Já era noite, e Ares continuava sem falar com ninguém, tinha ficado sozinho no quarto durante horas, não comeu nada, algo que para além de ser completamente fora do normal assustava intensamente Hera. Ela tentou em vão falar com o filho, mas este estava determinado em ignorar a presença da mãe. Aquilo doí-a a Hera, Ares sempre fora muito apegado a ela, principalmente enquanto bebé. Ainda por cima, tinha ficado a chorar depois do pai lhe ter dado um grito para ele ver como falava.
- Zeus. – Chamou Hera – Eu vou ver do Ares. Já é praticamente hora dele comer, e deve estar esfomeado.
- Não! Fica aqui! Ele têm de perceber que fez mal – Disse ele – Perséfone, filha, importaste de levar o leite ao Ares.
- Claro que não. – Disse ela levantando-se e pegando no enorme biberon – Eu vou leva-lo ao Ares.
Minutos depois, Perséfone desceu a escadas do andar de cima com o biberon na mão.
- MAS SERÁ QUE AQUELE MIÚDO NÃO CRESCE! – Disse Zeus irado – Ele agora fez o que!? GREVE DE FOME!
- Calma pai. – Disse Perséfone – Eu não encontrei o Ares – Disse ela – E a janela está aberta, eu acho que o Ares…
- Fugiu. – Completou Hera, caindo em lágrimas.
***
Já passava largamente das cinco da manhã, e Zeus, Poseidon e Hades ainda não tinha retornado a casa, estavam a procurar de Ares. Hera estava acordada na sala, acompanhada por Héstia, já que Perséfone tinha ido descansar um pouco.
- Eu perdi o meu filho! – Dizia ela entre lágrimas. – Que raio de mãe sou eu?
- Tu és uma ótima mãe Hera, nunca duvides disso mana, eles adoram-te e tu sabes disso. Vê bem, tu nem sequer és mãe biológica de todos eles e eles não conseguem ver mais ninguém no mundo que não tu, eu acho, sinceramente, se que eles tivessem de escolher entre ti o Zeus, eles escolhiam-te sem pestanejar, Hera. E eles adoram o pai, e o Zeus tem a tendência para dar tudo aos filhos e deixa-los fazer tudo, por isso não duvides da tua capacidade de amar, Hera! Tu seguras esta família desde de sempre, tarefa que nunca ninguém conseguiu fazer antes, e que nunca ninguém conseguirá! O Ares adora-te, isto é uma crise, e ele vai cair nele mais depressa do que imaginas.
- Isso não invalida o que eu fiz Héstia. Ele fugiu. O que é que eu faço.
- Vais ficar aqui como o Zeus pediu. Lá fora não vamos fazer nada, só iriamos atrapalhar, para além disso os teus filhos ainda estão assustados e podem precisar de ti. Ou o Ares pode voltar, e tu estás aqui.
- Héstia, está um temporal lá fora, chuva, vento, trovoada. O Ares pode estar gravemente ferido, senão raptado por um qualquer criminoso!
- Não há nada nem ninguém perto daqui. O mais perto é na próxima ilha, por isso ninguém o levou, e não te esqueças que o Ares, pode ser pequeno, mas ele é um deus. Nada lhe vai acontecer! Pelo menos, nada de grave o suficiente que o ponha em perigo.
- O sangue do Ares atraí monstros, pode atrair qualquer um que o possa magoar. Nós temos que fazer alguma coisa.
- Com o Zeus por perto, ele não se atreviam a chegar perto. Para além disso, a Afrodite tinha pedido ao pai que protegesse a ilha, os semideuses estão no Olimpo e daria pela presença de qualquer monstro. Eles vão chegar rapidamente aqui com o Ares são e salvo.
Hera não disse nada, e voltou a chorar agarrada a fralda de pano azul que Ares costumava agarrar para adormecer. Estava destroçada.
Pouco depois, entra em casa Hades e Poseidon totalmente encharcados e cansados, no rosto traziam uma expressão de derrota. Hera nem precisou de perguntar, ela sabia perfeitamente que eles não o encontraram.
- CHEGA! Eu vou procurar o meu filho! – Disse Hera. Os irmãos tentaram dissuadi-la mas foi em vão. Ela esta determinada. Vestiu uma gabardina vermelha e saiu.
- ARES! ARES! – Gritava ela desesperada – ARES!
Zeus podia perfeitamente distinguir a voz da mulher ao longe, incompetentes dos irmãos nem sequer a conseguiam manter em casa, ele acorreu ao pé dela.
- HERA QUE FAZES AQUI?!! VOLTA PARA CASA! – Disse ele preocupado, quase que tinha de gritar para que ela ouvisse.
- NEM PENSAR ZEUS, O ARES TAMBÉM É MEU FILHO E EU VOU PROCURA-LO!
- HERA VOLTA PARA CASA.
- NÃO! DE MANEIRA NENHUMA! A CULPA É MINHA!
As lágrimas dela confundiam-se com as pesadas gotas de água. Ele abraçou-a e voltaram a procurar Ares.
-ARES, ARES!- Chamou Zeus.- ARES!
Ninguém respondeu, Hera e Zeus continuaram a procurar o filho, quando ouviram o enorme e persistente latido. Eles olharam para onde o cão estava e podiam distinguir as feições de uma pequena criança junto ao animal, a criança esta totalmente molhada e encolhida de frio. Óscar mantinha-se junto dela tentando em vão aquece-la.
- Ares, meu filho – Disse ela enquanto pegava no filho, que ardia em febre. – Meu bebé, desculpa.
Ares apenas se aconchegou na mãe, tossindo fortemente. Voltaram rapidamente para casa. Zeus pegou no filho, assim que chegaram a casa, levando-o cuidadosamente para o quarto dele com Hera, Ares estava gelado e ele tirou o casaco para cobri-lo, Ares era tão frágil que não fazia nada a ideia do forte deus da guerra que na realidade era, mas uma coisa era certa, Ares herdará de Zeus o temperamento forte e determinado, e fisicamente era o filho que mais se parecia consigo, os meus olhos azuis cor do céu, os mesmo cabelos loiros, a mesma expressão no rosto. Ares era sem sombra dúvida adorável, Zeus por vezes pegava-se a pensar de ele se parecia assim quando era pequeno, concluindo que possivelmente era.
Hera pegou alguns frascos de ambrosia, leite num biberon e uma roupa seca para Ares, um pijama azul fofinho e seco. Agarrou ainda uma toalha azul e branca que tinha numa das pontas o nome Ares escrito a azul celeste.
Subiram as escadas, Zeus deitou Ares na cama e Hera despiu-o da roupa molhada, secou-o e vestiu-lhe o pijama. Misturou alguma ambrósia no biberon de leite e pegou-o no colo deu-lhe de mamar.
 O menino rapidamente pegou a comer tamanha era a fome e isso de alguma forma sossegou Hera, mas não o suficiente. Passaram assim algumas horas, eram perto das sete da manhã quando Ares finalmente abriu os olhos vagarosamente.
- Ares querido como te sentes? – Disse a mãe que o segurava junto a si.
- Tu viste a minha procura? – Ele disse esfregando docemente a fralda azul no rosto. Hera sorriu docemente.
- Claro, meu anjo, eu corria o mundo todo atrás de ti se fosse preciso.  – Disse ela enquanto embalava o filho nos braços. – Dorme Ares, eu vou ficar aqui.
- O papá? – Ele perguntou aconchegando-se ainda mais na mãe, esquecendo a discussão de ambos, horas antes. – Onde está?
- O papá está aqui Ares. – Disse Zeus pegando o filho do colo de Hera – Meu pequeno Ares, pregaste-nos um grande susto.
- Decupa. – Disse ele com a voz embrenhada de sono e de cansaço. Zeus e Hera deitaram-se na cama, com Ares no meio.
- Dorme meu filho – Disse Zeus quando sentiu Ares aninhar-se junto dele e de Hera – Dorme, nós estaremos aqui, e nada te fará mal.