Forever Night escrita por Evelin


Capítulo 8
Imagens em vermelho sangue


Notas iniciais do capítulo

Ouvi tantas musicas para escrever este capitulo que nem vale apena coloca-las pois nenhuma teve função principal como inspiração



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 Imagens em vermelho sangue

Confesso que fiquei eufórica com a idéia de ir a minha casa, e rever meus tesouros preciosos, e principalmente minhas vestes tão mais confortáveis e corretas a meu corpo. Não que as roupas de Edward não fosse confortáveis, de fato era muito agradável vesti-las, pois carregavam consigo um aroma doce que acabei por supor ser o cheiro de Edward. Mas estar sempre puxando as mangas, dobrando as barras da calça, e ajustando o cinto fortemente na cintura para que não caíssem eram atos que em pouco tempo começaram a me irritar, e a me fazer desejar minhas próprias vestes.

 Edward e Carlisle moravam aos arredores de Willowdale, que não ficava muito longe de Toronto, pelo menos não para vampiros ágeis e velozes como nós. Mas embora pudéssemos ir a Toronto e voltar no mesmo dia Edward insistiu que deveríamos esperar Carlisle para que fosse conosco. Minha ansiedade era tamanha que insisti na idéia de apenas lhe deixar uma carta informando onde estávamos, o que provocou risos em Edward. Mas por fim me resignei largando-me ao sofá pulsando em uma ansiedade rigidamente controlada.

 Não pude criticar Edward, sabia qual a real preocupação que nos mantinha na casa a espera de Carlisle, e compartilhava dela. Edward estava, assim como eu, receoso do numero de humanos que poderíamos nos deparar e do meu frágil e quase inexistente controle a sede que eles me proporcionavam.

 Imagens difusas e borradas me vinham a mente de modo inesperado e abrupto como os raios lá fora, para me assombrar em intervalos regulares. Pintavam cenas em vermelho sangue de quadros que deveriam compor um salão de horrores, sobre uma garota de face sedutora e hostil com os lábios sujos de um sangue vivo e vibrante segurando um corpo desfalecido delicadamente quase como se estivessem embalando-o em um sono profundo.

 Sabia que Edward via as mesmas imagens através de minha mente, e foi por essa certeza que lutei contra elas, banindo-as com todas as forças para o fundo de minha mente, porem não era tão rápida nisto, de modo que os poucos instantes em que permaneciam em minha consciência já era o suficiente para nos assombrar, Edward e eu, com possibilidades que sabíamos ser reais.

 Edward, perspicaz como estava começando achar que fosse, ocupou-se em me distrair, a fim de cessar tais imagens. Deve seu sucesso embora em certos instantes fragmentos das imagens aparecessem fracamente, não mais do que sombras.

  Fez-me uma série de perguntas, que respondi. Algumas respostas, dizia sem me preocupar, outras já hesitava e me tornava mais vaga, tudo dependia da pergunta.

  Quis saber mais sobre minha vida, em especial os anos em que vaguei solitária pela Europa. Contei-lhe sobre alguns episódios cômicos, rindo das idiotices que cometi e que agora não me passavam de estupidez que apenas mereciam risos debochados.

  Edward ouvia tudo com um interesse apreciável. Ria de minhas desventuras de modo genuíno, o que só me incentivava a falar mais ainda para ouvir aquela adorável sinfonia que eram seus risos. Às vezes se permitia um comentário irônico que me arrancava alguns risos.

  No fim estava a narrar sobre as historias fantásticas que ouvia de pessoas peculiares nos meses em que fiz às vezes de cantora em um pub de um velho conhecido.

-         Cantora? – Edward se impressionou com o fato e se interessou por ele mais do que quis – imagino que seja compositora também.

-         Na verdade não, em toda minha vida se escrevi três refrões fora muito. Mas conhecia compositores extremamente talentosos, que me escrevam dezenas de melodias.

-         Agora me deixou curioso para ouvir sua voz. Por favor, cante algo – pediu com aqueles olhos dourados.

Notei que ele os forçava a mim para que eu fizesse seu desejo. Foi com uma certa dificuldade que recusei

-         Ah não, não. Acredite não sou uma cantora tão talentosa, e o pub era pequeno e não havia muito movimento...

Mas ele determinado como logo percebi não desistiu. Era muita ingenuidade minha achar que desistira facilmente. Edward deveria ser daquelas pessoas que apenas desistem por um motivo maior, que faz do desejo algo tolo e inválido de tanta luta.

-         Por favor, apenas dois versos, que mal há nisso. O máximo que posso fazer é rir,e é o que estamos fazendo a horas mesmo – disse descontraído.

Eu o encarei hesitante, tanto que mordi meu lábio inferior. Sabia que ele não desistiria, e não havia em mim forças ou vontade para lutar contra ele, mas também não havia aquele tão adorado desejo para cantar. Há meses este desejo não se revelava.

Por fim decidi atender seu pedido. Cantaria dois versos e ele que se satisfizesse com apenas isto.

-         Está bem - bufei e ele sorriu presunçosamente

Vasculhei minha mente atrás de algum verso familiar e curto. Por fim encontrei um que me pareceu satisfatório. Puxei ar e desatei a cantar e me surpreendi com a diferença de minha voz agora tão bela, fazia da memória de minhas musicas cantadas naquele pub tão desafinadas e sem graça. Com esta nova voz os versos que antes não eram impressionantes tomaram novos ares e formas.

 

“O que você pensaria se eu cantasse desafinado?
Você se levantaria e sairia?
Me empreste suas orelhas
e eu cantarei uma canção para você
E eu tentarei não cantar fora de tom”

 

 

A ultima palavra pairou no ar como um eco em nossas mentes. Eu me calei, voltando-me para meu interior digerindo a drástica mudança de minha voz que só agora eu percebia com clareza. Era a voz de uma sereia, uma ninfa ou qualquer outra criatura mítica que a merecesse, não de uma feiticeira, vampira, ou seja, lá o que eu era no momento.

-         Se isso é desafinado imagino o que lhe pareça perfeitamente afinado – disse-me ironicamente

-         Não julgue esta voz, ela não me pertence – disse com uma careta – Se tivesse me ouvido no passado diria que minha voz não era em nada interessante. Sem sal nem açúcar.

Ele revirou os olhos, descrente de minhas afirmações.

-         Duvido muito, se fosse desafinada como afirma, por que então aceitaria cantar?

Eu desviei o olhar. O motivo era tão ridículo que me envergonhei em dizer, alem de ser humilhante. Meus olhos vagaram pela sala pelos seus moveis discretos porem confortáveis e distintos, até que minha atenção pairou sobre o sofá onde Edward estava a se sentar. Em um canto longe de Edward se sentava havia arranhões profundos nas almofadas do móvel havia também no encosto e no braço. Como eu não notei isso antes me foi um mistério, as marcas estavam tão nítidas, que até um humano com seus sentidos inferiores teria notado. Edward se calou e seguiu meu olhar voltando-se para mim quando havia entendido a curiosidade e certo espanto que tomava meu rosto.

Eu me levantei e fui me ajoelhar ao lado do sofá onde estavam as marcas de garras. Meus dedos curiosos acariciaram os cortes finos porem profundos, contornando-os, e meus olhos avaliaram suas formas finas. Meu dedo indicador seguiu um rasgo profundo e minha mente notou aquele movimento. Minha unha desenhava o mesmo formato por cima daquele rasgo, era idêntico, repeti o gesto em outros e o resultado fora o mesmo. Os rasgos e arranhões eram compatíveis com meus dedos, minhas unhas.

Eu ergui meu rosto e vi Edward me observando cautelosamente.

-         Fui eu que fiz isso – não era uma pergunta, era uma afirmação.

Ele balançou a cabeça categoricamente. Voltei minha atenção para o sofá tão belo que por minha culpa estava danificado.

-         Como? – esse questionamento saiu por entre meus lábios não mais que um sussurro.

-         Você reagiu de um modo peculiar enquanto se transformava – eu o encarei curiosa – enquanto outros ficam apenas a gritar você por outro lado fez de todo o possível para não emitir som algum, lógico que algum gritos escapavam de seu controle. E seu corpo em vez de simplesmente se entregar ao veneno era como se ele estivesse...Lutando contra ele. E estas são as marcas da batalha – ele indicou os rasgos no sofá.

Eu ouvi tudo não acreditando em nada. Não me lembrava de lutar...Ou de me agarrar a algo a ponto de destruí-lo, como pelo visto havia feito ao sofá.

-         É difícil notar essas coisas com toda aquela dor – disse Edward com uma careta.

Dor, eu estremeci com a mera possibilidade de me lembrar dela. Ai estava uma lembrança da qual eu jamais queria rever.

-         Que monstrinho eu sou – suspirei – se já não bastasse às roupas agora destruo moveis também. Sou um enorme prejuízo a vocês.

Eu encarei os arranhões no sofá perdida em meus pensamentos. Desde que me tornara uma vampira eu não fazia outra coisa se não destruir, roupas, vidas, e agora móveis.

Então me veio a mente algo que eu esquecera completamente. Senti-me tão estúpida por ter me esquecido de algo tão presente em minha vida, tão necessário. Era hora de me redimir da única maneira que sabia.

Virei para Edward eufórica para avaliar sua reação. Ele me olhou confuso, eu apenas sorri presunçosamente.

-         Veja e se deslumbre – disse-lhe com minha voz aveludada.

Eu me aproximei do maior rasgo no sofá, meus lábios a centímetros de distância do tecido, mas afastada o suficiente para que Edward pudesse ver claramente. Torci internamente para que isso ainda funcionasse. Puxei uma pequena dose de ar e soprei-o delicadamente sobre o estrago. As fibras do sofá começaram a se juntar, se emendando e fechando, até que o rasgo tivesse desaparecido por completo.

Eu olhei para Edward, era obvio que ele percebera que eu estava me exibindo e por isso tentou ao máximo reprimir seu espanto. Mas ele não conseguiu por completo, e eu vi de relance em seus traços o espanto e fascínio que via nos humanos quando alguém lhes fazia um truque tolo de cartas, ousando afirmar que era mágica.

Mágica! Era o que eu fazia, era minha especialidade. Era minha vida. Mas eu não gostava que rotulassem isto como “mágica” este termo a meu ver havia sido tão vulgarizado pelos humanos...Infelizmente eu ainda não havia encontrado outro termo mais aceitável e tinha que me conformar a usar este por hora.

-         Então? – desta vez eu quebrei o silencio, afinal Edward não parecia nem um pouco inclinado a falar.

-         Interessante – disse por fim.

Eu revirei os olhos e o empurrei de leve, rindo levemente.

-         Interessante? – repeti cética.

-         O que esperava? Fabuloso! Inacreditável!? – disse Edward tentando me provocar.

Se me provocar era o que queria, eu não lhe daria esta alegria.

-         Admita, é muito mais interessante que essa sua mania de ler mentes – disse debochadamente – E isto é apenas uma minúscula prova do que sou capaz.

Ele revirou os olhos, descrente. Eu apenas não pude conter alguns risinhos.

Se ele de fato desacreditava disto, veria com o tempo minhas capacidades...

Desviei minha atenção dele, e voltei a minha tarefa de restaurar o sofá. Não demorei mais do que sete minutos para trazer o sofá a perfeição de antes. Quem o visse agora jamais poderia imaginar que fora atacado por uma descontrolada no passado.

Eu me sentei ao sofá, um pouco distante de Edward, me apoiei sobre meus joelhos e fiquei a observar meus pés.

Não pude esconder o meu alívio por saber que ainda possuía meus dons. Mesmo o estúpido e insignificante gesto para concertar aquele sofá, me foi um consolo imenso. Não poder fazer nem ao menos isto seria uma tortura imensa. Se eu ainda possuía todo meu antigo potencial eu iria avaliar com o passar dos dias, o importante agora era que eu ainda tinha em meu poder algo mais precioso que força física ou eternidade. Eu tinha meus talentos!

-         Eles são assim tão importantes para você? – Edward perguntou, eu me virei para vê-lo e ele estava sério, concentrado.

-         Não consigo me ver sem eles. – murmurei – eles fazem parte de mim como esta carne, este corpo...Estaria incompleta sem eles.

“Embora eu não ouse achar que sou completa” eu não verbalizei esta ultima parte, mas foi impossível não pensar nela.

Completa? Nunca ousei achar que um dia seria isto, sempre soube que havia um vazio em mim, uma parte oca, e já havia perdido as esperanças de preencha-la. Este vazio fazia parte de mim, era só mais um atributo, negativo ou não, que me formava.

Eu encarei Edward, vi em seus olhos uma concentração peculiar, estavam distantes pedidos em pensamentos. Meus pensamentos.

-         Que foi? – perguntei

Seus olhos se focaram e me avaliaram, por fim ele abriu um sorriso torto e apenas disse:

-         Não é nada

Eu sabia que este “nada” não existia, havia algo ali. Um som do lado de fora da casa me chamou a atenção e o barulho da porta se abrindo arrancou qualquer vestígio de questionamento que ainda poderia reinar em minha mente.

Carlisle adentrou a sala serenamente. Como aquele homem era calmo, isso me assombrava e maravilhava, nunca vira alguém tão composto como ele...Nem mesmo Brunot era tão controlado. Brunot...Afastei qualquer lembrança que me veio à mente com a menção daquele nome. Eu não queria me lembrar, não agora.

-         Como foi à tarde de vocês? – perguntou enquanto tirava o casaco molhado da chuva.

-         Normal – disse Edward

-         Molhada – eu disse o que chamou a atenção de Carlisle.

Eu apenas encolhi os ombros. Edward explicou por mim.

-         Aparentemente Evelin quis aproveitar seu dia ao ar livre, mesmo que isto não fosse prático – disse daquele modo formal. Pra que tantas formalidades?

-         “Não fosse pratico”? – eu o encarei desafiadoramente, apenas uma brincadeira – só para você. Parece-me algo bem simples, uma garota querendo tomar um banho de chuva. – eu me voltei a Carlisle – e tem coisa melhor do que um banho de chuva?

-         Imagino que não – disse Carlisle sorrindo amorosamente. – Pelo visto teve uma tarde bem agradável.

-         Confesso que sim.Tive um bom tempo para por tudo no seu devido lugar, e avaliar de modo mais racional minha situação.

-         E a que conclusão chegou? – perguntou com expectativa.

-         Que se ainda for de seu agrado, eu fico! – disse animadamente.

Carlisle abriu um sorriso de sincero contentamento. Talvez teria me abraçado, mas algo em mim sempre reprimia as pessoas, talvez o olhar, não sei dizer ao certo. Ele não me abraçou, mas colocou as mãos em meus ombros e sorriu satisfeitíssimo.

-         Que ótimo que resolveu ficar – disse alegre.

-         Eu também – disse sinceramente.

Ele se sentou ainda sorridente, e Edward veio a lhe informar meu desejo. Essa mania dele de tomar as iniciativas não era de todo irritante porem não era algo que me deixe extremamente satisfeita.

-         Carlisle, Evelin está querendo ir a Toronto – disse Edward serio.

Carlisle se virou para mim intrigado, tratei logo de falar antes que Edward o fizesse por mim. 

-         Preciso pegar alguns pertences que deixei em meu apartamento, e seria de extrema importância se viesse conosco – ele me olhou pensativo, analisando o pedido – Preciso muito de alguém para me segurar quando eu decidir atacar alguns de meus vizinhos humanos.

Ele não demorou nem mesmo dois segundos para responder.

-         Mas é obvio que irei querida, não se preocupe. – disse calmamente.

Eu suspirei de alivio, sabia que se Carlisle recusasse ir, Edward não iria, e estava fora de cogitação vagar por uma cidade cheia de humanos deliciosos sozinha. 

-         Quando pretende ir? – perguntou

-         Agora? – sugeri incapaz de reprimir minha ansiedade a minha voz.

Ele riu, mas felizmente concordou, se levantando. Eu me levantei de um salto, “droga”, pensei, todos meus movimentos denunciavam minha ansiedade, Edward a meu lado reprimiu um risinho.

-         Carlisle – disse Edward cauteloso – acho que no meio do caminho deveríamos caçar algo, principalmente Evelin.

Caçar, pensei desanimada, não queria caçar. Queria ir a meu apartamento pegar meus tesouros antes que fosse tarde demais!

Edward estava começando a me irritar seriamente, com esse zelo estúpido e absurdo.

-         Você precisa caçar mesmo que não esteja com sede. Será melhor se não estiver com sede e bem alimentada. Desde modo as chances de pular em um humano são menores – disse Edward.

Eu duvidava muito. Em primeiro lugar eu não estava com sede, em segundo o fato de estar sedenta por sangue ou não em nada interferia no meu desejo. Edward não pareceu entender que meu desejo pelo sangue humano não era por necessidade e sim por vaidade, pois era proibido. O sangue humano estava envolvido por promessas de satisfação e prazer que meu inconsciente estava louco para experimentar e se viciar.

Mas quem era eu para discordar de hipóteses de vampiros que tinham uma bagagem de experiência bem maior que a minha neste assunto.

-         Está bem – suspirei.

Talvez, numa remota hipótese, isto poderia dar certo.

Carlisle foi trocar as vestes do hospital por algo mais apropriado, Edward e eu fomos espera-lo a porta da casa. Na verdade Edward havia me seguido, afinal minha ansiedade era tanta que não conseguia mais ficar naquela sala bem mobiliada.

Já era noite e a chuva já havia cessado, o jardim da frente cintilava com as gotas de chuva que se instalavam na grama. Encostei-me na parede ao lado da porta, os olhos fechados numa tentativa fraca de domar minha ansiedade. Ouvi os passos leves de Edward, e senti algo encostar ao lado direito de meu corpo.Abri os olhos e vi Edward encostado na parede assim como eu, os olhos fechados assim como eu há alguns instantes atrás. Nossos ombros se encostando...

-         Porque esta ansiosa para ir buscar suas roupas, jóias, e seja lá o que mais tenha? – perguntou-me. Achei seu tom um tanto arrogante, mas ignorei.

-         Não sei – confessei – não sei dizer o porquê, mas...Ora, você verá o porquê de serem tão importantes. E não são as roupas ou jóias, isto posso arranjar em qualquer lugar, a todo o momento.

Ele virou seu rosto para mim, abaixando ao nível do meu, afinal ele era mais alto, não muito, seus olhos dourados me fitaram intensamente, estudando-me, decifrando-me. Eu desviei meu olhar para o jardim.

-         Ao contrario do que pode pensar, senhor Cullen, não sou daquelas que se apega a bens materiais... – disse petulante

-         Eu nunca pensei que fosse –disse Edward com sua voz de veludo.

Eu voltei a encara-lo, e foi minha vez de me perder no dourado de seus olhos estudando-o, tentando decifra-lo.Mas antes que pudesse chegar a qualquer conclusão ouvimos o som dos passos de Carlisle, e desviamos o olhar.

-         Ah, ai estão vocês – disse Carlisle saindo pela porta – Pronta?

-         Há muito tempo.

 

Correr era alto tão natural...Embora fosse algo tão novo.

 

Edward e Carlisle corriam um pouco a minha frente, não por serem mais rápidos, apenas por que eu estava me divertir pelo caminho. Às vezes subia nos baixos galhos das arvores próximas e me atirava a outros mais longe, outras vezes ficava a correr em ziguezague sem motivo algum.Às vezes eu via Carlisle ou Edward me lançarem olhares curiosos, principalmente quando eu soltava alguma risada. Sabia que estava parecendo uma criança ridícula, mas simplesmente não pude me conter, era divertido por demais correr, e não sabia o porquê. Talvez o vento em meu rosto fosse revigorante, ou a velocidade, ou até mesmo o fato de não precisar me concentrar para isto.Dane-se o motivo, o fato era que eu estava a amar aquilo! Amei ouvir meus passos leves sobre a grama molhada. Amei meus movimentos ágeis e quase felinos enquanto meu corpo desviava dos obstáculos à frente sem nem ao menos pedir conselhos a minha mente. Amei o fato não me cansar.

Uma parte de minha mente vagou, imaginando como teria sido se eu fosse ágil desta maneira em minha outra vida.Tudo seria diferente.Eu teria conseguido fugir do caçador.Eu não seria um vampiro.Eu não teria conhecido Carlisle e Edward.Eu não estaria aqui...

 

Percorremos a floresta que margeava a estrada até Toronto. Eu não estava em momento algum consciente da direção que tomava, eu simplesmente os seguia. Estava a tal ponto distraída, que não percebi de imediato quando eles pararam abruptamente. Passei por eles antes de travar meus pés no chão, tropeçando em algumas raízes expostas.

-         Porque paramos? – perguntei virando-me para eles.

-         Não está sentindo? – perguntou Carlisle.

Sentir? O que? Eu apenas sentia minha ansiedade, e a liberdade que me tomara enquanto corria, e que agora havia se esvaído com o cessar do movimento...

-         O que eu deveria sentir?

-         O cheiro, Evelin, não está sentindo? – explicou Edward

Cheiro? E então algo surgiu manso no ar, invadindo minhas narinas vagarosamente...Era agridoce, visivelmente comestível, mas não muito apelativo como o perfume dos humanos, porem prometia muito mais sabor que o cheiro de cervos...

-         É um lince - disse Edward me chamando a tona – não está muito longe

Eu o encarei hesitante. Sim o cheiro me era um pouco mais apelativo, mas não para me infringir a necessidade de caça-lo, eu ainda queria ir até meus tesouros, caçar me era algo tão desnecessário...

-         Será bom para você se caçar, além de praticar, estará mais bem preparada caso se depare com humanos – disse Carlisle sorridente como sempre.

“Caso eu me depare com humanos?” Era obvio que eu me depararia com humanos, por isso eles estavam ali comigo para me segurar!

Eu suspirei pesadamente, era melhor obedece-los, apesar de tudo, tinham razão. Seria melhor se eu estivesse bem alimentada, embora não sentisse sede. Olhei com pesar para as vestes minhas vestes, estavam tão intactas...Pobrezinhas.

- Você vai ou não? – disse Edward

Eu o olhei aborrecida, como ele gostava de bancar o chato. Virei-me em direção a origem do cheiro, os olhos fechados visualizando o trajeto. De fato o animal não estava longe, 10km, não era nada para mim.

Abri os olhos e disparei em direção a minha presa deixando que qualquer instinto que aflorasse tomasse conta de meu corpo de minhas idéias. Confesso que levou um tempo para estes instintos darem sinal de vida, somente quando eu estava a uns a 2km da minha pressa e o cheiro já era intenso que um impulso selvagem me envolveu.  Tomei uma vaga consciência de meus movimentos praticamente felinos, tão mais intensos enquanto tomava a forma de caçadora.

Eu pulei em cima de galho de uma alta arvore, e vislumbrei minha presa abaixo de mim, fui tão silenciosa que o enorme animal não me ouviu. Era um lince imenso, adulto, e extremamente forte e hostil. O seu cheiro era muito melhor que de um cervo, era estupidamente mais saboroso. Mas comparado ao aroma da humana não era nada. Talvez nada fosse mais tentador que sangue humano, para meu azar.

Eu me ajeitei no galho pronta para pular sobre o animal. Infelizmente o galho estralou sob meu peso e ele ouviu. Saltei sobre ele assim que se virou a procura do responsável pelo barulho. O agarrei pelo pescoço, o animal soltou um rosnado perturbador e se debateu. Naquele momento tomei consciência de minha força ao ver que nem mesmo um lince era forte o bastante para se livrar de meu abraço. Suas patas traseiras arranharam minha perna, porem embora suas garras fossem enormes e afiadas e capazes que rasgar a carne com facilidade nada ocorreu. Minha pele continuou intacta.

Num impulso feroz que me envolveu eu cravei meus dentes em sua jugular, rasgando-lhe a pele, carne, tendões e tudo o mais que pudesse estar no caminho entre meus lábios e seu sangue. O pobre animal soltou um rosnado estrondoso, que aos poucos foi perdendo a força até se engasgar e se perder no silencio enquanto sugava sua vida.

O sangue deste animal era muito melhor do que o daquele cervo sem graça. Era tão mais saboroso, me provocando tal frenesi que me incapacitava de pensar na mera hipótese de parar. O quente líquido escorria por minha garganta me aquecendo internamente, trazendo-me uma sensação de conforto.

Só parei quando a carcaça estava seca, não possuindo mais sangue para me satisfazer. Soltei o enorme animal e me afastei dele com movimentos apressados, necessitando desta distancia.

Com meus lábios longe de seu sangue quente e inebriante, a caçadora foi aos poucos se esvaindo de mim, dando lugar à consciência...

-         Bela caçada! – disse ela

Estava ao lado do corpo do animal, batendo palmas alegremente e seus olhos dissimulados avaliavam a carcaça estudiosos, como se necessitasse decorar aquela imagem, cada aspecto por mais obtuso que fosse. Depois seus olhos se voltaram para mim, igualmente estudiosos e maliciosos.

-         E sem transformar sua camisa em um pano de chão – disse impressionada, como se visse uma criança dotada dando seus primeiro passos de dança com uma precisão assustadora – embora não estejam impecáveis, ainda é possível andar com elas pelas ruas de forma aceitável.

“Calada!” Pensei com um rosnado.

Ela se agachou ao lado da carcaça e ficou a observar o lugar onde meus dentes haviam rasgado a carne

-         Que irônico – comentou para si mesma – num dia a caça, no outro o caçador.

Ironia...Estava tão presente em minha vida que havia se tornado algo comum a mim, quase que uma parenta. E esta situação era estupidamente irônica, eu que vivi minha vida fugindo de caçadores...Havia me tornado uma.

-         E que caçadora! – ela me encarou com um sorriso malicioso – Eu diria que você nasceu para isso...

“CALADA!”. 

-         Evelin? – a voz de Carlisle soou um atrás de mim

Eu me virei assustada, ele estava a poucos metros de mim, cauteloso enquanto me avaliava.Edward estava logo atrás dele, e me encarava confuso.

-         Esta tudo bem? – perguntou Carlisle

-         Tudo ótimo – disse apressadamente abrindo um sorriso.

Eu sabia como ninguém fingir emoções de modo genuíno. Tratei que inventar algum assunto para que perguntas não surgissem.

-         Vejam! – eu apontei para minhas vestes decentes – sem danos catastróficos.

-         Vejo que esta pegando o jeito – Carlisle me avaliou satisfeito – que ótimo.

Eu sorri de modo radiante, tentando imitar ela.

-         O que achou do lince? – perguntou Edward com um sorriso torto.

-         Muito melhor que aquele cervo sem graça – confessei.

Ambos riram em aprovação. Então a ansiedade voltou a pulsar em meu intimo me lembrando do porquê de eu estar caçando, do porquê que eu precisava estar controlada o máximo que podia.

-         Esta bem, estou bem alimentada podemos ir agora? – pedi, quase implorando.

-         Vamos – disse Carlisle se virando

Ele foi à nossa frente, Edward veio se postar a meu lado a fim de conversar enquanto andávamos rapidamente.

-         Como você esta? – me perguntou.

-         Estou bem

Eu ergui meu rosto para ver o dele, estava intrigado com algo...E seus olhos mais uma vez encaravam os meus intensamente, atrás de alguma resposta.

-         O que foi? – perguntei.

-         Nada – disse displicente desviando o rosto.

Eu queria perguntar, mas não consegui, Carlisle tinha achado a trilha que nos levaria ate Toronto e saiu em disparada com Edward e eu logo atrás.

Desta vez não agi como uma criança tola, estava com pressa de chegar e acima de tudo, receosa com o que aconteceria.

Não havia em mim confiança... Confiança de saber que nada daria errado, que não agiria como a predadora agora a pouco. Eu não confiava em mim mesma, pois sabia quem eu era...Eu jamais menti sobre isso a mim mesma. Sabia de meu lado violento e cruel, e notava a cada momento que ele estava mais presente agora, principalmente quando caçava...

E então...Chegamos!

Carlisle diminuiu o passo até parar em uma rua deserta não muito longe da estrada. Eu parei de correr, mas meu corpo todo ficou em alerta, consciente dos riscos, não a mim, mas a outros...

O ar denso se infiltrou por minhas narinas, estava carregado de tantos aromas diferenciados...Era difícil identificar algo desejoso em meio a tantos cheiros.

-         Então Evelin, agora é sua vez de nos guiar – disse Carlisle.

Eu assenti, olhei ao redor procurando algum ponto de referencia que pudesse me ajudar a identificar onde, especificamente, estávamos. Vi em uma placa o nome da rua, Av.westor, e cavei em minha mente onde se localizava meu apartamento, tentando montar um mapa mental. Levou uns dez minutos até eu saber para onde ir

-         Ah ótimo! – disse quando tive certeza de para onde ir

Fiz sinal com a cabeça para eles me seguirem, havia um trajeto por entre ruas mais desertas que nos levaria a minha casa, era um caminho mais longo, mas para nós isso nada significava. Corremos por cima de prédios e entre becos escuros até que chegamos em meu pequeno e bagunçado apartamento onde passei apenas três noites.

Era um prédio de sete andares, pintado pobremente de um vermelho desbotado, se localizava em um bairro industrial, com casas humildes e igualmente desbotadas.

Lembro-me de que não havia entusiasmo em mim quando decidi me instalar naquele bairro, mas como minha prioridade era discrição nada melhor que um prédio decadente como este. Luxo não se encaixava mais a mim embora eu pudesse banca-lo com facilidade.

Entramos no prédio, o hall estava vazio como era de se esperar numa hora dessas, devia ser uma da manhã. Subimos as escadas estreitas e empoeiradas até o quinto andar. E num corredor um tanto largo me dirigi com uma familiaridade reconfortante a porta de numero 31, eu não possuía a chave, não mais pelo menos, mas isto não era um problema. Agarrei a maçaneta a girei forçando-a e quebrando-a, conseqüentemente abri a porta.

Adentrei o local com uma ânsia desconhecida a mim, o quarto estava intacto, tudo estava em seu devido lugar...Organizadamente bagunçado.Os livros rudemente enfiados em prateleiras que tomavam duas paredes, meu guarda-roupa abarrotado, meus quadros, minha cama desfeita, as cortinas bordo, enfim, todas minhas lembranças estavam ali diante de mim.

Um perfume floral e levemente cítrico invadiu-me, era delicioso, mas não de um modo comestível como era de se esperar, pelo contrario era extremamente familiar...Aquele era o meu cheiro! Percebi com um sobressalto agradável... Inspirei profundamente identificando tudo que fosse possível naquele aroma tão acolhedor.

-         Que bagunça – disse Edward entrando logo atrás de mim, arrancando-me de meu torpor – Por acaso alguém invadiu isto aqui?

-         Bagunça para você – resmunguei a ele – para mim esta bem organizado considerando a situação da época.

-         Situação? – Carlisle se interessou

-         Eu me instalei neste mausoléu apenas para guardar meus pertences afinal eu já estava a uma semana de meu amadurecimento, fiquei aqui apenas três dias tentando por alguma ordem no lugar antes de ir a busca de um abrigo. – disse me dirigindo até meu armário

-         Por que não ficou por aqui? – perguntou Edward.

-         Há humanos demais aqui, e eu detesto a companhia deles e ficaria ainda mais intragável naquela semana, era melhor me isolar completamente – disse distraída.

Após avaliar o armário corri até meu baú ao pé da cama, era lá que estavam meus bens preciosos que eu tanto ansiava rever. Eu o abri num movimento brusco que por pouco não o quebrou.Estava tudo ali, a minha espera; caixas onde eu guardava as poucas fotografias que tinha, cartas, musicas que me foram escritas, desenhos que me eram queridos, presentes preciosos; tudo que me era especial de algum modo por mais insignificante que fosse o objeto em si. Lembranças físicas.

-         Evelin há cartas para você aqui – disse Edward.

Eu me dirigi a porta onde ele estava. Havia ali ao pé da porta como se tivessem sido enfiadas pelo vão entre o chão, duas cartas. Eu catei as cartas endereçadas a mim, as letras me eram familiar, extremamente familiar.

-         Louis – minha voz não passou de um sussurro ao vento.

 Uma carta do meu querido amigo que há anos não via. Que péssima hora para entrar em contato comigo...A outra pertencia a uma velha amiga igualmente querida porem com um tempo mais curto de ausência. Mas este não era o momento para se preocupar com isto.Enfiei as cartas no bolso e me virei indo agarrar minhas malas em cima do armário.

Eu possuía apenas duas malas, e não precisava mais do que isto, tanto fazia a quantidade de objetos e roupas que eu decidisse levar. Esta era uma das imensas vantagens de ser uma feiticeira, espaço ilimitado na bagagem. Tratei de enfiar todas as minhas roupas em uma mala, notei enquanto o fazia que as roupas estavam intensamente impregnadas com meu antigo cheiro, e isto me alegrou como uma criança. Eu havia me apegado a aquele perfume, como se fosse uma lembrança da infância.

Eu me voltei para o resto das minhas coisas, notei que Carlisle estava entretido com os livros assim como Edward.

-         Gosta? – perguntei a ele, indicando os livros assim que me olhou.

-         Se gosto? Estou entre intrigado e fascinado – disse-me

Eu soltei um risinho e fui até eles avaliar os livros. Eram muitos e eu não precisava mais de tantos, alguns eu já sabia de cor, outros as informações contidas já não me eram necessárias. Mas o que fazer com os inúteis? Eram livros de magia, não podia deixa-los aqui correndo o risco de serem lidos por humanos, não podia vende-los...Ou podia?!

-         Se interessaram por alguns? – perguntei a eles

-         Confesso que sim – disse Carlisle

-         Então pegue-os – disse – quer saber acho que tenho alguns sobre medicina alternativa...

Embreei-me entre os livros atrás daqueles grossos sobre medicina. Não demorei muito para acha-los, eu me localizava muito bem entre minha bagunça. Selecionei uns cinco livros que achei que fossem interessar a Carlisle, em meio a isto tirei aqueles que me eram importantes, alguns por serem necessários outros por apenas conter um carinho particular.

Vi que Edward não se manifestava por nada, enquanto Carlisle se encantava com a leitura que teria.

-         Não há nada que lhe interesse? – perguntei

-         Talvez

Fui até ele ver que livro ele observava tanto.Era um livro de historia, relatava a historia dos feiticeiros, misturada a de humanos, relatava deste a Grécia até o século dezenove.

-         Se quiser leve-os – disse por fim. Seja lá o que visse naquelas paginas, não seria tão comprometedor, mas não seria agradável de qualquer forma. Nossa historia não era cheia de descobertas e finais felizes, e sim de guerras e terror.

-         Tem certeza? – disse hesitante.

-         Absoluta – e para provar isto encontrei mais dois livros relacionados e dei-lhe – faça bom proveito.

O deixei com os livro e me voltei a meu baú, me ajoelhando a seu lado e retirando tudo de seu interior, e depositando em minha mala, tentando organizar ao máximo para não se tornar um caos.

Por fim faltava apenas resolver o que fazer com os quadros. Não eram muitos, e haviam sido pintados por mim. Tratavam de temas diversos, campos floridos, o por do sol no mar, o céu estrelado, penhascos, florestas cobertas por neve...Tudo que eu vira do decorrer de minha vida e me encantara.

-         Você que os pintou? – perguntou Carlisle.

Eu assenti com a cabeça.

-         São lindos...Você minha cara, é uma artista! – ele se aproximou de um dos quadros para avalia-lo melhor.

-         Reproduzir o que vê não é arte – disse-lhe e ele me olhou confuso – criar, isso sim é arte.

Em parte concordou comigo, mas ainda sim quis me dar o ar de artista alegando que pintar daquela forma, tão precisa e fiel, só era possível a um artista. Não quis iniciar uma discussão, pois não tinha vontade para isto, e incrivelmente minha teimosia não surgiu para iniciar tal vontade. 

-         O que fará com eles? – perguntou-me Edward

-         Vende-los talvez.

-         Vende-los? – perguntaram em uníssono.

-         Sim, não vejo porque continuar a carrega-los, já que tais imagens que os inspiraram estão tão bem gravadas em minha mente.

Eu os olhei intrigada.Seria muita petulância minha imaginar que eles estavam, não mais do que levemente, lamentando-se da possível venda daqueles quadros tão comuns? Talvez sim...Talvez não.

-         Vocês os querem? – perguntei cautelosa.

Carlisle se manifestou prontamente dizendo que havia se encantado com aquele do céu estrelado, já Edward havia se interessado pelo do por do sol. Confesso que fiquei espantada com este apego deles por tais quadros, mas não os contrariei, se era de seu desejo leva-los...Que levassem!

Catei os dois quadros e os enfiei na mala. Carlisle e Edward, ambos, ficaram espantados como tudo cabia de forma precisa em minha mala. Nada mais do que o esperado, afinal não se pode achar comum que dois quadros, dezenas de roupas, caixas, sapatos, coubessem tudo em uma única mala. Mas nenhum dos dois verbalizou seu espanto.

Por fim tratei de enfiar na outra mala tudo que não me era mais útil. Os livros, os quadros, algumas roupas e sapatos, e outros pertences mais.

-         O que fará com tudo isso? – perguntou-me Carlisle sobre a mala dos inúteis.

-         Venderei tudo – voltei a dizer.

Esta idéia assim que me veio a mente não mais saiu. Eu também não quis esquece-la. Venderei tudo! Era uma boa saída para se livrar daquelas coisas, e em retorno teria algo mais útil. Dinheiro!

Conhecia uma loja no centro da cidade, não era uma loja comum, lá humanos não entravam, pois nada ali os interessavam, ou melhor nada ali eles haviam imaginado. Pertencia a um velho feiticeiro, e lá se vendia tudo sobre magia, se vendia e comprava. Havia desde livros a utensílios, de ervas a jóias. Não havia duvida em mim de que conseguiria me desfazer de tudo com facilidade. Os livros que me desfazia eram raros, e outros objetos também.

-         Onde vendera tais coisas? – perguntou Carlisle. Respondi apenas a ele, afinal Edward já sabia meu plano através de minha mente.

-         Conheço um lugar onde tenho certeza de que compraram tudo que lhes ofertar.

-         E onde fica?

-         No centro da cidade – respondi receosa

Centro, o movimentado centro comercial, cheio de pessoas a ir e vir. Eu me sentei na cama pensativa, a poeira levantou dançando sobre os raios do luar que entravam pela janela.

-         Pensa em ir hoje até lá – perguntou Edward.

-         Eu não sei...É melhor não, mesmo se conseguisse chegar ate a loja sem atacar ninguém, o que me garante de que eu não ataque o vendedor?

Nenhum deles me respondeu. Não precisava de fato, eu sabia a resposta, ela vinha a minha mente narrada e acompanhada por imagens, de um vermelho sangue...

-         Vamos embora – disse me levantando num movimento agressivo, aquelas imagens me apavoravam e irritavam de modo intenso.

Agarrei uma mala e me virei para a porta enquanto Edward e Carlisle iam pegar o resto das coisas

Sai para o corredor e estaquei no chão. O corredor estava inundado por um aroma quente e saboroso, sem pensar eu inspirei profundamente enquanto aquele desejo me invadia e tomava meus movimentos e mente. O aroma se tornava mais intenso ao redor de uma porta próxima onde o perfume exalava das frestas.

Sem nem ao menos pensar ou sentir vaguei com passos ágeis e silenciosos ate aquela porta, apenas consciente daquele aroma que me encantava como se eu fosse uma serpente. Senti não mais que a leve noção da caçadora que acordava em meu intimo, louca pelo desejo daquele sangue que a porta me escondia.

Ergui a mão em direção a maçaneta de latão enferrujado, quando outra mão agarrou a minha e puxou-me para si.

Edward me puxou para longe daquela porta e daquele aroma diabólico e saboroso. Meus olhos por momento algum se desviaram da porta tal era o encanto que o perfume tinha em mim, somente quando Edward puxou meu rosto para me encarar é que notei de forma precisa sua presença.

Seus olhos dourados me fitavam preocupados e cautelosos, mas nem mesmo esta manifestação de cuidado conseguiu abater a raiva que me envolveu. A teimosia em fim se revelou, irritada por ser privada de algo que tanto queria. Não precisei muito para notar que meus olhos deviam estar o fuzilando, queimando naquele rubi que agora deveria ser uma chama intensa.Mas a culpa não me atingiu para me reprimir.E logo eu estava voltando meu corpo na direção da porta e Edward me segurava irredutível.

-         Me solta! – rosnei algumas vezes em baixo tom, mas obviamente ele não me obedeceu.

Carlisle veio se postar a minha frente e os dois me rebocaram para fora do prédio, para rua onde agora eu identificava o mesmo aroma, mas fraco, menos saboroso. Eram dezenas de rastros que tomavam a rua envolta daquele perfume que apontavam para dezenas de direções, seria tão simples seguir um deles e satisfazer meu desejo...

Fui arrastada até chegarmos as margens da floresta, onde o ar úmido e o cheiro das folhas foram aos poucos me limpando do perfume sedutor. Minha mente foi se tornando consciente e a vergonha me envolvia junto a ela. Não consegui encara-los de imediato, tal era minha vergonha.

Eis que então Carlisle, com sua compaixão sem tamanho se manifestou.

-         Você esta bem? – perguntou-me

Meus olhos o fitaram transmitindo a culpa que sentia, não soube o que responder, fisicamente estava bem, mas em minha mente o caos se instalava como de costume. Fiquei apenas a fitá-lo e esperar que ele interpretasse da maneira que achasse melhor.

-         Para uma recém criada você se portou muito bem – disse-me no que eu achei ser uma tentativa de me animar. Não conseguiu, apenas desviei o olhar, cética do que dizia – É verdade, outros recém criados teriam invadido aquele apartamento numa ânsia e atacado o humano em segundos. Você hesitou, se demorou à porta...E outros recém criados teriam lutado contra aquele que impedisse que realizassem seu desejo.

Ouvi suas palavras com atenção. Não sabia se havia hesitado ou não a porta, mas era fato que não lutei contra Edward embora esta idéia me tivesse vindo à mente. Mas isto não diminuía nem eliminava minha culpa. E Carlisle notou, mas sabia que naquele momento não conseguiria nada de mim, nem mesmo um sorriso.

Por fim nos fomos embora, eles foram à frente e eu atrás perdida em meus pensamentos, em imagens tão vivas e criativas, e que poderiam ser tão reais e possíveis.

 

Imagens pintadas de vermelho sangue!

 


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Notas finais do capítulo

estive pensando em atualizar algumas coisas nos capitulos anteriores, se tiverem sugestões ou desejos sintam a vontade para dizer.

espero que estejam gostando, os capitulos estão começando a ficar maiores embora eu tente resumi-los.

Comentarios, criticas, duvidas, podem mandar. Isso motiva e inspira a autora!



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