Uma noite gelada.

Pelo menos já não nevava.

A luz suave da manha espreitava timidamente pela janela.

Ela ergueu os olhos castanhos para o relógio de parede. Ainda era tao cedo... Ou seria tao tarde? Visto que não dormira nada.

Olhou para o seu lado, ele respirava calmamente, muito mais calmo do que o momento em que o encontrara.

Tinha os cabelos louros revoltos de quem adormecera com eles molhados. o belo rosto aristocrático relaxado, como se estivesse a ter um sonho bom. Dos lábios saia uma respiração pausada, quente que lhe tocava o ombro. Ela hesita, passa os dedos no rosto dele.

Tão belo.

Tão frio.

Tanto ódio.

Tanta raiva.

Tanto desprezo.

Tantos anos que passara sem o ver.

Tanta coisa passara.

A família dele desaparecera de cena. O nome caíra em desgraça. Ate perseguidos foram. Pai dele acabou em Azkaban. Mãe cometera suicido na luxuosa sala da Malfoy Manor.

Ele foi poupado pelo ministerio.

Com a desculpa de que era muito novo...

De que fora mal influenciado...

 - Mais valia terem-no matado... - comentou Harry depois da noite em que Draco dera com Narcissa Malfoy morta.  - Nunca vi o Malfoy perder o controlo... foi horrivel.

Fora o primeiro Auror a chegar a cena morbida de suicidio, seria dificil de a apagar da memoria. Aquela bela e altiva mulher pendurada pelo pescoço com um ar de loucura ainda espelhada nos olhos abertos. Draco soluçava agarrado aos pés descalços da mãe e recusara-se a largar o corpo ate Harry o acalmar com um feitiço.

Hermione nao esquecera aquelas palavras.

A verdade pouca gente sabia.

Narcissa Malfoy amava-o muito.

Hermione vira com os proprios olhos, ambos os pais procurarem-no na guerra final, parecendo alheios a tudo.  Ansiando simplesmente que o filho estivesse vivo. Quando o encontraram simplesmente o abraçaram. Mal se importaram com morte do seu Mestre das Trevas.

Lord Voldemort destruia tudo o que tocava. Por vingança, tornara Draco um Devorador da Morte,

 ridicularizou Lucius por um unico erro... Mas teve o que merecia. Lucius merecia Azkaban.

Narcissa não merecia uma morte daquelas.

Quem sofrera mais?

Draco. Com toda a certeza.

Apesar de nao o admitir.

Hoje era um homem, um belo homem.

Alguem que parecera desistir de viver.

Porque seria?...

Nome amaldiçoado.

Fortuna confiscada pelo Ministerio.

Emprego impossivel de arranjar... 

- Como é que voce se chama mesmo? Malfoy? - e nunca mais lhe davam resposta.

Ele era orgulhoso. Demasiado, sempre o fora.

Nao queria ajudas ou pena.

Simplesmente parecia queria esquecer a dor de perder quem ama. Deveria querer uma vida normal, provavelmente ja nem pedia o seu estilo de vida antigo. Mas claramente afundava-se na desgraça.

Ela queria compreende-lo.

Ele de certeza não a ia deixar entrar no seu mundo.

Afinal era uma Sangue de Lama... Não tinha estatuto, era reles, não importava.

Mas era na cama dela que se encontrava naquele momento.

Ela suspirou, ao que chegara! Nao que tivesse acontecido algo, muito pelo contrario! Encontrou-o na rua quando vinha do trabalho e viu o que lhe tinham contado e que não tinha acreditado.

**

Nevava intensamente.

Encontrou-o descontrolado, podre de bebado. Molhado, gelado pela neve.

 - Granger... - murmurou quando a viu.  - vieste rir na minha cara?  - quase rosnou furioso. Ela não repondeu. Nem sabia porque se aproximara.

Vira o barman mete-lo na rua. Ouvio Malfoy praguejar contra o homem, desequibrar-se e cair na neve. Demorou a levantar-se, ela simplesmente foi-se aproximando.

- Não me estou a rir... - murmurou ela estendendo a mão. Ele fitou-a com desdem. Cheirava intensamente a alcool. Levantou-se sem ajuda. Quase cedendo nas pernas. Encostou-se a parede. Fechou os olhos suspirou. E de repente virou-se, vomitou. Ela virou o rosto enjoada. Quando parou, ela fitou-o.

 - Tu não estas em condições... – começou.

 - Nunca tive.... – interrompeu ele.

 - Queres ajuda para te desmaterializares?

 - Não preciso da tua ajuda para nada... -  disse num tom de voz sumido mas cheio de desdem. Não largou a parede. Ia escorregando, cedendo. Ela hesitou. Aproximou-se torcendo o nariz do cheiro que ele tinha de momento. Tocou-lhe no braço, ele desviou-lhe a mão fazendo um ruido frustrado. Mas subitamente perdeu consciencia.

- Boa... mesmo o que precisava. Um Malfoy desmaiado a meus pes... - olhou  para ele, estava mais palido que o normal. tinha os labios quase azuis o frio. Hermione hesitou. 

- Deixo-te morrer aqui na neve no teu vomitado?... ou levo-te para a tua casa?... -  e lembrou-se que a  Malfoy Manor  ja não lhe pertencia. Hesitou. Não fazia ideia de onde ele morava.

- Oh bem... que se lixe... - agarrou-lhe  no braço e desapareceu para o seu apartamento. Arrastou-o para a casa de banho ele tinha mais ums vinte centimetros que ela, o que tornou a tarefa dificil. Meteu-o na banheira. Olhou para o homem inerte. Ligou o chuveiro na agua quente. Meteu-lhe no rosto. ele acordou assustado, engasgando-se com a agua. O que lhe deu um prazer intimo.

 - Despe-te... lava-te... - ordenou ela e saiu da casa de banho.

Passado meia hora bateu a porta. Não obteve resposta. assustou-se. Entrou encontrou-o agarrado a sanita, meio inconsciente. Enrolado pela toalha. Estava gelado. Ajudou a ergue-lo. Vestiu-lhe uns calções velhos que Ron esquecera na sua casa. Ele murmuava qualquer coisa do tipo:

- Não preciso de ajuda... metes-me noj... - meteu-o na cama. Tremia tanto. Ele agarrou-lhe a manga com força. Hermione hesitou mas sentou-se ao lado dele que se aproximou do calor corporal dela. Deixou-se estar, tapou-se, tapou-o aconchegando-o. Ele caiu num sono cansado.

**

Observou-o.

A respiração dele estava agora muito calma. Emanava tanta tranquilidade, agora que estava numa temperatura normal... Ele virou-se, destapando uma parte do peito e o braço esquerdo. Estava muito magro, via-se cada costela, chamou-lhe á atençao a tatuagem maldita no antebraço, defocada, esbatida, quase sem cor, restos de um passado obscuro.

Mesmo assim, tinha um corpo lindo. Pele palida, de mbros muito largos, cintura fina e deveria ter atingido pelo menos um metro e noventa, o que era curioso, pois nunca o dera como muito alto, antes só o via acompanhado por Crabbe e Goyle os seus antigos “Guarda-costas” que eram entroncados e altos.

Draco estava muito longe do adolescente irritante que conhecera em Hogwarts. Tao diferente de Ron... que tinha uma pele clara cheia de pequenas sardas...

A pele de Draco era desprovida de qualquer tipo de sinais, so umas cicatrizes nos ombros...

O cabelo...

Ron tinha o cabelo flamejante.. e o Drac...

Que raio e que estas a pensar Hermione??!

A luz na rua estava mais clara, ja era manha. Hermione estava cheia de sono. A cabeça pendia e os olhos ia-se fechando. Felizmente era fim de semana, não ia trabalhar...

Sentiu Draco mover-se, ela olhou para ele, que levantou a cabeça. Abriu os fantasticos olhos cinzentos metalicos. Demorou a foca-los ate se aperceber quem era a pessoa que o fitava.

O meio sorriso dele desfez-se deu um salto com tal velocidade que vacilou, tonto.

 - GRANGER!!! Que merda e esta? - levantou-se e reparando que so tinha uns calções vestidos exclamou  - Foda-se despiste-me?!