Meus pés balançavam de um lado pro outro ininterruptamente, e pela forma cada vez mais ansiosa como o homem á minha frente estava agindo, ele já tinha se dado conta de que eu não tinha ouvido nenhuma das merdas que ele estava repetindo há quase meia hora.

Eu só continuava me submetendo aquelas reuniões porque era isso que as pessoas esperavam que fizesse depois que minha esposa desapareceu feito fumaça na noite de nosso casamento, mas a verdade é que todos nós sabíamos que aquilo era uma completa perda de tempo: aquele bando de homens incompetentes e saturados de casos “urgentes” jamais descobriria alguma pista sobre o paradeiro de Isabella.

Ethan Smith era esperto demais pra se deixar capturar assim tão facilmente.

Mesmo que parecesse loucura, e que eu não fosse capaz de entender a motivação por trás daquele ato, cada fibra em meu corpo dava-me a certeza de que, onde quer que a mulher que eu amava estivesse, aquele verme também estaria.

Era só uma questão de tempo até que minha caçada terminasse.

- Edward, está na hora de irmos, querido - a voz de Esme estava baixa, e como sempre, ela parecia hesitar entre a vontade de tocar-me e o medo de como eu reagiria aquela investida- os investigadores vão voltar ao trabalho e você precisa descansar.

- Não se preocupe, senhor Cullen. Se sua esposa estiver mesmo desaparecida, nós a encontraremos. – o sotaque espanhol daquele homem sempre me dava nos nervos, então apenas acenei com a cabeça e ignorei deliberadamente sua mão estendida, fazendo meu caminho pra fora daquela espelunca que eles chamavam de delegacia sem nem olhar pra trás.

(...)

- Por deus, diga que fez alguma coisa útil enquanto era obrigado a suportar a incompetência gritante daqueles idiotas, Jenks – praticamente rosnei, enquanto ocupava uma das poltronas em meu escritório, um copo de uísque ao lado e um cigarro preso entre os dedos.

- Nada ainda, Edward. O filho da puta sabe mesmo como cobrir seus rastros: Temos gente vigiando as propriedades dele dia e noite, e monitorando todas as ligações possíveis, mas ao que tudo indica ele e Isabella foram tragados por um buraco pro fundo da Terra. O único erro do homem foi lhe dizer seu nome verdadeiro, Edward.

- Não, não foi um erro – murmurrei, pensativamente. – quando nos conhecemos, Ethan não fazia a menor idéia de que um dia se depararia com Isabella. Aquele lunático não tinha como prever que se encantaria por ela, e acho que mesmo que soubesse, isso não faria diferença: o homem é um maldito exibicionista. Essa merda toda não teria graça á menos que ele não tivesse certeza de que eu acabaria descobrindo seu envolvimento. É tudo um jogo, entende? E é melhor que ele reze quando eu começar a criar minhas próprias regras.

O toque estridente de um celular nos interrompeu, e o cenho de Jason foi ficando cada vez mais tenso conforme ele ouvia as palavras de seu interlocutor. Que porra estava acontecendo agora?

- Edward, um de meus contatos conseguiu localizar o celular de Smith e eu duvido que você consiga adivinhar qual foi o último número que ele discou naquela noite, pouco antes que a celebração de seu casamento começasse.

- Foda-se você e os seus enigmas, estafermo. Um nome, isso é tudo o que eu preciso.

- Carlisle Cullen. Se alguém nesse pais pode nos dizer o que houve, é ele.

(....)

- Partindo do princípio que nós dois sabemos que alguém vai matá-lo essa noite e que você não conseguiria escapar nem mesmo se tentasse, acho que devíamos começar a pensar sobre a logística da coisa, papai- debochei, quando o silêncio no galpão começou a tornar-se sufocante. Não pude evitar uma gargalhada quando Carlisle finalmente reconheceu minha voz e voltou a debater-se inutilmente contra as amarras que o restringiam.

- Está jogando cada vez mais baixo, não é, Edward? – cada palavra parecia exigir um grande esforço, e antes de continuar, ele cuspiu sangue no chão – não que alguém devesse esperar outra coisa da merda de um bastardo, claro. Porra, Deus sabe o quanto lutei pra torná-lo um homem de verdade, mas alguns de nós não conseguem resistir ao apelo do sangue... quem sai aos seus não degenera. Você está fadado á ruína, assim como seu pai. Pode me matar se quiser, não faz diferença. De qualquer forma, já me sinto satisfeito por ter vivido o suficiente pra ajudar a acabar com seu pequeno conto de fadas. – antes que pudesse pensar nas conseqüências, já tinha concentrado todas as forças em meu corpo no golpe que atingiu-lhe o estômago, e continuei socando-o até que o homem estivesse a ponto de desmaiar. Poderia ter continuado sem problemas, mas acontece que já tinha perdido tempo demais com um ser tão insignificante.

- Já ouviu dizer que cachorro que ladra não morde, Cullen? Principalmente quando o cachorro em questão está amordaçado e em processo de domesticação. Eu sinceramente não me importaria de ficar por aqui e ajudá-lo a entender como é que as coisas funcionarão daqui pra frente, mas acontece que tenho mais o que fazer, portanto que tal se formos direto ao ponto? Você pode rosnar o quanto quiser, isso não mudará o fato de que está nas minhas mãos agora.

- A sensação de estar no controle é ótima, não é, Edward? Pena que no seu caso, ela não passa de uma ilusão.  Ethan avisou-me de que algo assim poderia acontecer, mas não pensei que seria tão prazeroso.... e pensar que depois de passar anos se vangloriando por tratar as mulheres como objeto você esteja arriscando tudo em busca de informações do paradeiro de uma vagabunda. Se me trouxe aqui porque acha que vou lhe dizer alguma coisa, devo avisar que perdeu tempo, filho.

- Não estou com um pingo de paciência pros seus malditos joguinhos mentais, Carlisle. Pare de enrolar e me diga em que buraco foi que aquele inglês se escondeu e eu posso até considerar presenteá-lo com uma morte fácil... é melhor que entenda que quanto mais isso demorar, mais você sofre. – os olhos atentos de cada um dos homens que Jenks contratara para aquela ocasião pareciam queimar as minhas costas, mas quando ele se negou a responder, o silêncio que passou a nos cercar tornava-se a cada segundo mais tenso.

- Acha mesmo que Ethan faria o que fez se fosse tão amador quanto você? Isabella é a única pessoa que tem noção de pra onde foi levada, e não é como se ela fosse ter a chance de contar á você...mas, seja lá onde estiverem, aposto como ela está se sentindo bem menos vadia agora que voltou pros braços do verdadeiro marido. E se o Smith for fraco o bastante pra deixá-la escapar viva, tomara que a denuncie por bigamia. Se tiverem sorte, vocês dois até podem acabar em presídios próximos.

Verdadeiro marido.

Verdadeiro marido.

Verdadeiro marido.

Verdadeiro marido.

Por mais que me esforçasse, aquelas palavras se negavam a adquirir sentido em minha mente, e levei muito mais tempo que o comum pra conseguir esboçar uma reação.

- O que é que você pensa que está dizendo? – a parte de meu subconsciente que ainda era capaz de sentir-se ameaçada lutava ferozmente pra fazer-me acreditar que aquilo não passava de uma tentativa desesperada de um homem senil para se manter viva, mas eu estava focado demais em meus instintos pra dar ouvidos á ela. Precisava investigar.

- Ora ora, não me diga que ela conseguiu enganá-lo esse tempo todo! Ah não, Edward. Isso não é justo: se soubesse que essa notícia o pegaria de surpresa, teria pedido alguns minutos a Ethan pra contá-la a você antes que ele recuperasse o que lhe pertence. Se seu pequeno surto durante a recepção do casamento já deu aos convidados matéria para especulação por meses, imagine o que aconteceria se algo assim viesse a tona? Deus, você é muito mais idiota do que eu poderia imaginar.

A risada rouca que ele expeliu depois de pronunciar aquelas palavras foi a gota d’água: pra ser sincero, o plano inicial era divertir-me torturando-o até que ele me dissesse tudo o que precisava saber pra encontrar minha mulher e então entregaria o crápula a policia. Depois de todos os crimes que cometera, meu padrasto teria de apodrecer na cadeia, no mínimo. Mas acontece que ele tinha ido longe demais, e quando dei por mim, meus dedos estavam enrolados feito garras em volta de seu pescoço pálido e meus olhos observavam cada pequena distenção de seus músculos enquanto ele lutava por ar.

- O que acham da idéia de divertirem- se um pouco com papai antes de acabar com ele de uma vez?- perguntei, sabendo que alguns dos homens ali presentes tinham um gosto sexual meio duvidoso, e ouvindo murmúrios de aprovação logo em seguida.- ele está um pouco desconfortável com a idéia, mas sendo quem é, não duvido que até o fim da noite esteja nas nuvens- debochei- mas muito cuidado: não se apaixonem, a putinha aqui tem prazo de validade. Aproveite o inferno, ok? – murmurei, um segundo antes que ele caísse na inconsciência.

Meus passos pareciam ecoar pelo enorme espaço aberto, e soube que Jenks me seguia sem nem ter de olhar pra trás. Estava entrando no Volvo com a intenção de ficar bêbado e dormir um pouco – necessariamente nesta ordem- quando o toque desconhecido de um celular me fez olhar pra trás. Pretendia dizer a Jenks pra acabar com aquele barulho infernal quando percebi que o toque provinha do aparelho caído ao lado de Carlisle, e antes que conseguisse me conter, tinha respondido á ligação

- Carlisle? – a voz desconhecida indagou. Me mantive calado e esperei que o homem continuasse, enquanto Jenks se movia freneticamente ao meu redor, conectando o celular em minhas mãos ao seu próprio numa tentativa de rastrear a ligação – eu sei que me odeia pelo que houve com Esme, mas essa moça não tem nada a ver com nosso passado... Ethan enlouqueceu, vai matá-la!

- Quem é você? Onde está Isabella?- gritei, em desespero, mas era tarde demais, a linha voltara a ficar muda.- E então, conseguiu algo? – perguntei, sem nem ao menos tentar esconder a ansiedade.

- Eu os encontrei. Edward – Jenks, murmurou, algum tempo depois. – Os dias de Ethan Smith estão contados: nós o pegamos.

Um sorriso predatório se abriu em meu rosto ao ouvir as palavras: a caçada estava finalmente  começando.