É interessante o ritmo das coisas da vida, como elas vão se evoluindo lentamente, mas que em nossas cabeças parece algo ligeiramente brusco. A uma hora dessas a alguns meses atrás eu provavelmente estaria com uma lâmina rente aos meus pulsos pronto para cortá-los. Porem, agora, eu estou simplesmente tentando me controlar para não o fazer, e, incrivelmente, conseguindo.

Estava sozinha na casa da minha mãe - como preferi – sentada na cama que antigamente era minha, com as lágrimas escorrendo no canto dos olhos. Eu posso até ser forte, mas não o bastante para impedir-me de chorar, afinal, isso também é humano e faz bem de vez em quando.

Obviamente, meu rosto já se enchera de vestígios de lágrimas, formando assim uma mancha vermelha em algumas partes. Não conseguia controlá-las, todas vinham com uma força enorme contrariando meu orgulho.

Peguei meu celular que se encontrava em cima do criado mudo, havia decidido desabafar um pouco, mesmo que seja de um jeito estranho.

Entrei em meu twitter e logo comecei a digitar frases que não faria sentido nenhum a quem não soubesse da situação em que eu me encontrava:

“E quando você acha que está tudo está indo bem, aparece alguém e te apunhala pelas costas.”

“Um pedido de desculpas não vai fazer os pedaços do coração se colarem num passe de mágica”

“E às vezes, o amor não é o suficiente...”.

Como resposta vieram algumas dezenas de pessoas me perguntarem o que estava havendo para eu postar frases tão aleatórias. Decidi não responder nada relacionado, olhando algo na página inicial algo de interessante.

Meu olho se fixou diretamente num tweet de alguma menina que mandou uma frase parecida com as que estavam me enviando nesse momento, que era perguntando o que estava acontecendo.

Cliquei na página do Justin e logo vi suas últimas palavras:

“Eu realmente sinto muito, não sei mais o que fazer, mas com toda certeza faria tudo para te ter em meus braços mais uma vez”.

Ótimo, estávamos nos falando através de indiretas, não poderia ser mais inconveniente da nossa parte.

“Você já fez muitas coisas, e a maioria delas deram tudo errado.”

Mesmo que achasse aquilo infantil, não perdi a oportunidade de respondê-lo, não importando se alguém pudesse ligar os fatos – ou as frases – e souber para quem realmente era.

“E mesmo depois de todos os erros, eu ainda continuo te amando”

Justin respondeu ao meu comentário, não especificamente para mim, na forma de outra indireta.

“E o pior é que eu também”

Respondi a última frase, jogando em seguida o celular na cama, não querendo continuar com aquele joguinho; já tinha falado demais, eu mesma falei que deveríamos seguir em frente, queria fazer jus a minha palavra.

Justin POV...

Fiquei esperando Demi responder a minha última frase que postara há alguns minutos atrás, que era “No final o amor pode vencer se você quiser”, mas ela não a respondeu, obviamente não sabia o motivo.

Queria continuar com aquilo, pois algo havia se acendido em mim depois de sua última frase, afinal, ela havia colocado que ainda não parou de me amar, e isso poderia ser uma pequena esperança.

- Justin? – Ouvi a voz de minha mãe soar em algum lugar da casa.

- Sim? – Tentei manter minha voz controlada.

- Scooter está aqui, ele quer falar com você.

- Pode pedir para ele subir aqui, por favor? – falei e dentro de alguns instantes já ouvira passos pesados ecoar no corredor.

- Oi Justin. – Scooter entrou no quarto, vindo em direção a cama e se sentando.

- Scooter, eu preciso falar com você. – Tomei fôlego, criando coragem para falar tudo o que queria. – Olha, não me leve a mal, mas eu não quero continuar com esse namoro falso, isso já deu para mim, perdi a pessoa que eu amo para fingir um namoro idiota e agora olha no que deu, ela não deve querer nem olhar na minha cara. – Fiz uma careta.

- Quem? – Ele perguntou com uma cara de interrogação.

- Demi! Eu conversei com ela hoje e nossa situação não está das melhores, ela pediu para seguirmos em frente, mas eu não consigo fazer isso. – Meus olhos já estavam lacrimejando, mas não queria chorar agora.- Eu quero ela de volta, Scooter, e não posso continuar com esse assunto de “Jelena”, não é a Selena que eu amo, pode falar o que quiser, mas eu não vou continuar com essa história. – Finalizei tudo o que queria falar, esperando uma bronca de Scooter, mas tudo o que ele fez fui abaixar a cabeça e suspirar. – Não vai tentar me convencer? – falei, estranhando seu movimento.

- Você já tem 18 anos Justin, não posso obrigá-lo a fazer nada. E também...Se é ela que você ama, é melhor correr atrás antes que todas as chances se acabem. – O empresário me lançou um sorriso torto.

- Obrigado. – Foi tudo que consegui dizer, ainda incrédulo com sua atitude.

- É o melhor para você. – Ele se levantou. – Bem, acho que vou indo, preciso resolver umas coisas, apenas faça o que tem que fazer em relação à Demi. – Scooter deu uma piscada para mim e saiu do quarto apressadamente.

- Espera, Scooter! – Gritei ao mesmo tempo em que corria ao seu encontro quando me lembrei de algo.

- O que foi? – O mesmo se virou.

- Pode marcar uma entrevista, para eu poder esclarecer tudo? O mais rápido possível, se der. – Minha voz saiu ligeira.

- Vou providenciar isso, te ligo se conseguir, até mais, Justin.

Voltei para meu quarto, decidido a fazer alguma coisa. Eu estava eufórico, querendo lutar por ela, afinal, ela disse que ainda me ama, há então uma chance de eu reconquistá-la, e vou fazer o possível para que tudo dê certo, ela querendo ou não.

***

Bati na porta delicadamente na porta do apartamento de Selena. Parecia que toda a minha coragem se fora assim que entrei no grande prédio em que ela morava, afinal, terminar com uma menina, mesmo que não estivéssemos realmente namorando, não é uma ação fácil de fazer, mesmo sendo o mais delicado possível, não existe um jeito certo.

Ouvi o som da porta se destrancando e logo Selena aparecendo com um sorriso no rosto.

- Justin, que bom ver você. – A menina deu uma pequena passagem pela porta para eu passar; assim o fiz.

- Selena, nós precisamos conversar. – Falei ainda inseguro. Ouvi-a suspirar atrás de mim.

- Vai terminar comigo não é? – Virei-me exatamente quando ela fez aspas na palavra terminar.

- Como sabe?

- Desde quando soube que Demi voltou para casa você ficou esquisito, eu posso ser inocente às vezes, mas não sou boba Justin. Você ainda a ama, não é mesmo? – Seu tom de voz estava compreensivo. Apenas assenti.

Selena se apressou em ficar perto de mim o suficiente para encostar nossos narizes. Fiz uma cara de interrogação, tentando me afastar, mas a menina simplesmente me agarrou, selando nossos lábios com força.