Tu

–

– AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

O grito se repetiu. Provavelmente agora por causa da matilha de cães.

Estava prevendo problemas. Muitos problemas, na verdade.

Finalmente alcançou a casa, e viu que seus cães estava rodeando algo. Ou melhor, alguém. Provavelmente a histérica dona dos gritos.

– Você está bem? – Kakashi começou a afastar os cães e tentou alcançar a garota que se debatia, tentando afastar os focinhos úmidos e linguas molhadas dos cães. – Sai para lá Buru! – Kakashi empurrou um cão grande, gordo e preto para o lado, e finalmente alcançou a garota, dando um puxão nela e a pondo de pé.

– Mas que diabos... – Ela estava assustada e confusa, a roupa estava suja e o cabelo revolto lhe tampava a face. A jovem olhava ao redor por entre as mechas do longo cabelo desfeito tentando saber da onde aqueles cães havia surgido.

– Ei! – Kakashi a sacudiu. – Você está bem?

– Não! – Disse chorosa, se afastando dele. – Um bicho mordeu meu calcanhar! E eu estou toda babada! – Ela fez uma cara de nojo e tirou o cabelo do rosto, revelando ser uma jovem muito bonita, por sinal.

– Mordeu seu calcanhar? – Kakashi enrugou a testa. Só conhecia um alguém que poderia fazer isso. – Pakkun! – Chamou, e o pug apareceu, as orelhas abaixadas em sinal de saber que havia feito algo de errado. – Acho que foi esse o responsável pela mordida no seu calcanhar. Não se preocupe, ele está devidamente vacinado...

– Espere aí... – A jovem ajeitou a cabeleira abundante e castanha e encarou Kakashi pela primeira vez. Os olhos verdes faíscando. – Esses cães que praticamente me atacaram são seus?

– Sim, por que? – Ele a enfrentou. Embora ele tenha fraquejado um pouco perante os raivosos olhos verdes.

– Você é maluco ou o quê?! – Gritou, e um dos cães rosnou para ela. – Calado pulguento! – Se virou para o animal, e gritou raivosa. O pobre animal apenas ganil e foi se esconder atrás de Kakashi, com medo. – Eu sabia que o novo proprietário tinha cães. Mas de acordo com o propietário anterior, você tinha dois poodles! DOIS poodles idiotas! E não uma matilha de cães selvagens e perigosos! – Disse a menina exasperada e Kakashi teve vontade de rir.

Quem estava em perigo ali eram seus cães, não ela.

– Olha... – Disse calmamente, tentando espantar a vontade de rir. – Meus cães são muito obediêntes e mansos. E estão devidamente vacianados...

– E por que um deles me mordeu?! – Disse, furiosa.

– Ah... Foi o Pakkun! – Kakashi se abaixou e pegou o pug. – Ele tem essa terrível mania, mas olhe bem para ele, você acha lá que ele poderia lhe fazer algum mal? – O pequeno cão pôs a lingua para fora e ganil, a jovem olhou atravessado, tando para o cão, quanto para o dono.

– Veremos se ele vai tentar novamente... – Disse ameaçadoramente, e ambos, Kakashi e Pakkun se encolheram.

– Olha, eu peço desculpas pelo o que acontecer, mas você terá que conviver com eles até o seu contrato acabar. Mas se você quiser sair antes... – Kakashi deu de ombros. Quem sabe assim não se livraria de um problema?

– Nem pensar! – A jovem cruzou os braços sobre o peito. – Só saio daqui no dia que meu aluguel expirar, entendeu?

Kakashi suspirou. Não seria hoje que ele se livraria desse problema.

– Como a senhorita quiser... Alias, eu me chamo Kakashi, Hatake Kakashi. – Ele pôs Pakkun no chão e estendeu a mão, esperando que a jovem a apertace.

– Hinday Jun. – Disse, e apertou a mão que lhe era estendida.

– Bem Jun, espero que possamos ter uma boa convivência. – Kakashi sorriu e a garota o olhou desconfiadamente.

– Eu também... – Ela cerrou os olhos e observou Kakashi e os cães. – Tem mais alguma coisa que eu deveria saber? Tipo, algum jacaré soltou pelo quintal?

– Não! – Kakashi riu. – Não tenho nenhum jacaré, prometo. Palavra de escoteiro! – Kakashi tentou fazer uma piada, porém Jun não riu. Ainda estava desconfiada daquele cara estranho e cheio de cães. Só esperava que ele não fosse um maluco qualquer.

– Não tem nada mais para falar? – Ela o olhava intensamente. Já não havia começado bem, e se ela descobrisse outra esquisitisse dele dessa maneira, iria ficar muito furiosa.

– Bem... – Ele engoliu em seco ante o olhar verde e penetrante. – Eu sou violoncelista, então... – Ele não pode terminar a frase, pois Jun o interrompeu.

– Violoncelista clássico? – Perguntou, soerguendo as sobrancelhas quando ele assentiu positivamente. – Então você é o tal novo professor que tanto estavam comentando na faculdade?

– Espere aí... Você faz faculdade de música? – Perguntou confuso. Ele se lembrava de ter perguntando claramente ao antigo proprietário que a pessoa que morava ali estudava na faculade ali próximo, e ele havia dito que não. Maldito proprietário mentiroso. Pelo o que ele havia dito o inquilino era um homem, pelo menos ele havia dado isso a entender, e que passava a maior parte do dia fora. Não uma jovem musicista.

– Sim, estou no sétimo período de piano. – Informou, e deixou um pequeno sorriso escapar.

– Uau, por essa eu não esperava. – Disse sincero. A última pessoa que esperava encontrar era algum músico clássico morando ali, assim como ele. Até que era uma surpresa boa.

– Bem, nem eu.

Finalmente, Kakashi pensou, a conversa estava fluindo entre eles. Não queria ter uma relação hostil com ela, embora não a quisesse como amiga. Só a queria o mais longe possível dali. Para que ele finalmente pudesse ter a sua tão desejada e sonhada solidão.

– Você tem um piano aí dentro? – Kakashi avaliou a casa. Ela era minúscula, era impossível ter um piano de cauda ali dentro.

– Tenho, só que é um piano de armário.

– Ah... – Murmurou, pensando se deveria ou não falar que ele tinha um piano de cauda. Mas achou melhor não falar, não deveria confraternizar com o inimigo e muito menos convidar o inimigo para a sua casa, mesmo que esse inimigo fosse uma bela jovem de olhos verdes e longos cabelos castanhos.

– Acho que é só isso, não é? Vou entrar, pois preciso de um banho. – A jovem suspirou ao olhar seu corpo coberto de terra e baba.

– Tudo bem. Boa noite Jun, qualquer coisa, sabe onde eu moro.

– Ok Kakashi, e se você precisar de uma xícara de açúcar ou algo do tipo, também sabe onde eu moro. – Jun sorriu e Kakashi retribuiu o sorriso. A jovem tinha um bonito e perfeito sorriso.

– Ja nee... – O grisalho deu as costas para Jun e fez um sinal para que seus cães o acompanhassem, finalmente indo em direção a sua casa.

Amanhã começaria o primeiro dia da sua nova e, infelizmente, imperfeita vida.

Continua...