Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 40
Anotação n°39


Notas iniciais do capítulo

**RETA FINAL** Se agm tiver on eu posto tudo já :x



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Não sei ao certo quantos dias fitei o teto daquela cela. Talvez nem fossem dias, somente horas. Mas agora começo a convencer-me de que foram décadas. Todavia não passou de quatro longas noites.
Eu não tinha nada a fazer naquele cubículo, a não ser pensar. E depois de horas jogado num canto mofado da cadeia, toda essa história começou a fazer um sentido fenomenal para mim. Porém, depois de dois minutos, minha opinião mudava de água para o vinho. E de vinho para água. E ao contrário, mais uma vez. Não sei como não bati minha cabeça na parede, e olha que ela me atraia um bocado.
E o que salvou minha cabeça dos tijolos foi o policial Bill. E o cassetete.
- Cadê o Bela?
Eu levantei o olhar para Bill, que acabara de destrancar a cela.
- Vem, o delegado quer falar com você.

Subimos calados para um corredor comprido e muito claro, onde havia sofás espalhados pela sua extensão e uma pequena televisão ligada para o vento, pois não havia ninguém além de nós dois.
- Venha – Bill disse, puxando-me para a última sala do corredor.
O policial bateu de leve na porta, e uma voz nos mandou adentrar.
- Gerard Way, não é?
Concordei com a cabeça.
- Sente-se, por favor. Bill, nos dê licença.
O outro assentiu e fechou a porta.
- Como passou a noite, senhor Way? Aliás, meu nome é Charles.
O delegado estendeu a mão e eu a apertei, prevendo um futuro de trinta anos na solitária no presídio de um fim-de-mundo qualquer. Estremeci com puro desespero, e defendi-me em uma voz parecida a um cacarejar. Humilhante, eu sei.
- Olha, eu não matei ninguém. Eu juro! Eu nunca mataria Hayley Williams. Por que eu a mataria?- depois respirei, recuperando o ar. - Isso foi um engano.
Charles riu e apoiou seus cotovelos na mesa, olhando-me com certa pena.
- Sem mais delongas, Way, só o chamei aqui para comunicar que achamos o real assassino de Hayley Williams.
Acho que minha cara denunciou minha perplexidade, e Charles continuou:
- Não sei se o conhece, mas ele se chama Joel Kennedy. Ele foi pego assaltando no mesmo local onde ocorreu a morte de Hayley Williams, e para a sua sorte, os donos da lanchonete o reconheceram. O caso é que ele...
Fiquei um bom tempo pensando se não conhecia esse cara, e logo um remorso me fez murchar. Coitado do Frank.
E Charles continuou contando-me sobre o depoimento de Joel Kennedy. E quando eu o ouvi foi como se um filme se passasse em minha mente, e vi aquela lembrança remota e prazerosa tornar-se um cronômetro obscuro para os últimos dias de Hayley.
Lembro-me daquela noite como se fosse hoje, e eu já a contei nessas malditas notas. O dia em que eu, Frank e Hayley saímos para dar umas voltas à noite, para nos divertirmos. E lembrei daquele maldito cara, o que se parecia com o Billy Corgan, que insistia em seduzi-la para sabe-se lá o quê. Veio à tona aqueles olhos obscenos se deliciando com cada relevo feminino de Hayley, e logo me enojei. Sei que na hora eu gargalhei, mas agora era uma situação que exigia lágrimas.
“Essas suas madeixas cor de fogo me seduziram, pequena”.
A repulsa e o ódio me deram ânsia de vômito.
- Então Joel Kennedy atirou na direção de Sebastien com a convicção de que este fosse Frank, um garoto do qual disse ter ciúmes pela aparente relação entre Hayley e Iero. Mas os tiros acertaram fatalmente a menina. Joel Kennedy sofre de uma doença de dupla personalidade, ele é protótipo esquizofônico – Charles dizia em um tom sério, balançando a cabeça na negativa.
- Então você está livre, Way – o delegado prosseguiu. – E, na verdade, o que lhe ajudou a se livrar da cadeia antes de descobrirmos o real culpado foi seu irmão. Ele nos disse que sua amizade com Williams era muito forte. Você deveria agradecer muito a ele.
- Como? Irmão? – perguntei, sem entender. – Acho que o senhor confundiu. Não seria meu pai?
- Pelo que me consta aqui ele é muito jovem para ser seu pai – ele brincou. – Os documentos estão prontos, agora você tem a ficha limpa. Seus parentes já devem estar na sala de espera, por que não vai vê-los?
Levantei-me com a ajuda de Charles, e despedi-me com um aceno de cabeça.


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