Opposite escrita por Giovana Marques


Capítulo 7
Lados Opostos


Notas iniciais do capítulo

Olá aos que estão acompanhando a história ^^
Como podem perceber, finalmente consegui postar o capítulo. Desculpem pela demora, mesmo! Prometo postar o próximo o quanto antes! Espero que gostem. :3



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Encanto-me cada vez mais com a beleza de Opposite. O céu azul, os campos verdejantes e os jardins enfeitados com flores mágicas são incríveis. Algo bem parecido com meu conceito de paraíso.

Andamos pelo campo, sobre um caminho largo de tijolos. Além de pequenos lagos a nossa volta, também há várias contruções medievais, como se fossem pequenos castelos. Luke explica que essas contruções mais isoladas são fazendas onde habitam feiceiros que se dedicam à criação de animais mágicos e cultivo de plantas que podem ser usadas em poções.

Já estamos bem longe da ala de uso do portal, quando atravessamos uma ponte sobre um enorme rio. Vejo, sobre a água, grandes peixes dourados com asas que saltam de um lado para o outro. Fico tão maravilhada que de repente esqueço de andar. Nina tem de dar um tapinha em minhas costas para que eu volte a me mover.

Terminamos de atravessar a ponte e andamos em direção à uma viela de aparência medieval e que também está cheia de feiticeiros. Percebo que só há estabelecimentos comerciais e que os feiticeiros provavelmente estão tendo um dia comum e trabalhando.

Suas roupas não são bem como eu esperava. É claro que para um lugar daqueles esperava vestidos bufantes e roupas de gala, mas os feiticeiros se vestem de forma normal. Aliás, como os humanos.

Antes que eu possa perguntar qualquer coisa, Nina já começa a falar.

– Estamos em Kingswood, a principal ilha de Opposite. Aqui é onde vivem os reis e rainhas e seus fiéis súditos e soldados. Também existe o restante da população, que não trabalha diretamente para a realeza, como comerciantes, treinadores, ou até os criadores de animais e plantas mágicas, como vimos mais para trás. – Ela explica com orgulho ao falar de seu povo.

– Certo. – Faço um movimento com a cabeça.

– Bom... Kingswood é dividido em pequenos vilarejos, como aquele. Está vendo aquela pequena vila? – Nina aponta e eu afirmo com a cabeça. – É Hawkslane, onde são vendidos vários artefatos mágicos! Desde alimentos a armas. A maioria das pessoas que vivem em Opposite tem algum tipo de comércio em Hawkslane, como os Gray!

Acho, sinceramente, que Nina tem o costume de esquecer que eu não conheço ninguém em Opposite.

– Os Gray?

– Minha família. – Jeremy responde, explicando. Depois aponta para Luke. – Quer dizer, nossa família.

– Isso é incrível! – Digo, animada. Estou mais do que louca para conhecer cada loja daquele local. – E o que vendem?

Jeremy e Luke se entreolham, como se não fosse nada demais e tivessem vergonha de me dizer.

– Livros. Nossos pais têm uma livraria. – Jeremy diz, encarando o chão. – É claro que não é nada especial. Tanta coisa para vender e eles vendem livros, qual é?

Nina dá um tapa no ombro de Jeremy, como se estivesse levemente irritada.

– Cale-se. É a melhor e maior livraria de Opposite.

Isso explica o fato de Luke estar sempre com um livro na mão. Não que eu tenha ficado reparando, claro.

– Livros? Que tipo de livros? – Pergunto interessada. Já mencionei que adoro ler?

Dessa vez é Luke quem me responde, ele parece um pouco mais animado do que o normal e isso é ótimo.

– Livros de feitiços, poções, criaturas mágicas, e por aí vai. Também há livros de histórias criadas por ótimos feiticeiros escritores e livros que registram as histórias dos nossos ancestrais.

Arregalo os olhos, encantada. Como é que um lugar desses existia e eu nunca soube? Ou pior, como é que eu posso ter vindo de um lugar desses e nunca soube?

Sem pensar em mais nada, interrompo Luke.

– O que você está esperando?! Precisa me mostrar onde...

Luke parece confuso e também parece querer segurar uma risada. Devo estar parecendo uma criança em um parque de diversões, mas não me importo. A verdade é que estou mesmo ansiosa.

Percebo que estamos de mãos dadas e que fui eu que o segurei, numa tentativa ridícula de arrastá-lo pela multidão. Acho que empolguei um pouco e não me dei conta disso.

É claro que o solto imediatamente, ignorando o fato de eu já estar vermelha e de Nina e Jer já estarem rindo. Luke apenas sorri de forma amigável, coisa que eu nunca tinha visto antes.

– É, acho que empolguei um pouco.

– Eu tenho certeza. – Luke diz. – Não sabia que gostava de ler, muito menos sobre magia. Na verdade, pensei que estivesse odiando isso tudo.

A negatividade de Luke realmente me irrita, mesmo que ele esteja tentando ser legal, já que diz essas coisas sorrindo e tudo mais.

– Eu sempre gostei de ler. E não estou odiando isso tudo, muito pelo contrário. – Digo e isso soa um pouco mais grosso do que eu espero.

É claro que o sorriso no rosto de Luke desaparece com a minha atitude.

– É bom saber. – Ele dá de ombros e saí andando em direção a Hawkslane.

Eu sou mesmo uma idiota e impulsiva, mas tudo bem.

Nina, Jer e eu seguimos Luke em silêncio.

***

Hawkslane é incrível e eu realmente acho que vou enfartar, já que quero entrar em todas as lojas ao mesmo tempo. Para a minha tristeza, Luke diz que precisa falar com seu pai e que depois podemos dar uma passeada pelo local.

Ando ao lado de Nina, admirando as vitrines e falando sem parar.

– Aquilo é... – Digo, apontando para uma das lojas que realmente me chamou atenção.

– Um lugar onde se vende antídotos e poções para praticamente tudo! – Nina explica, animada. Não mais do que eu, lógico.

– Legal.

Tenho a impressão de que chegamos à livraria dos Gray, já que Luke entra repentinamente. Por fora parece algo bem simples, com uma pequena vitrine se comparada às das outras lojas. A porta da entrada parece um tanto velha e gasta pelo tempo. É claro que não fico esperando por tanta coisa.

Coloco meus pés para dentro do local e fico totalmente sem reação. É um lugar enorme, repleto de livros organizados por assunto. E por incrível que pareça, eles flutuam como se tivessem sido colocados sobre ármarios invisíveis. Também fico encantada com o modo das pessoas encontrarem os livros que procuram. Elas apenas dizem o título e pronto, o livro que precisam saí voando até elas.

– Eu disse que era incrível. Sr. Gray é um ótimo feiticeiro, tanto que esta é a única livraria de Opposite que as pessoas encontam os livros que querem apenas dizendo o título. – Nina fala, agitada.

Percebo que as atendentes são bem diferentes de feiticeiras. Na verdade, são totalmente diferentes de feiticeiras devido ao tamanho, brilho excessivo e às asas.

Chego mais perto de Nina, e sussurro:

– O que são?

– Fadas. – Nina diz com uma careta no rosto, o que eu não entendo.

Luke anda um pouco mais rápido do que o normal até um homem de cabelos grisalhos e óculos, que está debruçado sobre o balcão. O homem não parece nos notar, pois está concentrado em outra coisa.

Percebo que o homem de mais ou menos cinquenta anos possui as mesmas feições de Luke e também os mesmos olhos.

– Pai...?! – Luke diz, dando um tapa no braço de seu aparente pai.

O homem parece se assustar e quando levanta a cabeça, consigo perceber o quanto está cansado e angustiado. Ao ver Luke sua espressão é trocada por um grande sorriso.

– Luke! – Ele levanta e sai do balcão. Corre até o filho e dá um abraço apertado.

Admito que invejo Luke pelo seu pai e aquilo me aperta o coração. Família sempre foi um assunto tão complicado para mim! A verdade é que sempre quis ter pessoas que se importassem comigo da mesma forma que o pai de Luke aparenta estar se importando com ele. Tudo bem, eu tenho à Logan, mas estou falando mesmo é de pai e mãe.

– Esse é o Sr. Gray, – Nina me informa. – pai de Luke.

E de repente a expressão de Nina muda, de afeição para ódio. Olho para frente e percebo o porquê.

Jeremy já está quase alcançando Luke quando três fadas bloqueiam sua passagem. Elas gritam histéricamente, flertando e assediando Jer e a pior parte é que ele parece estar gostando.

– Ah, meninas, vocês sabem... O mundo humano é um lugar muito perigoso, é preciso ter coragem para ir até lá. – Ele se gaba, fazendo as fadas derreterem.

Nina bufa ao meu lado e eu percebo um leve ciúme em sua pessoa.

– Fadas! Tão oferecidas! – Resmunga e sai andando, como se não conseguisse mais olhar para aquilo.

Distraio-me com alguns títulos de livros, mas evito mover-me, já que estou me sentindo tímida e deslocada.

Uma garota alta e bronzeada passa por mim, chamando atenção. Seus cabelos que estão presos em um rabo alto, são vermelhos de um jeito bem artificial como se tivessem sido tingídos. Ela usa umas roupas esquisitas, que parecem mais armaduras e tem uma cicatriz abaixo de um de seus olhos acinzentados.

Jeremy e as fadas continuam com a conversa até que a garota bronzeada chega, acabando com a festa.

– O que vocês estão fazendo paradas? Vão atender aos clientes! – Ela resmunga firmemente. Depois que as fadas voltam à trabalhar olha para Jeremy com um sorriso brincalhão no rosto. – Você não muda mesmo, não é?

Pelo jeito que falam um com o outro, percebo que a garota é irmã mais velha de Jeremy.

Duas pessoas saem de uma porta, atrás dos balcões. São um casal e também são bem parecidos com Luke e Sr. Gray. Devido às sardas e olhos acinzentados da mulher, deduzo que são os pais de Jeremy.

Vejo Jeremy e a garota bronzeada cumprimentarem seus pais e depois disso, conversam animadamente sobre a viagem.

***

Já estamos em um pequeno escritório, dentro da livraria. É claro que fui apresentada à todos que não conhecia.

Sr. Anthony Gray é o pai de Luke e com certeza uma pessoa adorável. Ele fez questão de me mostrar a livraria e como alguns feitiços funcionavam ali. Senti-me um pouco curiosa, já que ele se mostrou bastante interessado na minha presença. Como se eu realmente fosse útil na busca da “garota perdida”.

A garota bronzeada é sim irmã de Jeremy e se chama Katherine. Ela tem vinte e cinco anos e trabalha como treinadora em colégios de feiticeiros. Segundo Luke, sua prima é uma das feiticeiras mais hábeis que já conheceu. Ele também disse que muitas vezes, Katherine é chamada para lutar contra criaturas que ameaçam a exposição dos feiticeiros aos humanos. No mundo humano, claro.

Sr. Caeser Gray, também pai de Jeremy, é irmão de Sr. Anthony. Parece ser uma pessoa bem calma e controlada, diferente de sua esposa Sra. Juliet. Ela não tirou os olhos de mim por um instante se quer, desde que fomos apresentadas, como se eu fosse um monstro. Penso que se deve ao fato de eu ser uma feiticeira branca e como bem me disseram, feiticeiros negros não suportam feiticeiros brancos e vice e versa. Decido ignorá-la até que perceba que sou uma ótima pessoa. E modesta.

Também há Fred, o treinador de Luke. É claro que é um especialista, já que foi escolhido para treinar aquele que deve encontrar a “garota perdida”. Ele tem trinta anos, embora esteja totalmente em forma. Possui os cabelos cortados perfeitamente e usa uma roupa um tanto formal. Fred trabalha com Katherine nas escolas para feiticeiros e também luta contra algumas criaturas no mundo humano. É praticamente da família Gray, segundo Nina.

E descubro uma coisa que realmente não fazia ideia: A mãe de Luke morreu quando ele tinha apenas sete anos. Segundo Nina, foi por causa de uma doença rara e nem mesmo os melhores curandeiros de Opposite conseguiram curá-la. É claro que agradeci Nina, mentalmente, por ter me avisado. Do jeito que sou, poderia acabar cometendo uma gafe.

Mas toda essa história me faz refletir. Será que Luke sabe como eu sinto em relação aos meus pais? Quer dizer, por ele ter perdido a mãe tão novo, deve entender um pouco. Ou talvez não. Talvez com uma família como essa, Luke consiga se sentir amado.

Paro de pensar nisso, afinal, esse assunto não me deixa lá muito feliz.

Estamos todos no escritório e o silêncio me deixa um pouco nervosa, já que estamos aqui para discutir a próxima parte do nosso plano para encontrar a “garota perdida”. O Sr. Gray está sentado em uma cadeira, próximo aos pais de Jeremy; Katherine está sentada no chão, balançando seu rabo de cavalo; Fred está apoiado em uma das estantes, perto de Nina; Jeremy, Luke e eu estamos sentados em um sofá.

Fico admirada com a preocupação da família Gray com a busca da “garota perdida”. E então chego a conclusão que sim, Luke é sem dúvidas muito amado por sua família.

Luke acaba de explicar sobre minha presença e sobre tudo o que descobriram à respeito da “garota perdida” quandp Katherine me examina de forma gentil e diz:

– Então vocês acham que a melhor coisa à se fazer é ir atrás do passado de Emily?

– Sim. – Luke concorda, mas parece um pouco confuso. – O que você acha, Fred?

– Acho que é a coisa certa a se fazer. Quer dizer, se vocês encontrarem os pais de Emily, poderão perguntar sobre Blake Darkbloom. Se eles tiverem alguma informação, ela será totalmente útil. – Fred cruza os braços, pensativo. Ele faz uma pequena pausa e depois continua. – E além de nos ajudar com a busca, irá ajudar Emily à saber sobre o passado dela.

Começo realmente a achar que Fred é um cara legal. Na verdade, acho que é a primeira a pessoa ali a mencionar a importância sobre me ajudar. É claro que esse meu pensamento é totalmente egoísta, já que todos estão ali para ajudar Luke.

– Mas como poderemos descobrir sobre Emy? – Nina pergunta. – A nossa única fonte de informação é o pai adotivo dela e bem, ele já nos disse tudo o que sabe.

Luke se remexe ao meu lado, como se já tivesse algo em mente. Estremeço, muito curiosa.

– Estive pensando em algo. – Ele anuncia.

Todos parecem curiosos, exceto por Fred. Ele já parece ter entendido tudo.

– Você pensou no... – Fred baixa os olhos e demora à dizer, como se fosse algo perigoso. – Oráculo? Foi nisso que pensou? No Oráculo Mágico?

– Exato.

Todos parecem incrédulos e muito chocados. É claro que me sinto completamente por fora e inútil novamente. Não, não faço ideia do que estejam falando. É claro que Luke percebe minha expressão confusa e explica tudo.

– O Oráculo Mágico é como se fosse um arquivo de todas as criaturas existentes em Opposite, desde feiticeiros à fadas. O Oráculo sabe sobre a origem de qualquer um e se conseguirmos chegar até ele, podemos perguntar quem são seus pais!

Então, pelo que entendo o plano é: Perguntar ao Oráculo quem são meus pais, ir atrás deles e perguntar se sabem algo sobre a garota perdida. Se souberem, isso será ótimo! Se não, teremos de pensar em outra coisa.

Jeremy parece confuso e assustado, ao meu lado.

– É claro que não é tão simples quanto parece. – Ele diz, olhando para Luke. – O Oráculo fica escondido em Arcanum Island, uma ilha onde vivem os piores tipos de criaturas e monstros. E além disso, teriamos que atravessar Shadow Ocean e ele é totalmente imenso e cheio de monstros marinhos.

Luke suspira e olha para baixo parecendo estar chateado, enquanto os outros ainda estão chocados com a ideia. Sra. Juliet parece a mais assombrada de todos.

– Vocês não estão falando sério, estão? – Ela pergunta, um pouco trêmula. – Chegar ao Oráculo Mágico é algo extremamente perigoso! São raros os que conseguiram ir e voltar vivos.Vocês quatro não terão chance alguma!

O silêncio toma conta da sala e pela primeira vez, Sr. Gray diz:

– Eu tenho certeza que meu filho pode fazer isso.

Olho para Luke de soslaio e percebo que ele sorri com o orgulho de seu pai. É claro que fico um pouco envergonhada, quando me pego sorrindo também.

– Também acho que eles dão conta do recado. – Katherine nos encoraja, com um sorriso no rosto.

Sra. Juliet anda de um lado para o outro, desesperada. E de repente, ela faz com que eu consiga odiá-la por inteiro. Anda até mim e aponta, como se eu fosse uma aberração.

– Eles não vão conseguir com ela! Essa garota além de ser uma feiticeira branca, foi criada como humana e não tem habilidades apropriadas para uma missão como esta.

Meu rosto fica vermelho na mesma hora. Reprimo minha vontade de levantar e cuspir todas as palavras que já surgem em minha garganta. Minha raiva passa rapidamente, o que não é comum, e eu fico mesmo é magoada com aquelas palavras. Baixo meus olhos e encaro meus pés, fugindo dos olhares de todos.

Luke suspira e faz algo que me surpreende. Sim, ele me defende.

– Emily é uma feiticeira forte. Diriam isso se vissem o que ela fez com uns lobisomens que estavam nos chateando.

Levanto minha cabeça na mesma hora e olho para ele, que me manda um meio sorriso. Retribuo o sorriso, saboreando a expressão de raiva de Sra. Gray. Me sinto levemente grata pelas palavras de Luke.

– Posso treiná-la também. – Katherine diz, levantando-se. – Se ela é tão forte assim, vai entender tudo depressa.

– Continuo achando isso uma má ideia. – Sra. Gray continua nervosa, o que me deixa irritada. – Não permito que meu filho participe de algo assim!

– O que?! – Jeremy se revolta, já de pé. – Eu não preciso da sua permissão, eu vou ajudar meu primo e ponto final!

Tenho certeza que Sra. Gray está à ponto de explodir, quando seu marido se aproxima e segura suas mãos.

– Querida, Jeremy não é mais uma criança. Encare os fatos. – O pai de Jer diz calmamente.

– Mas é perigoso, Caeser! – Ela berra de forma histérica, tanto, que minha cabeça chega a doer. Sinceramente, não sei como o seu marido ainda continua calmo.

– Perigoso ou não, eu confio no potencial de Jeremy. – Ele diz e sinto que Jeremy acaba de estufar o peito. Mas então, Sr. Ceaser Gray continua. – Ele é tão corajoso quanto a nossa Kathy.

Sinto que a felicidade e orgulho de Jeremy estão no chão, com o comentário final. Katherine ri e dá um tapinha de leve em seu ombro.

– Pai, não sei não, mas acho que estou em um nível muito superior. – Ela diz fazendo todos rirem, inclusive eu.

***

Fico chateada, já que toda a discussão demorou. Agora já é tarde e não posso visitar o restante das lojas em Hawkslane.

O que ficou decidido é que Fred falará com o rei Therion sobre o nosso plano provisório e pedirá sua opinião. Depois, voltará a falar conosco. E além disso, meu treinamento com Katherine começará amanhã, e pensar nisso me deixa nervosa.

O céu já está escuro e os feiticeiros estão fechando suas lojas. Andamos cautelosamente até o fim da viela, onde há outro poste com placas.

Desta vez, as placas me intrigam um pouco mais. Uma é branca e está escrito “Dove Land”. Já a outra é preta com a incrição “Raven Place”. As duas indicam para lados opostos e percebo que Luke segue o caminho indicado pela placa da cor preta.

– Estamos indo para Raven Place? – Pergunto, confusa, à Nina.

Ela concorda com a cebça, com um sorrisinho em seus lábios. Deve estar sorrindo pelo fato de eu não parar de fazer perguntas.

– Raven Place é onde vivem os feiticeiros negros. Já em Dove Land, vivem os feiticeiros brancos. – Explica pacientemente. – O preconceito entre nossas raças é tão grande que temos até de viver em lugares diferentes.

Confesso que estou absurdamente supreendida com tudo aquilo. Quer dizer, só porque os feiticeiros são diferentes, não quer dizer que não possam aprender à seguir regras de convivência. Tudo isso é tão sem sentido e espero realmente que mude depois de encontrarmos a “garota perdida”.

– Isso é tão estúpido. – É a única coisa que consigo dizer.

– Concordo com você, mas é assim. – Nina cruza os braços e passa a sussurrar. – Não viu o jeito que a Sra. Gray falou com você? Isso é só pelo fato de você ser uma feiticeira branca.

Disso eu já desconfiava, portanto não estou surpresa.

– Porque você acha que se chama Opposite? Opposite significa “oposto”. Nosso mundo é composto por lados opostos e isso é horrível! É claro que foram feitos alguns acordos de paz, como o de Hawkslane. O acordo diz que todos os feiticeiros, não importa se é branco ou negro, podem comercializar em Hawkslane. É claro que feiticeiros brancos só compram em lojas de feiticeiros brancos e negros só em lojas de negros. O que eu quero dizer é que apesar desses pequenos acordos, nossa rivalidade ainda é grande.

Bufo, horrorizada com tudo isso. Como podem seres tão extraordinários, terem atitudes tão repugnantes. Pensava que só os humanos eram imperfeitos, mas estou vendo que estava enganada.

– Eu odeio qualquer tipo de preconceito. – Digo. – E darei o melhor de mim para encontrar a “garota perdida”. Quem sabe, com a únião entre os feiticeiros negros e brancos, tudo muda.

– Espero que isso realmente aconteça, Emy. – Suspira, tão chateada quanto eu.

Nina me convida para passar a noite em sua casa e é claro que eu aceito, afinal, seria estranho se eu ficasse na casa de Luke e se ficasse na casa de Jeremy, Sra. Gray não gostaria muito da ideia.

Estamos bem próximos à Raven Place, já que consigo vê-la de longe. Há um enorme castelo medieval ao fundo, contruído com tijolos pretos e vermelhos. Possui altas torres e uma muralha que a cerca. Além disso há uma imensa floresta que o cerca por trás. É tão incrível, que tenho que me beliscar para ter a certeza de que não estou sonhando.

Aponto para o enorme castelo, mas antes que possa dizer algo, Luke diz:

– Aquele é o Palácio Negro. Onde Therion Darkbloom vive e reina.

Estou tão impressionada que ele dá uma risadinha, me fazendo corar.

Percebo uma grande aldeia um pouco mais à frente ao castelo, cheia de casas contruídas, uniformemente, por tijolos pretos e vermelhos. As casas estão alinhadas, uma ao lado da outra.

Há feiticeiros negros andando por lá, e aliás, muitos deles parecem ser comerciantes de Hawkslane.

De longe, consigo ver algumas mansões ao lado direito da aldeia, próximo à floresta que cerca o grande castelo. Segundo Nina, muitos dos feiticeiros que vivem nessas mansões fazem parte do governo ou são soldados de Therion.

Entramos na aldeia e alguns feiticeiros me encaram, como se o fato de eu estar aqui os incomodasse. Tenho certeza que isso é por causa que sou uma feiticeira branca. É claro que eu não me deixo levar por essas atitudes grosseiras e irracionais.

Combinamos de jantarmos juntos, na casa de Nina e então nos separamos.

***

Eu e Nina já estamos em sua casa e nesse exato momento, ela e sua mãe procuram por algumas roupas para me emprestar.

Descubro que Nina não estava totalmente mentindo quando nos conhecemos, já que seus pais são realmente separados. Só que isso aconteceu quando Nina tinha apenas cinco anos. Sua mãe é uma feiticeira negra e seu pai é um simples humanos. E sim, ele vive em Madrid, na Espanha.

A mãe de Nina é uma pessoa extremamente gentil e de aparência jovem. É ruiva, como a filha, porém seus cabelos são compridos e seus olhos são verdes. Segundo Nina, Sra. Sanchez é uma das cozinheiras no castelo dos Darkbloom e cozinha muitíssimo bem.

Elas andam até mim, ambas sorrindo. Nina me entrega uma sacola com apenas uma roupa e diz, magoada:

– Acho que é a única coisa que vai caber em você. Acredite, eu e minha mãe usamos tamanho infantil. Mas não se preocupe, amanhã podemos comprar roupas novas em Hawkslane!

– Obrigada, mas não é necessário. Trouxe algumas roupas de casa. – Digo, apontando para minha mochila.

– Por favor, aceite. – Ela insiste. – Você vai precisar das suas roupas para a viagem até o Oráculo.

Estou completamente sem graça, e percebo que o que Nina diz tem um pouquinho de razão então aceito, agradecendo.

– Obrigada, Nina. Obrigada, Sra. Sanchez.

A mãe de Nina sorri de forma amigável, dizendo:

– Não tem problema, querida. E por favor, me chame de Ella.

Confirmo com a cabeça, sendo arrastada por Nina até o banheiro.

***

Termino meu banho, agradecendo em silêncio pelos feiticeiros usarem chuveiro com água quente, e coloco a roupa de Nina, que por sinal é um vestido. Uma peça totalmente diferente das que costumo usar em meu dia-a-dia.

É um vestido preto cujas mangas vão até o meu cotovelo. Também é coberto de rendas e um pouco decotado demais para o meu gosto. Ele vai até os meus joelhos e é totalmente feminino. O problema é que não sou a garota mais feminina do mundo, faço mais o tipo durona.

Quer dizer, o vestido é lindo, mas não para mim. Ele me faz parecer delicada e vaidosa, coisa que eu não sou. Jantar usando ele, ainda mais na presença dos meninos, me deixaria completamente desconfortável.

Fico imaginando o que Luke pensaria se me visse vestindo algo como este vestido. Provavelmente pensaria que sou frágil e delicada e possivelmente passaria a me subestimar. E o que eu menos preciso agora são de mais pessoas me subestimando.

Ando de um lado para o outro, no pequeno banheiro e tento pensar em como me livrar do vestido sem que Nina fique magoada, então decido finalmente conversar com ela.

Abro a porta e um cheiro delicioso vem da cozinha. É Ella, que prepara nossa refeição.

Espio e não vejo ninguém além de Nina e sua mãe. Nina está na salinha de entrada, esticada no sofá. Quando chego, ela se levanta toda animada. Isso é ruim, muito ruim!

– Emy, você está linda! Espere um pouco.

Nina sai correndo, mas volta poucos segundos depois trazendo uma tiara que combina com o meu vestido e antes que eu possa protestar, coloca em minha cabeça.

– Pronto.

Sinto que estou pior do que há dois segundos atrás, mas tudo bem.

– Não estou... Exagerada? – Pergunto, tentando escolher as palavras mais apropriadas.

Nina dá uma risadinha e eu não deixo de me sentir envergonhada.

– Você está bem arrumada, e não exagerada. – Explica, sorrindo. – Mas pode pegar suas próprias roupas, se preferir.

– Eu acho melhor. – Digo, contrangida e querendo sair dali o mais rápido possível.

Mas antes que eu possa pensar em dar um passo ou fazer qualquer outra coisa, a porta da entrada se abre. Levo um susto, pois para a minha infelicidade, é Luke.

E sim, ele me vê.


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