Acordei e olhei para o relógio, eram 9h10min da manhã. O despertador não tocou, não daria tempo de ir para o colégio, já que minhas aulas começam ás 07h15min. Olhei para Kyle que dormia profundamente e acordei-o, porque estava na hora de ele tomar o remédio para sua perna. Descemos, tomamos café e ficamos na sala. O clima da manhã estava um pouco frio, o que eu amava, pois era uma oportunidade de ficar abraçada com Kyle.

Estávamos sonolentos até o momento que eu escutei um barulho. Como reflexo, olhei para a porta da sala, e vi a maçaneta girando. Tinha alguém tentando entrar. Chamei Kyle desesperadamente e ele pegou uma garrafa de vidro do chão, que estava lá desde o último “incidente”. Kyle seguiu para a porta e eu segui atrás dele.

Ele destrancou a porta devagar e abriu-a rapidamente, pronto para acertar o quase-invasor. Porém, não havia ninguém ali. Ele fechou novamente a porta e trancou-a, dando duas voltas na chave.

– Kyle, eu não quis contar nada, mas ontem, quando eu, você e a Meredith estávamos conversando lá no quarto, eu vi um homem na frente de casa. – eu contei.

– Sério? – a expressão dele era séria.

– Sério. E eu estou começando a ficar com medo.

– Vamos tentar esquecer isso meu amor. – ele disse e me puxou para deitar com ele no sofá novamente.

Dormimos novamente, e só acordamos quando Meredith desceu para tomar o café da manhã.

– Ué, você não foi para a escola Chloe? – indagou ela.

– Eu perdi a hora, mas amanhã eu vou. – respondi.

– Tudo bem então Klo. Kyle, hoje o pai do Tyler vai te levar para tirar o gesso do seu pé ás 14h30min tá? – ela deu seu último gole na xícara de leite e subiu para o seu quarto novamente.

Kyle fez uma dancinha deliciosa de alegria e eu ri. Cara, como pode existir uma pessoa tão perfeita?

Voltamos para o sofá e fomos assistir TV. Estávamos assistindo uma série em que duas mulheres trabalham em uma lanchonete e tentam desesperadamente conseguir dinheiro, quando sinto uma mão encostando em minha cintura, descendo pelo lado da minha perna e apertando minha coxa.

– E essa mão boba aí hein Kyle? – perguntei, rindo.

– Boba é a outra mão que não tá fazendo nada! – respondeu ele e nós dois rimos.

Me virei para ficar de frente com ele. Ele me deu um selinho e depois um pequeno beijo, maior que um selinho, mas não de língua. Nos afastamos um pouco, eu ainda estava de olhos fechados. A mão dele foi para minha bochecha. Seu toque era leve, doce, gentil. Então, ele aproximou nossas bocas novamente e me envolveu em um beijo gentil, mas ao mesmo tempo, rápido.

Fomos diminuindo a velocidade do beijo. Ele manteve sua mão em meu rosto, e a outra ficou na minha cintura, enquanto minha mão esquerda estava entrelaçada em seu cabelo e não pude mexer minha mão direita, pois como eu estava deitada ela estava dando apoio á minha cabeça.

Paramos o beijo quando ouvi alguma coisa lá de cima. Assustei, pois eu estava ficando traumatizada com aquele homem, e só me acalmei quando percebi que era o toque do meu celular. Subi correndo e coloquei o celular perto da minha orelha.

– Alô?

– Sua biscate, porque não veio para a aula? – Annie começou a dizer.

– Estou sentindo seu amor por mim, sua fofa. – eu disse em tom de sarcasmo. Minha amizade com Annie era assim, nos xingávamos toda hora, mas eram xingamentos de melhores amigas.

– Sinta-se também estrangulada, porque você me deixou sozinha hoje, e ainda na aula teve uma lição que era pra fazer em dupla.- o barulho era grande do outro lado da linha porque era o horário do intervalo.

– Desculpa Ann, acordei ás nove e quinze hoje, meu celular não tocou. Com quem você fez dupla?

– Com o Alex. E quando o Tyler ficou sabendo, ele ficou com ciúmes. – ela deu uma risadinha.

– Não fiquei não Annie! – uma voz gritou ao fundo.

– Aham, você não ficou mesmo, eu sei, agora senta aí. – ela disse sarcasticamente.

– Então, o casal aí vai parar de brigar e voltar a falar comigo? – disse, fingindo impaciência.

– Casal sua bunda Chloe, vai se ferrar.

– Me ame menos Annie.

– Me obrigue. – ela disse.

Rimos um pouco. Era bom ter uma melhor amiga com quem você pode ser você mesma, que você pode xingar, bater, mas mesmo assim confiar sua vida a ela. Era isso o que eu sentia em relação à Annie.

Do outro lado da linha, ouvi o sinal que indicava o fim do intervalo. Nos despedimos e voltei a ficar de grude com Kyle até a hora do almoço. Depois que fizemos nossa refeição, voltamos ao sofá e Meredith voltou ao quarto.

– Bê, a gente podia assistir um filme né? – sugeri.

– Qual?

– Ah, sei lá, to a fim de assistir um de romance.

– Ou aqueles fimes que são chatos e dão tédio mas que eu assisto só pra ficar do seu lado, como eu gosto de chamar. – eu bati em seu braço de brincadeira, e ele lançou um sorriso pra mim. - Não doeu. Você parece um hamster de tão fraquinha, se eu não tivesse visto sua mão tocar meu braço, eu não teria percebido que você tentou me bater. – ele riu profundamente.

– Eu não sou fraca! – bati nele novamente. Eu tinha um sorriso no rosto. Um sorriso profundo.

– Tá bom hamster, agora escolhe um filme aí pra gente assistir. – ele retribuía esse sorriso profundo, que depois virou uma pequena risada.

Escolhi o filme Querido John para assistirmos, e como em todo filme de romance, chorei horrores. Depois de toda aquela coisa dele me abraçar forte e me fazer parar de chorar percebemos que já estava escurecendo.

Me virei para Kyle para beijá-lo. Deu um pequeno beijo em seus lábios e o abracei forte. Mas, em seguida, vi algo que me fez soltar de seu abraço.

Olhei para o vidro que tinha do lado da porta de entrada e vi uma pessoa nos espiando. Essa pessoa tinha os olhos vermelhos e arregalados, parecendo absolver tudo o que via e pensar no que iria fazer. Essa era a mesma pessoa que eu tinha visto no dia anterior. Essa era a mesma pessoa que me seguiu da escola até em casa, também no dia anterior. Essa era a mesma pessoa que me criou, que me deu felicidade mas ao mesmo tempo me fez sofrer. Essa pessoa era o meu pai.