Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 27
Anotação n°26




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O intervalo terminou e todos voltaram à sala, menos Frank. Tive a pequena impressão de que ele fugiu daquele lugar por minha causa, e não consegui entender isso com clareza. Na verdade, eu fiquei mais confuso do que já costumo ser.
Terminado o falatório eterno dos professores, o sinal toca. Saí da classe apertando os livros contra o peito com um pouco de exagero, como se eu tentasse preencher as lacunas deixadas por Hayley e por Frank.
Meu cérebro estava lotado de idéias desagradáveis, e meu ser não estava acostumado com a idéia de Iero ignorar-me com tanta rispidez. Balancei a cabeça furioso, expulsando todos os espectros que me corroíam, e lembrei-me que eu trabalho. Pois é, eu já estava me acostumando com a idéia gostosa de perambular pelos enterros alheios, mas eu precisava submeter-me ao Sr. Goldheart. Corri o mais rápido possível pelas ruas para evitar chegar atrasado à lanchonete como sempre estava habituado a fazer, e não deu outra.
O chefe encontrava-se parado junto à porta de vidro, e observava-me arrastar o corpo todo para perto da lanchonete.
- Bom dia, Sr. Goldheart. Desculpa o atraso – cumprimentei-o, tentando sorrir.
- Tudo bem, pequeno – ele deu uns tapinhas em meu ombro, com cara de pena. – Que horrível deve ter sido pra você a perda de Hayley...
Assenti com a cabeça, e direcionei os olhos ao chão.
- Você já sabe alguma coisa? – Goldheart abrira a porta de vidro para entrarmos, e me olhava com uma curiosidade irreprimível.
- Não – rosnei. Meu humor não estava adequado a esse tipo de pergunta. Eu ainda não conseguira aceitar muito bem a morte de Hay.
- Mas quem foi que atirou? Digo, já prenderam o assassino?
Abandonei minhas tralhas no balcão e o encarei, aporrinhado:
- Me desculpe, mas eu não queria pensar mais nisso, tá legal?
- Claro, Arthur – ele dá mais alguns tapinhas em meu ombro. – Bem, hoje você fica no caixa e no balcão, tudo bem? Bom trabalho.
Abaixei o olhar raivoso e segui os passos do cretino até a maldita porta de vidro. Quando ele saiu, o xinguei até a morte, desejando que um raio caísse e o torrasse por completo.
Ele me mandou assumir a posição que Hayley mantinha enquanto estava viva! O cretino não sentiu nem pena dela, só pensava na merda do lucro dele. Isso me deixou louco, alucinado.
Vesti o avental e fui ao caixa, odiando todo esse maldito sistema capitalista.

“Coração de Ouro”? Claro que ele tinha. De vinte mil quilates, o cretino.


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