi uma escolha somente sua. Portanto, as consequências também são somente suas. Tenho que admitir que você é realmente uma putinha muito gostosa, mas não posso arriscar. Então, você está fora.”

Foi a faísca que faltava para fazer com que Bella explodisse. Ela não pensou duas vezes antes de praticamente voar na direção de Jordan, esmurrando-o com toda a força que seus 38 quilos permitiam. Obviamente, não foi muito difícil para o homem desviar-se dela e jogá-la brutalmente no chão.

“Você é um filho da puta, Jordan!” Ela vociferou, ofegante. “Vamos ver o que é que sua mulher e suas filhinhas vão dizer quando ficarem sabendo que você meteu seu pinto mole na buceta de outra, hein?” Bella sorriu diabolicamente e nem percebeu como foi que Jordan conseguiu pegá-la pelo pescoço, sufocando-a.

“Nem ouse.” Ele sibilou, ofegante. Bella engasgou raspando suas unhas nas mãos ásperas do homem, machucando-o, mas não a ponto de fazê-lo afrouxar o aperto em seu pescoço. “Ou eu mato você.” Arrematou, soltando o pescoço feminino e fazendo com que a frágil bailarina caísse no piso branco com um baque.

“Você é nojento, Jordan.” Bella conseguiu sussurrar, levantando-se. “E acredite: eu não vou ser a única que vai se ferrar nessa história.” Prometeu, fitando-o bem no fundo dos olhos e cuspindo no rosto dele logo depois, sem piedade alguma. “E eu sempre fingir os orgasmos. Seus dez centímetros não faziam nem cócegas em mim.”



Janeiro de 2007

Já se passavam das oito da noite quando Isabella Swan, finalmente, pode fechar as portas do bar fétido, no subúrbio de Paris, no qual trabalhava.

Cansada e com a barriga de sete meses pesando-lhe, a ex-bailarina subiu as escadas que levavam para seu quartinho, nos fundos do bar.

O proprietário havia lhe concedido um alojamento precário, em troca de seus serviços integrais como garçonete, além de 300 euros por mês. Era pouco, se comparado com o que ganhava na companhia de balé, mas suficiente. Para si e para seu filhinho.

Bella – ao ser expulsa da companhia, humilhada por Jordan, sendo alvo de todas as fofocas possíveis – sabia que iria abortar, nada lhe faria mudar de ideia.

Fora até uma clínica, certa do que faria, mas algo lhe cutucou. Lembrou-se de Forks, em Washington, cidade onde nascera, de seus pais vivos e de todo carinho que eles davam para si. Sempre dispostos a fazer de tudo para que ela sorrisse. Lembrou-se da criancinha inocente que sonhava em ser bailarina, como a avó fora.

E lembrou-se de Marie, de seu autoritarismo e de sua frustração, por não ter conseguido alavancar sua carreira, e de como aquela mulher transformou-a naquele ser desprezível que ela era: gananciosa, arrogante, fria e preparada para atropelar qualquer um, a fim de conseguir o que queria. Aquele ser que transava com o homem mais detestável e nojento da face da terra, apenas por interesse. Aquele ser que era capaz de ceifar uma existência que nem começara ainda, só porque ela não fazia parte de seu plano de vida.

E indagou-se: aquela pequena e inocente Isabella Swan, criada por Charlie e Renée Swan, numa cidadezinha pequena e chuvosa, teria orgulho da Isabella Swan de agora?

Certamente não.

Foi aí que decidira que ficaria com a criança, que a conceberia, que cuidaria dela. Que a faria ser a melhor pessoa do mundo, a pessoa que ela nunca conseguiu ser.

Bella não poupava as lágrimas ao lembrar-se de sua carreira jogada fora – e nem poderia fazê-lo. No entanto, ela bem sabia que aquela criatura dentro de si era o motivo que a impelia para seguir em frente, para tentar uma nova vida.

Pela primeira vez desde que seus pais morreram, ela teria alguém que a amava verdadeiramente, sem pedir nada em troca. Alguém que ficaria com ela, alguém que ela protegeria, alguém para ajudá-la a viver.

Bem, ela sabia que carreira nenhuma poderia ser melhor que isso.

“Eu vou cuidar de você, querido.” Ela prometeu, sentada na pequena cama de solteiro, acariciando a barriga anormalmente pequena.

Subitamente, a porta de seu quartinho foi aberta, e por ela uma silhueta curvada adentrou ao local. Bella arregalou os olhos e, instintivamente, protegeu sua barriga, retesando-se em medo.

Ela nem teve tempo de perguntar, debilmente, quem era que estava ali, porque logo a figura de Jordan Hastings tomou conta de seu campo de visão. Ela sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo.

A luz precária do abajur iluminou o rosto do homem e a bailarina sentiu-se desfalecer ao mirar o sorriso transtornado que ele ostentava.

“Como entrou aqui?” Bella sussurrou temerosamente. “O que quer?”

“Você contou, não foi?” Jordan sussurrou de volta, sua voz soando diabólica.

“Contei o quê?”

“Não se faça de idiota, sua maldita!” Jordan brandiu, projetando-se na direção de Bella e agarrando-a pelo pescoço. “Minha mulher pediu o divórcio, e eu sei que foi você contou sobre essa criança maldita!”

Bella arregalou os olhos castanhos, aturdida. Não conseguia respirar e a falta de oxigenação tornava até o simples ato de pensar uma tarefa imensamente difícil. Jordan largou seu pescoço fino, jogando-a violentamente no chão.

“Eu não sei do que está falando.” Bella conseguiu soltar em meio a arquejos. E realmente não sabia. Apesar de ter ameaçado Jordan naquela vez, dizendo que contaria sobre o envolvimento dos dois a sua mulher, Bella não havia feito absolutamente nada, porque não queria ter mais contato nenhum com Jordan e toda sua corja.

“Você não me engana, Isabella Swan.” Jordan sibilou, sua mão perdeu-se no bolso da jaqueta de couro por um momento e, quando voltou, portava uma arma engatilhada. Bella sentiu que seu coração sairia pela boca a qualquer momento. Seu filhinho começou a se agitar em seu ventre, certamente sentindo seu nervosismo, e ela colou sua pequenina mão na barriga, tentando-o acalmá-lo e dizer que tudo ficaria bem.

“Jordan, por favor...” Ela implorou, paralisada de medo.

Jordan sorriu como um sádico. “Te vejo no inferno, Isabella Swan.”



Maio de 2007

Sua garganta ardia impossivelmente. Seus olhos giravam nas órbitas, sem estar acostumados com a claridade repentina. Seu corpo parecia pesar umas três toneladas. Ela não conseguia nem mexer um dedo.

Isabella Swan conseguiu, com uma dificuldade imensa, focalizar sua visão, vendo que o local na onde estava era branco e muitíssimo iluminado. Seus olhos castanhos logo avistaram uma moça a sua frente, olhando-a com expectativa.

Ela queria perguntar o que estava acontecendo, mas não encontrava sua voz. Sua memória parecia estar com um buraco e ela não conseguia ter imagens nítidas de nada. Instintivamente, ela lembrou-se de seu bebezinho e conseguiu proferir um gemido esganiçado, numa tentativa de indagar à moça onde é que ele se encontrava.

Por que é que ela não o sentia mexendo-se dentro de si?

“Oh, minha querida, finalmente você acordou!” A moça, que trajava uma roupa branca, disse em francês.

Bella soltou sons inteligíveis, como o começo de algumas palavras, e esses logo tornaram-se murmúrios ansiosos e desesperados.

Como assim ela finalmente havia acordado? O que tinha acontecido? Onde estava seu filhinho?

“Você provavelmente não conseguirá falar até que sua voz acostume-se a ser usada novamente.” A moça explicou pacientemente. “Você está no Hospital Geral de Paris. Lembra-se como veio parar aqui?” Bella apenas negou, angustiada com o rumo daquela história e a moça, que certamente era uma enfermeira suspirou, contristada. “Você foi encontrada baleada num bar do subúrbio. Trouxeram-na para cá, com hemorragias internas incontroláveis. Isso aconteceu há cinco meses e você ficou em coma desde então. Infelizmente, um dos tiros foi certeiro em seu útero e, devido às hemorragias, nós tivemos que retirá-lo. E seu filhinho... Bem, ele não resistiu.”

Isabella lembrou-se de tudo. Jordan e sua face maligna, a arma apontada para si... Os três tiros disparados... Sangue, muito sangue... E seu filhinho amado praticamente gritando por sua ajuda, implorando que ela o protegesse, antes de perecer para sempre.

“Eu sinto muito.” Ouviu a voz bondosa da enfermeira sussurrar-lhe ternamente, ao passo que sentia seus olhos queimarem em lágrimas e seu chão ser arrancando de debaixo de seus pés.

Inúmeras perguntas rondavam-lhe a mente enquanto seu corpo convulsionava a cada lágrima que saia de seus olhos.

O que fez para merecer tudo aquilo? Por que, no momento que finalmente achara uma razão para viver, para ser melhor, ela era golpeada tão impiedosamente?Por que sua vida estava tão fadada a dar errado?



Janeiro de 2011

Olhando seu reflexo no espelho sujo da pensão barata na qual estava hospedada, Bella sentiu pena de si mesma.

Estava com os cabelos quebrados, opacos, os olhos estavam cansados, adornados por duas olheiras extremamente roxas e ela podia contar cada osso de suas costelas, de tão protuberantes que estavam.

Ela havia conseguido voltar para os Estados Unidos, depois de trabalhar arduamente em lanchonetes de Paris por mais de três anos. Com o dinheiro acumulado, ela comprou uma passagem para seu país natal e passou a trabalhar novamente em restaurantes, na grande Nova York, sempre hospedada em pensões ridículas, como a que estava naquele momento.

Junto de sua pequena mala de mão, Isabella Swan trouxe da França todos seus traumas. E toda sua culpa. E todo seu medo. E todas as vozes que atormentavam sua cabeça.

Foi por causa dessas vozes que ela tentou ceifar sua vida, há um tempo, cortando seus pulsos com uma faca enferrujada de cozinha. Ela fez isso porque as vozes infantis lhe diziam que ela deveria ir ficar com seu filhinho, que deveria protegê-lo, coisa que não conseguiu fazer naquele dia com Jordan.

Mas falhara, porque a encontraram e levaram-na para um hospital, antes que todo o sangue necessário para fazê-la perecer saísse de seu corpo. Os médicos haviam lhe dito que ela era uma maníaca depressiva e que deveria procurar tratamentos com psiquiatras, para tratar de seus traumas, mas ela não queria, porque merecia todas suas perturbações. E porque tudo o que realmente queria era ir para junto de seu bebê, niná-lo, aninhá-lo em seus braços, e dar a ele todo o amor que merecia. Além de protegê-lo incondicionalmente, para que nenhum mal o acometesse.

Isabella sorriu debilmente, com lágrimas dolorosas marcando-lhe o rosto extremamente pálido, enquanto levantava a mão ossuda para tocar seu reflexo pavoroso no espelho. Sussurrou, melancólica:

“Eu vou voltar te proteger, meu filhinho. Eu juro que vou te proteger.”



Março de 2011

O vento glacial balançava seus cabelos e uivava, agourento.

A ex-bailarina equilibrou-se sobre a murada da ponte, observando, extasiada, a altura daquilo ali e como a avenida que passava por debaixo daquela ponte estava desértica.

Ela sorriu e fechou seus olhos, deliciando-se com a sensação do vento balançando-a, deixando sua vida por um fio e brincando com o poder de fazê-la ir de encontro ao seu bebê e de fazê-la livrar-se de sua funesta existência.

Abriu os braços e uma paz indescritível tomou conta de seu corpo ao sentir que o vento forte a empurrou da murada, fazendo com que seu corpo caísse livremente em direção a avenida de baixo.

Os poucos segundos que separaram sua queda de sua dolorosa aterrissagem foram apreciados de uma forma inigualável pela bailarina. Ela estava certa de que daquela vez não haveria erros.

Mal sabia ela que, depois daquela queda, ela não morreria. Mas sim voltaria a viver.




Outubro de 2012, atualmente.

O quarto estava tomado por um silêncio sepulcral. Tão intenso que possibilitava que o som dos insetos chocando-se contra a lâmpada fosse escutado.

Edward Cullen estava encostado na parede ao norte de seu quarto, com os olhos verdes vidrados na bailarina chorosa, amuada em sua cama, sem realmente estar vendo. Sua cabeça estava num turbilhão de pensamentos e, ao ouvir o fim da narrativa de Isabella – que durara quase duas horas –, ele simplesmente não sabia o que dizer.

Ele mirou os olhos castanhos, que imploravam mudamente um perdão que não cabia a ele conceder. Edward não sabia o que sentir por ela, depois de ficar sabendo, finalmente, tudo que a acometera durante aqueles seis anos.

Quando ela os trancou no quarto e começou a contar sua história, Edward sentiu nojo de suas atitudes mesquinhas e gananciosas. Sentiu que levava um soco nos testículos, por ter sido apaixonado por alguém tão inescrupuloso quanto ela.

No entanto... Sua perplexidade e seu nojo logo foram transformados em compaixão. Pena. Pura e simplesmente.

Bella foi a vítima e, ao mesmo tempo, o vilão de seu passado sinistro. Sua ganância e sua visão deturpada do mundo foram os responsáveis por fazer sua carreira decair e por arrancar seu bem mais precioso. No entanto, ela mudara. Fora obrigada. Ela conseguia ver o quão idiota e miserável fora. E, para Edward, era isso que contava.

Foi por conta de sua perda que ela não conseguira deixar de interferir naquela cena entre a mãe e o filho. Ela não entendia como alguém tão ruim conseguiu dar a luz, sem maiores danos, enquanto ela, que tinha todo o amor para dar, perdeu-o de forma tão brutal. Isabella Swan jamais entenderia a injustiça desse mundo.

“Edward...” Ela sussurrou, temerosa. Levantou-se da cama e parou na frente do médico, analisando a expressão dele, procurando qualquer vestígio de raiva, mas, estranhamente, encontrando somente compreensão. “Me desculpe...” Implorou, a voz embargada, afogada num mar de culpa nítido.

“Eu não tenho nada que desculpar, Bella.” Edward garantiu, segurando o rosto dela com as mãos e reafirmando suas palavras com seus olhos verdes penetrantes.

“Eu queria ter sido boa o suficiente para salvá-lo...” Edward viu que os sussurros, além de angustiados, eram verdadeiros.

“Você é.” Edward disse, convicto. “A culpa não foi sua.”

Bella apertou os olhos, fazendo com que mais lágrimas ruidosas rolassem por sua bochecha, e balançou negativamente a cabeça.

Edward, por sua vez, suspirou e, sem dizer mais nada, aninhou-a em seus braços protetoramente. Há algum tempo, ele havia prometido que a salvaria, que a traria de volta a vida; sabia que, aos poucos, ele estava conseguindo e que, com sua curiosidade a cerca dos acontecimento daqueles seis anos sanada, ele poderia fazer muito mais por ela.

“Bella...” Ele começou, levantando o rosto dela e encarando-a profundamente nos olhos. “Você não pode mais viver em função do seu passado. Todos têm problemas.” Bella se segurou para não dizer à Edward que ele, com toda sua paz interior e toda sua vida descomplicada, nada sabia sobre problemas. Entretanto, permaneceu calada, apenas encarando-o atentamente. “Mas nós temos que superar. Levantar e seguir em frente. Eu sei que doeu... Quer dizer, eu não faço nem ideia de como doeu... Mas eu imagino. E... Você sabe, eu estou aqui para fazê-la viver de novo, para te segurar toda vez que cair...” Bella sorriu em meio as lágrimas e o abraçou com mais força, agradecendo à Deus por ter colocado aquele homem de volta em seu caminho... Do contrário, o que seria de sua vida?

Edward Cullen era a sua luz. Sua razão para continuar sã. Sua paz em meio a tormenta que era sua existência. Edward Cullen era um sonho bom que mudou o tom de sua vida.


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, foi isso. A Bella se ferrou porq queria passar por cima de tudo para conseguir oq queria. Ela queria ser perfeita da maneira mais imperfeita possível. Mas ela se arrependeu, e isso que importa, não ? rs.
Meninas, hoj fico por aq, queria papear mais, só que estou mto atrasada e minha mãe tá quase tirando o pc da tomada aq kkkk
Espero que tenham gostado e que comentem mto, pra eu poder trazer o próximo bem rapidinho :B hehehe. Ah, e recomendem tbm, estou ficando carente de recomendações D: KKKK
Me adicionem no face, caso queiram conversar o/ https://www.facebook.com/yeza.dutra
Visitem o blog tbm, se não for pedir mto :D rsrsrs entrevistasparalelas.blogspot.com
Beijos e até mais :)