Forever Night escrita por Evelin


Capítulo 12
Esme




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11 meses. Um recorde, um marco. Um motivo de orgulho? Com certeza de satisfação.


Ja fazia onze meses desde a fatídica noite, desde a minha morte, a minha ressurreição. Desde o inicio de minha nova vida.


Confesso que me acostumei rapidamente com dezenas de aspectos, a caçada em si era algo intensamente agradável, fácil, quase natural. Não via dificuldade em rasgar, cortar e dilacerar gargantas de grandes felinos, mas a facilidade não me protegia da angustia apos as refeições, do nojo que tinha por mim mesma vendo minhas mãos ensangüentadas e meus lábios impregnados com aquele maldito sabor.


Mas a vida em si não era lá tão diferente, a dieta sim era um completo mistério para mim, mas o resto...Muito familiar. Logo soube que assim como eu, eles também mudavam, não permaneciam em um unico lugar, lógico que o período de permanência era mais longo, mas...Eles mudavam. Era algo com o que eu podia viver, algo que ja havia presenciado, uma de minhas escassas experiências que eu podia por em pratica nesta nova vida.


Mas nova vida, não significa total redenção do passado. Quem dera fosse.


Ah...Porque a insistência é algo tão evidente nos feiticeiros? Porque não se deixar levar pelas palavras de outros, ou se resignar com a vida, limitações...Não, nada para nos é imutável ou impossível. E Marjorie levava isto com muita seriedade. De todos ela era a mais insistente, a guerreira que luta até o fim, mesmo depois que todo seu batalhão fora dizimado. E ela era minha amiga.


Maldita magia, fora a primeira e ultima vez que eu pensara aquilo. E isto apenas ocorreu por conta de um acesso de raiva que me tomou quando ao abrir a porta da frente, vira caída sobre a madeira da varanda uma carta naquela letra tão irritantemente familiar. A insistência de marjorie era sem tamanha, capaz de me encontrar através de seus dons mesmo que fosse através de uma carta.


-         Ela sabe onde você esta? – perguntou Edward preocupado ao meu lado enquanto eu fitava aquela carta com olhos flamejantes.


-         Não – rosnei – curvando-me para a carta – apenas a carta pode me encontrar. Ela não sabe onde estou porque eu não permito, mas isso não a impede de se comunicar...


Edward nada disse, perdido em devaneios sobre uma nova informação sobre o mistério que eu era.


Ainda sobre o efeito da raiva pulsando em minhas secas veias, agarrei a carta com minhas unhas segurando-a como se fosse contagiosa ou que tivesse me ofendido. Minhas mãos tremiam sobre o desejo de rasga-la sem sequer lê-la, não queria saber sobre seus receios, suas exigências...Não queria.


Esta raiva, tão envolvente, não era resultado de nenhum ódio ou irritação, mas sim de um medo tão violento que me angustiava levando-me a um nível tão elevado que se transformava em raiva. Raiva por não poder correr até ela, por não poder abraça-la mais...Por ter que fugir.


Desejei por um milésimo de segundo que ela e todo o meu passado se esquecesse de mim, que me abandonassem...E afundei em um mar de angustia e rancor.


Mas Edward estava ao meu lado, pronto para me amparar, como sempre fazia. Ele se tornava a cada mês uma presença necessária, alem de se tornar o principal pilar que me sustentava.


Ele me levou para a sala, sentando-me ao sofá sem nada dizer, entre nos palavras não eram muito necessárias. Ele afagou meu braço até que a razão voltou. E quando eu voltei as necessidades faiscaram diante de mim mais urgentes, mais necessárias.


Como se tivesse sido chamada a sede voltou a arranhar minha garganta, lembrando-me da urgência, do perigo.


Eu continuava a passar todo o tempo que podia domando-a, desesperada e impaciente algumas vezes. Não podia treinar com a frequencia que queria com a caixa dos prazeres como eu a havia apelidado. Eles não me deixavam sozinha com ela, de fato, a escondiam de mim. Como eles eram bons nisso...


Impaciente eu criava outros métodos, não tão eficazes, mas úteis de alguma forma.


Em algumas caçadas, aproveitando a forte sede que sempre me assolava, eu me punha diante do rastro mais forte e atraente que eu podia encontrar, e enquanto meu corpo retesava e pulsava em uma ansiedade assassina eu me agarrava ao chão, rejeitando a caça, a liberdade desta queimação. Ouve duas ou três vezes que eu cometi alguns deslizes e quando dei por mim ja estava sob o animal, apagando o calar com o quente néctar.


Mas quando não podia caçar e me via entediada na casa eu me jogava no jardim, e deitada na fria e dura cama eu relembrava com todos os mínimos detalhes das vezes em que como vampira eu me deparei com humanos. A lembrança do cheiro não era tão forte, mas era capaz de despertar minha fome por aquele sangue...O calor rodopiava em meu estomago ansioso, a sede provocava cócegas em minha garganta. Eu me entregava ao desejo, e o renegava repetidas vezes, mesmo quando meu corpo se irritava eu continuava imperturbável.


Mas aquela carta era como um aviso flamejante dos problemas que ainda me perseguiam. O pior, é que eu não possuía resposta alguma para resolve-los.


A carta de Marjorie era apenas um texto curto e apressado, estava um tanto irritada por eu não ir vê-la, mas aliviada por saber que me encontrava bem de certa forma, e pedia veemente que eu fosse vê-la assim que pudesse.


Ah que infelicidade, eu prometi-lhe ver assim que pudesse, ou melhor, que conseguisse. Mas os meses se passaram, e logo se completou um ano, um ano e meio, dois... E eu vivia apenas para a minha nova meta de vida, com uma obstinação quase que insana.


Sabia o quanto isso perturbava Edward e preocupava Carlisle. Mas nem mesmo seus olhos ansiosos e até angustiados eram capazes de me parar.


Não, eu tinha uma divida com uma velha amiga, e um dever para com o passado que eu sabia que jamais me livraria por mais que quisesse ou precisasse. E confesso, que eu não queria esquece-lo.


Desde modo eu não criara nenhuma rotina humana, que Carlisle e Edward mantinham com tanta precisão e necessidade.


Era diferente para eles. O passado de ambos era as lembras de sua vida como simples humanos, e assim como eu lutava para reconquistar aspectos de minha vida passada, eles lutavam para não perder sua humanidade.


Eu podia compreende-los, mas no fundo nada me atraía para seguir de fato esta vida. Por enquanto eu me escondia sob o pretexto de cessar minha sede insaciável. E eles até agora não me questionavam.


De fato o medo me prendia, e atrasava meu avanço. Por medo eu não me aproximei dos humanos, era perturbador demais a mera possibilidade de atacar um deles, não por piedade a raça humana, mas sim pelas reações que veria no rosto de meus protetores.


Era obvio que Carlisle e Edward não iriam me odiar muito menos me culpar, não era da índole deles fazer isto. Mas a magoa, e piedade que iriam pintar aqueles lindos rostos iriam me assombrar por décadas. E eu não iria suportar.


Desde modo eu não podia ter total certeza se estava sob o devido controle ou não. Um obstáculo do qual eu não tinha a coragem de ultrapassar.


Mas isso não perturbava de modo algum a vida deles, a qual eu tomei para mim resignada.


E com o passar dos meses, a mudanças logo ocorriam.


Confesso que na primeira vez senti-me culpada, achava que o real motivo era o receio deles de que Marjorie me encontrasse, receio este que logo disse ser tolo. Mas eles me acalmaram dizendo que esta mudança ja estava prevista a algumas semanas antes de minha chegada.


Nos mudamos para duas cidades, de nomes curiosos e populações pequenas.


Mas foi em Ashland que as coisas se tornaram interessantes.


Era uma tarde como tantas outras. Eu estava em meu quarto, rabiscando alguns papeis, tentando trazer a tona àquela deliciosa inspiração que me fazia criar aqueles quadros que Carlisle tanto adorava.


Ja era noite quando ele chegara. Eu o ouvi a porta, ouvi os passos de Edward rápidos e ansiosos.


Suas vozes eram apenas baixos sussurros, que humano algum conseguiria ouvir. Algo estranho, pois eles nunca falavam assim aqui. Em casa eles se despiam de toda a cautela que o mundo dos humanos os forçava a ter.


Edward estava ansioso, questionava-o em perguntas urgentes e algumas até criticas. Carlisle respondia em frases vagas e apressadas.


Tudo aquilo me confundiu e intrigou. Abandonei meus desenhos sem nem sequer notar, e sem me repreender sai de meu quarto e vaguei pelos corredores até o local de onde suas vozes vinham. Meus passos não produziam som algum ao tocar o chão, eles mal o tocavam na realidade.


Eles estavam no quarto de Carlisle, eu me esgueirei a porta reprimindo qualquer pensamento para que Edward não me notasse.


O quarto de Carlisle era simples, uma parede composta por um armário cheio de livros, uma grande cama de dossel e uma mesa de cabeceira, futilidades humanas das quais eles se forçavam a ter.


Mas a cama, não estava mais vazia como de costume, agora exercia sua função pela primeira vez. Havia alguém ali. Uma mulher, não pude ver muitos detalhes dela, so que era pequena e magra, e obviamente extremamente pálida. Mas não como eu ou Edward, não como um vampiro, e sim como um humano a beira da morte.


Ela respirava com dificuldade, e com uma lentidão que qualquer humano desavisado diria que estava morta. Havia arranhões e roxos por seus braços e pernas, estava em um estado preocupante e até mesmo desesperançado.


Carlisle estava sentado a cama ao seu lado, fitando-a de um modo que não podia saber por estar de costas para mim, cobrindo o rosto da mulher. Edward estava próximo a cama, seu postura rígida estava hesitante.


-         Carlisle...- dizia em uma voz insegura.


-         Não posso deixa-la morrer – dizia Carlisle sua voz tingida de angustia.


-         Eu sei que não quer, mas...


-         Você se lembra dela? Imagino que não. Eu a vi pela primeira vez quando tinha 16 anos, era tão alegre, feliz, mesmo com uma perna quebrada ainda tinha forças para rir.


-         Mas, não me disse que havia se jogado de um precipício? Me parece que não queria mais viver, porque então condena-la a isso? – Edward se esforçava ao maximo para manter sua voz suave, mas era impossível ignorar a dureza de suas palavras.


-         Não, não esta certo...Ela, ela não pode morrer assim – disse Carlisle de repente determinado.


Então eu percebi sobre o que discutiam, o motivo por aquela mulher desfalecia estar ali, e porque Edward contrariava. Eles iriam transforma-la. Eles iriam condena-la ao que eles eram, ao que eu era.


Vi Carlisle afagar a clavícula dela, com a ponta dos dedos, tão suaves...E subi-los até o pescoço. Então minha mente se tornou alerta ciente do que estava para ocorrer.


Ele fora tão rápido...Eu jamais o tinha visto assim. Carlisle avançou para a garganta da mulher mordendo-a com uma gentileza atrativa...E então aquele cheiro correu até mim, doce, saboroso e apelativo.


Perdendo por alguns instantes o total controle, minha mente foi invadida por vários pensamentos, informando a Edward de minha presença. Ele se virou para mim com os olhos apreensivos.


Eu também estava apreensiva entorpecida por aquele hipnótico aroma, e mais do que isso, fascinada com a cena na cama. Carlisle abraçado àquela mulher, seus dentes presos em sua clavícula. O rosto dela estava tombado, mas mesmo assim era possível ver a doçura dele, daquele rosto em formato de coração que antes devia ter transmitido tanto amor...


Ela não reagia à dor do golpe, tamanha era a fragilidade dela...Apenas arfava fracamente.


Meu coração pulsou exigente... “Eu quero...” o sussurro do desejo era tão fraco quase inaudível...Fraco.


Edward correu a mim, abraçando-me para que eu não fizesse besteira alguma. E por cima de seu ombro eu vi Carlisle, ausente de nossa existência, deitar a mulher com suavidade na cama, afagar-lhe as maças do rosto, e tirar uma mecha de cabelo de seus olhos. E ele disse na mais apaixonada e melancólica voz.


- Perdoe-me, logo tudo acabara....perdoe-me, Esme.


 


 


 


 


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Notas finais do capítulo

Eis outro capitulo. Espero que tenha lhe agradado.
Reviews, sempre bem vindos e igualmente pedidos, criticas ou sugestões, tanto faz



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