Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 41
Anotação n°40


Notas iniciais do capítulo

Guriis, desculpem a demora. Eu tava viajando e a internet estava um ** :B Vou postar tudo hj, espero que curtam o final da fanfic! Beijos pra todos b29;



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Um ponto negro no fim do corredor.
Essa foi a primeira visão que tive ao sair do gabinete do delegado.
E o ponto se transformou em um gorro. Um gorro negro.
E eu senti o peito apertar ao ver essa cor.

Aproximei-me com passos rápidos de Frank, e hesitei ao chamar seu nome.
- Frank?
Iero voltou-se para mim com os olhos cinza marejados, e levantou-se com rapidez.
E abraçou-me.
Abraçou-me com uma força desesperada, repetindo a mesma frase até os lábios secarem por falta de saliva.
- Me desculpe, Gerard...
Eu não sabia o que falar. Era eu que o tachava de assassino e quase o estrangulei, mas era ele quem me pedia desculpa. Isso soou irônico.
- Tudo bem, Frank. Fica calmo.
Ele soltou-me e enxugou os olhos com a manga do moletom, sem jeito.
- Eu me sinto culpado por ter feito essas coisas com você, cara. Você nem sabia...
- Não sabia do quê? – perguntei, sem entender.
Frank olhou-me nos olhos e riu.
- E pelo jeito você ainda não sabe.
Houve um silêncio. Eu estava começando a sentir-me lesado.
- Sabe esse irmão que o delegado te contou? – Frank murmurou. - Pois então, sou eu...
Eu sorri, ingênuo.
- Foi mesmo? Poxa, valeu. Se não fosse você eu poderia estar em uma dessas celas nojentas por esse fim-de-mundo...
Iero balançou a cabeça negativamente, e eu comecei a sentir-me mais burro do que de costume. Franzi o cenho por sua reação.
- Mas eu sou mesmo seu irmão, Gerard...
Eu comecei a observar, então, o verde de seus olhos dançarem de um lado a outro pelo corredor. Notei o modo com que gesticulava, com que pensava, respirava. Semelhanças podem não ser mera coincidências. Isso me deixou confuso.
- É impossível... – sussurrei enquanto afastava o cabelo da testa e andava em círculos, pensativo.
Frank riu, e sentou-se em um dos sofás da delegacia, fitando-me com uma ponta de admiração e temor, e falou, como se lesse minha mente:
- Semelhanças podem não ser mera coincidências, Gerard...
Eu parei de andar, de pensar e de respirar, fiquei estático. Ele mentes, eu tinha esquecido disso.
- Eu jurava que você sabia e não queria me contar, por isso fiquei com raiva de você. Seu pai que me procurou pra falar sobre isso. Ainda bem que você não me viu enlouquecer com a notícia! Joseph me disse que você enlouquece igual a mim... – ele sorriu com os olhos baixos, e continuou, fazendo-me sentar o ao seu lado.
Juro que nunca pensei que meu pai pudesse ter traído minha mãe. Enquanto Iero me dizia sobre o caso, pude visualizar um Joseph mais novo, mais atraente, mais ávido do que eu pude conhecer. Vi-o enlaçado com Mary, a mãe de Frank, sem pensar nas conseqüências de uma paixão tão imatura. E também pude sentir o desespero de Mary ao descobrir que estava grávida de um homem noivo, e desesperar-se, odiar seu próprio corpo. E fugir, fugir para bem longe, onde Joseph nunca mais pudesse encontrá-los, mesmo tendo que sofrer com isso.
- Eu te xingava durante o dia e a noite, Gerard. Eu queria que você morresse, mas quando eu soube que você também não sabia de nada já estava preso, e a única coisa que pude fazer foi depor em seu favor, mesmo não tendo ajudado em porcaria nenhuma – e riu.
Eu não conseguia falar, aceitar todos esses fatos. Sentia-me usado e enganado durante longos e malditos dezessete anos, e coloquei as têmporas entre as mãos, como se isso ajudasse. Eu me odeio.
- Ora, Gerard! Eu que sou o bastardo e você que fica assim?
- Cala a boca, Frank... – murmurei, alimentando um ódio mortal por Joseph.
Iero passou a fitar-me em silêncio, com a boca hora aberta e hora fechada, como se escolhesse as palavras, mas estas fugiam justo na hora de me consolar. Contudo, após alguns segundos, murmurou de maneira grave:
- Sabe, a gente tem que aprender a perdoar.
Voltei meu rosto a ele perplexo.
- Como?!
- Perdoar! Não vou acabar com minha vida só por causa disso. Só se eu fosse tão idiota quanto você. Mas nisso eu não pareço contigo, não mesmo.
Minutos de silêncio nos cercaram. Pude perceber que a delegacia já estava movimentada, no entanto era como se nós dois não existíssemos naquele espaço.
Frank fitou o relógio pregado à parede, e remexeu-se no sofá.
- Já é meio-dia. Tenho que ir...
- Eu vou com você.
- Não vai. Joseph vai chegar daqui a meia hora. E minha mãe está me esperando na rodoviária.
Um suspiro de espasmo fugiu de minha garganta.
- Rodoviária?! Pra onde vão???
- A gente conseguiu um tratamento pra minha mãe em um hospital há 250 quilômetros daqui. Ela vai se tratar de graça, sabe? Acho que agora sim conseguimos um bom tratamento.
Perder Frank.
Essa era uma das minhas novas milhares idéias inaceitáveis. De que adiantou ganhar um irmão se logo o perdi para 250 quilômetros de distância?
- Você tem que ir mesmo?
Ele riu, e percebi como todas aquelas desventuras o fizeram amadurecer. Ele estava totalmente edificado, se comparado ao assaltante de meses atrás. E eu continuava o cretino de sempre. Eu me odeio.
- Eu escrevo, pode deixar. Eu não vou perder meu novo irmão, não é?
Não pude não rir, e também não pude impedir lágrimas se formarem sob minhas pálpebras.
E Frank me abraçou, sufocando seu choramingar em meu ombro, enquanto nós dois sentíamos o rufar do coração, um do outro, diminuir a cada segundo.
 
Após poucos instantes avistei a imagem exausta de Joseph, que observava-nos com um meio sorriso no rosto, hesitante. Ele aproximou-se de nós, e Frank levantou-se e o cumprimentou rapidamente, um pouco sem jeito. Logo em seguida, Iero virou-se para mim e disse algo que iria fazer-me sorrir durante o dia inteiro:
- Gerard, você é infernal!

E a imagem de Iero desapareceu por entre os espectros abandonados daquele cubículo, e posso jurar que, naquele dia, Joseph me deu o primeiro abraço verdadeiro durante todos esses malditos dezessete anos.

Foi a primeira vez que ele disse que me amava.


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