Dan Evans POV

– O quê? – Perguntou ela, vindo até a sala. Estacou na porta, olhando-me com a arma em mãos. Perguntei calmamente, mas por dentro, estava confuso.

– Por que você tem uma arma?

Ela não respondeu nada por uns dois minutos, olhando para mim assustada. Eu praticamente podia ver as engrenagens em seu cérebro funcionando rapidamente para recuperar-se e formular uma resposta para me dar. As minhas engrenagens estavam funcionando muito rapidamente para tentar encontrar uma resposta, mas estava confuso demais para conseguir formular qualquer hipótese razoável.

– Anda Mahara. Responda-me. Por que você tem uma arma?

– Você não vai acreditar em mim.

– Tente me dizer.

Coloquei a pistola e o case de couro na estante, e voltei a olhá-la. Mahara engoliu em seco.

– Eu sou uma agente federal. Na verdade, ainda estagiária, mas trabalho para o governo.

Eu comecei a rir.

– Qual é Mahara, você não precisa mentir para mim.

– E quem disse que eu estou mentindo?

– Você me diz algo absurdo e quer que eu acredite? Você trabalha no estúdio de música, não para uma agência secreta do governo!

– É um disfarce, Dan, um disfarce para eu me aproximar de você!

– Ah e agora EU estou envolvido?!

– Sempre esteve! Você faz parte do caso em que eu trabalho!

– Ah, claro, um caso. – Eu levantei meu braço bom, exasperado, olhando para os lados. – E como EU estou envolvido?!

– Você é a testemunha do assassinato de Susan, Dan! Você sabe quem é o assassino e sabe tudo o que nós da MI6 precisamos saber para poder prendê-lo! Quer provas de que eu sou uma agente? Ok! – Mahara pegou a bolsa e vasculhou dentro dela, pegando algumas coisas e me mostrando. – Este é o meu distintivo de estagiária! Esta é a pasta que tem as poucas coisas que a MI6 sabe! Fora isso, eu salvei a sua vida várias vezes!

Os flashes do meu sonho sobre ela lutando com um cara vestido de médico no hospital passaram diante dos meus olhos. Poderia muito bem, então, ser real.

– E PORQUE NUNCA ME CONTOU? PORQUE ESCONDEU ISSO DE MIM? – Eu praticamente gritei, tentando andar pela sala com a muleta.

– Baixa o tom de voz! – Respondeu ela irritada. – Eu nunca te contei porque eu simplesmente não podia! Eu corro o risco de perder meu emprego!

– Então nosso relacionamento NUNCA foi real, com todas essas omissões! – Exclamei. – Tudo o que vivemos foi falso, então? Eu fui apenas um objeto para você? Você decidiu se divertir um pouco enquanto trabalha?

Mahara arregalou os olhos e pude ver a mágoa refletida nas suas íris azuis. Ela deu dois passos para perto de mim.

– Não, Dan! Isso foi real! Isso É real! Eu amo você como eu nunca amei ninguém! E eu ainda estou escondendo isso de todo o mundo, pois eu não podia me apaixonar por você e muito menos estar junto de você! Por favor, Dan, acredite em mim... Eu não posso perder você.

– Não pode me perder, caso contrário perde o emprego.

– NÃO! Você não entende, não é?! Você não consegue ver nos meus olhos o que eu sinto por você? Não consegue entender que eu estou enfrentando muita coisa para ficar junto de ti?

Mahara estava chorando. Eu via sim nos olhos dela a dor e a mágoa. Só que era difícil demais para mim acreditar.

– Eu não sei, Mahara, é muita coisa para eu assimilar. – Murmurei. Ela se aproximou e segurou meu rosto com suas mãos.

– Olha para mim. – Pediu ela. – Eu sei que é difícil acreditar. Mas acredita em mim. Eu te amo, Dan. Como eu nunca amei ninguém. Me diz que para você, isso é real. O que temos é real.

– Eu amo você, Mahara, mas preciso de tempo para pensar. – Eu disse, suspirando, desviando do olhar dela. – Eu vou ligar para Paul, pedir ajuda para que ele me leve.

– Não, deixa que eu levo você.

– Entenda, eu preciso de um momento sozinho para pensar, pequena.

Acho que ao chamá-la de pequena, ela entendeu que eu voltaria para ela. Que não estava terminando, e só precisava pensar. Afinal, era muita informação para que eu engolisse.

– Tudo bem. – Disse ela. – Aqui está o seu telefone.

Mahara me deixou sozinho na sala e foi para a cozinha. Liguei para Paul, pedindo sua ajuda, e ele disse que em menos de dez minutos estaria aqui para me buscar. Sentei-me no sofá e esperei. Ela demorou a aparecer. Apenas apareceu quando a campainha tocou, e Paul apareceu com outro segurança para me ajudar a descer até o carro. A minha despedida de Mahara foi silenciosa, apenas por uma troca de olhar.

Assim que a porta se fechou, eu a ouvi soluçar. Meu coração doeu.

Mahara Carter POV

Eu não queria chorar. Mas estava. Encostei-me a porta e fui deslizando até o chão, pensando no que havia acontecido. Fui irresponsável ao deixar a arma em cima da estante, e estraguei todo o meu disfarce. Dan não queria acreditar em mim. Se duvidar, não queria nem mais me ver. “Eu preciso de um momento sozinho para pensar, pequena” havia dito. Havia usado o apelido que me dera. Ele voltaria para mim.

Todavia, como seria agora? Agora que ele sabia meus segredos, eu não sabia o que seria de mim, do caso, de tudo. Provavelmente seria mais fácil fazê-lo falar tudo o que sabia, mas também seria mais difícil mantê-lo vivo, manter-me viva e manter meu emprego intacto.

Droga, eu também preciso de um tempo sozinha para pensar. Preciso de ar puro.

Levantei e peguei minha bolsa, coloquei um calçado decente e saí de casa. Caminhei pelas ruas até que entrei na Starbucks e pedi um frapuccino de doce de leite gelado, sentando-me em uma mesa perto da janela e olhando para a rua, enquanto meus pensamentos se perdiam. Como estaria Dan? Eu deveria ir atrás dele?

Acho que sim. Ou não?