Forever Night escrita por Evelin


Capítulo 6
Historias de Terror ou apenas mudanças constantes


Notas iniciais do capítulo

Se for interessar alguem minha inspiraçao principal para este capitulo veio da musica de Ben Moody e Hana Pestle-Everything Burns


Capitulo um tanto longo, mas garanto ser emocionante como prometi



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/23364/chapter/6

Ben Moody e Hana Pestle-Everything Burns /Essa musica foi de grande inspiração para mim

"Ela se senta no seu canto
Cantando para dormir
Envolvida em todas as promesas
Que ninguém parece manter
Ela não chora mais para si mesma
Não deixou nenhuma lágrima para ser enxugada
Apenas diários com páginas vazias
Sentimentos se perderam
Mas ela vai cantar
Tudo queima
Todos gritam
Queimando as mentiras deles
Queimando meus sonhos
Toda esse fé
E toda essa dor
Queimando tudo
Porque minha raiva reina
Tudo queima"
"(...)Vendo tudo desaparecer
Todos gritam"

______________________________________________________________________________________

Historias de terror ou apenas mudanas constantes ç

 Eu fui me sentar na poltrona à frente da de Edward, queria ver suas reações com clareza enquanto citava minha vida. Estava preste a começar a contar quando ouvimos o som da porta da entrada se abrindo. Segundos depois Carlisle apareceu a porta da sala, inteiramente vestido de branco, segurando uma maleta preta.Lembrava-me um fantasma, um lindo fantasma... Assim que seus olhos pousaram em nos um sorriso carinhoso e sereno tomou seu lindo rosto.

-         Já voltaram, que ótimo – disse satisfeito – Como esta se sentindo, Evelin?

-         Bem melhor sem a queimação na garganta – disse com um tímido sorriso.

Ele sorriu carinhosamente, e seus olhos vagaram por minhas vestes sujas pela caçada.

-         Espero que não tenha se incomodado por eu não poder acompanhar vocês – como eles eram educados...

-         Ah, não se preocupe! – o tranqüilizei imediatamente – eu não permitiria que você cancelasse seus planos por minha causa.E afinal Edward fora um ótimo professor

Eu  lancei a Edward um olhar de gratidão, e ele sorriu um pouco envergonhado.

-         Que bom – ele olhou Edward com olhos orgulhosos.

Fiquei me perguntando se era possível ver o rosto de Carlisle tomado por raiva ou algo parecido. Não parecia fisicamente possível aquele rosto tão sereno e amigável se torcer em ódio. Talvez ele nem ao menos sentisse isso...

-         O que estão fazendo? – perguntou casualmente depositando sua maleta em cima de uma mesinha ao lado da porta, e tirando o casaco.

-         Evelin ia me contar sobre sua historia – disse Edward.

-         Historias? – ele se virou para nós, os olhos brilhando levemente, excitados – Será que eu poderia me juntar a vocês?

Que pergunta tola. Como se eu fosse negar algo a aquele que me salvou. Se não fosse por Carlisle eu ainda estaria naquele beco, ou sabe se lá onde. Eu poderia até mesmo ter atacado alguém...Um inocente...Aquela garotinha...Eu sacudi minha cabeça, afastando tais pensamentos.

-         Tanto pode como deve – disse com um sorriso.

Ele sorriu para mim e foi se aconchegar numa poltrona próxima da de Edward, e ficou a me observar, esperando com grande expectativa.

“Mais atenção” pensei pesarosa, eu duvidava que me acostumaria com isso.

Tratei de contar sobre minha vida, decidindo começar pelo inicio, o começo de tudo. O dia do meu nascimento.

E com um suspiro iniciei meu relato.

-         Nasci em 1902, ironicamente em 31 de outubro – deixei escapar um riso seco por meus lábios, que foi seguido por Edward – Mas embora fosse dia das bruxas, aquela noite fora mais do que comum. Não havia tempestade ou lua cheia, nem raios cortando o céu. Não sei com quantos quilos nasci, so sei que era pequena, e frágil como minha mãe sempre me dizia...

“Minha família era normal aos olhos de qualquer um. Um pai e uma mãe com sua filhinha, somente isso. Mas normal jamais poderia ser adicionado a nós. Meus pais eram feiticeiros, talvez por isso não tenham se firmado...- disse pensativa, mas voltei a minha historia rapidamente, não querendo me perder – Vivíamos bem, felizes, sempre se mudando. Naquela época minha mente infantil não entendia o porque das constantes mudanças, até porque nunca me revelaram o motivo. Eu apenas podia imaginar...talvez minha mãe gostasse de variar, não gostando de se demorar muito em um lugar. Ou talvez fossem mudanças de trabalho, por causa de meu pai. Sinceramente eu não fazia idéia”.

“Por causa das constantes mudanças, eu não freqüentava escolas, aprendia tudo com minha mãe. Eu era esperta, e aprendia com uma rapidez peculiar. Por causa disto, eu não tinha contato com muitas crianças ou até mesmo pessoas. Principalmente humanos. Mas isso não importava muito, pois meus pais diziam que humanos eram perigosos, e que ficar longe deles era o melhor. Eu não era uma criança de questionar muito, porem pensava demais. – um sorriso tomou meus lábios com as lembranças –Quando morávamos em Reims...”

-         Você é francesa? – perguntou Carlisle.

-         Oui, monsieur, nasci em Paris, mas cresci por toda a Europa.

-         Que interessante – comentou Carlisle – ah, que grosseria a minha, por favor, continue.

Carlisle tinha uma mania de se achar grosseiro...Mas a meu ver, ele era a pessoa mais agradável e educada que já conhecera. 

 - Então, quando estávamos em Reims, eu tinha meus seis anos e às vezes, contrariando os pedidos de minha mãe, eu corria até o topo do vale, de onde eu podia ver os campos, onde famílias se divertiam as tardes, fazendo piqueniques, correndo, ou até mesmo sentados a relva conversando alegremente.

“Eu ficava sentada nas densas sombras de um enorme carvalho observando aqueles humanos. Fascinada com a espontaneidade deles. Pensando em como eles podiam ser ameaças.Eram grandes famílias, extremamente carinhosas entre si. Eram tão diferentes da minha...”.

Eu me calei por um minuto devaneando sobre lembranças, mas em poucos segundos voltei a historia.Notei que Edward não desviava os olhos de mim.

-         Mas embora fossemos extremamente diferentes, dizia a mim mesmo que éramos tão felizes quanto eles. E de fato, na época acreditava mesmo nisso. Até que ele se fora. – eu inspirei profundamente antes de continuar, não por falta de ar, já que não precisava dele, apenas para continuar calma – Fui pega desprevenia, nada me avisara de que isto poderia ser possível...Eles nunca discutiam...Mas numa noite chuvosa, sem avisar, meu pai jogou todas seus pertences numa mala. Seus movimentos e gestos eram grosseiros e agressivos. Mamãe estava na sala do piano, mas não tocava. Ele arrumou todas suas coisas apressadamente, e partiu porta afora, sem olhar pra trás. Eu estava ao pé da escada, e o observei, do arrumar as malas, ao partir batendo a porta violentamente. Ele nem me notara ali, estática e silenciosa.

“Mamãe se demorou na sala do piano, naquela noite, embora não houvesse melodia que denunciasse que estava tocando. Mas havia outros sons, sutis, abafados e melancólicos”.

“Filipe não voltou naquela noite, e nem noite alguma – meus lábios involuntariamente se abriram em um sorriso melancólico – Eu tinha dezenas de perguntas, mas não as fiz, pois sabia que ela não estaria disposta para responde-la, alem do fato de que eu sabia que ela iria mentir. Minha mãe era uma criatura incomparável, bela e única, era super protetora e extremamente forte. De fato nunca a vi chorar a minha frente, embora a ouvisse. Enfim eu reprimi minhas duvidas, sabendo que as saciaria mais tarde”.

“Nos dias que se seguiram ela não falara nada, e eu não nada perguntei. Era possível sentir sua magoa e raiva no ar. Em vez disso tivemos um dia normal, eu estudei, ela tocou seu piano... embora eu notasse que as melodias, antes tão doces e suaves, estavam densas e sombrias”.

O som das musicas veio a meus ouvidos, como se ela estivesse tocando nesse exato momento ao meu lado. O que provocou um sorriso de saudades nos meus lábios.

 - Nunca mais viu seu pai? – perguntou Carlisle.

Eu me virei para olha-lo, seus olhos estavam entristecidos. Ele já estava triste? Mas a parte interessante nem ao menos começou. Se ele se entristecia com minha infância dourada, fiquei a imaginar qual seriam suas próximas reações durante a historia.

-         Não, ele sumiu no mundo. Embora eu tivesse noticias dele dos parentes mais próximos. Soube que dois meses depois havia se casado com uma humana e que tiveram um filho no mesmo ano – eu lhe dei um sorriso, o que o deixou curioso – Onde estava...Ah,sim!

“Mesmo sem Filipe, nós continuamos a nos mudar com frequencia. Nunca nos demorávamos mais do que oito meses em um lugar. O que me deixava cada dia mais curiosa, eu já tinha sete anos e dezenas de perguntas sem resposta”.

“Fomos passar uma temporada na casa de sua irmã, Tia Amélia, em Geneve. Era uma mulher adorável e extremamente amável. Amável até demais às vezes – disse me lembrando dos abraços esmagadores e dos beijos excessivos que recebia dela - Passamos um bom tempo lá, quase um ano”.

“Eu ainda era proibida de ter contato com humanos. Tinha uma boa suposição para isso. Afinal eu era uma criança que não tinha total controle de seus poderes, imagine se eu começasse a fazer mágicas na frente de um humano, o caos que isto se tornaria – eu ri com a possibilidade – Mas me manter longe das pessoas já não era mais um problema, pois a casa de Amélia era bem afastada da civilização. No meio de um bosque”.

“Foi naquela época, que eu descobri o porque de tantas mudanças e o medo de humanos – meu rosto se fechou para as imagens desagradáveis – mas antes não tivesse descoberto”.

“Mudávamos com frequencia, pois fugíamos de caçadores que tinham como objetivo aniquilar qualquer forma de aberração, resumindo, nós. Era uma fria noite de inverno, nevava muito, e eles chegaram sem avisos, e não tivemos tempo para fazer muita coisa”.

“Não é uma visão da qual uma criança se adapte a ver, ou vá superar com rapidez. Eles invadiram a casa, quebrando portas e janelas. Minha mãe e Amélia se defenderam de modo espetacular, ainda mais tendo em vista que eram dez contra duas”.

“Minha mãe me jogou no armário de casacos e o trancou. Não vi muita coisa, mas ouvi muito bem. Os pratos, vidros, mesas, cadeiras, quebrarem violentamente. E pior de tudo eu pude ouvir os gritos delas. Os gritos dos humanos não me eram importantes, de fato eu ficava ansiosa e aliviada quando eles gritavam, isto significava que elas estavam ganhando de algum modo”.

“Mas quando seus gritos começaram, e não mais terminavam... Eu entrei em pânico. Quis abrir a porta e correr a ajudar, queria fazer algo, pois ficar parada era um tortura imensurável. Mas eu não pude realizar este meu desejo, pois minha mãe havia me amarrado e prendido à parede, com seus truques irritantes. Eu me debati silenciosamente, mas nada consegui. Por fim, fiquei apenas reprimindo meus choros para que não me escutassem, enquanto ouvia tudo com uma clareza enlouquecedora”.

“Os gritos de Amélia cessaram primeiro de modo sufocante e repentino. Os de minha mãe duraram um tempo a mais, às vezes cessavam o que me deixava terrivelmente ansiosa. Notei que alguém falava com ela. Era uma voz rude, grossa, e borbulhava em prazer. Ele exigia que ela falasse algo, revelasse algo. Localizações eu acho. Queria que ela delatasse outros da nossa raça”.

“Ela não o fez, e por fim ela não gritou, mas o som que ouvi foi até mesmo pior. Um arfar, cansado e exausto, e o som do ar sendo solto lentamente. Eu senti naquele som tão baixo toda a dor dela. E quando ouvi o som de algo cair ao chão, num som seco, e depois mais nada a não ser risos eu perdi o controle”.

“Tudo a minha volta perdeu o sentido e a razão. Tudo começou a tremer violentamente. Eu não estava ciente de muita coisa, as regras, os ideais haviam desaparecido... So havia raiva. Tudo a meu redor começou a se quebrar, quando dei por mim a porta do armário havia sido arrancada do local e lançada contra a parede, quebrando – a, e notei que eu era a responsável por aquilo. E isto me agradou”.

“Uma sensação tão deliciosa tomou meu corpo, o entorpecendo. Nublando minha mente. Acordando meus instintos, meus impulsos... Que sempre eram reprimidos”.

“Os caçadores ouviram os barulhos da porta sendo destruída, e dos meus gemidos enquanto eu me soltava. Estavam desesperados para saber quem era o responsável. Mas para eles o melhor estava por vir. Eram apenas dois agora... Um deles, o mais jovem, uns 30 anos, botou a cabeça para dentro do armário, eu me encarreguei dele sem nem ao menos toca-lo. Era como se eu já tivesse feito isso muitas vezes antes... Como se fosse natural”.

“Somente com minha mente, eu o prensei contra a parede, oposta ao armário onde eu estava. Ele gemeu de dor, e isso me alegrou, eu estava dopada por meus dons fora de controle – eu me perdi no relato, sem prestar atenção nas reações de Edward e Carlisle. E quando dei por mim, estava imitando os gestos das minhas lembranças, de modo discreto – Eu estendi minha mão na direção dele, a palma aberta, e experimentei truques que li em livros, livros que a mim eram proibidos, mas que por minha teimosia eu havia lido. Eu fechei meus dedos lentamente, e apreciei os gritos de dor dele, enquanto seus ossos iam se partindo, conforme meus movimentos. Eu parei antes de fechar a mão em punho, não queria acabar com ele tão rapidamente... Mas tive, pois o outro caçador havia aparecido no corredor, e seus olhos eram coléricos. Eu fechei minha mão num movimento rápido e ágil, o que provocou um ultimo grito agonizante no jovem caçador, que caiu ao chão como um boneco de pano. E ali não mais se moveu”.

Eu voltei minha atenção a meus ouvintes, eles estavam com expressões aturdidas. Carlisle principalmente, eu imaginava o que um humanitário e pacifista como ele deveria estar sentindo ou pensando. Edward mantinha a expressão dura e severa, eu não soube dizer se ainda estava concentrado em meus pensamentos, ou impressionados com eles.

-         Perdão, devo estar horrorizando vocês com tantos detalhes – disse envergonhada.

-         Não por favor, não se preocupe conosco – disse Carlisle no mesmo instante – Conte da forma que mais lhe agradar.

Eu assenti, dizendo a mim mesma para controlar minha língua, e parar de me perder em descrições desnecessárias.

-         Bem...- eu levei um tempo para encontrar as palavras para continuar – Já com o jovem caçador caído ao chão e não sendo mais uma ameaça a mim, me virei para o outro. Era mais velho, devia ter 40 anos ou mais, e para meu azar era mais experiente que o outro. E por mais forte que eu fosse, ou qualquer outro fator, eu ainda era uma criança, e não passava disso. Uma criança descontrolada. Ele sabia como abater feiticeiros, ainda mais jovens despreparados e descontrolados como eu. Eu vi toda essa verdade em seus olhos, que me fitavam de modo calculista.

“Meu corpo reagiu antes de minha mente, num pulso eu o lancei contra a parede, ele bateu violentamente caindo sobre a mesinha que ali se encontrava, era praticamente o único móvel que estivera intacto até o momento”.

“Notei o efeito entorpecente da raiva escapar de mim aos poucos, e a consciência e razão me envolver. Eu não queria isso, pois sabia que a razão não seria o bastante se eu queria sobreviver... Mas eu não sabia como fazer o efeito continuar”.

“Eu corri pelo corredor em direção a cozinha, mas antes tivesse ficado no corredor. Fora na cozinha que a batalha havia acontecido... podem imaginar o cenário, cacos de vidro por todo o chão de mármore negro, os móveis destroçados... o sangue manchando as paredes... e os corpos dispersados pelo chão, envoltos de poças de sangue cintilante. Até hoje não sei o que me ocorreu, acho que por alguns minutos eu perdi a total noção, eu não sabia mais onde estava, se em pe ou deitada, se no chão ou nas nuvens... A visão dos corpos humanos me era aterrorizante, mas o dela... eu nunca soube descrever o que senti. Talvez não haja possibilidade de descrever aquilo... Amélia estava jogada ao chão próxima a mim... uma fina linha ensangüentada cortava seu pescoço, havia marcas arroxeadas em sua bochecha e testa e seus lábios sangravam...”.

“Eu ouvi os passos dele no corredor, seus insultos, e o medo me envolveu. Eu não sabia mais o que fazer... estava apavorada, e desorientada. Ele apareceu no fim do corredor, segurando um punhal de prata em uma das mãos, e algo que não pude identificar na outra... ele correu até mim. Eu fui rápida, e disparei pelas escadas, em direção a meu quarto... e lá eu vi a cena que me enlouquecera, que arrancara de mim qualquer razão ou misericórdia”.

“Ela estava sobre a cama, seu rosto impecável e sem cor, sem marcas ou cortes. Seus olhos de esmeralda não possuíam mais o brilho encantador de antes e me encararam suavemente, como se estivessem se desculpando... seu vestido estava todo manchado no peito num vermelho sangue glorioso que tocava os lençóis. Eu pude até mesmo sentir o cheiro, um doce aroma no ar que vinha de seu ferimento. – mordi meus lábios melancolicamente, mas continuei sem transmitir minha tristeza a minha voz - Eu perdi a total consciência de meu corpo, nada mais me afetava, e foi nesse meu momento de desorientação absoluta que ele me alcançara. Agarrou meus cabelos e me puxou para si, não senti dor alguma, meu corpo não mais registrava isto... ele puxou meu rosto para um lado, deixando meu pescoço totalmente desprotegido. E com a maior clareza possível, eu vi a lamina do punhal se aproximar com uma lentidão que eu sabia so ocorrer em minha mente. Meus olhos disparavam para minha mãe, e para a lâmina”.

“Eu não soube de muita coisa, eu so sabia que não era assim que terminaria... Eu poderia até morrer mais não pelas mãos dele. Naquele dia eu descobri o que significava vingança e ódio”.

“A lâmina estava a poucos centímetros de meu pescoço, eu podia até ver as manchas de sangue na prata, e depois o controle se foi. Fora como tambor explodindo em meu intimo, uma onda quente e prazerosa me envolveu, e minha mente, para meu sobressalto se tornou maliciosa, estratégica, furiosa e cruel”.

“O punhal se partiu em mil pedaços antes de tocar minha pele, e o caçador gritou em dor, se afastando de mim, as mãos queimadas. Senti sua fúria dirigida a mim, e isso só me motivou... ele agarrou algo no bolso e atirou a mim, era tão ágil... fui atingida na cabeça, com tal força que meus joelhos cederam, senti algo quente e viscoso escorrer por meu pescoço. Mas em vez disso me abater so me deu mais força. Como se minha raiva se alimentasse de minha dor. Ele fora rápido e me chutara no estomago, eu reagi violentamente, o prensando contra a parede como fizera com seu companheiro. Ele ficou imóvel, apenas esbravejando ofensas”.

“Percebi ali, que ele não merecia ter apenas seus ossos esmagados e moídos como fizera com outro. Ele merecia mais, e eu queria fazer mais... porem eu era uma criança, e não tinha muita criatividade para isto... o que fiz fora simples, e mais rápido do que quis”.

“O vi agonizar por ar, engasgar e sufocar, e depois arfar quando permitia que respirasse. Urrar em dor quando quebrava osso por osso... Mas a cada ato meu a raiva se emanava... evaporava. Por fim, num ultimo instante de ira minha, eu ergui os pedaços cintilantes do punhal que eu havia partido. Me parecia uma boa idéia, e isto o enlouqueceu. Dizia, para eu nem ao menos ousar tentar tocar alguma daqueles pedaços em sua pele. Pedaços contaminados pelo pecado e erro da natureza... e foi o que fiz. Desobedeci a seus pedidos, e deixei que os fragmentos do punhal perfurassem pontos vitais por todo seu corpo”.

“Quando as laminas tocaram seu corpo a raiva em mim se fora, dando lugar ao vazio, que me sufocou. As forças se foram com ela, e eu cedi ao chão, caindo na escuridão e no silencio”.

Eu fiquei em silencio, observando suas reações, Carlisle estava mais composto agora, mas não tanto quanto Edward que não possuía nenhuma emoção em suas belas feições.

-         E depois?– perguntou Carlisle. Ele estava mais interessado na historia do que eu imaginara que ele ficaria

-         Não sei por quanto tempo fiquei inconsciente, horas eu acho. – disse vagamente – so me lembro de ser acordada por mãos suaves e frias como as minhas. Eu abri meus olhos lentamente, estava tão fraca, eu não fazia idéia do que estava acontecendo...No inicio apenas vislumbrei dois pares de olhos azuis acidentados me fitando preocupados, pareciam nuvens...

“- ela esta consciente – disse o mais próximo de mim, sua voz era mais alerta, preocupada”.

“- Ótimo, Brunot – o outro não parecia tão aliviado assim, sua voz era meio tediosa”.

“- Criança? – se dirigiu o outro a mim, meio hesitante – sabe onde está?”.

“Minha mente era um turbilhão de sensações, sons e imagens, que não faziam sentido... Mas quando elas se alinharam num modo sincronizado e simples, eu tomei consciência de tudo. Cada detalhe e segundo daquela noite me veio a mente to claramente que me fora sufocante”.

“Eu me ergui assustada, e arfante. O mais próximo, aquele que de fato estava preocupado colocou as mãos em meus ombros e me acalmou. Pelo menos tentou. Meus olhos o avaliaram cautelosos, era um homem alto, de traços fortes e belos, porem me parecia dócil e não uma ameaça. Ele sorriu calmamente para mim com aqueles olhos acinzentados...Que me lembravam nuvens...Eram tão vagos”.

“- Se acalme, esta segura agora – disse me tranqüilizando – Estamos aqui e nada ira lhe fazer mal”.

“Eu olhei ao redor, havia varias pessoas a uma certa distancia, me observando, eu não prestei atenção em suas feições ou qualquer outra coisa. Meus olhos dispararam pelo quarto atrás dos corpos. Mas eles não estavam mais ali, nem o do caçador ou de minha mãe. Porem o lugar ainda estava destroçado e as manchas de sangue no lençol da cama e na parede ainda estavam lá para denunciar o ocorrido”.

“- O que aconteceu aqui? – perguntou o outro, num tom mais severo. Eu o avaliei rapidamente, suas feições eram fortes como a do outro, porem ele não me parecia amigável ou confiável”.

“- Armand! – repreendeu aquele que achei deveria ser Brunot”.

“Então eu me lembrei daqueles nomes, eles já haviam sido mencionados a mim varias vezes”.

“Os irmãos Armand e Brunot Leroy. As historias que me eram contadas diziam que quando mais jovens, com seus vinte e poucos anos, perderam a família interia por uma investida em massa de caçadores. Fora num domingo, que fora conhecido como Domingo Sangrento. Eles perderam tudo, casa, pertences, parentes, não lhe restou nada. Irados e sedentos por vingança eles não tinham nada a perder, resolveram caçar cada um dos caçadores que caminhava por esta terra. Não fora uma tarefa fácil, mas com o passar do tempo eles conquistavam vitórias que eram espalhadas por nosso povo com orgulho e esperança. Com o tempo outros, igualmente atingidos por nossos perseguidores se uniram a eles, e acabaram por formar a Armés, a guarda comandada pelos Leroy. Eles acabaram por se tornarem responsáveis por nos manter em sigilo, por nos proteger dos caçadores. Tornaram-se sinônimo de respeito e poder. Nossa raça havia aprendido a respeita-los”.

“Entendam, eles eram nossos heróis, embora agora perceba o que faziam. Eles acabaram por se igualarem aos caçadores. Eles se sacrificaram por nossa raça, largando seus ideais”.

Eu me calei, por um momento, reorganizando meus pensamentos, mas não me demorei.

-         Brunot se virou para mim, com um simpático sorriso nos lábios.

 “- Você esta ferida? – perguntou serenamente”.

“Eu avaliei meu corpo, e senti uma pontada dolorida no estomago, e minha cabeça latejava. Eu coloquei a mão sobre minha cabeça e senti meus cabelos grudentos, e avaliando minha mão via que havia sangue”.

“Eu o olhei assustada, ele apenas sorriu compreensivo”.

“- Não se preocupe iremos cuidar de você. – disse”.

“Ouvi Armand se mover impaciente pelo quarto, Brunot também notou. E soltando um suspiro me perguntou do modo mais delicado que pode”.

“- Sei que é pedir demais, mas, poderia nos dizer o que houve aqui?”.

“Eu tentei, mas o medo me atacara de tal modo que eu não mais encontrava minha voz. Ele viu minha luta interna e me poupou”.

“- Não precisa contar se não consegue – me tranqüilizou, sem tirar as mãos de meus ombros”.

“Armand bufou impaciente. Brunot tentou conciliar ambas as partes. A minha falta de capacidade em falar e o desejo ardente de Armand de saber a verdade.

Ele se virou para as pessoas que nos observavam em silencio”.

“- Poderia vasculhar por respostas? – ele perguntou firmemente, não ouvi a resposta, talvez a pessoa tenha confirmado com a cabeça, pois ele se voltou a mim, agora mais sério – Se importaria de deixar Desiré ver o que se passou através de sua mente? Prometo que não doerá, e será mais cômodo para você”.

“Uma mulher, de olhos sonhadores e movimentos suaves se postou atrás de Brunot, seu rosto delicado não me assustava, mas a perspectiva de uma invasão a minha mente não me agradava. Mas parecia o melhor a ser feito, eu não deveria esconder deles o que acontecera, pois sabia que seriam as ultimas pessoas a me condenar. E a idéia de não precisar falar me agradou mais do que o necessário”.

“Eu balancei a cabeça, confirmando. Brunot se afastou um pouco sem sair do meu campo de visão, apenas dando espaço suficiente para que Desiré viesse a se ajoelhar a minha frente, seus olhos encarando os meus intensamente”.

“- Olhe para meus olhos, e somente para eles – disse rispidamente”.

“Não foi difícil de obedecer, seus olhos me eram intrigantes. Era de um tom violeta, que ia escurecendo até a íris. Eram hipnotizantes, e desprovido de qualquer emoção. Eu só sabia que não queria desviar os meus olhos dos dela, não havia vontade ou forças em mim para isso. Senti-me como uma serpente sendo encantada”.

“Ela não se demorou muito em minha mente, dez, quinze minutos no máximo. Ela se levantou rapidamente, cortando o vinculo que fazia com meus pensamentos. Eu pisquei zonza, mais confusa que o normal”.

“Desiré foi ate Armand e eles ficaram se encarando, enquanto Brunot voltava a se postar a minha frente”.

“- Imagino que tenha dezenas de perguntas – perguntou amigavelmente”.

“Dezenas? Era dizer pouco. Não havia numero exato para expressar todos os questionamentos e indagações. Mas o pavor e a constante sensação de desorientação não permitiam que meus pensamentos se aliassem, permitindo escolher entre todas as duvidas a mais vital. Levaria algumas horas para que as emoções se cansassem e por fim se amenizassem”.

“Já estava ciente do fato mais importante, embora os detalhes me escapassem”.

“Disse-lhe através de meus olhos melancólicos o que minha boca não conseguia. Brunot era tão compreensível, em momento algum perdia a paciência”.

“- Ela esta curiosa para saber o que aconteceu com os... Corpos – disse Desiré numa voz alta demais, para meu gosto”.

“Pelo visto ela absorvera até minhas duvidas, e não apenas lembranças recentes como Brunot me havia prometido. Porém ela não estava errada, e a perspectiva de ter resposta amenizou minha raiva dela. Temporariamente”.

“- Já demos fim deles – disse Brunot a mim serenamente”.

Eu arregalei os olhos para ele. Todos os corpos? Pensei aterrorizada. O pavor que me tomou por aquela perspectiva, fora indescritível. Mas meus receios eram tolos, e ele me tranqüilizou a respeito disto”.

“- Se acalme criança, elas não terão o fim deles – ele pronunciara aquela palavra com tal desprezo, que no momento não pude avaliar como merecia devido a meu estado psicológico e emocional”.

“A menção a minha mãe, me vez mais alerta, a ponto de encontrar minha voz”.

“- E quanto a mim? – minha voz saiu rouca e baixa”.

“- Você tem alguma família? – ouvi Armand pigarrear atrás de Brunot, mas o ignorei”.

“Família? Eu possuía parentes dos quais eu nunca vira, a não ser em fotos. Nos comunicávamos por vagas cartas que mal ocupavam uma pagina. O único parente próximo a mim, já não estava mais aqui...”.

“- Acho que sim – murmurei”.

“- Não se preocupe, cuidaremos de você. – disse Brunot com um sorriso amoroso – Poderia me dizer seu nome?”.

“- Evelin. Evelin Grings – disse”.

“Seus olhos me avaliaram por um momento, pensativos”.

“- Grings? – disse Armand se aproximando com a testa vincada”.

“Eu balancei a cabeça positivamente. Por que essas reações? Era so um nome”.

Edward deixou escapar um sorriso torto com aquela minha frase, já conhecida por ele.

-         Eu fiquei curiosa sobre aquilo, aqueles olhares intrigados, e até mesmo sombrios dirigidos a mim. Afinal, minha família, minha mãe e minha tia, não eram famosas ou bem relacionadas, pelo menos era o que achava.

“- Sua mãe se chamava Meredith Liadan? – perguntou Armand com certa urgência”.

“Eu balancei a cabeça confirmando, e seus olhos brilharam por uma fração de segundos de prazer antes de voltarem ao controle. Aquilo não escapou de meus olhos, eu notei cada detalhe, das íris dilatadas em entusiasmo até o lento controle de sua mente sobre suas feições. E eu tive que perguntar. Brunot me respondera que minha mãe e eu conseguintemente éramos de uma antiga linhagem de feiticeiros, a mais antiga, descendentes do feiticeiro mais antigo, O filho da noite. Eu não me ocupei em perguntar sobre mais nada, já sabia sobre a historia dele, e no momento não me era importante, nada mais me era importante”.

Eu me virei para a janela, a noite ainda estava densa...E pelo visto seu manto reinaria por um bom tempo sobre o céu. Perdi-me na imensidão da lua esquecendo-me de meus relatos, apenas apreciando seus detalhes que só agora com esta nova visão eu podia vislumbrar.

-         O que houve depois? – perguntou Edward

Eu voltei minha atenção a eles, levemente sobressaltada. Voltei rapidamente a meu relato, pulando detalhes desnecessários.

-         O enterro de minha mãe fora pequeno, porem belo como ela merecia. Estava linda, como sempre, deitada no leito de cetim vermelho extremamente escuro, seus cabelos negros moldavam seu rosto o deixando suave e sereno. Seus olhos estavam fechados, de modo que não pude apreciar aquelas esmeraldas uma ultima vez, porem achei melhor assim.Seus lábios rosados estavam levemente voltados para cima nos cantos, como se sorrisse em uma satisfação interna. Aquela cena me lembrava quando eu a observava deitada na relva baixa dos campos na primavera, aproveitando os raios de sol, tão despreocupada...Tão livre.

“Mas eu me apavorava com fato de nunca mais ouvi-la ao piano, ou sua voz enquanto me embalava no sono com suas melodias únicas. Jamais apreciaria seu riso encantador enquanto corríamos a margem do lago. Seus lábios frios em minha testa, seus olhos sérios porem amorosos quanto descobria que a havia desobedecido...”.

“Tia Amélia também fora velada no mesmo dia, porem eu não lhe dera atenção merecida... Eu so tinha olhos e pensamentos para minha mãe. Eu queria vê-lá e toca-la até o ultimo instante. Minhas mãos vagavam por seu rosto, acariciando suas maças do rosto, seus cabelos sedosos, às vezes se agarravam a suas mãos delicadamente. Eu me esforçava para ignorar a frieza de sua pele macia, impedia minhas mãos de passarem por seu pulso... Eu não queria sentir as provas físicas que so comprovavam o que havia acontecido. Em minha mente ela estava apenas dormindo, e esta mentira me mantinha na realidade, me impedia de cair em lamurias, e soluços, embora a verdade jamais me escapasse. Eu estaria sozinha daqui a diante”.

“Os parentes distantes haviam sido informados, e estavam presentes. Eu não prestara atenção em nenhum deles, só sentia suas mão por meus cabelos, ombros, e suas falas que não passavam de sussurros ao vento”.

“Deviam ter imaginado que eu estivesse louca, que tivesse perdido a razão. Talvez não estivessem enganados”.

 Não sei por que razão, mais um riso sombrio saiu por meus lábios, sobressaltando Edward e Carlisle que me olharam surpresos.

-         Brunot ficara a meu lado o tempo todo, afastado de seu modo. Não falara comigo mais do que o necessário, e me deixara ao lado dela o tempo que precisei.Por vezes o ouvia falar com meus parentes, pedindo-lhes paciência, e outras os impedindo de virem ter conversas comigo. Alguns protestavam rapidamente, mas nada podiam fazer, afinal era Brunot Leroy que estava a lhes pedir isto.

“Por fim tive que dizer a mim mesma que deveria me despedir de uma vez, não poderia ficar ali até o meu fim, embora fosse apenas isso que eu desejasse”.

“Finquei minhas unhas no pulso de Brunot enquanto via as chamas lamberem o corpo de minha mãe, ganhando força, ele não reclamara e nem se afastara, deixou-me lhe ferir sem um único protesto. Um impulso de me jogar nas chamas me envolveu, de me deitar ao seu lado e deixar o fogo incandescente me levar ao fim... Brunot me abraçou fortemente, pensei que estivesse me segurando, me impedindo de fazer o que desejava. E talvez estivesse fazendo exatamente isto”.

Meus olhos se voltaram a janela, distantes entre memórias.

-         Não prestei a atenção necessária às palavras de Brunot a meus parentes, embora eu estivesse bem a seu lado. Apenas pequenas informações se sobressaiam do murmurinho. Brunot perguntava a eles se tinham condições para cuidar de mim, e acima de tudo se esse era o desejo deles. Após respostas incertas e vagas deles Brunot convenientemente sugeriu que eu fosse morar com ele. Eles aceitaram aliviados e até entusiasmados demais.

“Podem facilmente imaginar a alivio que sentiram. Se livraram  da responsabilidade de cuidar de uma garotinha que mal conheciam e que estava emocionalmente abalada. A euforia se deve pelo fato de que seria cuidada por um Leroy, acho que imaginavam que isto os tornaria bem relacionados, e que talvez lhes trouxessem vantagens futuras. Para a infelicidade deles, isto não ocorreu”.

Desta fez Edward é quem rirá primeiro, e fora a minha vez segui-lo. Não sei ao certo o que ele vira ou ouvira para rir daquele jeito, mas isto me alegrará. Seu riso era suave e sereno, um som adorável.

Carlisle nos observou um pouco confuso, mas seu prazer por nos ver rir parecia nublar qualquer duvida que passasse em sua mente. Após nos recuperarmos do acesso de riso Edward se desculpou e exigiu que eu continuasse a historia.

-         Bem, a vida com os Leroy, fora de muitos modos algo inusitado a mim. Seu modo de vida se diferenciava do meu em vários fatores. Era uma mudança drástica em minha vida...

“As constantes mudanças cessaram, pois eles mantinham residência fixa em uma antiga mansão, as margens de um lago, que por sinal era estonteante. Tudo neles era estonteante, a decoração, os móveis, a prataria, os arranjos de flores, os imensos jardins, os quartos, os tapetes... tudo me lembrava a realeza, ou pelo menos alguém que fosse tão rico quanto”.

“E de fato sua vida não se diferenciava muito da realeza. Havia vários criados na mansão. E os Leroy eram tratados como reis, e um respeito que beirava o medo, que naquela época não identifiquei”.

“Brunot e Armand viajam muito, devido a seus deveres, e foi sua irmã mais nova, da qual eu nem desconfiava da existência, que cuidara de mim. Caitlin era uma linda garota de 22 anos com cabelos castanhos claros e cacheados, tinha a fisionomia esbelta e elegante. Era tão cuidadosa e carinhosa comigo, me lembrava uma irmã mais velha, e de fato era assim que se via. Ela havia ficado imensamente feliz com minha chegada, aparentemente se sentia muito solitária naquela mansão já que os irmãos estavam sempre fora”.

“Às vezes achei que eu era como uma boneca nova para ela, afinal ela vivia a comprar vestidos para mim, a pentear meus cabelos, a me enfeitar. Tanto zelo e atenção me irritavam, mas ela era sempre tão carinhosa que não houve em mim raiva o bastante para protestar. E por fim tinha que me resignar a ser arrastada a ateliês onde provava dezenas de vestidos e roupas que não me agradavam em nada”.

“Eu era a princesinha deles. Fui anexada a família com naturalidade, como se fosse uma prima dê segundo grau. Não levou muito tempo para me acostumar e adotar a rotina deles”.

“Quando Brunot e Armand voltavam de viagens as atenções eram direcionadas a eles e isto me era um alívio. Armand sempre nos trazia presentes. Na época não sabia muito bem o porque, mas algo me dizia que Armand queria que eu me afeiçoasse a ele assim com fizera com Brunot, que confiasse nele. Mas era impossível. Seu olhar possessivo a mim e sua personalidade arrogante e egocêntrica me irritavam mais do que os paparicos de Caitlin, e ele sabia disto. Vivamos discutindo – disse com um sorriso infantil – aposto que fui à única pessoa, alem de Brunot que discutira com Armand e sairá ilesa”.

“Brunot já era diferente, extremamente diferente. Era paciente, e compreensível, às vezes um pouco reservado demais. Adorava conversar com ele, e ouvir suas historias de aventuras onde sempre saíra vitorioso. Ele sabia me ouvir, e a me surpreender. Não demorou muito até eu me afeiçoar a ele intensamente”.

Eu me calei por um minuto perdida em um sorriso sobre aquela época, mas Carlisle me chamara a atenção.

-         Você era feliz? – perguntou

-         Feliz? – me virei para observar seus olhos dourados – Certamente que sim. Eles eram bons para mim, sempre carinhosos e próximos. Até mesmos as discussões com Armand me eram divertidas...Mas eu era uma criança, era fácil ser feliz naquela idade. Obviamente havia os momentos de tristeza, principalmente à noite, quando eu não tinha o som da voz dela para embalar meus sonhos. – eu desviei o olhar de Carlisle para minhas mãos, e quando dei por mim estava voltando ao relato – Quando tinha nove anos Caitlin se casou, e fora morar no sul da França. Depois de muito protestar e pedir, Brunot permitiu que ficasse na mansão e não fosse morar com Caitlin. Não me entendam mal, eu a adorava, era minha irmã mais velha, mas a perspectiva de morar numa casa de recém casados extremamente apaixonados e tolos – fiz uma careta à idéia – me era repugnante. A idéia também não agradava Armand, embora eu não soubesse o porque, ele me queria por perto. Resignada Caitlin teve que aceitar a decisão dos irmãos, mas acho que isto não a decepcionou tanto, afinal ela ainda teria seu príncipe a seu lado.

“Com a partida de Caitlin eu me tornei mais eu mesma, e a era da princesinha, teve seu fim. Minha vida se tornou mais solitária, embora eu não reclamasse. Eu até gostava da solidão depois de tanta atenção que me fora dispensada por Caitlin, jurava que podia viver alguns anos em plena solidão que não me importaria”.

“Sete meses depois, Brunot me trouxe Louis – meu sorriso se intensificou com a menção daquele nome tão adorado – Louis, era dois anos mais novo do que eu – Notei um discreto sorriso tomar os lábios de Edward - Ele fora encontrado a dez quilômetros dos destroços do que fora sua casa. Assim como eu, sua casa fora invadida por caçadores, e assim como eu ele perderá o controle ao ver sua família ser torturada. Brunot não entrou em detalhes, mas Armand me contara tudo. Louis fora encontrado vagando pelo bosque, não estava desorientado muito pelo contrario, estava tão alerta que os atacou quando se aproximaram. Levaram horas para acalmar o garoto. Armand dissera que as vestes, mãos, rosto de Louis estavam sujos se sangue humano”.

Carlisle se endireitou na poltrona, novamente incomodado.

-         Brunot me encarregara de fazer com que Louis se sentisse em casa, afinal ele iria morar conosco. Eu o fiz, levemente receosa, o pobre garoto ainda estava amedrontado, e seus olhos eram hostis, tive medo de que me atacasse e pior que isso tive medo de reagir e feri-lo. Afinal éramos duas crianças comandas por instintos. Mas como o tempo ele se acalmou e se acostumou a nova vida e se tornou meu novo irmãozinho.

“Desde a chegada de Louis, as viagens dos meus ‘irmãos’ mais velhos se tornaram menos freqüentes e longas. Mas Brunot continuava a ser ausente em meu dia-a-dia, afinal ficava enclausurado em seu escritório, sempre conversando com alguém diferente”.

“Armand, porem se tornara uma presença permanente em minha vida, parara de me presentear, em vez disso sempre me desafiava com jogos intrigantes: achar objetos seguindo pistas, encontrar padrões em seqüências de números, perseguir coelhos. Minha personalidade orgulhosa me forçava a jogar seus jogos, e a vence-los sempre. Ele me ensinara esgrima, arco e flecha, e até mesmo defesa pessoal. O mesmo fazia com Louis, e sempre que mostrávamos ser competentes ele se inflava em satisfação”.

“Às vezes Brunot nos observava, eu notara que ficara mais serio. Embora quando conversávamos ele ainda era meu querido Brunot, amável e paciente”.

“Quando completamos quatorze e doze anos, Armand e Brunot resolveram nos levar nas viagens. Ficamos tão empolgados, Louis e eu, iríamos finalmente participar das viagens emocionantes dos irmãos Leroy. Porem, aquelas viagens eram tão confusas, não me pareciam com nada que eu havia imaginado pelas historias de Brunot”.

“Passamos pela Inglaterra, Irlanda, Itália, Espanha. Percorremos a Europa inteira praticamente. E em todos os locais jogávamos os jogos de Armand, eu principalmente. Armand sempre me dava seqüências de números e locais onde eu deveria encontrar um padrão. Curiosamente esses resultados sempre levavam a algum lugar”.

“Com quinze anos, e uma mente de dezoito, decidi que já estava mais do que na hora de saber o que estavam fazendo. Exigi respostas de Brunot e Armand, ambos nada disseram, o que me intrigou eles sempre me contavam tudo que eu exigia. Então resolvi descobrir por conta própria, mas eles me impediram. Encarregaram um membro da Armés para ser meu guarda-costas. Mas eu não desisti, porem não tive muita ajuda. Louis não compartilhava da mesma curiosidade. De fato ele estava feliz com a vida que tinha e não iria muda-la”.

“Embora ainda estivesse furiosa com eles, continuava a identificar os padrões. E somente depois de um ano pude finalmente ter minhas respostas”.

“Numa noite nevada, em Durham, consegui despistar meu guarda-costas e seguir até o local que identificara horas antes. E o que vi me fora tão inusitado, eu não soube o que pensar ou fazer”.

“O local era uma casa, comum e extremamente humana, havia riso e muito movimento dentro dela. Cheguei exatamente na hora em que os irmãos Leroy e a Armés invadia o recinto. Só pude ouvir os gritos, que me lembravam daquela minha trágica noite. Eu fiquei estática sem conseguir me mover até que a porta da casa se abriu e Brunot saiu seguido por Armand. Seus olhos percorrem o local até as arvores no fim da rua onde eu estava escondida. Eu arfei, e sem pensar corri, e eles me seguiram”.

“Corri para as arvores do parque, eles tentaram me impedir com seus dons, mas eu os impedi com os meus. Mas por fim eles me alcançaram, já no coração da floresta”.

“Brunot me agarrou pelos braços e me forçou olhar para ele, eu não consegui estava enojada, dele e de mim”.

         “- Olhe para mim – exigiu seriamente”.

          “Eu não olhei, eu queria me afastar dele, mas ele me impediu, por fim falou de modo serio e impaciente”.

          “- Escute-me, não fique horrorizada deste modo, sabe que era o certo”.

          “Eu o encarei estupefata. O certo? Eu já não sabia o que era certo e errado. Mas não estava horrorizada pelo que eles fizeram, e sim por eu fazer parte disto. Eu sempre soube o que eles faziam, mas fazer parte daquilo, ser a responsável, entregar-lhes como outros faziam conosco, era demais para mim. Eu havia me tornado igual aos caçadores de que tanto fugi”.

        “- Ora, pare de ser tão exagerada – rosnou Armand impaciente – você sempre soube o que fazíamos. Acha que erramos? Que deveríamos deixa-los vivo para nos caçar?”.

       “- Não – murmurei arfante – mas, eu fui a responsável pelo o fim deles e de tantos outros... Se não fosse por mim nunca seriam encontrados e não teriam sido... – no consegui dizer às palavras que me atormentariam meus sonhos”.

        “- Qual o problema? Como se você fosse uma santa imaculada. Há sangue em suas mãos também Evelin não se esqueça disto – disse rispidamente”.

“Daquela vez Brunot não repreendeu Armand. Meus olhos se focaram nos dele, estavam tão escuros, já não eram as nuvens serenas de que me lembrava. Ele já não era mais o meu Brunot, amável e paciente, e sim um caçador, frio e calculista. E pior que tudo ele me usara. Poderia aceitar isto de Armand, mas não dele, daquele que confiava”.

“- Solte-me – minha fúria era tamanha, que minha voz parecia um rosnado”.

“- Evelin, por favor, seja razoável – pediu, mas seus olhos frios não me tocaram”.

“- Estou farta de ser usada Brunot!”.

“- Não sabíamos como iria reagir, queríamos lhe poupar – disse”.

“- Me poupar? – disse ironicamente”.

“- Veja por este ponte de vista, você esta salvando nossa raça –disse Armand com um sorriso que me enojou”.

“- A que preço? – murmurei”.

“- O preço é mais do que merecido Evelin – disse Armand pretensioso – todos os grandes heróis foram clamados por vencerem batalhas que resultaram em mortes”.

“Eu o observei assustada, ele estava tão eufórico por falar sobre isso. Tinha prazer por finalmente ter esta conversa comigo. Por me mostrar o que lhe dava tão orgulho”.

“- Todo grande herói, no fundo é um assassino – disse-me com um sorriso malicioso”.

“Então pude sentir aquela velha sensação me envolver. Quente, que me entorpecia. Brunot notou que eu estava perdendo o controle e me virou pra longe de Armand e me abraçou segurando meus braços”.

“- Vai perder o controle justamente agora? – Armand estava adorando o fato de finalmente me irritar de tal modo que me fazia perder o controle. Ele queria me ver assim – Por que não espera um pouco até encontrarmos uma casa cheia de caçadores para que você possa fazer o que sabe tão bem?”.

“Eu tentava me soltar do aperto de Brunot para avançar em Armand, mas era quase impossível”.

“- Solte-me! – gritava enfurecida”.

“- Solte-a Brunot, deixe-me ver do que ela é capaz!”

“- Cale-se idiota, por acaso quer perder algum membro?! – então Brunot vociferou a Armand calando-o. Ele se voltou a mim, sua voz mansa e até mesmo sedutora – Acalme-se Mabelle, por favor”.

“Mabelle, minha bela. Nem ao som da palavra que eu amava ouvi-lo dizer pude me acalmar. Ele continou a repeti-lá em meu ouvido, até que este fosse o único som que eu ouvisse, e por fim a consciência me atingiu, me lembrando que perder o controle, embora fosse desejoso, não era a escolha mais sabia”.

“Por fim me acalmei respirando fundo dezenas de vezes”.

“- Solte-me, por favor – pedi a Brunot mansamente”.

“Ele hesitou, mas por fim afrouxou seus braços a meu redor até me soltar. Eu me virei para ambos e disse-lhes seriamente que partiria”.

“-Partir? – disse Brunot na mesma hora”.

“- Para onde pensa que vai Evelin? Você não tem ninguém, alem de nós – disse Armand presunçoso”.

“Ele estava certo, eu não sabia para onde ir, e eles eram tudo o que tinha. Mas sabia que não conseguiria mais ficar a seu lado, já não era mais possível”.

“No fim eles me deixaram partir, não tinham escolhas afinal, eu fazia ameaças de perder o controle dentro da mansão ou em qualquer outro lugar, talvez até em praça publica. Mas foi com pesar que partia daquela vida que a qual me acostumara com tanta facilidade. Brunot ficara entristecido com minha partida, nunca mais o vira depois daquela noite. Armand porem veio a mim enquanto arrumava minhas coisas apressada. E suas palavras eu nunca esquecerei”.

“- É uma pena que vá partir. – comentou casualmente – Sabe que é um desperdiço de tempo, pois você voltará correndo para nós, mas cedo ou mais tarde. Talvez não saiba, mas o mundo lá fora é mais cruel que você ou eu”.

“Ele estava terrivelmente certo”.

Voltei meu olhar a Edward e Carlisle, com um sorriso fraco.

-         Depois de tantos anos eu voltará a minha velha rotina de mudanças constantes, podem imaginar como me senti. Livre novamente– disse serenamente – Vaguei por toda a França, indo a lugares incríveis e conhecendo pessoas singulares. Como aprenderá com minha mãe, não me demorava muito em uma cidade, por mais que gostasse dela, afinal a ameaça dos caçadores sempre estava a espreita. Sempre mandava cartas a Louis, que resolverá ficar com os Leroy. Eu não recebia suas respostas, pois as cartas nunca chegavam antes da minha partida, e eu não podia esperar-las.

“Quando completei dezoito anos, resolvi ir ao continente americano. As historias daquele lugar que me vinham eram intrigantes. E quando me disseram de que lá havia muito menos caçadores que na Europa, não tive duvidas e me enfiei em um navio para o Novo Continente”.

“A vida aqui, fora tão agradável quanto pode. As pessoas, os costumes, o lugar, tudo era tão diferente. E a perspectiva de novas experiências e descobertas me deixava eufórica. Havia noticias de que os caçadores estavam enfim sendo dizimados, que deveria existir apenas três na América. Fiquei internamente receosa de poder encontrar os Leroy, mas não permiti que isto interferisse em minha vida. Continuei sempre me mudando e experimentando o novo sem nunca me cansar até uma semana atrás”.

Eu fui até a janela, a noite começava dar lugar ao dia, conforme minha historia chegava ao fim.

-         Estava a duas semanas de completar vinte anos, de me tornar adulta fisicamente. – eu me virei para eles me sentando ao batente da janela – Entendam o processo de crescimento de um feiticeiro é completamente diferente de um humano, é muito mais intenso. Quando estamos prestes a nos tornar adultos, nosso corpo se enfraquece preparando-se para a drástica mudança. Com nosso corpo fraco há um choque em nosso intimo enquanto todo nosso corpo, dons e mente amadurece em questão de horas. É como morrer e acordar para uma outra vida. É doloroso, mas quando acaba é indescritível. Seria perfeito se não ficássemos tão debilitados.

-         Incrível – deixou escapar Carlisle – é parecido com a transformação de um vampiro?

-         Não sei dizer ao certo, pois não amadureci de fato, embora estivesse bem perto. Mas, ouso dizer que não seja tão doloroso quando a transformação, e é mais rápido.

-         Deixe-a terminar a historia Carlisle, depois você a bombardeia com suas duvidas – disse Edward brincalhão.

-         Oh, perdão, por favor, continue – disse rapidamente.

Eu me endireitei, lembrando-me de onde parará.

-         Eu estava a apenas uma semana de amadurecer, e já sentia a fraqueja que atingia meu corpo e meus sentidos. Naturalmente, procurei por algum lugar onde pudesse me esconder até que o processo acabasse.

“Encontrei o porão de um casebre abandonado, onde me instalei já me sentindo debilitada e sonolenta. Eu teria ficado ali até que amadurecesse, se ele não tivesse me encontrado”.

“Fora uma terrível ironia da vida. Eu que era tão cuidadosa para que nunca me encontrassem, havia sido descoberta naquelas condições. Tantos lugares, tantos outros momentos, ele tinha que me encontrar ali – não pude deixar de transpor um pouco da minha raiva a minha voz”.

“Aqui as lembranças se tornam vagas e confusas”.

Apoiei minha cabeça nas mãos, me concentrando. Minha voz se tornou seria e fria.

-         Consegui fugir do casebre, mas ele me perseguiu até a cidade...Eu estava tão exausta, não sabia por quanto tempo resistiria. Ele me encurralou em um beco...Onde fui obrigada a reagir, a me defender, eu consegui vence-lo...Mas havia outro, ele me apontara um algo, eu corri a fugir, ouve um som de disparo, então houve dor que se seguiu do silencio. Eu não consigo me lembrar de muita coisa...- eu me concentrei mais até que imagens borradas me vieram a mente – So me lembro da fogueira, do sorriso vitorioso do caçador e sua família. E depois dos gritos deles enquanto o anjo os atacava...Ele me tirou das chamas e correu comigo para longe...

  “Então cravou seus dentes em mim, e depois de muito lutar eu o afastei inexplicavelmente... então tudo ficou escuro, e eu estava em um beco imundo, e você aparecera – disse com um sorriso imenso em gratidão a Carlisle – meu anjo”.

Carlisle sorriu timidamente.

-         No fim você foi o único que me salvará – murmurei.

Vi seu rosto tomado por um sorriso sereno, mas seus olhos estavam sérios. Ao olhar para Edward notei seus olhos pensativos, e vi que agora era vez deles falarem, sobre mim. Sobre o que achavam...O que pensavam. 

“Bem” soou a voz em minha mente, conformada “pelo menos você fora sincera uma vez na vida”

Pelo menos uma vez, pensei com meu humor negro.

“Que venham as criticas e os crucifixos” soou a voz.

E fazendo coro a ela, afundei na poltrona pronta para as ofensas, e criticas e tudo o mais. Disposta a aceita-las, pois seriam verdades, nada mais que verdades.

O sol comera a nascer, dando fim à noite. A historia de terror havia acabado e agora esperava pela reação do publico.

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

desculpo-me aqui com aqueles que não gostam de textos muito longos, mas fora impossivel resumir a historia de Evelin. De fato ha dezenas de informações sobre o passado dela que apareceram nos outros capitulos. Podem imaginar o tamanho que ficaria este capitulo se eu colocasse tudo de uma vez.

Espero que estejam gostando. Como sempre, comentarios e opiniões sempre são bem vindos para fazer uma autora feliz e motivada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Forever Night" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.