El Beso Del Final escrita por Ms Holloway


Capítulo 12
Por onde você andava?




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Capítulo 12


 


Por onde você andava?


 


                Dominic definitivamente não era um homem dado a sentimentalismos, mas ver Letty diante dele, sã e salva depois de ter ido ao necrotério naquela manhã acreditando que ela estava morta era demais pra ele. Ele sentiu os joelhos fraquejarem, a garganta seca, as mãos suando. Por pouco não gaguejou quando pronunciou o nome dela.


- Letty...


- Sabe Dom, olhando assim pra você eu me pergunto por que você parece sempre surpreso em me ver?   


 


República Dominicana, 5 anos antes


 


              Quando Letty adentrou o lugar, a festa estava no auge. Casais dançavam ao som de uma música lenta e romântica, abraçados, gingando de um lado para o outro. Ela caminhou por entre os dançarinos e pedia licença à medida que ia passando. Alguém lhe dissera que Dom estava ali em algum lugar, ela só precisava encontrá-lo.


            Fazia várias semanas que eles estavam separados e ela estava louca de saudades dele. Vinha sendo um período difícil desde que eles tinham deixado os Estados Unidos. Depois do fracasso do último roubo e o que acontecera com Vince na estrada, incluindo mais a descoberta de que Bryan O’Conner era um policial, Dom não hesitou em pedir que ela fugisse com Leon para o México em seu velho Chevelle. Ela estava ferida, mas não havia tempo para pararem no hospital. Letty teve que conviver com a dor de seus ferimentos ocasionados pelo acidente com o Civic até que atravessassem a fronteira e eles pudessem parar em um pronto-socorro mexicano.


              Desde então ela ficou sem notícias dele até que recebeu uma carta de Dom no México avisando que ele estava na República Dominicana. Letty não perdeu tempo e foi encontrá-lo lá. Perguntando aqui e ali, ela descobriu que ele tinha ido a uma festa com um propósito muito importante. Também não foi difícil encontrar o local da festa. Todos pareciam conhecer Dom e o motivo pelo qual ele tinha ido àquela festa, exceto ela mesma.


         Letty não estava vestida para uma festa. Usava jeans e camiseta e nas costas a mochila com seus pertences pessoais. Ela tinha vindo à República Dominicana sozinha. Leon ficou no México porque pretendia voltar aos Estados Unidos. Há alguns dias eles tinham recebido a notícia de que Vince tinha saído do hospital e estava bem.


       Ela chegou até uma porta que dava para uma sala reservada dentro do salão de festas. Sorriu para o segurança que estava lá e falou com ele em espanhol:


- Buenas Noches. Yo estoy buscando a Dominic. Lo conoces? (Boa noite. Eu estou procurando por Dom. Você o conhece?)


- Si, señorita. (Sim, senhorita).- respondeu o garçom apontando para dentro da sala.


- Gracias. (Obrigada).- disse Letty, adentrando a sala quando o segurança abriu a porta. Ela tirou um chiclete do bolso e começou a mascá-lo para conter a ansiedade. Só conseguia pensar que agarraria Dom pelo pescoço assim que o visse e não o soltaria mais.


    Entretanto, a visão que teve dele não era bem o que ela estava esperando. Dom estava sentado em um sofá nos fundos da sala, com uma morena de cada lado. Ambas usavam roupas provocantes e distribuíam beijos pelo rosto e lábios dele, ao mesmo tempo em que tocavam-lhe os músculos do peito e ameaçavam ousar nas carícias, deslizando as mãos para baixo.


         De repente, ele ergueu a cabeça e a viu. Seu rosto assumiu uma feição embaraçada e divertida ao mesmo tempo. Letty imitou a expressão dele, sorrindo ironicamente antes de dizer:


- Sabe, não foi tão difícil assim rastrear você. Foi só seguir o cheiro das piranhas.


- Letty... – ele disse, cruzando as mãos sobre o colo. Parecia estar pensando no que dizer. – Sempre existe uma explicação razoável para tudo.


- Ah é mesmo?- ela retrucou se controlando para não avançar naquelas duas putas que estavam abraçando seu homem. – Pois eu estou ansiosa para ouvir sua explicação.


     Ela jogou sua mochila pesada no colo dele e acrescentou:


- Mudança de planos! Onde nós vamos dormir?


    Dom se levantou do sofá e caminhou na direção dela, ainda com o sorriso embaraçado no rosto. Letty o encarou, zangada, mas quase sentiu vontade de rir da expressão sem graça dele ao ser preso em flagrante.


- Ah, agora você vem né?- ela disse quando ele chegou bem perto. – Viajei muitos quilômetros do México até aqui pra encontrar você de amasso com essas piranhas, seu safado!


        Ele a beijou na boca, querendo matar a saudade. Apesar de seu comportamento duvidoso de antes dela chegar, Dom não pretendia realmente ir a lugar algum com aquelas duas mulheres, pelo menos ele gostaria de poder convencer sua Letty disso. Ele não esperava vê-la naquela noite. Achou que ela só chegaria em dois dias. Estava com muitas saudades dela.


- Eu não quero provar a saliva daquelas piranhas!- Letty reclamou limpando a boca quando Dom a beijou, o que fez o fez gargalhar. Sua Letty era única, nenhuma mulher jamais chegaria aos pés dela.


     Dominic segurou a mão dela e começou a conduzi-la para fora da festa. Estava indo levá-la para a casa da tia de Santo, onde ele estava vivendo desde que chegara à República Domicana. A casa era muito simples e em seu quarto nos fundos do quintal só havia uma cama de solteiro. Mas ele sabia que não haveria problemas para que eles se acomodassem por lá.


  No entanto, antes que eles saíssem do salão de festas, Letty, que vinha permanecendo calada enquanto caminhavam, soltou a mão dele e retornou ao salão reservado.


- Letty!- Dominic gritou. – Letty, deixa isso pra lá! Vamos embora!


 Mas ela não deu ouvidos a ele e adentrou o salão novamente indo  direto falar com as duas mulheres que a pouco estavam beijando e passando a mão em Dom.


- Hey, vocês duas!- Letty chamou olhando furiosa para elas que ainda estavam sentadas no mesmo sofá em que Dominic estivera com elas.


  Elas nada disseram a Letty. Ficaram apenas olhando-a. Na verdade pareciam muito intimidadas com o jeito furioso da outra.


- Fiquem sabendo que eu, Letícia Ortiz, estou aqui agora! E se uma de vocês ou qualquer outra mulher desta ilha se aproximar do meu homem outra vez, as coisas podem acabar muito mal!


      Nenhuma das duas garotas ou qualquer outra mulher da festa quis revidar o que Letty disse. Que pena, ela pensou, depois da ceninha que presenciara estava muito a fim de uma boa briga.


- Você já terminou?- indagou Dominic parecendo um pouco irritado com a atitude dela.


      Letty não respondeu de pronto. Ao invés disso, deu um longo beijo nele na frente de todas as outras mulheres da festa e sussurrou junto aos lábios dele, para que apenas Dom ouvisse:


- Não brinque comigo, Dominic Toretto ou vai se arrepender!


 


Los Angeles, tempo presente


 


              Tantas coisas passaram pela mente de Dom ao rever Letty novamente. Tantas coisas que queria dizer. Não tinha sido a primeira vez que se separavam, mas esta com certeza tinha sido a mais difícil. Já que não sabia bem o que dizer, pelo menos não naquele impacto inicial de vê-la outra vez, Dom seguiu seu coração e seus instintos.


            Com apenas um passo ele a tinha em seus braços para beijá-la ardorosamente, para calar o desespero que se instalara dentro dele desde que recebera aquele estranho pacote no Panamá dias atrás. Ouviu Letty suspirar e a estreitou contra seu peito ainda mais, mergulhando a língua nos lábios entreabertos dela e explorando-os. Ah, como sentira falta daquela boca cálida e macia na sua.


           Foi então que percebeu que Letty não o estava beijando de volta. Por alguns milésimos de segundos lhe afligira a idéia de que aquela não era Letty, não verdadeiramente. Aquela imagem de mulher que tinha diante de si não passava de uma miragem para um homem sedento no meio do deserto. Mas miragens não soluçavam e muito menos podiam chorar.


          Dominic se afastou dela quando sentiu umidade molhar seu rosto. Letty estava chorando e seus lábios tremiam.


- Letty... – ele começou a dizer e seus ouvidos foram invadidos pelo som do impacto da mão esquerda dela em seu rosto. A pele ardeu e ele fez uma careta involuntária. O tapa foi tão forte que Dom quase sentiu sua mandíbula se deslocar de lugar.


- Você tem idéia do que é acordar sozinha e não saber absolutamente nada do seu paradeiro?- Letty indagou em voz baixa, seu timbre rouco habitual arrepiando os pêlos da nuca de Dom, uma reação completamente involuntária. Era a prova do poder que ela tinha sobre ele.  – Não me deixou um bilhete, uma explicação, nada! Se você queria me deixar, Dominic, podia ao menos ter me acordado e me dito isso! Eu merecia um pouco de consideração depois de ter vivido durante cinco anos com você como uma foragida da justiça.


- Você não teria me deixado partir!- ele retrucou com sua voz grave e profunda. Letty teve a mesma sensação de arrepio que ele tivera momentos antes. – E eu precisava ir! Nós nos metemos numa coisa grande na República Dominicana, Letty! Estava arriscado demais pra você continuar comigo.


- Quem tinha que ter tomado essa decisão era eu. Não você! Mas o problema é que você está sempre tentando tomar decisões por mim. Você quer ser o machão!


- Não é nada disso!


- Claro que é, porra!- ela gritou. – Sempre foi assim, desde o começo, quando ficamos juntos pela primeira vez e você foi pedir permissão ao meu padrinho pra namorar comigo. Em nenhum momento você me questionou se era o que eu realmente queria!


- E não era o que você queria?- ele retrucou. – Nós tínhamos ficado juntos, você tinha 16 anos, era a coisa certa a fazer!


- Engraçado!- ela resmungou. – Um fora da lei falando sobre certo e errado!


       Dom cruzou os braços diante do peito e disse:


- Letty, não venha me falar dos meus erros porque você cometeu um muito grande quando voltou pra LA e se envolveu nos planos do O’Conner. Eu já sei de tudo!


- Será que sabe mesmo?- ela rebateu. – Dom, será que você é tão egoísta que não consegue perceber as coisas que faz? Você quase botou tudo a perder entre nós quando se meteu com a irmã de Johnny Tran!


- Ah, caramba!- ele resmungou. – Será que você não consegue esquecer esse assunto, mulher? Foi só uma vez e eu estava bêbado, nós tínhamos brigado, você disse que queria dar um tempo e eu te contei toda a verdade depois, deixei você me xingar e ficar sem falar comigo por quase dois meses! O que mais você queria?


- Eu estava num hospital no México enquanto você se divertia com aquelas putas na República Dominicana!- ela acrescentou. – E não me diga que estava bêbado porque eu vi você!


- Já te pedi perdão por isso também!- disse ele. – E você disse que tinha me perdoado!


- Eu estou cansada de perdoar você, Dominic Toretto! E a última coisa que você fez foi a pior de todas! Você me largou lá sem nenhuma explicação. Sumiu no mundo! Eu, Vince e Leon tentamos te encontrar, mas foi em vão. Bryan era a minha única esperança de te trazer de volta!


       Dom abaixou a cabeça por uns momentos e ficou em silêncio, apenas ouvindo ela falar:


- E sabe por que arrisquei minha vida por você, Dom?


       Ele voltou a olhar pra ela. As lágrimas nos olhos dela tinham aumentado. Dom sentiu seus próprios olhos ficarem úmidos também, mas nenhuma lágrima foi derramada. Ele era controlado demais pra isso.


- Ay, papi, arrisquei minha vida por você porque te amo! Parei de falar com meu padrinho quando seu pai morreu porque te amo, tenho vivido essa vida de bandoleira com você porque eu te amo!


- Mami... – ele murmurou segurando as mãos dela. Letty não o afastou dessa vez.


       Leon viu de longe a silhueta dos dois conversando no beco escuro e sorriu. Se estavam conversando já era alguma coisa. Ele resolveu então voltar para a casa de Vince. Não era seguro deixá-lo muito tempo sozinho com o bebê, pensou. Senão ele poderia fazer alguma besteira ainda que bem intencionado.


      Dom voltou a abraçar Letty, ela escondeu o rosto no peito dele.


- Baby, eu voltei pra LA por causa de você. Porque senti medo que alguma coisa tivesse te acontecido.- ele começou a contar. – Quando cheguei aqui Mia me contou que você estava morta. Fomos até o necrotério com o Bryan...


      Ela se afastou dele e disse com preocupação:


- Dom, eles querem me matar por tudo o que eu sei!


- Braga?- ele indagou.


      Letty assentiu.


- Estive escondida na República Dominicana todo esse tempo. Em Azua de Compostela. Mas sentia muitas saudades de Los Angeles e resolvi voltar. Eu não esperava ver você de novo.


     Ele acariciou o rosto dela e a observou por inteiro. Ela estava diferente, mais madura. Seu corpo estava mais cheio. Os seios quase pulavam do discreto decote do macacão apertado que ela usava.


- Você está ainda mais bonita, mami.- ele queria perguntar sobre a gravidez dela, mas não sabia como fazê-lo. Apesar de estarem conseguindo ter uma conversa mais ou menos civilizada, Dom sabia que ela ainda estava muito zangada com ele por ter partido.


- Deve ser por causa da Nina.- Letty respondeu, surpreendendo-o.


- Quem é Nina?- ele perguntou.


- Sua filha!- foi a resposta direta e curta dela.


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República Dominicana, 1 ano antes


 


             Letty estava cansada, muito cansada. A viagem até a República Dominicana tinha sido difícil. Ela enjoara o tempo todo no avião e não quis comer nada. Seus lábios ainda estavam um pouco inchados e doloridos do soco que tinha levado de Fênix no aeroporto e ela se sentia terrivelmente sozinha por ter deixado novamente tudo para trás para se aventurar em uma vida de bandoleira, sem Dominic dessa vez e com uma criança no ventre.


            Depois que o avião aterrissou, ela conseguiu carona com uma caminhoneira até a rodoviária. Pensou em quem sabe ir para o vilarejo e ficar na casa tia de Santo. Ela era uma boa mulher e não se negaria a ajudá-la, mas também seria um local fácil de ser encontrada, especialmente por Dom. Ao contrário de quando partira para Los Angeles disposta a reencontrá-lo e limpar o nome dele, Letty não queria vê-lo dessa vez. Só queria ficar em paz até o nascimento de seu bebê para depois decidir o que fazer.


           Na rodoviária, ela consultou um mapa e decidiu ir para Azua de Compostela à 100 km de Santo Domingo. Chegou lá por volta de dez da noite, ainda mais exausta. Seu estômago ainda estava enjoado, mas ela sabia que tinha de se forçar a comer alguma coisa pelo bem do bebê. Contou o pouco dinheiro que ainda tinha consigo em sua bolsa de mão. Havia o suficiente para uma refeição e um quarto barato para dormir. Na manhã seguinte ela procuraria por emprego. Trabalharia em qualquer coisa que pudesse ajudá-la a se manter por algum tempo.


          Letty caminhou da rodoviária até uma pequena lanchonete algumas quadras adiante. Adentrou o lugar e sentou-se em um velho sofá vermelho com estofamento gasto diante de uma pequena mesa de madeira. Uma garçonete veio atendê-la de pronto. Não havia outros clientes no estabelecimento.


- Buenas noches, chica! (Boa noite, menina)- saudou a mulher. – Apetece algo? Café por supuesto? (Gostaria de tomar algo? Café talvez?)


- No, gracias. Pero me gustaria un vaso de leche. (Não, obrigada. Mas eu gostaria de um copo de leite.)


- Lo que tu quieras. ( Como quiser).


        A mulher se afastou e em seguida voltou com um copo de leite gelado para Letty. Estava muito calor e a bebida ajudou a acalmar o estômago dela. A garçonete ficou parada, em pé ao lado da mesa, observando Letty tomar o leite de um gole só. Quando terminou, ela remexeu em sua bolsa e perguntou:


- Cuanto? (Quanto lhe devo?)


- Nada.- a garçonete respondeu, sorrindo com simpatia para Letty, antes de acrescentar em inglês. – É por conta da casa.


- Gracias. – respondeu Letty.


- Tu no eres daqui, verdad? (Você não é daqui, não é mesmo?)


       Letty limitou-se a balançar a cabeça negativamente. A mulher sentou-se no outro sofá do outro lado da mesa de frente para Letty e disse:


- Yo soy Consuelo. Perdoname por importunarte pero no he tenido muchos clientes por acá y me gusta hablar.  (Eu sou Consuelo. Perdoe-me por te incomodar mas não tenho tido muitos clientes ultimamente por aqui e eu gosto muito de conversar.)


- Yo soy Letty.(Eu sou Letty).- ela respondeu com um sorriso para aquela mulher tão simpática.


- Entonces que haces por aqui? De donde vienes? (Então o que a traz aqui? De onde você vem?)


- Estados Unidos. (United States). – Yo llegue ahorita de la capital. Busco a um empleo y a um hogar para dormir. (Cheguei hoje mesmo da capital. Estou procurando um emprego e um lugar para dormir).


- Talvez yo pueda ayudarla, niña. Que sabes hacer?(Talvez eu possa ajudá-la, menina. O que você sabe fazer?)


- Bueno, yo... (Bom, eu...)- Letty começou a dizer, mas o barulho de um motor de carro falhando e a voz aborrecida de um homem do lado de fora da lanchonete interrompeu a conversa das duas.


- Hijo de puta! Ay que este coche es una basura! (Filho da puta! Esse carro é uma porcaria).


- Que pasa Joaquin? (O que houve, Joaquim?)- indagou Consuelo, mas o homem não respondeu, apenas xingou mais uma vez. – Es mi marido. (É o meu marido).-ela explicou a Letty. – Que pasa hombre de Dios? (O que está acontecendo, homem de Deus?)- ela saiu da lanchonete e Letty a seguiu.


- Esta puta de coche que yo no puedo arreglar! Mejor quemar todo de una vez! (Esta porra de carro que não consigo consertar. Melhor tacar fogo de uma vez!)


- Es cierto que no puedes arreglar? ( Tem certeza de que não consegue consertar?)


               Joaquin balançou a cabeça em negativo.


- Puedo? (Posso?)- Letty indagou apontando para o carro. O marido de Consuelo ficou com uma expressão engraçada no rosto, se ele não tinha conseguido descobrir qual era o problema do carro, por que aquela mocinha conseguiria? De qualquer forma, ele deu de ombros e deixou que ela desse uma olhada no carro.


              Letty abriu o capô e checou as engrenagens internas. Uma pequena quantidade de fumaça escapou e ela se afastou depressa, protegendo o nariz com a lapela da jaqueta. Não podia respirar aquele ar, faria muito mal ao seu bebê. Mas assim que a fumaça se dissipou, ela voltou a se aproximar do carro e o examinou atentamente, com olhos clínicos. Se existia uma coisa da qual Letty entendia muito bem era de carros.


             Joaquin e Consuelo ficaram observando-a. Letty tirou a jaqueta, arregaçou as mangas da camisa, prendeu os cabelos, pediu um copo de água gelada para o carburador e pôs-se a trabalhar incansavelmente por quase uma hora. Remexeu em toda fiação do carro e no final pediu que Joaquin tentasse dar a partida.


           O homem assentiu e entrou no carro, embora não estivesse muito convencido de que este funcionaria. Letty conectou alguns fios nos quais tinha mexido e falou em espanhol:


- Certo, agora dá a partida!


           Joaquin o fez e o carro fez um barulho estranho, quase como um soluço. Letty passou a mão no rosto e balançou a cabeça negativamente, pondo-se a pensar. Tinha graxa debaixo de suas unhas agora, mas ela não se importou. Aquele carro a tinha desafiado e ela tinha certeza que estava certa sobre qual era o problema dele.


- De novo, Seu Joaquin!- ela pediu. – Mas agora puxe o afogador, por favor!


         Revirando os olhos, Joaquin olhou para Consuelo. Ela lhe deu um olhar duro e ele obedeceu Letty mais uma vez. Mas agora estava ainda mais incrédulo. Entretanto, quando ele girou a chave na ignição o motor roncou com potência e Consuelo arregalou os olhos. Letty sorriu e Joaquin exclamou, empolgado:


- Santa Madre de Dios! Que hiciste en este coche, muchacha? (Santa mãe de Deus! O que você fez neste carro, menina?)


- Não ouço o motor desse carro roncar desse jeito desde 1977 quando o compramos.- afirmou Consuelo, muito surpresa.


- Muchas gracias.- agradeceu Joaquin. – Quanto lhe devo pelo serviço?


       Consuelo fez um gesto para ele antes que Letty pudesse responder e puxou Letty de volta para a lanchonete para que pudessem conversar.


- Você disse que precisava de um emprego, niña? Bem, meu irmão tem uma oficina e está sempre precisando de mecânicos talentosos como você.


- Eu agradeço muito a oferta.- disse Letty com pesar na voz. – Mas não posso aceitar!


- Por que?- indagou Consuelo, confusa.


- Yo estoy embarazada(E estou grávida).- Letty confessou. – Você sabe o cheiro da gasolina, a fumaça dos carros, óleo de motor, nada disso faria bem ao meu bebê. Além do mais quem quer empregar uma mecânica grávida?


- Oh no, Chica. Yo te comprendo! Pero tu aún puedes aceptar el empleo! (Oh não, menina! Eu compreendo você! Mas você ainda pode aceitar o emprego mesmo assim) Durante os meses de gravidez você pode apenas instruir os mecânicos da oficina e auxiliá-los em pequenas tarefas e meu irmão lhe pagará um salário razoável, além de alimentação e um lugar para ficar. E também posso te emprestar algum dinheiro para despesas médicas, afinal mulheres grávidas precisam de assistência e nós temos um excelente hospital na cidade.


- Está falando sério?- Letty indagou quase sem acreditar no que estava ouvindo.


- Sim, eu estou falando sério. Se você disser que aceita a oferta...


- Eu aceito!- Letty disse por fim, não havia muito que pensar a respeito dada a situação em que se encontrava.


 


 


- Minha filha?- Dominic quase caiu para trás com aquela resposta, embora ele já soubesse dessa possibilidade. Mas ouvir a confirmação da boca de Letty era bem diferente.


- Você me deixou este pequeno presente quando partiu, Dom!- disse ela, fitando-o nos olhos.


- Letty eu não fazia a menor idéia, juro! A Mia disse que sabia, mas nunca vou perdoá-la  por não ter me contado!


- Ela não te contou porque eu pedi isso a ela.- Letty revelou.


- E por que você fez isso? Eu teria voltado no mesmo instante e...


- Teria sido preso também!- ela concluiu. – Se queria ter feito a coisa certa, deveria ter ficado comigo na República Dominicana ao invés de ter partido.


- Mas mesmo se eu tivesse ficado, não poderíamos ficar lá por muito tempo! Elvis foi claro desde o início quando afirmou que não cobriria minhas costas se nós conseguíssemos devolver a gasolina ao povo.


- Mas poderíamos ter ido para outro lugar! Eu disse a você que poderíamos ir para o Brasil, mas você nem quis me escutar!


             Dom não respondeu e Letty continuou:


- Você sempre está tão absorto em si mesmo que não consegue enxergar as outras pessoas ao seu redor! Dominic e seu maldito egocentrismo!


            Ele respirou fundo e fez um esforço muito grande para dizer as próximas palavras, passou até por cima de seu orgulho próprio.


- Letty, me desculpe.


- Dessa vez só me pedir desculpas não será o suficiente!


           Dom tentou pegar a mão dela, mas Letty desviou sua mão da dele e ele entendeu o recado. Teria que ser paciente agora se quisesse o perdão dela. Teria que merecê-lo primeiro.


- Fale sobre minha filha.- ele pediu.


- Ela se chama Anna Caterina, eu a chamo de Nina e ela tem três meses de vida.


- Um nome italiano.- ele comentou com um sorriso.


- Ela é sua filha apesar de tudo!- ela devolveu sarcástica.


- E onde ela está agora?


- Com o Vince.- Letty respondeu.


- Com o Vince- ele assustou-se. – Mas que diabos! Você deixou nossa filha com aquele maluco?


- Dom!- Letty exclamou. – O Vince pode ser um pouco avoado, mas eu confio nele.


- Eu também confio nele, mas não por mais do que cinco minutos. È melhor irmos até lá... a não ser que você não me queira perto dela.- ele acrescentou, preocupado.


- Você é o pai dela!- Letty afirmou. – Já é hora dela conhecê-lo!


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              Bryan chegou tarde à corrida. Mônica telefonou para ele e pediu que viesse porque Dominic Toretto estava lá. Ele não esperou por mais detalhes e foi até a Hollywood Boulevard. Mas ao chegar lá, a corrida já tinha acabado e as pessoas estavam se dispersando antes que os tiras chegassem. Ao vê-lo, Mônica foi ao seu encontro.


- Está atrasado, Hollywood!- disse ela.


- Onde está o Dom?- ele perguntou.


- Saiu a pouco acompanhado por uma morena estonteante. Ele perdeu a corrida pra ela, sabia?


- Como assim perdeu a corrida? Ele nunca perde uma corrida!- Bryan estava estupefato.


- Bem, talvez apenas você não consiga ganhar dele.- debochou Mônica.


- E quem é essa garota pra quem ele perdeu a corrida?- ele indagou, ignorando o comentário dela.


- Ela se chama Sarah, eu andei perguntando. Ela é nova por aqui, parece que foi a primeira vez quem foi vista em uma corrida em Los Angeles e olha que Hector, o cara com quem conversei, conhece todos os pilotos da cidade.- Mônica deu um tchauzinho para Hector de longe. Ele estava flertando com algumas garotas antes de ir embora. – Aliás, eu prometi a ele que tomaríamos um drink pelas informações que ele me deu.


- Que informações?- agora era Bryan quem estava debochando. – Ele disse a você o nome da corredora, mas você não tem a mínima idéia de quem ela seja!


- Ah! E você tem?


- Talvez eu tenha.


- Não sei não, ainda prefiro tentar conseguir algumas informações com o Hector.


- Sabe qual é o seu problema, garota? Você sempre está saindo com os caras errados!


- È! Começando por você!- Mônica acrescentou.


- Bryan! Eu não acredito! È você mesmo?


- Suki!- ele exclamou com um sorriso.


               Ele caminhou até sua velha amiga da Flórida para cumprimentá-la e Mônica revirou os olhos. Foi quando seu olhar se cruzou com o de uma mulher que observava a ela e Bryan. Ela era morena, de feições delicadas e corpo esguio. A mulher olhou para ela de maneira hostil e em seguida entrou em seu carro, um possante mercedes preto e desapareceu de repente.


              Mônica ficou intrigada. Podia apostar pela experiência que tinha em conviver com bandidos que aquela mulher não era nenhuma menininha que gostava de corridas e estava tentando faturar algum dos pilotos, a mulher sabia exatamente porque estava ali e o se o imbecil do Bryan não estivesse ocupado abraçando sua amiguinha teria prestado atenção naquilo tanto quanto ela.


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            Mia mudou o canal da televisão mais uma vez, mas não conseguia se concentrar em nada. Não falava com Dominic desde que o deixara na rua horas atrás e ele não entrara mais em contato com ela. Teria sido preso durante sua busca por Letty?


           Ela levantou-se do sofá e foi até a janela para ver se ele já estava chegando, mas não havia nem sinal dele. Porém, um carro preto parado do outro lado da rua lhe chamou a atenção e Mia teve uma sensação ruim. Talvez alguém dentro daquele carro estivesse esperando por Dom. Ela precisava avisá-lo antes que fosse tarde. Mas como iria encontrá-lo.


- Diabos!- exclamou, sabendo que só havia uma pessoa para quem ela podia telefonar naquele momento.


- O´Conner!- disse Bryan ao atender o telefone.


- Bryan sou eu.- disse Mia.


- Mia!- ele exclamou.


- Bryan, tem alguma coisa muito estranha acontecendo por aqui. Eu estou preocupada com o Dom... – ela não conseguiu acabar de dizer porque nesse momento as luzes se apagaram e a casa ficou na mais completa escuridão.


 


Continua...


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