Mesmo naquela posição incômoda, pude ver Hedge caindo, tentando estancar o sangue que começava a formar uma poça ao seu redor.

"Não devia sair tanto sangue..."  peguei-me pensando. Senti uma mão roçar meu quadril, pegando uma das facas presas a meu cinto. Caí no chão, contendo um gemido de dor, mas feliz em ser solta. Ainda havia restos de uma corda envolvendo meu tornozelo esquerdo. Alguém se aproximou de mim, e encontrei um par de olhos com um familiar tom de verde.

_Caesar... - sem pensar duas vezes, abracei-o com força, sentindo seus braços me envolverem de volta. Aquilo tinha sido pior que o bestante. Quando a criatura correu atrás de mim, eu pude fugir, e quando não podia mais fugir, achei uma caverna para me esconder. Mas quando Hedge estava prestes a cortar minha garganta, eu não tinha como fugir. E aquilo me aterrorizara.

Os dedos de Caesar acariciaram meu rosto e ele se curvou para me beijar. Respondi ao beijo, sem me preocupar com o fato de que o país inteiro estava nos vendo, sem me preocupar com o que poderiam pensar. A única coisa que eu sentia era a mão de Caesar em minha cintura, em minha nuca, o gosto de seus lábios contra os meus, a familiaridade que havia na forma como eu passava meu braço por seu ombro. Eu não queria pensar no que poderia acontecer. Era a única forma que eu tinha de manter minha sanidade.

Separamo-nos, mas a mão de Caesar ainda descansava em meu pescoço, e a minha mão estava sobre o seu ombro. Mas então ouvi um som de engasgo atrás de mim, e percebi que eu não ouvira nenhum canhão.

Olhei para Hedge caído em uma poça de sangue. Muito sangue. Sangue demais.

Estendi a mão para a faca que Hedge deixara cair e deslizei-a por sua garganta. Sangue respingou em meu braço, e a quantidade obscena de vermelho que tingia o chão me deixou nauseada.

_É o veneno. Ele deve causar um quadro grave de hemofilia. O sangue dele simplesmente não coagulou. - disse o lado calculista e prático dentro de mim. A Elyn de verdade ainda estava com nojo, encolhida em algum canto distante na minha mente. O canhão soou.

_Elyn.

Olhei para Caesar, mas ele estava encarando o lado oposto da arena. Segui seu olhar. Havia um brilho laranja suspeito que parecia próximo demais para o meu gosto.

POV Lynette

Minhas panturrilhas protestavam contra a posição em que eu estava, mas se eu me movesse muito, acabaria sendo descoberta. A besta em meus braços estava pronta para atirar. Mirei com cuidado a figura de cabelos negros com mechas prateadas que se encontrava poucos metros abaixo de mim.

Sparkles. Eu me lembrava dele, ele era um cara legal, mas eu não podia pensar naquilo agora. Achei um bom ângulo em sua nuca. Disparei a besta e ouvi quando o som do canhão percorreu a arena. Agora restavam apenas três tributos na arena, pelas minhas contas.

Desci da árvore onde eu havia me escondido e estiquei as pernas, ainda tensas de terem ficado encolhidas esse tempo todo. Quando chegamos na arena, eu escalara uma das árvores mais altas que vi, meu cabelo se enchera de folhas e ramos. Lá de cima, pude ver a cachoeira e dois vultos que, pela cor intensa dos cabelos, percebi que eram Elyn e  Caesar. Depois que desci da árvore, encontrei os Hossel e levei-os até a cachoeira. Eu não era forte suficiente para ficar na arena sozinha, eu precisava de aliados.

Mas então o bestante apareceu. Encolhi-me atrás de uma árvore, ouvindo quando Elyn mandou Sinny me procurar. Segui a Hossel por um tempo. Era uma chance de diminuir o número de tributos na arena. Diminuir a distância que me impedia de voltar para casa.

Quando ouvi passos dos outros tributos tão próximos, tomei uma decisão. Atirei em Sinny, para machucar, não para matar. Saí dali já esperando pelo som do canhão, que nunca chegou. A Hossel devia ter conseguido formar uma aliança com os outros tributos. Procurei pelos outros e acabei achando Elyn e Caesar naquela caverna. Felly tinha morrido. Era ótimo, poderíamos ficar ali enquanto os outros se matavam. Mas agora estávamos no final. Só um poderia sobreviver. E tinha de ser eu.