Forever Night escrita por Evelin


Capítulo 13
Afeição




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Deixei que Edward me arrastasse para onde quisesse mais pelo fato de não estar ciente de seus braços em volta de mim do que pela razão em si. Eu estava totalmente voltada para eles.

Nunca vira Carlisle com aquela expressão, tão horrorizado e angustiado consigo mesmo. Chegava a me deixar tão ansiosa e preocupada que a o desejo não se tornava nada alem de uma queimação ignorada.

Meus olhos fixos continuavam sobre ela, a mulher que instantes antes estava desfalecida, tendo dificuldade para puxar um simples e pequeno sopro de ar. Mas agora, para meu total espanto e assombro baixos e roucos gemidos surgiam de seus lábios, ganhando força e significado com o tempo. Gemido de dor. Que por alguma razão eu sabia que se tornariam gritos. Logo, logo.

 E então cedo demais Edward me levava para a sala e de lá para meu quarto, para longe daquilo que ele julgava ser tentador...

Algo em mim florescia, uma curiosidade, quase que infantil. Ver de um outro angulo a mesma coisa que havia acontecido comigo...Parecia-me, não assombroso, mais interessante ver algo que fosse semelhante ao que ocorrera a mim. Ver a agonia em seu rosto e imagina-la no meu...Ouviu seus gritos, e imagina-los com minha voz, com meu desespero.

Edward foi se postar a janela, os braços rigidamente cruzados, seu rosto uma mascara impenetrável.

Aquilo provocou um desconforto interno em mim...E se nada estivesse morto, juraria que meu estomago estava revirando-se.

Sentei-me ao meu divã e não disse nada por algum tempo, pois parte de minha mente ainda estava presa naquele quarto, sendo sugada por um desejo inédito e confuso.

Mas eu queria dizer algo, so que...Com aquela mascara, eu não sabia sobre o que perguntar, não sabia qual seria a reação. Eu não sabia nada, e aquilo me incomodava.

Onde você está?” Foi o que pensei para ele. Onde ele estava? Em que dilema ou devaneio estava totalmente envolvido se afastando até mesmo de suas feições agora vazias...

Minha intuição mandava a mim pequenas deduções, todas voltadas a um motivo em comum. Resolvi questionar. Quem sabe estaria certa.

“Ela iria morrer” pensei

-         Pessoas morrem todos os dias

Eu digeri suas palavras, procurando por aquelas corretas para a resposta.

“Ela não é uma pessoa... é mais” dei ênfase a ultima palavra, dando dezenas de significados e justificativas para o ato.

Ele nada disse, e continuou a fitar o vazio alem da janela, ou as próprias imperfeições do vidro. Sabia que ele não estava convencido, que aquilo não lhe parecia o motivo correto.

“Ela a salvou...”

-         Não, isso não é salvar – ele murmurou fracamente.

Eu o fitei confusa, tentando compreender novos aspectos sobre ele.Edward até aquele momento era para mim uns dos poucos pilares que me sustentava. Nunca realmente havia parado para compreende-lo por inteiro, para mim, Edward era aquele rapaz compreensivo que não me criticava, e me ajudava em meus momentos mais desesperados. Como eu havia sido egoísta e estúpida para não enxergar alem da cordialidade dele. Agora eu percebia que Edward me era um mistério assim como eu era para ele.

Frustrante, minha vida se tornava frustrante.

Um grito exausto porem alto o suficiente para nos, vampiros, ouvirmos ecoou até nossos ouvidos. Carregado de desespero e dor. Edward e eu nos viramos para a porta juntos, eu intrigada e ele perturbado.

De repente eu queria ir lá, vê-la, ouvi-la com mais clareza. Uma curiosidade quase que profissional me tomou, fria e interessada.

Inconscientemente dei um passo a frente e logo algo frio se envolveu em meu pulso.

Eu me virei para Edward bruscamente, como sempre fazia quando algo me arrancava de meu torpor.

“Eu quero” não era eu pensando, e sim meus desejos implorando.

Mas Edward não sabia a diferença, não poderia. A voz era a mesma, assim como o tom...A mesma coisa.

-         Não, é melhor não – disse serio, mas vi cautela em seus olhos.

“Porque?” Este foi simultâneo, eu e meus desejos dizíamos juntos.

-         Não esta sentindo? – ele ergueu uma sobrancelha e um pouco daquele Edward voltou a seu lindo rosto.

Eu sentia tanta coisa...o desejo de ir até lá, o frio de sua mão sobre a minha, a intensidade de seu olhar, o desconforto interno, e obviamente o fogo que queimava e arranhava minha garganta.Este ultimo estava se tornando forte demais para ignorar.

Mas eu queria tanto ir vê-la...Eu queria...

-         Querer não é poder – disse-me com um sorriso torto.

Ele voltara, meu amigo estava novamente ali diante de mim com aquele sorriso deslumbrante.

-         Você é um eterno chato – disse voltando meu corpo para ele, desviando-me da porta.

-         Alguém tem que ser – seu sorriso se intensificou.

Outro grito cortou o ar, ainda mais doloroso como se fosse possível. O rosto de Edward se contorceu em angustia.Era tão evidente que acabou por me angustiar, e com um desejo urgente de ajuda-lo. Mas eu não sabia como. Eu nunca sabia como amparar ninguém...Pois nunca fizera isto, não desta forma.

Sem pensar eu o estava abraçando, os braços ao redor da sua cintura o rosto encostado em seu peito, em um gesto que tinha visto tantas vezes, entre humanos, humanos amigos que transmitiram nesse contato afeição, compreensão e consolo.

Logo senti seus braços ao meu redor, no inicio inseguros, mas que logo foram se tornando confiantes.

-         Não é tão ruim assim – eu me referia à mulher e seu sofrimento – ela so estará ganhando mais do que imagina.

-         Como assim? – ele murmurou.

-         Bem, pelo menos foi assim para mim – eu disse pensativa – a dor é so um pequeno preço a pagar por tudo isso.

Seu abraço enfraqueceu, e logo ele se afastou de mim.

-         É um enorme preço – disse friamente voltando-se para a janela.

-         Eu não acho. Trocar uma vida ja em seu fim por isso? – eu gesticulei para nada em particular, apenas uma mania – para mim uma pechincha. Quase que caridade.

-         É caridade condenarem você a eternidade de matanças?  - ele perguntou sem emoção.

-         Porque se martiriza tanto pela dieta? – perguntei calmamente – não é assim tão diferente dos humanos. Eles também matam! Eles também sobrevivem da morte de outros!

Ele nada disse, apenas continuou a fitar o vazio.

-         Devia estar feliz! – disse acidamente – por pelo menos ser capaz de se controlar.Por pelo menos ser civilizado de alguma maneira e não um monstro com um desejo animal.

Edward se virou para mim, os olhos pesarosos.

-         Não sou diferente de você.

-         É sim! Você é humano – disse melancólica – em algum lugar ai, você sempre será um humano, capaz de encontrar a misericórdia por sua espécie capaz de conte-lo. E eu? O que eu tenho?  Nada alem de um monstro cuja vida foi voltada exclusivamente para a morte de alguns de sua espécie.

Eu me calei arrependida. Não devia ter dito aquilo, mas agora que as palavras haviam escapado por meus lábios eu me sentia mais...Não leve...Porem, aliviada. Edward me fitava sem nada dizer.

-         Não fale do que não sabe – eu lhe disse – não sabe o que é condenação.

O desconforto então voltou, e eu não conseguia mais ficar no mesmo quarto que ele. Sai o mais rápido que pude, fechando a porta ao sair. Eu corri pelo corredor até a sala. Edward não me seguiu, não ouvi som algum dele, deveria estar petrificado a frente da janela como eu o havia deixado.

Senti-me mal por deixa-lo daquela forma, e pior ainda por ter discutido com ele.  Eu jamais havia discutido com ele, não desta forma tão seria e verdadeira...era uma das experiências das quais eu jamais quis passar e que eu pedia para que não houvesse repetição.

Eu me joguei no sofá me sentindo ao mesmo tempo em forma e exausta. O desconforto continuava, agora mais fraco porem evidente.

Havia um fraco impulso de voltar e me desculpar por seja lá o que tivesse tido. Embora eu não soubesse ao certo o que havia dito de errado...Mas se fora errado que me perdoasse.

Porem...Ele estava tão frio e até distante...Que chegava a me intimidar. Sua indiferença era quase acida e...Dolorosa.

Não, eu não iria me desculpar, eu não fizera nada de errado. Não é ? É...Talvez...Não acontecera nada...

Ah! Porque tudo às vezes era tão confuso nessa nova vida?! Era tanto espaço nessa nova mente...Espaço demais para organizar... Idéias, devaneios, impulsos, ânsias tudo emergindo ao mesmo tempo e colidindo. Às vezes é impossível se concentrar...

Outro grito, agora tão fraco e baixo que quase foi impossível de ouvi-lo...A torturante audição vampirica...Era de alguma maneira um grito mais calmo...

A curiosidade me assaltou novamente. Não me parecia lago errado ir até lá, pois esse meu interesse era puramente inocente. Eu so queria estar ali, do lado daquela que até agora era quem tinha algo mais parecido comigo.

Eu queria ver sua dor, e até sentir com ela se isso ajudasse ambas ou apenas uma.

Num salto inconsciente eu estava de pé me dirigindo para o quarto de Carlisle o mais silenciosamente que pude. A porta do quarto ainda permanecia aberta, como se ele não tivesse saído de perto de Esme nem por um segundo.

Eu parei a porta quando o cheiro me assaltou. Doce, atraente e saboroso...Porem...Não era tão saboroso como fora antes. Porque...?

Eu olhei ao redor, e meus olhos se depararam no pescoço dela, algumas manchas de sangue permaneciam em sua pele agora branca como giz. Manchas de um sangue velho, seco e morto. Não estava mais cheia daquela vida atraente, embora o cheiro ainda fosse sedutor para me instigar a possui-lo, mas...Eu não o queria.

Porque?! Eu estava atônita com minha relutância.

Eu olhei para Esme com mais cuidado, vendo-a repousando naquela macia cama, o rosto tão doce contorcido em agonia, o suor brotando de sua testa, os cabelos amassados ao redor de sua cabeça como algas...e suas mãos, antes tão fracas mas agora fortes o bastante para segurar as de Carlisle com firmeza e este a segurava também com uma necessidade vital.

Tudo em Carlisle estava agitado, ansioso. Os olhos que estudavam cada centímetro daquele rosto de coração, a desnecessária respiração agitada, ate mesmo o pe que tamborilava distraidamente.

Eu nunca o vira assim e talvez jamais o veria de novo.

Ele não ouviu meus passos, não me viu ao seu lado e o que mais me impressionou, não se preocupou com minha presença.

Eu agarrei uma cadeira e sentei ao lado dele, dando uma distancia confortável, e assim como ele fitei a mulher por motivos diferentes.

Depois de uns minutos me virei para encarar Carlisle, seu rosto era pura angustia e culpa.

-         Você a salvou, não ha pelo que se culpar – disse-lhe suavemente.

Ele abriu um amargo sorriso sem desviar os olhos dela.

-         Não é bem culpa...Mas, angustia por ela estar sofrendo e eu nada poder fazer – ele disse em uma baixa voz.

Eu voltei a olhar-la, seus lábios estavam em comprimidos em uma fina linha, lutando contra a dor...

-         Eu faço idéia – murmurei.

Seus olhos escaparam de Esme por um minuto e me encararam intrigados mas logo voltaram posição inicial.

-         Como...Esta Edward? – sua voz soou casual demais.

-         Eu...Não sei dizer- murmurei – um pouco incomodado eu acho

Carlisle balançou a cabeça categoricamente, compreendendo a situação melhor do que eu.

Eu queria perguntar, saciar essa curiosidade que so aumentava a cada dia, porem havia algo mais intrigante.

Eu voltei minha atenção a esme. Seu rosto estava tão mais abatido embora transmitisse mais força. A dor estava ali, estampada em seu rosto, seus lábios comprimidos, as lagrimas que irrompiam sem pudor algum...Eu queria na verdade era ampara-la, cessar essa sua tortura de qualquer maneira...ou quem sabe me afastar para não ter que assistir isto.

     Porque ela não me despertava aquela fome?!

Passei alguns minutos talvez meia hora divagando até que uma suposição me veio, e sinceramente era bem realista.

Porque ela não me era saborosa a ponto de se tornar uma refeição? Porque eu havia inconscientemente criado um laço de afeição por ela, estava afeiçoada a nossa semelhança, a dor que ela sentia eu havia sentido, o medo e tudo o mais que viria para ela ja havia vindo para mim e por isso eu me afeiçoara a ela. Nossas semelhanças embora peculiares e sombrias nos ligavam.

E por essa afeição, a idéia de me alimentar dela era repugnante.


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Notas finais do capítulo

Ok,ok...esse com certeza não foi um dos meus melhores capitulos...prometo ARRAZAR no proximo.
Quanto mais reviews mais a inspiraçao vem e portanto melhor sera o proximo capitulo...



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