Brittany já tinha procurado em todos os lugares e não tinha achado a diva em lugar nenhum. A sala de música estava vazia; o auditório estava trancado; as arquibancadas estavam vazias, também. Ela já tinha verificado todos os banheiros dos dois andares da escola e Rachel não estava em nenhum deles.

Começando a ficar frustrada, a dançarina pescou o celular da sua mochila e procurou pelo contato certo.

Hey, Q! Sabe onde a R está? ― B.

Yeah, se alguém sabia onde a diva estava, essa pessoa seria Q. A HBIC nunca a perdia de vista. Q sempre tinha estado de olho na diva, desde o início do primeiro ano.

Brittany balançou a cabeça com um sorriso gentil no rosto. Q era tãaaaaaao lerda.

No refeitório, B ― Q.

Ela franziu. Rachel nunca passava o horário de almoço no refeitório. Para ter certeza de que ela realmente estava lá, a dançarina saltitou até a porta e olhou para dentro. Lá, entre Kurt e Tina, sentada na mesa onde os membros do Glee sempre almoçavam juntos, estava Rachel.

A morena parecia distraída, cutucando a salada que ela tinha no prato com o garfo. Enquanto isso, Finn parecia estar animado, tagarelando sobre algo que a diva visivelmente não estava prestando a mínima atenção. Aquilo fez com que a dançarina sorrisse. Rachel e Finn simplesmente não combinavam.

Vendo que não haveria jeito de conversar com a diva durante o almoço, ela apenas deu de ombro e foi se encostar contra a parede ao lado da porta do refeitório. Uma hora a diva teria que sair de lá.

-x-

Rachel estava saindo do refeitório quando sentiu alguém a puxando pela mochila. Paralisada pelo susto, ela se viu ser carregada até o banheiro mais próximo e dentro de um dos cubículos. Quando a porta finalmente se fechou, ela virou para encontrar Brittany sorrindo e saltitando no mesmo lugar.

"Britt," ela chamou enquanto colocava a mão no ombro da loira para fazer com que essa parasse de saltitar. O movimento estava deixando-a tonta.

"Rach!" ela exclamou e se arremessou contra a diva, envolvendo-a em um abraço apertado que fez com que a diva parasse de respirar. "Oi, Rach!"

Quando ela finalmente conseguiu se livrar do abraço e encher seus pulmões de ar mais uma vez, Rachel sorriu para a outra garota. "Hey, Britt."

As duas ficaram em silêncio por alguns segundos, onde Brittany ficou sorrindo para a diva e Rachel ficou olhando ao redor, perguntando-se quando tinha sido a última vez que alguém tinha limpado aquele banheiro porque parecia não haver um canto limpo no cubículo que elas estavam. Ela tinha quase certeza de que tinha visto uma das manchas da parede se mexer.

"Hmmm, Britt," ela disse, dando um pequeno passo para o lado para poder colocar distância entre ela e a mancha viva. "Você queria falar comigo ou só me arrastou aqui por arrastar mesmo?"

Brittany franziu por um momento, até se lembrar do motivo pelo qual ela tinha estado caçando a diva por todo o período do almoço.

"Oh!" exclamou e assentiu com a cabeça. "Rachel, eu preciso te pedir um favor..."

-x-

Santana parou na porta do quarto e balançou a cabeça quando se deparou com a gigantesca estrela dourada pendurada. Tão previsível... Ela parou com a mão na maçaneta e considerou bater primeiro, mas desistiu imediatamente.

Santana Lopez não bate na porta de ninguém.

Entrando no quarto, a Latina franziu. Ela esperava paredes rosa, cortinas rosa, carpete rosa, roupa de cama rosa, mobília rosa. Milhares de pôsteres da Broadway cobrindo cada canto rosa. Inferno, ela esperava malditos unicórnios rosa andando e cagando ao redor.

Mas ela certamente não esperava o que ela encontrou. O quarto era de um tom claro de amarelo, com o carpete branco e a mobília de madeira. Ao invés de pôsteres, havia alguns porta-retratos espalhados pelas paredes. Em um canto do quarto, havia uma pequena pilha de bichos de pelúcia e ― Há! ― tinha um unicórnio rosa no meio, mas ele era pequeno e estava sendo esmagado entre um urso gigante e um coelho gordo. As únicas coisas chamativas ali era o notebook rosa e o microfone brilhante que estava em cima da escrivaninha da diva.

O quarto era tão... normal. Era tão não-Rachel que, se não fossem os porta-retratos e a estrela dourada na porta, ela teria pensado que tinha entrado no quarto errado.

Santana olhou para a cama e quase sorriu quando viu que a diva ainda estava dormindo, encolhida no canto direito da cama sob uma camada desnecessária de cobertores. Quase. Resolvendo deixa-la dormir por mais alguns míseros minutos, a Latina andou ao redor do quarto, só para se jogar na cama dez segundos depois.

Há! Okay, até parece.

Hora de acordar a anã adormecida.

-x-

Rachel já tinha sido acordada de várias maneiras em sua vida, mas nunca antes ela tinha sido acordada com Santana Lopez montada nela, sacudindo-a como se o mundo tivesse acabando.

E verdade seja dita, não foi uma experiência nada agradável.

"SANTANA!"

A Latina finalmente parou de sacudi-la quando viu que ela estava acordada e sorriu inocentemente. "Bom dia, Dobby."

Rachel levou alguns minutos para poder acalmar seu coração e fazer com que ele voltasse para seu devido lugar porque, aparentemente, ele tinha ido se alojar em sua garganta ao presenciar o método despertador mortal da Latina. Quando conseguiu voltar a respirar direito, ela olhou ao redor para se certificar de que estava no mesmo lugar em que ela tinha ido dormir e viu que, sim, ela ainda estava em seu quarto, na sua cama.

Com Santana Lopez em cima dela.

A diva tinha quase certeza de que a Latina não tinha estado ali quando ela foi dormir na noite anterior.

"Hmmm, Santana?" A Latina levantou uma sobrancelha escura. "O que você está fazendo aqui?"

"Te acordando," ela respondeu e rolou os olhos. "Eu acho que isso é meio óbvio, Dobby."

"Não, eu quero dizer aqui aqui."

Santana inclinou a cabeça para o lado e franziu. "Você não está fazendo sentido nenhum, Berry. Talvez eu deva te sacudir mais um pouco..."

Deus, não! O coração dela provavelmente sucederia em escapar pela boca dela daquela vez.

"Não, não, não!" Rachel gritou e agarrou a Latina pelos pulsos, jogando-a para o lado e rolando para cima dela. Santana atingiu o colchão da cama com um 'puff' e arregalou os olhos de leve quando se viu presa sob a pequena diva, quem ainda estava segurando seus pulsos.

As duas pararam por um momento, apenas olhando uma para a outra. Santana foi a primeira a se recuperar do choque.

"Eu juro por Deus, Berry, que se eu sentir alguma coisa me cutucando lá, eu vou acabar com a sua raça anã!"

Foi então que Rachel reparou na posição um tanto íntima em que elas se encontravam, com ela posicionada estrategicamente entre as pernas da outra morena. Talvez ela devesse ter se afastado, mas aquele comentário a distraiu.

"Santana, é biologicamente improvável que eu tenha algo lá para te cutucar," ela disse e rolou os olhos.

"Nunca se sabe, Berry. Eu ouvi rumores de que você tem 'partes adicionais'."

"Yeah, Santana, você começou esses rumores."

"Oh, verdade."

"De qualquer maneira, eu não vejo como isso levantaria algo para te cutucar," Rachel disse enquanto tentava manter o sorriso fora do rosto. "Ouvi dizer que os garotos se matariam para estar no meu lugar agora, mas eu simplesmente falho em notar o porquê. Não tem nada demais aqui."

Santana piscou algumas vezes, processando o que a outra morena tinha falado. Ela não tinha insinuado... Ela não ousaria ter insinuado...

"Sim, Santana, é exatamente isso que eu estava insinuando."

A Latina rosnou. "Eu vou te matar, anã!"

Rachel largou os pulsos da outra morena e pulou da cama, quase caindo quando o lençol agarrou entre suas pernas. Como eu sou estúpida, ela pensou quando percebeu que ela tinha pulado para o lado errado e agora tinha a cama e uma Santana Lopez irada entre ela e a porta do quarto. Gritar passou pela cabeça dela, mas foi rapidamente descartada quando se lembrou de que as paredes do quarto eram a prova de som.

Oh, bem... É hoje que ela morria.

"Santana..." Ela tentou dar um passo para o lado e a Latina a acompanhou. "Eu estava brincando. Foi apenas uma brincadeira idiota, Santana."

Santana parecia não estar ouvindo enquanto ela dava passos lentos em direção à diva e via com satisfação como ela tremia.

"Vamos lá, Santana," Rachel continuou. Ela já tinha dado milhares de passos para trás e sabia que a parede não estava muito longe. Logo não haveria mais para onde correr. "Santana? San? Sanny? Tana? Santaninha?"

Foi então que ela deu o último passo e encontrou a parede.

Merda.

Santana pulou em direção a ela e a agarrou pela camisa quando a diva tentou correr para o lado. A Latina puxou com tanta força que levou as duas para o chão. Rachel fechou os olhos durante a queda e, quando os abriu, já estava presa sob a outra garota, com os braços e as pernas imobilizados.

"Você achou sua piadinha engraçada, Dobby?" ela disse em um tom calmo. Rachel balançou a cabeça rapidamente, fazendo a Latina rir de leve. "Tem certeza? Eu podia jurar que você estava rindo."

"Não, eu tenho certeza de que você imaginou essa parte," Rachel disse enquanto tentava livrar uma das pernas discretamente.

A Latina inclinou a cabeça para um lado. "Eu acho que não, Dobby." Com uma facilidade que deixou a diva pasma e um pouco ultrajada, a outra garota passou a segurar seus dois pulsos com apenas uma mão. "Mas isso não importa agora, Berry. Você já teve a sua diversão, agora é a minha vez." O sorriso no rosto da Latina era assustador. Rachel observou com um olhar horrorizado a morena levar um dedo à boca.

"Santana," a diva sussurrou. "San― Oh, não! Santana!" ela gritou quando viu o dedo se aproximando do seu rosto. "SANTANA!"

Yeah, quando o seu dia começa assim, você sabe que ele vai ser um ótimo dia.

-x-

"SANTANA!"

A Latina virou o volante no tempo exato, evitando por centímetros acertar um cachorro que tinha escolhido o pior momento possível para atravessar a rua: quando Santana estava passando de carro.

Respirando fundo, a diva esperou mais um minuto e, quando a outra morena não bateu em mais nada no meio do caminho, relaxou contra o banco do carro. Só para voltar a gritar quando a Latina quase ultrapassou o sinal vermelho e atropelou uma pobre velhinha que estava atravessando na faixa de pedestre.

"Deus!" a diva gritou e se virou para encarar a Latina. "Quem foi estúpido o suficiente para te dar uma carteira de motorista?"

Santana rolou os olhos e pisou no acelerador quando o sinal voltou a ficar verde. "Quem disse que eu tenho carteira de motorista, Dobby?" respondeu em um tom calmo. Ela acabou calculando mal a próxima curva, fazendo com que o carro subisse na calçada e acertasse uma caixa de correio. "Ooops!"

Rachel estava simplesmente aterrorizada. "Você não tem carteira de motorista?"

"É claro que eu tenho," ela disse. "Para sua informação, Dobby, eu sei dirigir muito bem."

A diva bufou. "Yeah, diga isso as sete famílias que agora se encontram sem caixa de correio," ela exclamou. "Sete!"

Thump.

"Ooops."

"Oito!"

-x-

Dentro do único supermercado de Lima, Rachel estava andando à frente com a lista de compras enquanto Santana vinha se arrastando alguns poucos passos atrás. De tempo em tempo, a diva iria selecionar um produto das prateleiras e passar para a Latina, quem pegava o que quer que fosse e tacava dentro do carrinho em direções aleatórias.

"Hey, Santana," Rachel chamou quando elas estavam passando pelo setor de produtos de limpeza.

"Dobby?"

"Por que você precisa que alguém venha com você para fazer compras?" a diva perguntou sem olhar para a Latina, sua atenção focada na pequena variedade de marcas de sabão em pó que o supermercado oferecia. "Brittany disse que você é responsável pelas compras, mas não o porquê de você ter que estar sempre acompanhada."

Santana rolou os olhos e aceitou qualquer caixa de sabão em pó que a diva tinha escolhido, jogando-a no carrinho. As duas garotas suspiraram quando viram a caixa aterrissar sobre a terceira caixa de ovos que elas já tinham pegado. A primeira tinha sido esmagada por uma garrafa de refrigerante e a segunda por um saco de arroz.

"Por isso," a Latina disse e apontou para a bagunça dentro do carrinho. "Eu odeio fazer compras. Sempre que eu entro nesse supermercado, eu brigo com metade dos funcionários. Britt-Britt vem comigo para garantir que eu não seja expulsa."

Rachel apenas balançou a cabeça de leve e sorriu quando a Latina se esticou para alcançar a caixa de ovos esmagada.

"Todo mundo me odeia aqui dentro," ela continuou depois de ter jogado a caixa no chão, eficientemente espalhando ovos quebrados para todos os lados. Rachel suspirou. Pobres pintinhos...

"Eu não consigo imaginar como isso é possível," a diva respondeu sarcasticamente.

Santana sorriu e encolheu os ombros. "Hey, eu estou muito orgulhosa da minha imagem aqui dentro."

As duas voltaram a andar em silêncio, com Rachel olhando para a lista de compras e Santana olhando para o chão, sorrindo com satisfação toda vez que conseguia rolar o carrinho sobre o pé de alguém.

"Okay, só falta o pão agora e nós podemos ir," Rachel disse com um sorriso aliviado no rosto. Além das caixas de ovos e dedos do pé esmagados, ela tinha conseguido cumprir sua missão sem muitos estragos. Foi só quando ela viu o olhar furioso no rosto da Latina que seu sorriso foi morrendo aos poucos. "O quê?"

"O pão é a pior parte," ela explicou e bufou, rolando os olhos. "Aquela mulher é um capeta."

Rachel franziu. "Que mulher?"

-x-

"Oh, olha quem temos aqui!" a mulher disse com um sorriso falso no rosto. "A vaca mexicana retornou."

Santana rosnou e jogou o carrinho para o lado, eficientemente rolando-o sobre os pobres dedos de um senhor que estava passando naquele momento. Rachel balançou a cabeça. A Latina era uma ameaça à segurança alheia atrás de qualquer veículo, até carrinhos de supermercado.

"Já chega! É hoje que eu mato essa cachorra," a Latina grunhiu e tentou se atirar contra o balcão que a mulher responsável pela padaria estava usando como proteção, mas Rachel conseguiu agarrar as costas da jaqueta de couro dela no último momento e a puxar para trás.

"Santana!"

A mulher apenas riu e lançou um olhar debochado na direção das duas morenas. "E você trouxe Pinóquio com você, vaquinha!"

Santana parou de tentar se soltar e virou para olhar a diva. Um sorriso sádico apareceu em seu rosto quando ela viu o olhar assassino que tinha aparecido no rosto da morena menor.

Oooooh, a cachorra nem ia ver o que a atingiu.

-x-

Santana ainda tinha um olhar maravilhado e um sorriso orgulhoso no rosto quando as duas se sentaram em uma das poucas mesinhas vazias que estavam no canto mais afastado dentro do Lima Beans, quase uma hora depois. Rachel rolou os olhos pela milésima vez e tomou um gole do seu café quente.

"Você poderia parar de me olhar assim?" a diva murmurou quando a Latina continuou a encará-la em silêncio.

A Latina finalmente pareceu acordar do seu transe e soltou uma risada tão alta que praticamente todas as cabeças dentro do Café se viraram para as duas. "Quinn que se foda, você é a minha nova melhor amiga, Dobby."

Aquilo fez com que a diva rolasse os olhos mais uma vez. "Você está exagerando..."

"Dobby, você jogou um saco de pão integral na cara dela," Santana disse com aquele mesmo sorriso orgulhoso.

"Era a única coisa que tinha por perto."

"Depois você tentou acertar uma bisnaga recheada na cabeça dela," continuou.

"Só tinha um saco de pão integral!"

"Aí ela tentou gritar e você disse que tinha quase certeza de que tinha visto o barco do Gepeto entalado na garganta dela."

Rachel sorriu. "Eu estou orgulhosa de mim mesma por essa."

Santana riu mais uma vez.

"Eu admito que foi extremamente mal educado da minha parte agir daquela maneira," Rachel disse alguns segundos depois. "Mas eu não me arrependo nem um pouco. Aquela mulher deveria ser demitida."

A Latina concordou com a cabeça e sorriu diabolicamente. "Você vai ter que vir comigo no próximo mês, Dobby." Ela riu mais uma vez antes de tomar um gole do cappuccino que ela tinha pedido. "Eu ainda tenho que te apresentar ao açougueiro. Ele é um bosta, também."

A diva apenas balançou a cabeça e continuou tomando seu café.

As duas caíram em um silêncio confortável depois daquilo. A mesa que a Latina tinha escolhido estava estrategicamente posicionada de modo que elas pudessem observar tudo e não chamar a atenção de ninguém. Não havia quase ninguém que frequentasse McKinley ali naquela hora, mas a diva se recusava a jogar fora todo o trabalho que elas tinham tido durante semanas caso alguém as visse juntas por uma xícara de café.

Foi só quando Finn entrou acompanhado por uma líder de torcida morena que o silêncio foi interrompido.

"Hey, Dobby," Santana chamou. Ela continuou apenas quando a diva tirou os olhos do casal para olhar para ela. "Eu pensei que você e Finnderella tivessem começado a namorar alguns meses atrás."

Rachel concordou com a cabeça de leve. "Nós começamos."

"Mas..."

"Mas terminamos algumas semanas antes de começar as aulas," a diva continuou. Ela suspirou e voltou a olhar o casal que agora estava sendo atendido no balcão do Café. Finn tinha aquele sorriso idiota no rosto e a líder de torcida estava rindo de alguma coisa que ele tinha dito.

Santana rolou os olhos. A cena era tão estúpida que ela já podia sentir a ânsia de vômito chegando. "Por quê?"

"Não era pra ser," ela disse e sorriu quando viu o olhar enojado na cara da outra morena quando o casal juntou as mãos e foi andando até uma das mesas no canto oposto aos delas. "Finn é... bem, Finn. Eu passei tanto tempo correndo atrás dele porque eu pensei que ele fosse alguém que ele não era."

"Ele é um idiota," a Latina comentou. Rachel teve que se conter para não concordar com a cabeça.

"Eu sei que não há um fila de pessoas esperando para ficar comigo," continuou e encolheu os ombros. "Mas eu sei que um dia eu vou sair desse lugar e encontrar alguém que me queira." Ela lançou um olhar sujo na direção do gigante idiota. "Ou que pelo menos ouça o que eu falo." Ela parou por um momento. "E entenda, claro," adicionou.

Santana franziu. "Por que não em Lima?"

"Eu não sei," a diva respondeu. "Talvez essa pessoa esteja aqui, mas eu acho que eu já perdi minhas esperanças, sabe? Eu não vou continuar nessa cidade por muito mais tempo. É meio ridículo pensar desse jeito, mas eu sempre sonhei que tudo aconteceria no seu momento certo. Eu iria para NY, estudaria, entraria para minha primeira peça no meu último ano da faculdade, ganharia meu primeiro Tony depois de um ano atuando e encontraria minha alma gêmea logo em seguida." Ela riu de leve e balançou a cabeça. "É como se fosse meu pequeno conto de fadas."

"Não tem nada de errado em sonhar, Berry," a Latina disse e encolheu os ombros. "Eu também sonho alto. Não tão alto quanto você, claro," ela adicionou e a diva riu de leve. "Mas eu sonho. Eu me vejo em alguma grande faculdade um dia. UCLA, Yale, NYU. Para mim, tanto faz, contanto que ela seja longe desse buraco. Eu vou estudar Direito. Eu quero morar em uma grande cidade e poder voltar para casa exausta todos os dias, mas com aquele sentimento de que eu consegui escapar daqui e que eu nunca mais vou ter que voltar."

As duas se olharam por alguns longos segundos. Era como se elas estivessem se vendo pela primeira vez. Santana viu a garota com sonhos enormes por trás da diva com suéteres feios e Rachel viu a garota com uma determinação inabalável por trás de todo o falso desinteresse que a Latina deixava mostrar.

"Mas você já achou sua pessoa especial, San," Rachel finalmente disse.

Santana deixou um sorriso gentil escapar. "Yeah, eu sei."

"Seria bom se você fosse para Nova York." Rachel terminou a xícara de café em um longo gole porque ele já estava começando a ficar frio. "Eu gostaria de poder te ter por perto."

"É claro que você gostaria, Dobby," a Latina sorriu e encolheu os ombros. "Eu sou foda."

-x-

Santana estava arrumando as compras na cozinha enquanto a diva estava a observando, sentada em um dos bancos com um copo de suco na mão. Foi apenas aí, quase uma hora depois, que a Latina notou um detalhe importante que tinha passado despercebido durante a conversa que elas tiveram no Café.

"Pessoa," ela disse do nada.

"Perdão?" Rachel perguntou.

A Latina jogou o pacote de café moído no balcão e foi se sentar em um dos bancos ao lado da diva.

"Antes, você disse 'pessoa' e não 'homem'," ela comentou e viu franziu quando a diva concordou com a cabeça. "Então, isso significa que você..."

Rachel encolheu os ombros. "Eu fui criada por um casal homossexual, Santana. Se teve algo que meus pais me ensinaram foi que atração sexual não é algo pré-determinado. Eu não me sinto atraída por um gênero, e sim por uma pessoa."

"Você é bi?" ela perguntou só para confirmar.

"Sim, Santana," Rachel disse com um sorriso no rosto.

"Oh." A Latina parou por um momento e olhou para a diva. "Eu nunca teria imaginado. Mas, bem, tanto faz." Um sorriso malicioso apareceu em seu rosto. "Então, Dobby... Muitas mulheres em sua vida?"

Rachel rolou os olhos. "Vamos dizer que você, Britt e Quinn são as mulheres que eu vejo com mais frequência."

Santana riu. "Yeah. Mas você já pegou alguém?"

"Eu já fiquei com uma garota, sim," a diva respondeu e se escondeu atrás do copo de suco quando a Latina praticamente quicou no banco com a notícia.

"Sério? Berry!" Ela deu um tapa um pouco forte demais nas costas da diva, fazendo com que essa se engasgasse com o suco. "Quem? Quando? Onde? Conte-me tudo, não esconda nada."

Foi apenas depois de alguns segundos, nos quais Rachel se certificou de que nada além de ar estava indo para seus pulmões, que a diva respondeu. "Não foi nada demais. O nome dela é Megan e ela fazia balé comigo. As meninas queriam sair no último dia antes das férias e a gente foi para uma pizzaria fora da cidade."

"Ela deu em cima de você?"

"Não exatamente," Rachel respondeu e balançou a cabeça. "Todo mundo estava conversando e Megan pediu para eu ir ao banheiro com ela. Eu não suspeitei de nada porque a gente sempre fazia isso, mas quando a gente chegou lá, ela meio que me jogou contra a parede e me beijou."

Santana riu. "Gosto dessas."

"Foi bom, mas depois eu disse que aquilo não podia acontecer de novo porque eu estava namorando Finn naquela época," Rachel continuou e sorriu quando Santana rolou os olhos. "Ela disse que entendia e a gente voltou para a mesa."

"Acabou?" A Latina perguntou. "Foi só isso?"

"Yeah. A gente continuou conversando e, quando eu terminei com Finn, eu fiquei com ela mais algumas vezes, mas não foi nada sério." Ela encolheu os ombros mais uma vez. "A gente conversa por telefone de vez em quando, mas eu não a vejo desde as férias. Eu acho que ela começou a namorar alguém, também."

"Ela é gostosa?"

"Santana!"

"O quê? Eu estou curiosa, Dobby."

A diva balançou a cabeça. "Yeah, Santana, ela é atraente."

"Hmmm." A Latina voltou a olhar a diva, quem tinha voltado a beber o resto do suco que tinha no copo. "E agora, Dobby? Interessada em alguém?"

"Honestamente, não." Ela descansou o copo vazio no balcão e se virou para olhar a outra morena. "Eu estou um pouco cansada de garotos. Ano passado foi exaustivo com Finn, Puck e Jesse."

"Garotas?"

"Ninguém em especial," a diva respondeu.

Santana levantou uma sobrancelha. "Se Brittany pedisse para ficar com você, você ficaria?"

Rachel olhou para ela com um olhar cuidadoso e se afastou um pouco da Latina.

"Se eu desse uma resposta honesta, você bateria em mim?"

A Latina parou por um momento antes de negar com a cabeça.

"Então, se ela estivesse solteira, sim."

"Não posso te culpar por isso, Berry. Minha Britt-Britt é perfeita," a Latina disse com um sorriso carinhoso no rosto. Rachel apenas sorriu. "Certo. E se eu pedisse?"

Rachel bufou. "Santana, a gente provavelmente se mataria antes de conseguir fazer qualquer coisa."

A outra morena riu. "Verdade. Hmmm, Tina?"

"Provavelmente não. Tina é... Tina. Eu não consigo me ver fazendo nada além de trocar um aperto de mãos ou um abraço com ela."

"Mercedes?"

"Muito diva." Ela riu quando Santana rolou os olhos. "Eu aprendi minha lição com Jesse, San. Aquela é uma experiência que eu não desejo repetir, acredite."

"Certo." Aquele mesmo sorriso malicioso ameaçou aparecer, mas ela conseguiu se controlar e manter um olhar inocente no rosto. Toda aquela conversa estava finalmente chegando ao ponto mais importante e ela tinha que ser discreta naquele momento para poder arrancar uma resposta sincera da outra morena. "E se Quinn pedisse?"

Os olhos da Latina brilharam quando ela viu as bochechas da diva corarem de leve enquanto ela tentava se esconder atrás do copo mais uma vez, só para corar mais ainda quando ela notou que não havia mais nada dentro do copo. Sem saber o que fazer, ela apenas passou a olhar para o balcão para poder evitar o olhar deliciado da outra morena.

"Hmmm, Quinn?" ela finalmente disse depois de alguns dolorosos longos segundos.

"Yeah, Dobby," ela disse e não conseguiu mais segurar o sorriso. "HBIC Quinn Fabray. Capitã das líderes de torcida, loira, olhos cor de avelã, sorriso bonito, corpão. Esteve grávida ano passado. Eu tenho certeza de que você deve saber quem é."

Aquilo só fez com que a diva corasse mais. "Eu sei que Quinn, Santana."

"Bom, então? Sim ou não?" ela pressionou.

"Santana, a chance de Quinn Fabray pedir para ficar comigo é, se não nula, quase impossível, então eu não vejo nenhuma razão para eu responder essa―" a diva começou.

"Dobby," a Latina interrompeu. "Nós estamos falando de casos hipotéticos."

"Oh, certo." Rachel limpou a garganta e voltou a mexer com o copo vazio para ter uma desculpa para evitar o olhar satisfeito da outra morena. "Hmmm, hipoteticamente falando, se Quinn pedisse para ficar comigo, então... sim. Eu ficaria com ela."

Santana teve que se conter para não quicar no banco mais uma vez.

"Hipoteticamente falando," a diva repetiu.

"Claro, Dobby!" Santana pulou do banco e foi praticamente saltitando até o resto das compras que ainda tinham que ser guardadas. Milhares de planos já estavam se formando em sua cabeça com essa nova informação.

"Santana," Rachel chamou e a Latina se virou com um sorriso grande demais para caber em seu rosto e um saco de arroz em mãos. "Essa conversa fica entre nós duas, okay?"

A Latina apenas concordou com a cabeça e voltou a guardar o resto das compras. Ela não precisava da ajuda de nenhuma outra pessoa para colocar seus planos em ação, de qualquer maneira.

-x-

"Santana me disse que você foi ao supermercado com ela hoje," Quinn disse enquanto equilibrava o celular entre o ombro e sua orelha e tentava escolher entre um vestido verde e um amarelo para poder usar durante o jantar com os amigos da sua mãe. Ela tinha passado o dia inteiro com sua mãe, arrumando a casa e fazendo comida para esse maldito jantar.

Ela ouviu a risada do outro lado e sorriu, feliz por estar sozinha em seu quarto. Ninguém podia ver o quanto a diva a afetava ali.

"Yeah, eu fui," Rachel respondeu. "Foi certamente uma experiência diferente."

"Santana bateu na mulher da padaria?"

"Oh, não," a diva respondeu. "Eu bati."

Aquilo fez com que a loira a loira começasse a rir e quase deixasse o celular cair. Jogando os vestidos na cama, ela pegou o celular e foi se sentar na janela. Aqueles vestidos poderiam esperar alguns minutos.

"Você o quê?"

Rachel suspirou. "Você conhece a mulher?"

"Yeah."

"Então você sabe como ela é uma vaca."

"Rachel!" Quinn riu mais uma vez.

"O quê? Ela me chamou de Pinóquio, Quinn. Pinóquio!"

A loira balançou a cabeça de leve.

"Santana ficou orgulhosa," a diva continuou. "Ela até pagou um café para mim."

"Eu queria estar lá para ver a cena," Quinn disse.

"Oh, um garoto filmou e colocou no YouTube. Santana acabou de me mandar o link, depois eu te mando. 'Louca atacando padeira com bisnaga' é o nome do vídeo. Eu fiquei um pouco ofendida de princípio, mas passou quando eu vi o quanto eu estou fabulosa no vídeo."

Quinn pode apenas balançar a cabeça.

"Mas isso não é importante," Rachel continuou. "O que você está fazendo?"

"Tentando escolher um vestido para usar no jantar com os amigos que trabalham com a minha mãe," ela respondeu.

"Hmmm, já decidiu?"

"Não," ela disse e foi até os dois vestidos que ela tinha jogado na cama. "Eu estou em dúvida entre um verde e um amarelo."

"Verde," Rachel disse quase imediatamente.

"Sério? Por quê?"

Rachel ficou em silêncio por alguns segundos. Sua voz estava um pouco rouca quando ela respondeu. "Combina com seus olhos."

Quinn sentiu um sorriso se formando em seus lábios enquanto ela pegava o vestido amarelo para poder guarda-lo mais uma vez. "Verde, então."

Sua mãe escolheu aquele momento para bater na porta e colocar sua cabeça para dentro do quarto. Ela franziu quando viu que Quinn ainda não estava vestida. "Quinnie, os convidados devem estar chegando a qualquer momento. É melhor se apressar."

"Claro, mãe."

"Cinco minutos," ela disse e voltou a fechar a porta.

Quinn suspirou e colocou o telefone contra o ouvido mais uma vez. "Eu tenho que ir, Rach."

"Oh, okay," a diva respondeu. "Eu deveria ir, também. Papai quer assistir aquele filme estúpido que eu nunca gravo o nome onde várias pessoas ficam presas em uma floresta e algum louco mata todo mundo com uma machadinha de novo. É ridículo, mas ele adora. Eu nunca vou entender aquele homem."

A loira apenas riu. "Okay. Divirta-se."

"Sarcasmo?"

"Yeah," a loira respondeu e riu mais uma vez. "Se serve de algum consolo, eu também não vou me divertir muito aqui. Vai ser um bando de gente velha conversando sobre negócios."

"Hmmm, eu prefiro o filme idiota do meu pai," a morena disse por fim. "Certo, é melhor eu deixar você ir se arrumar."

"Yeah... Boa noite, Rach."

"Boa noite, Quinn."

"Oh, espera!"

"Sim?"

"Santana passou dirigindo por aqui? Porque alguém arrancou a nossa caixa de correio essa manhã."

"Oh, yeah. Mas não se preocupe, você não foi a única."