Ela se lembrava vagamente desse dia, e lembrava-se também que ele foi uma bosta.

POV Mariana

Eu acordei com os berros do meu irmão caçula no quarto, ele estava preso no berço enquanto meus pais discutiam na cozinha, isso era rotina lá em casa, e eu estava ficando realmente farta. Levantei, coloquei meu uniforme de qualquer jeito e desci para tomar café, não fiz questão de olhar para a cara da minha mãe, mas pelo seu tom de voz dava para perceber que ela estava bêbada, meu pai não podia ser qualificado como sóbrio, mas isso não importava agora, nada mais importava. Peguei uma maçã e sai.

A rua estava um inferno a essa hora da manhã, eu morava num bairro bem movimentado do Rio de Janeiro, e isso não ajudava muito na hora da paz e da tranqüilidade, um menino andando de bicicleta quase me atropelou enquanto eu atravessava a rua, mostrei o dedo para ele e o mandei enfiar aquela bicicleta idiota onde o sol não bate. Ele me olhou feio e seguiu seu caminho.

Eu olhava indiferente para tudo em volta, eu não gostava das pessoas e as pessoas também não gostavam de mim, pra mim estava tudo certo. Chegando na escola umas meninas líderes de torcida me encararam como faziam todos os dias, eu não era do tipo sociável.

– Olha ai Ana, essa ai saiu do inferno só pode – uma líder de torcida gritou,

eu já ia meter um soco na cara dela mas resolvi deixar quieto. A aula começou logo Lari chegou e foi sentar-se ao meu lado. Abri um sorriso, aquela menina era a única que se importava comigo, e eu também me importava muito com ela, passamos a manhã inteira juntas, e no final da aula ainda caçamos confusão com um bando de meninos. Um dia lindo, não?

– Lari eu vou para casa, cansei dessa merda toda – eu disse, depois de estarmos fora de perigo

– Ok, eu também vou – ela disse. – Posso ficar um pouco na sua casa?

– Claro.

Ela ficou lá um pouco nos despedimos e ela foi pra casa.

O cheiro de bebida me fazia ver estrelas Eu segui para meu quarto, e já ia ligar o som para ouvir um pouco de rock, quando minha mãe entrou pela porta

– Porra mãe, não sabe bater não? - eu gritei

– Cala a boca sua inútil Só vim aqui te avisar que amanhã a noite você vai sair dessa casa e aprender a ser gente.

– Tá me expulsando é? - eu já estava aos nervos

– Não sua idiota, eu poderia ser presa por isso, você vai para Los Angeles tentar ser alguma coisa nessa sua porra de vida. E não discuta comigo, senão eu meto a mão nessa sua cara feia.

Ela saiu e eu bati a porta Eu não acreditava que ia perder a única amiga que eu tinha conquistado na minha vida, e ia parar tão longe, sem direito a nada Sentei no chão e comecei a chorar Não sei por quanto tempo fiquei ai, mas já estava escuro quando resolvi sair Eu tinha que falar com alguém, e esse alguém era a Larissa.