As Blue As Love Can Be escrita por Menta


Capítulo 9
As Peças no Tabuleiro


Notas iniciais do capítulo

Espero que curtam!



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Em Porto Real, tudo eram sombras. Algumas, tranquilas, estáticas em sua reflexão. Outras, movimentando-se, em seus propósitos furtivos.


A madrugada erguia-se sobre os céus da Fortaleza Vermelha, escura e profundamente. Lorde Petyr Baelish descia as escadas em espiral de seus aposentos de Mestre da Moeda, exibindo um sorriso petulante nos lábios. Seus olhos mantinham-se frios como sempre, fixos no objetivo que estava realizando com afinco. Com elegância em seu andar, para disfarçar a crescente expectativa dentro de seu ser – assim como possíveis ruídos de seus passos - desceu o último degrau.


Usava uma capa comprida e larga, com um capuz capaz de cobrir todo o seu rosto, para disfarçar a própria identidade. Sabia que Varys estava sempre à espreita, com seus “passarinhos”, não importando a hora tardia. Passaria por caminhos dos quais Varys ainda não tinha conhecimento, e se dirigiria aos seus próprios domínios, nos quais sempre depositara várias “cobras” capazes de engolir todos os passarinhos que ousassem entrar. Aparentemente, Varys confiava demais em seus pássaros, quando, na verdade, quem utiliziva o símbolo de um tejo, o pássaro das cem línguas, era Petyr, e não o outro homem.Eu também tenho meus meios, meu caro e gordo eunuco. Minhas asas vão mais longe... E, sem dúvida, ainda tenho bolas. Sorriu debochadamente, e continuou a caminhar.


Um dos criados da Fortaleza Real, subornado por Petyr e a seu mando para outras especialidades furtivas, esperava-o próximo a uma falésia, a qual Petyr descera longa e lentamente com a escuridão por trás de si para protegê-lo. O homem trouxera-lhe seu cavalo, e Petyr pagou-lhe com um dragão de ouro. Olhou o dourado do objeto, e sorriu, lembrando-se da tola Rainha Cersei e sua ilusão infantil de que detinha algum poder de decisão na Corte. Logo, logo, a Lannister seria uma marionete, a qual manusearia para uma função importante. Sorriu ao homem em fingida cortesia, em agradecimento.


Cavalgando pela noite, Petyr Baelish dirigiu-se ao seu bordel principal. Desceu do cavalo, procurou a entrada secreta atrás de um antigo depósito de objetos quebrados, que apenas ele sabia existir, e entrou no estabelecimento. Despiu a capa, e surgiu sem se pronunciar na sala principal do prostíbulo.


– Lorde Baelish! – Exclamou a cafetina local, surpresa. – Não o vi entrando. O senhor é sempre imprevisível.


– Oh, se sou sempre imprevisível, acabo por me tornar previsível, não é mesmo? – A prostituta olhou-o confusa, como se não tivesse entendido. Petyr fez uma reverência educada a ela, tomou-lhe a mão direita e deu-lhe um leve beijo cortês. – Como estão minhas meninas? Dedicando-se muito ao trabalho? – Sorriu, agindo falsamente como se de fato gostasse de suas “empregadas”.


– Oh, sim, sim, estamos faturando muito ultimamente. O senhor tem um excelente faro para os negócios, Lorde Baelish. Aquelas moças Ilhéus do Verão aparentavam ser tão selvagens e, quem diria... Agora são as favoritas de nossos clientes! Eu nunca imaginaria apenas de olhá-las! – A mulher lhe sorria com uma mistura de falsa bajulação com verdadeira surpresa.


Isso é porque você é uma puta ignorante e estúpida, minha querida. Petyr sorriu-lhe fingindo carinho. – Ora, querida, vivi e viajei o suficiente para aprender algumas coisas. – Sorriu com falsa humildade. – Mas, então, dirigirei-me aos meus aposentos. Tenho algumas contas a fazer a respeito dos balanços dessa semana. Boa noite, continue com o bom trabalho. – Deu-lhe uma reverência polida, e subiu as escadas com uma fina camada de poeira e cheiro de sexo e perfume barato exalando de seu piso.


Ao entrar em seu quarto local, o qual nunca era utilizado para o trabalho das prostitutas – exceto quando as mesmas serviam-no – Petyr olhou para sua cama e pôs-se a dizer:


– Antes de mais nada, minha querida, precisamos conversar.


Lysa Arryn estava deitada, completamente nua, em uma cama de alto dossel e lençóis dourados. A mulher parecia radiante agora que vira seu amado. Lysa fingira ter posto-se em viagem de volta ao Ninho da Águia, após ter passado uma temporada em Porto Real em visita ao marido, mas na verdade escondera-se por alguns dias no bordel de Petyr, para poder estar com ele sem ser descoberta. Lorde Baelish tomava todas as medidas possíves de segurança para que a mulher não fosse descoberta, confiando o segredo a poucos, os quais eram muito bem pagos, e deixados de lado apropriadamente, quando necessário.


– Me recuso a esperar um minuto sequer! Venha já para a cama, meu Mindinho. Vou lhe dar muito mais prazer do que essas mulheres daqui seriam capazes de ousar sonhar. – Lysa ordenou com a sua voz estridente, tentando parecer-lhe sensual.


Petyr sentiu uma fúria silenciosa dentro de si. Mulher, poderia ser mais burra? Tenta me agradar usando o nojento apelido que seu irmão inventou? Ignorando seus pensamentos, Petyr Baelish educadamente segurou sua mão, enquanto dava-lhe um beijo casto em seus lábios, e novamente disse:


– Querida, é importante. Temo por você, e portanto desejo falar-lhe.


Lysa aprumou-se, dessa vez levando-o a sério. – Petyrzinho. O que houve? – Ela olhava-o preocupada.


– Temo por você, minha querida. Sabe como convivo com Jon Arryn ultimamente, em nossas reuniões no Pequeno Conselho. Sei que não pode tomar ciência de tudo, afinal, raras vezes pode viajar até Porto Real. É uma viagem exaustiva, e me preocupo com a sua saúde. – Lysa continuava a piorar de saúde, tendo crises de fraqueza e enxaqueca com alguma frequência. – Além de tudo, sei como ama seu filho.


– O que tem meu filho, Petyr? – Lysa agora estava realmente preocupada.


– Oh, querida, você mesma me contou por nossas trocas de correspondências. Lembra-se?


Lysa estava lívida de fúria. – É claro que lembro. Aquele homem horroroso. Oh não, meu amor, minhas suspeitas estavam certas? É verdade mesmo? Foi por isso que me chamou com tamanha urgência?


– Temo que sim, meu amor. Temo que sim. – Petyr fingia uma triste resignação, mas, por dentro, estava exultante, felicíssimo.


Lysa, agora, começara a chorar. Jogou-se nos braços de Petyr, que aninhou-a com a capa que vestira, enquanto embalava-a com cuidado. – Como Jon ousa... Como ele pode... O filho é dele, Petyr, É DELE! E mesmo assim ele quer... Ele vai... Enviá-lo para longe de mim! Robert é muito fraco, não o quero, não permito que meu precioso bebê seja enviado para ser criado com aquele homem duro e cruel que é Stannis Baratheon! Petyr, me ajude! O que posso fazer? Faço qualquer coisa para impedi-lo. Como vou impedi-lo?!


– Ora, querida... Chore. Chore bastante. Sofra, e retorne da sua viagem diretamente a Fortaleza Vermelha. Afinal, você não está passando bem... Nem Jon Arryn estará. – Petyr lhe dirigiu um sorriso triunfante.


– O quê? Que disparate está me dizendo? – Lysa perguntou-lhe, levantando o rosto, as lágrimas caindo, escorrendo em erupção de seus olhos azuis arregalados. Uma imitação fraca, podre e barata dos olhos de Cat. Petyr pensou enojado.


Petyr levantou um dedo e retirou, com todo o cuidado, uma lágrima do canto de seus olhos, mantendo a gota inteira parada na ponta de seu dedo indicador. – Com isto. – Sorriu malignamente. – Lágrimas. - Com a outra mão, entregava-lhe um pequeno frasco, com um líquido aparentemente inofensivo e transparente movimentando-se enquanto mexia seu recipiente.


Lysa compreendera, finalmente. Deu-lhe outro sorriso maquiavélico, e não mais chorava agora. – Petyr, você é um gênio. Sempre foi, e eu sempre soube. – Lysa abraçou-o com mais força. – É claro... Lágrimas de Lys! Mas, mas... - Lysa mostrava-se mais uma vez consternada. - Jon sempre gozou de excelente saúde. Como vamos evitar suspeitas?


– Fácil... Sabemos que Jon Arryn anda se metendo, digamos, em segredos reais... Mande uma carta para Cat. - Petyr ainda sorria, mas seus olhos não acompanhavam sua expressão; por trás do brilho cinza-esverdeado, ninguém saberia dizer qual a verdadeira emoção que o homem escondia.


– Cat? - Lysa subitamente adquiriu uma expressão desconfiada e irritadiça. - Por que você haveria de meter minha irmã nesse assunto? Não gostei, Petyrzinho... - Lysa fuzilava-o com o olhar, mas Petyr mantinha-se impassível.


– Ora, querida... Precisamos de um álibi. Certo? Mande um corvo à sua irmã, explicando-lhe suas desconfianças a respeito da morte de seu tão querido marido, deixando-lhe viúva com um filho tão frágil e amado para cuidar. Explique-lhe, sucintamente, que desconfia que os Lannister podem estar por trás disso. Não precisamos de detalhes... Apenas, plantaremos a semente. - Petyr sorriu maquiavelicamente.


Lysa agora sorria novamente. - Sim... Sim! - Agarrou-o e beijou-o longamente. - Meu gênio, meu tão inteligente Lorde Baelish...


Nesta noite, Petyr cumpriu com seus deveres pessoais para manter a mulher iludida de seu falso amor, fodendo-a inúmeras vezes até que se saciasse e caísse no sono, e continuou pensativo, esperando adormecer. Conseguira. Lysa mordera a isca. Era necessário matá-lo, não apenas para seus próprios objetivos, mas para o próprio Reino não entrar em colapso antes de Petyr ter alguma posição de prestígio de fato capaz de remediar tal situação.


Jon Arryn era mais idiota do que Petyr imaginava. O tolo homem investigara, sem discrição alguma, os filhos bastardos da Rainha, e havia finalmente chegado a brilhante conclusão de que eram filhos de Jaime Lannister. Caso ousasse dar com a língua nos dentes, Robert a mataria sem pensar duas vezes, e o Reino seria levado a conflitos sem precedentes. Não que isso estivesse muito longe, mas ainda, ainda, não era hora, sabia ele.


Com Jon Arryn fora do caminho, haviam duas opções possíveis... Ele poderia vir a tornar-se a própria Mão do Rei, afinal, conquistara a confiança de Lorde Arryn e sua estima; mas essa era uma hipótese muito distante, considerando a pompa estúpida da Rainha Lannister a respeito de seu nascimento. O mais provável era que Rei Robert nomeasse Ned Stark Mão do Rei, seu tão querido amigo do Norte, e, com isso, decretasse a sua própria morte, assim como o provável falecimento de Ned Stark também. A Rainha Cersei não andava muito tolerante com os abusos de seu marido, e, com a presença de Ned Stark e as lembranças que o mesmo despertaria no Rei a respeito de seu passado e seu eterno amor por Lyanna, provavelmente o levariam a querer, por nostalgia, voltar a sentir-se como nessa época: jovem, bravo e talentoso, um guerreiro de forte ardil, venerado por todos. Gastaria dinheiro em torneios, faria mais sexo com prostitutas e humilharia ainda mais Cersei, cujo estúpido orgulho sempre lhe subia à cabeça e escondia-lhe a realidade dos fatos.


A tola Rainha, submetida a um limite além do suportável, ela que há muito já conspirava contra seu amado Rei, aguardaria apenas o momento perfeito para poder livrar-se dele, provavelmente com criados Lannister de seus mandos. E aí sim a guerra poderia começar. Com o Norte preparado, o Sul também, e todas as peças dispostas para o começo do jogo.


E o mais importante... Cat, preocupada com a irmã, certamente convenceria Ned Stark a aceitar o pedido do Rei. Petyr tinha mais certeza disso do que todo o plano. Afinal de contas, ele a conhecia como ninguém. Sabia que Cat era generosa, solícita e resoluta em suas decisões. Manterei-a em segurança. A ela, nada acontecerá. Entretanto, não poderia dizer o mesmo de Ned Stark...


Satisfeito com sua sagacidade, Petyr sorria, olhando o céu estrelado lá fora. A lua refletia um pálido brilho prateado em suas janelas, e Petyr lembrou-se de Cat. Olhou os cabelos ruivos de Lysa, e, fingiu serem da sua verdadeira amada. Fingir é o que eu faço de melhor... Com tais tristes pensamentos em mente, Petyr lembrou-se de uma conhecida voz de criança, que chegava a sua mente junto com o sono que levava seu corpo ao mundo dos sonhos...


"Eu amei uma donzela linda como o outono, com o pôr-do-sol nos seus cabelos."


Ouvindo a voz da criança Cat cantar em seus ouvidos, e os risos inocentes dos dois em Pedravelha, sentindo-se melancólico e saudoso, Petyr adormeceu. Sonhou com a Princesa Cat com a Coroa de Flores e o Príncipe Petyr das Libélulas, beijando-se ternamente embaixo das árvores.



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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Petyr Baelish em sua nova personalidade encontrará Cat novamente, sua eterna amada, assim como conhecerá Sansa Stark! Não percam!
E... Reviews, please? ^___________________^