Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 23
Anotação n°22




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/24205/chapter/23

- Olá! Você está bem?
Mãos cutucavam delicadamente minhas costas, e eu nunca pensei que cutucões poderiam arder tanto. Eu estava consciente, mas não conseguia me mover.
- Meu Deus, acho que está morto!
- Vamos arrastar o corpo pra perto desse buraco aqui.
“Buraco?! Não! Eu estou VIVO! ”, eu pensava, pois minha boca não se movia de maneira nenhuma. Pensar doía. Falar era como se mutilar com uma faca.
Dois pares de mãos agarravam meus pés e me arrastavam bosque adentro. As pedras arranhavam meu rosto de tal maneira que tive vontade de gritar, só que gritar também doía.
- Tá bom aí, agora joga isso.
- O quê? Isso aqui?
- É! Isso.
“ Pronto, isso é gasolina e vão me queimar vivo. Eu sou um homem morto... Mas eu estou VIVO!!!!!”
A agonia consumia todo o meu corpo, e mesmo assim eu ainda não conseguia me mover. As mesmas mãos me viraram em direção ao céu – eu também nunca imaginei que mudar de posição pudesse doer -, e começaram a retirar as folhas grudadas em minha face e em meu tórax. E um líquido gelado fez com que os músculos do meu rosto se movessem milimetricamente, e a dor dos machucados encharcados me obrigou a gemer.
- Ele ainda está vivo!!!
Deu para ouvir as folhas secas se quebrarem com os pulos do indivíduo ao meu lado. Tive a vontade de sorrir, e acho que o fiz, já que os dois tentaram se comunicar comigo:
- Como você está? Você consegue falar?
Eu gemi.
- Você está terrível! – a outra voz comentava perto de meu ouvido. Era masculina, pude perceber pelo tom grave.
“Obrigado”, pensei.
- Como se chama? – a primeira voz me perguntou. Era uma melodia infantil e feminina.
“Gerard.”
- Tenta falar!
“GERARD!”
- Você ouviu? – a voz feminina perguntou, incrédula.
- Vai, cara. Você consegue!
Eu concentrei todas as minhas forças nos meus lábios. Falar doía, que infortúnio!
- Ger... Gerard – sussurrei, com um desgaste extraordinário na língua.
- GERARD! – a menina vibrou.
- Nós quase o enterramos, Gerard... – o garoto falava. – Ainda bem que você sabe gemer.
De olhos fechados eu sorri, e eles riram.

Aos poucos consegui me mover, e o primeiro movimento foi justo para afastar um inseto de minha face. Logo fui avançando para outros músculos, até que consegui me sentar, apoiado em um belo tronco de árvore.
Eu me sentia moído, um caco. As dores na barriga se acentuavam à medida que eu respirava, mas fui me acostumando com essa tortura. E enquanto meu estômago voltava ao local de origem, pude perceber que ainda era noite. As estrelas salpicavam o céu de uma maneira tétrica, desanimando-me ao me forçar a lembrar de Hayley.
- Está melhor? – a menina perguntou-me com um sorriso cintilante. Não devia ter mais de nove anos, e seus olhos de um azul fulminante me encorajaram a sorrir também.
O garoto apareceu trazendo-me uma garrafa d’água, e sentou-se junto à menina.
- Você mora muito longe daqui? – indagou, fitando-me com os olhos de um azul tão intenso quanto os da garota.
Dei um longo gole, e pude sentir a água escorrer dolorosamente pela garganta. Eu sou assim, mesmo: todo sensível. Chega a ser ridículo.
- Não muito. Perto da avenida.
- Que bom – ele murmurou.
Eu tentei levantar, e cambaleei até desistir. Sentei-me novamente, sentindo-me envergonhado.
- Se quiser, a gente te ajuda – a menina disse, radiante.
- E seus pais? – perguntei. – Devem estar preocupados.
- Você mesmo disse que não mora longe – o garoto sorriu.
- Então eu aceito – murmurei, e logo o menino veio ajudar-me a levantar. Ele deveria ter seus catorze ou quinze anos, porém era mais alto e mais forte que eu. Senti-me um verme.

A garotinha foi tagarelando sobre tudo o que é assunto durante todo o trajeto, o que me fez esquecer um pouco a morte de Hayley. Seu nome era Julia, e o rapaz se chamava Tom, seu irmão. E em dez minutos tinham me contado toda a vida sofrida de sua família. Eram pobres, e estavam a essa hora na rua para conseguir um trocado a mais na despesa. Isso me lembrou Frank, o que me entristeceu.
Chegamos à esquina de minha rua. O rapaz me soltou, já que eu conseguia andar.
- Obrigado, Tom. Tá ótimo me deixar aqui.
- Não foi nada – ele sorriu. – Vem Julia.
- Tchau, Julia – eu abaixei e a abracei. Ela corou de imediato, e sorriu.
- Tchau.
E antes dos dois sumirem na escuridão, eu enfiei a mão no bolso lateral da calça e peguei todo o dinheiro que eu tinha. Em seguida, obriguei-os a aceitarem, pois era o mínimo que eu poderia fazer por eles.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[/ok, shega de posts por hoje @@ me superei já né DIASJDAISJDAIS, espero que tenham gostado :D ainda tem meia fic pela frente... beijos para todas