Youll Just Have To Trust Me escrita por Achele


Capítulo 5
Capítulo 5




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Rachel estava sentada no topo da arquibancada, seus olhos viajando preguiçosamente pelo campo de futebol vazio. O vento frio de Outono era suficiente para manter o resto do corpo estudantil dentro das paredes da escola, deixando-a sozinha do lado de fora. Era calmo ali, e depois de toda a confusão que ela passava com o constante ataque que ela tinha se submetido pelo bem do clube, ficar sozinha ali era um alívio, mesmo que ela tivesse que voltar para o inferno dos corredores dentro de meia hora. Aqueles preciosos momentos pacíficos eram tudo o que ela precisava para recarregar suas energias.

Ela estava tão perdida em pensamentos que não notou a dançarina subindo os degraus da arquibancada até longos braços a envolverem em um abraço apertado.

"Raaaaaachel!"

Quando a loira afrouxou um pouco o aperto, Rachel se afastou o suficiente para poder olhar dentro dos olhos mais azuis e inocentes que ela já tinha visto na vida. Brittany era... diferente. Desde o primeiro ano em McKinley, Brittany era a única líder de torcida que não tinha atirado um insulto em sua direção. Na verdade, nunca antes a loira tinha falado com a diva. Enquanto Santana e Quinn faziam chover slushies e comentários desagradáveis em cima dela, Brittany apenas observava com um olhar triste no rosto.

Quando o trio se juntou ao Glee, Brittany parecia estar um pouco mais a vontade perto da morena, o suficiente para trocar algumas poucas palavras com ela. Nada importante, mas era alguma coisa. Alguns dos comentários que a dançarina tinha feito poderiam ser considerados insultos, mas um olhar no rosto inocente da loira e era possível ver que nenhum deles era intencional. Rachel tinha aprendido a ignorá-los e apenas sorria quando necessário.

Mas desde o acordo que a morena tinha feito com o trio, era como se algo tivesse mudado. A loira tinha se apoderado da responsabilidade de ajudar a diva a se limpar depois de cada slushie que ela recebia durante o dia, sempre presente no banheiro com uma toalha na mão e um sorriso gentil no rosto. Quando não havia ninguém por perto, a loira se sentaria junto da diva e conversaria com ela sobre assuntos banais que não faziam sentido algum e sempre faziam Rachel rir. E com o passar dos dias, esses breves momentos em que ela tinha com a loira se tornaram importante para a diva. Ela não tinha que pensar antes de falar ou elaborar suas frases porque Brittany não ligava para isso. Era fácil ficar na presença da loira e Rachel gostava disso.

"Hey, Britt," ela murmurou e sorriu. "Onde está Santana?"

A loira encolheu os ombros. "Ela foi almoçar com as outras Cheerios."

"E por que você não foi almoçar com elas?" Rachel perguntou com um franzido no rosto.

"Eu não gosto de ficar na mesa junto com as outras garotas," a loira admitiu. "San fica conversando com elas e eu nunca sei o que falar."

Rachel acenou com a cabeça. "E Quinn?"

"Q normalmente se senta junto comigo, mas hoje ela teve que sair com a treinadora para espionar o treino de uma equipe nova que vai competir contra a gente esse ano, então ela só vai voltar depois da escola," ela explicou. "Então eu vim te procurar. Eu olhei no auditório e na sala de música antes, mas eu não te achei em lugar nenhum."

"Yeah, eu precisava de um pouco de ar fresco," a diva disse.

Brittany franziu. "Você estava fumando, Rachel?"

A cabeça da diva se virou tão rápido que seu pescoço estalou. "Claro que não, Britt!" ela exclamou indignada. "De onde você tirou essa ideia?"

"Lord Tubbington sempre dizia isso antes de sair pela janela para ir fumar," a loira explicou com um olhar sério no rosto. "Aí ele ficou gordo demais para subir na janela e começou a falar que ele tinha que ir ao banheiro, mas eu sei que ele ia fumar porque ele sempre usava a caixinha de areia antes de entrar lá."

Rachel demorou uns bons trinta segundos para processar tudo o que tinha sido dito e teve que rir no final, balançando a cabeça de leve. "Yeah, Britt. Ele estava definitivamente fumando."

"Eu sei," a loira disse e sorriu. "Mas aí Lelo me disse que ele iria acabar com câncer de pulmão se ele continuasse fumando daquele jeito, então eu escondi todos os maços de cigarro dentro de uma caixa de sapato e guardei na prateleira alta do meu armário. Ele não fumou mais nenhum cigarro depois disso."

"Lelo?"

"Meu canário."

"Oh," Rachel exclamou e sorriu. "Você tem um canário muito inteligente, Britt."

Brittany assentiu com a cabeça. "Eu sei."

-x-

No dia seguinte, todos já estavam reunidos na sala de música quando Mr. Schue finalmente apareceu, dez minutos atrasado como o de costume. Ele tinha aquele olhar esquisito no rosto que dizia que ele tinha algum plano estúpido para a semana. Quinn suspirou e rolou os olhos ― ela odiava aquele olhar esquisito.

"Olá, pessoal," ele exclamou e todas as conversas na sala morreram quando os alunos se voltaram para o professor. "Bem, eu estava tomando café mais cedo e essa ideia entrou na minha cabeça..."

Ele caminhou até o quadro branco da sala e escreveu em letras bem grandes:

CORAGEM.

"Esse é o tema da nossa semana!"

Quinn bufou. Maldito olhar esquisito.

"Eu estava pensando nos obstáculos que vocês tiveram que enfrentar nesse último ano, juntos ou individualmente, e em como vocês foram corajosos e nunca fugiram das suas responsabilidades e―" o professor franziu quando uma mão se levantou no ar. "Hmmm, Santana?"

"Eu só queria fazer um comentário," a Latina disse e baixou a mão. "Eu concordo com o que você disse, Mr. Schue. Glee realmente está cheio de pessoas corajosas."

Todos na sala se viraram para encarar a Latina, todos com olhares confusos no rosto.

Mr. Schue sorriu gentilmente para a morena. "Obrigado, Santana."

A Latina encolheu os ombros e um sorriso maléfico apareceu em seu rosto. Lá vem merda, Quinn pensou e suspirou.

"Mas é verdade," Santana continuou com um olhar sério. "Veja Berry como um exemplo."

"Eu?" Rachel perguntou e franziu.

"Yeah." Ela se virou de modo que pudesse olhar a diva nos olhos. "É preciso muita coragem para sair de casa com esse suéter verde com uma ovelha na frente, mas, hey, aqui está você, infelizmente."

Risadinhas explodiram por todos os cantos da sala e Kurt até aplaudiu o comentário, dizendo algo sobre 'olhos sangrando' e 'tacar fogo em tudo'. Rachel apenas cruzou os braços sobre o peito e se virou para frente, o biquinho mais adorável começando a se formar. Quinn teve que resistir o impulso de se virar e socar sua melhor amiga.

"Santana, esse comentário foi extremamente desnecessário," Mr. Schue disse e a Latina apenas o ignorou. "Bem, voltando ao assunto... Como eu havia dito, o tema dessa semana será coragem. Eu quero que vocês busquem músicas que falem sobre o tema ou até mesmo artistas a quem vocês gostem de escutar naqueles momentos difíceis, okay?"

A maioria assentiu com a cabeça, mas alguns ainda estavam muito ocupados rindo do comentário anterior da Latina.

"Certo!" O professor pegou a bolsa que ele tinha deixado em cima do piano e olhou para o relógio. "Eu vou estar na minha sala. Qualquer dúvida, vocês sabem onde me encontrar," ele disse e saiu da sala.

Quinn aproveitou o momento para se virar para Santana e atirar adagas com os olhos na direção dela. Santana apenas a ignorou.

"Eu realmente não gosto quando você fala assim com ela, San," Brittany disse.

Santana suspirou. "Alguém tem que falar assim com ela, Britt. Esse é o plano."

"Eu sei disso, S, mas―"

"Não, Britt," Santana interrompeu. "Alguém tem que falar. Se não for eu, quem vai ser? Você? Quinn? Q quase começa a chorar toda vez que ela toca em um copo de slushie. Se alguém tem que ser o vilão, esse alguém sou eu."

Quinn cruzou os braços e bufou. Ela definitivamente não chorava quando tinha que tocar num copo de slushie.

"Eu sei disso, S," Brittany tentou mais uma vez. "É só que... Evita falar dos suéteres dela, okay?" ela pediu.

Aquilo fez com que as duas outras líderes de torcida franzissem.

"Por que não, B?"

A loira suspirou e olhou na direção da pequena diva que estava sentada sozinha na primeira fileira. "Semana passada, Rachel me contou porque ela usa esses suéteres para a escola," ela finalmente disse.

"E..." Quinn encorajou quando a outra garota parou de falar.

Brittany se voltou para as duas com um olhar triste no rosto. "Ela me disse que as slushies começaram na primeira semana de aula aqui na escola e que ela perdeu seis blusas só naquela semana e mais cinco na semana seguinte. Os pais dela não são pobres, mas eles não podiam arcar com tantas despesas, então ela pegou um pouco de dinheiro que ela estava juntando para a faculdade e comprou vários suéteres de segunda mão. É por isso que ela os usa."

Quinn e Santana olharam para a morena, quem agora estava conversando com Tina. Olhando mais atentamente, era possível ver que aquele suéter com a ovelha estava um pouco gasto demais para ser novo.

"Eu nunca soube..." Quinn começou.

"Ninguém sabia, Q," Brittany disse e se esticou para poder descansar a mão no braço da HBIC, quem parecia estar prestes a chorar. "Ela só contou para mim porque eu perguntei onde ela tinha comprado um suéter que tinha um unicórnio na frente e ela admitiu que tinha sido em um brechó."

Quinn ainda estava olhando a diva quando o último sinal soou. O barulho de cadeiras se arrastando e conversas animadas encheu a sala enquanto todos se arrumavam para ir para casa. Aos poucos, a sala foi esvaziando até restar apenas as quatro garotas nela. Rachel estava ocupada guardando todas as partituras dentro da bolsa e não viu quando o trio desceu os degraus e parou ao lado dela.

"Hey, Rach," Brittany chamou e foi abraçar a morena, recebendo um sorriso gentil e um 'hey, Britt' baixinho em troca.

"Escuta, Dobby," Santana começou quando a diva terminou de arrumar suas coisas e passou a dar sua total atenção ao trio. O apelido fez com que Rachel rolasse os olhos, mas a falta de malícia no tom da Latina fez com que um pequeno sorriso aparecesse no rosto dela. "Britt-Britt falou sobre os suéteres e―"

"Você contou a elas sobre os suéteres?" Rachel interrompeu, virando-se para encarar a dançarina que teve a decência de parecer levemente constrangida. "Brittany, você prometeu que não iria contar a ninguém sobre eles."

Brittany baixou a cabeça. "Me desculpe, Rach," ela murmurou.

"Relaxa, Dobby." Santana encolheu os ombros quando a diva lhe lançou um olhar nada apreciativo. "Britt-Britt só pediu que eu parasse de falar sobre eles e eu concordo com ela. Então, eu só queria pedir desculpas sobre o comentário de hoje e dizer que eu não vou mais falar nada sobre isso."

Brittany assentiu com a cabeça.

Rachel apenas suspirou e olhou para o chão. "Certo," murmurou para ninguém em particular.

"A gente tem que ir andando para o treino agora," Santana continuou quando a diva não disse mais nada. A Latina sorriu ― realmente sorriu ― para a diva e esperou Britt abraça-la mais uma vez antes de ligar seus mindinhos. "Você vem, Q?" perguntou para a loira que tinha estado quieta desde o início da conversa.

"Vão na frente," ela murmurou em resposta e observou as duas garotas se afastando.

Quando as outras duas líderes de torcida estavam fora da sala, ela se virou para a diva. Rachel ainda estava olhando para o chão, suas mãos brincando com a alça da sua mochila desinteressadamente.

"Hey, Rachel," chamou e o par de olhos castanhos mais brilhantes que ela já tinha visto se encontrou com o seu. "Eu só..." Ela balançou a cabeça de leve quando nada lhe veio à cabeça. "Eu nem sei por onde começar," admitiu.

A diva encolheu os ombros. "Você não precisa dizer nada, Quinn."

"Não, Rachel, eu preciso," ela disse em um tom determinado.

"Talvez eu não queira que você diga algo," Rachel rebateu. Suspirando mais uma vez, ela cruzou os braços sobre a cara da ovelha. "Há um motivo para eu nunca ter contado nada sobre os suéteres para ninguém, Quinn."

"Rachel―"

"Você pode imaginar o inferno que teria sido se alguma líder de torcida ou atleta descobrisse que eu tenho que comprar roupas usadas para vir para a escola?" Rachel continuou e deu um passo para frente, eliminando a pequena distância que separava as duas. "Quais seriam os próximos apelidos maldosos, hmm?"

"Hey―"

"Então, yeah, eu não quero ouvir o que você tem a dizer, Quinn," ela continuou, ignorando as fracas tentativas da loira. "Eu não preciso de ninguém sentindo pena de mim."

Com isso, ela tentou marchar para fora da sala, mas Quinn não deixou que ela chegasse muito longe. Agarrando-a pelo braço, ela puxou a diva de volta e virou-a de modo que as duas estivessem se encarando.

Quinn não ia mentir; ela tinha entendido perfeitamente bem o que a pequena diva tinha dito durante o pequeno discurso. A primeira slushie a ser atirada na direção da morena tinha saído da mão dela, afinal. O primeiro insulto, também. Apelidos maldosos? Yeah, ela tinha uma mente bem criativa. Então ela tinha entendido o que Rachel queria dizer.

Qual seria o primeiro apelido que você inventaria, Quinn?

Qual seria o primeiro comentário maldoso, hmm?

A loira não sabia o que fazer. Ela queria gritar, chorar, abraçar a outra garota e dizer o quanto ela se sentia mal por todas as vezes que ela tinha machucado a diva. Mas nenhuma daquelas opções seria bem recebida no momento, então ela apenas puxou a garota em direção às cadeiras, querendo colocar distância entre a diva e a porta.

Ela tinha muita coisa para falar, e Rachel não iria embora até ter escutado tudo.

Com relutância, a morena a seguiu até as duas cadeiras mais próximas e se sentou, fazendo questão de olhar para o outro lado e voltou a cruzar os braços. Quinn suspirou enquanto buscava pelas palavras certas para dizer.

"Eu nunca disse que sentia pena de você," ela disse depois de longos segundos em que Rachel ficou calada, evitando olhar para ela. "Na verdade, eu admiro você." Um pequeno sorriso apareceu quando ela notou o olhar incrédulo no rosto da morena. "É verdade, Rachel. Eu acho que todo mundo sente um pouco de admiração por você."

Rachel piscou algumas vezes, tentando entender o que a loira tinha acabado de falar. "Por que você pensa isso?" finalmente perguntou depois de alguns longos segundos.

Quinn encolheu os ombros. "Porque você é a única pessoa dentro dessa escola que não teve medo de mostrar quem você realmente é," ela respondeu. "Desde o primeiro dia de aula, você nunca tentou agradar ninguém aqui dentro ou mudou seu jeito de agir para fazer com que as outras pessoas gostassem de você. Você não liga para o que todos pensam sobre você e é por isso que eu te admiro."

Balançando a cabeça, Rachel deixou escapar uma risada sem humor algum. "Isso não é verdade, Quinn, e nós duas sabemos disso. Eu ligo para o que os outros pensam de mim tanto quanto qualquer outra pessoa aqui dentro."

"É claro que você liga, Rachel. Nós estamos no Ensino Médio, afinal. Isso é normal," a loira disse. "Mas você não deixou a opinião de ninguém mudar quem você é. Você sabe o que todo mundo pensa de você e em nenhum momento você agiu de maneira diferente."

"Yeah, mas olha onde eu estou agora, Quinn. Eu sou a maior perdedora da escola, irritante, egoísta, egocêntrica, esquisita, que usa suéteres de criança e aparentemente tem mãos masculinas," ela disse e franziu, olhando para as suas mãos que estavam descansando em seu colo. "Se bem que eu nunca entendi de onde vocês tiraram que minhas mãos são masculinas," ela admitiu. "Elas são minúsculas."

Aquilo fez com que Quinn risse. "Santana," disse como se aquilo explicasse tudo.

Rachel apenas assentiu com a cabeça.

"De qualquer maneira, o que eu quero dizer é que eu estou no fundo do poço," ela continuou. "Talvez se eu tivesse mudado como todas as outras pessoas, eu estaria em um lugar melhor agora. Sem slushies, sem apelidos idiotas, sem desenhos pornográficos," ela adicionou e teve que morder o lábio para esconder o sorriso quando viu as bochechas da HBIC começarem a corar. "Valeu a pena eu ter ignorado a opinião de todo mundo?"

Quinn baixou um pouco a cabeça para tentar esconder o quanto suas bochechas estavam vermelhas. "Você pode ser tudo aquilo, Rachel," ela disse e parou, suas bochechas ganhando um tom mais escuro de vermelho. "Hmmm, menos a parte das mãos," adicionou. "Suas mãos são―" Ela parou e olhou para as mãos da morena. Elas eram tão pequenas, e macias, e talentosas... Quinn limpou a garganta quando sua mente poluída resolveu listar qualidades um tanto peculiares que fez a loira corar ainda mais. "Não-masculinas."

Rachel riu de leve, particularmente entretida com a situação.

"Mas você também é a pessoa que todo mundo sabe que vai conseguir sair desse buraco de cidade um dia," a loira continuou, direcionando a conversa para tópicos menos embaraçosos. Ela não sabia nem queria descobrir se era possível suas bochechas ficarem mais vermelhas. "Você é talentosa, determinada e não tem medo de correr atrás daquilo que você quer. Lima é pequena demais para você, Rachel."

Aquilo fez com que a diva sorrisse tanto que as bochechas dela provavelmente estariam doloridas no dia seguinte.

"Ohio é pequeno demais," continuou. "Tenho certeza de que tudo isso vai valer a pena quando você estiver vivendo na sua cobertura em Nova Iorque, quando você estiver bem longe daqui, onde você merece estar. Você vai estar feliz por estar longe e todas as pessoas daqui vão estar felizes por ter se livrado de você," ela adicionou com um sorriso idiota no rosto.

Rachel apenas continuou sorrindo como uma maluca. "Eu tenho certeza de que eu deveria estar me sentindo insultada nesse momento, mas eu vou apenas ignorar essa última parte e focar nos elogios que vieram antes."

As duas riram juntas.

"Pode não parecer assim, mas você tem tudo o que você precisa, Rachel," Quinn disse quando conseguiu controlar sua respiração. "Eu falo por experiência própria que o topo não é o melhor lugar para se estar. Eu me afastei e machuquei as pessoas que se importavam comigo; eu não tinha amigos de verdade. Muitas pessoas podem ver a minha gravidez como uma punição ou algo parecido, mas eu sei gosto de pensar que ela foi a minha salvação. Foi depois que eu perdi tudo que eu finalmente consegui enxergar o que realmente era importante."

"Mas você voltou ao topo," Rachel apontou.

"Yeah, mas eu sou uma pessoa diferente agora. Agora eu sei quem eu devo ter por perto e quem eu devo manter longe. Eu prometi a mim mesma que eu não encostaria um dedo em um copo de slushie, mas isso acabou se tornando inevitável," ela acrescentou e sorriu quando a diva encolheu os ombros. "Eu mudei, Rachel. Talvez eu não receba slushies todos os dias ou não tenha que escutar piadinhas sobre mim nos corredores, mas eu também sofri um bocado para chegar onde eu estou. Eu sofri porque eu deixei minhas inseguranças e meus medos controlarem minha vida. Então, yeah, eu te admiro por você nunca ter deixado nada controlar a sua."

Elas ficaram em silêncio por mais alguns segundos, apenas sorrindo, enquanto Rachel estava processando tudo o que a loira tinha dito.

"Eu tenho muito orgulho de você, Quinn," ela finalmente disse e seu sorriso cresceu quando viu a loira voltar a corar. Ela estava fazendo aquilo bastante ultimamente. "Você realmente mudou e você não tem ideia de como eu estou feliz por poder te chamar de amiga."

Amiga? Quinn franziu por um momento antes de voltar a sorrir. Yeah, eu posso me contentar com isso por enquanto.

"Obrigado," ela disse.

"Não, obrigado você," Rachel respondeu e aquele mesmo sorriso besta apareceu em seu rosto. "Quinn Fabray é minha amiga," ela disse pra si mesma. "Isso tem que me dar alguns pontos extras de popularidade, não?"

Quinn balançou a cabeça. "Yeah, Rachel, isso provavelmente te coloca acima do JewFro."

Rachel abriu a boca, escandalizada.

"Eu estava abaixo do Jacob?"

Quinn apenas riu.

-x-

Quinn e Rachel estavam andando em direção à saída da escola, aproveitando que não havia mais ninguém nos corredores, quando a diva se lembrou.

"Quinn!"

"Rachel?"

"Você não foi para o treino hoje," a morena disse com um franzido no rosto. "Sue Sylvester vai te matar amanhã."

A capitã das líderes de torcida encolheu os ombros. "Eu só tenho que inventar uma desculpa boa e ela vai se esquecer num instante," disse despreocupada.

Rachel parou de andar. "Boa como?"

"Eu vou falar que eu estava ocupada furando os pneus do seu carro ou algo parecido," ela explicou. "Ela provavelmente vai me dar um tapinha nas costas e pedir para vir comigo na próxima vez. Nada com o que se preocupar," ela adicionou e sorriu.

A diva continuou franzindo.

"Mas eu não tenho um carro."

"Yeah," a loira deu de ombros e continuou andando. "Ela não precisa saber desse detalhe."

Rachel assentiu com a cabeça e se apressou para alcançar a loira que já estava quase na porta principal da escola.

"Quinn," Rachel chamou mais uma vez.

"Rachel?"

"Eu não tenho um carro."

A loira sorriu para a diva ao seu lado, confusa. "Yeah, você já disse isso."

As duas ficaram mais alguns segundos se encarando. Quando ficou claro que a loira não ia entender a indireta, Rachel suspirou.

"Quinn, quando eu disse que não tinha um carro, eu, na verdade, estava tentando dizer 'eu não tenho um carro e tenho que andar todos os dias para casa, então, por favor, tenha piedade e me dê uma carona' em poucas palavras," ela explicou e olhou para a HBIC como se aquilo fosse óbvio. "Vamos tentar mais uma vez." A diva parou e fez biquinho. "Quinn, eu não um carro."

Quinn parou, também, e admirou a cena por alguns gloriosos segundos. Quando ela se deu por satisfeita, ela deu de ombros mais uma vez e sorriu. "Melhor comprar uma bicicleta, então."

Rachel bufou. "Quinn!"

A loira riu e balançou a cabeça.

"O que você pensa que eu sou, Berry? Sua motorista?" ela perguntou.

As duas andaram até o carro dela, onde a loira fez questão de tirar a mochila da outra garota para poder guardar no banco traseiro junto com a sua e abrir a porta do passageiro para ela. Rachel sorriu e ficou na ponta do pé para poder beijar a HBIC de leve na bochecha antes de entrar no carro.

"Você é minha amiga, Quinn," ela respondeu e entrou.

Quinn teve que respirar fundo para se recompor antes de poder ir para o lado do motorista, suas bochechas corando pelo o que parecia ser a milésima vez naquele dia.

Amiga, hmm?

Yeah, ela podia definitivamente se contentar com aquilo por enquanto.


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