Capítulo 9

                Alice e Fernanda entraram no pequeno apartamento em silêncio. Kurt estava deitado no sofá, dormindo. A TV estava ligada.

                - Acorde ele e o leve para o quarto. – disse Fernanda, desligando o aparelho.

                A morena se dirigiu a cozinha bebeu um copo com água e foi ao banheiro, precisava relaxar, um banho quente seria ideal.

                Enquanto isso, Alice acordava Kurt.

                - Kurt... – ela chamou baixinho. – Kurt acorda...

                - Hã? – ele murmurou sonolento. – Alice, que horas são? Vocês demoraram. Você está fedendo a álcool.

                - É... Eu sei... Enfim, levante. Vamos. – disse ela.

                O garoto se levantou e cambaleou até o quarto, quase caindo de sono. No quarto de Fernanda havia um beliche. Ela iria dormir em cima, Kurt e Alice em baixo.

                - Não vai me dizer o que aconteceu? Seu batom está todo borrado. – disse o loiro, sentando-se na cama e esfregando os olhos.

                - Não aconteceu nada. Você está morrendo de sono, vá dormir. – ela disse, mudando de assunto.

                - Acha mesmo consegue mentir para mim? – ele a olhava nos olhos. Ela nada respondeu. Fitou o chão, envergonhada. O quarto, que era uma suíte, ficou em silêncio até que Fernanda saísse do banheiro. Ela vestia um pijama rosa, cabelos presos em um coque.

                - Aconteceu alguma coisa aqui? – a menina perguntou se dirigindo a escada do beliche.

                - Nada aconteceu. Talvez esse seja o problema. – Kurt disse, deitando-se na cama e abrindo o cobertor. Havia mágoa em sua voz. Alice nunca omitia nada a ele.

                A ruiva continuou calada, abriu sua mochila e tirou roupas limpas de lá. Entrou no banheiro e fechou a porta, encostou a cabeça na mesma sentindo as lágrimas rolarem em seu rosto. Ligou a torneira da banheira e começou a despir-se. Quando a água estava no nível ideal, fechou a torneira. Entrou na banheira e sentou-se, abraçando os próprios joelhos. Chorava baixinho.

                Alice sabia que ela e Kurt não estavam em nenhum relacionamento oficialmente sério, mas sabia que se contasse o que havia acontecido com Axl e o que quase havia acontecendo, ele iria ficar magoado. Era como se tivesse o traído.

                “Não vou contar” – pensou consigo mesma. – “Prefiro que ele fique magoado por não saber de nada... Uma hora vai passar”.

                 Permaneceu mais alguns minutos relaxando depois saiu da banheira, se enxugou, vestiu um baby-doll azul bebê e saiu do banheiro. O quarto estava no mesmo silêncio. Kurt e Fernanda pareciam estar dormindo. Ela caminhou devagar até o beliche e deitou-se ao lado do amigo, de costas para ele. Assim que sentiu Alice se deitar ao seu lado, o loiro a cobriu com parte do cobertor que usava.

                A menina virou-se, ficando frente a frente para Kurt. Assim que fez isso, ele a olhou fundo nos olhos. Ela se perdeu no azul dos olhos dele.

                - Estava chorando.  – ele disse. Ela ficou calada, ainda olhando para ele. O loiro levou uma das mãos até o rosto da amiga. Enxugando levemente as lágrimas que ainda teimavam a cair.  

                - Não chore. – ele beijou a testa de Alice, enquanto enrolada o dedo em uma mecha do sedoso cabelo dela.

                - Kurt... – disse ela, com uma voz chorosa.

                - Diga. – ele respondeu.

                - Promete que nunca vai me abandonar, não importa as besteiras que eu fizer? – ela se segurava para não cair em lágrimas novamente.

                Kurt ficou alguns instantes em silêncio, apenas encarando-a. Não sabia o que ela queria dizer com isso, também não estava certo se queria mesmo saber.

                - Eu nunca vou te abandonar Ali. – ele disse.

                - Então promete? – ela voltou a perguntar.

                - Prometo.

                Alice o abraçou, e assim ambos adormeceram.

***

Duff e os outros caras do Guns  ainda estava no bar. Conversavam animadamente, com exceção de Axl, que estava pensativo, não falou praticamente nada desde que se sentou ali.

- Axl? – Duff o chamou de repente.

- Diz... – ele respondeu ainda pensativo, olhando para o nada.

- Aconteceu alguma coisa? – o loiro perguntou.

- Não aconteceu nada, Duff. Eu acho que vou indo, estou cansado. – disse Axl se levantando, jogou algumas cédulas na mesa e saiu acendendo um cigarro.

                - O que você acha que ele tem? – perguntou Slash

                - Não sei, mas tenho um palpite. – disse Duff observando o ruivo sair.

***

                Na manhã seguinte, Alice acordou com uma dor de cabeça terrível. Naturalmente,  depois de todas que bebeu. Quando a menina abriu os olhos Kurt não estava mais do seu lado. Sentou na cama, espreguiçou-se e levantou. Fernanda também não estava lá.

                Saiu do quarto, não havia ninguém na sala. Na cozinha, apenas um café da manhã pronto na mesa. Junto deste, um bilhete:

                “Bom dia, Ali!  

Espero que tenha dormido bem. Fizemos um café da manhã para você. Se a dor de cabeça persistir, tem uns comprimidos na caixinha em cima da geladeira. Voltamos mais tarde. Descanse.

Beijos!

Fernanda”

Alice comeu lentamente, a sensação é que podia vomitar tudo a qualquer momento. “Lembrar que nunca mais beber daquele jeito”, ela pensou consigo mesma.

***

Enquanto isso, Fernanda e Kurt estavam na loja de discos. Lá conseguiram um emprego para ele.  Iria fazer a mesma coisa que a morena: tudo. Coisas tipo limpar o chão, arrumar os produtos e etc. Antes ela fazia isso tudo sozinha.

- Fernanda, aconteceu alguma coisa com Alice ontem a noite? – perguntou ele enquanto arrumava alguns discos.

- Se aconteceu, ela não me disse nada.

- Hum... – ele murmurou.

- Por quê? – perguntou ela.

- Ela estava estranha, você não notou?

- Bem... Notei. Mesmo que tenha acontecido algo ela não vai me dizer, mas sei quem pode fazê-lo. 

- Quem? – perguntou Kurt intrigado.

- W. Axl Rose.

- O que? – o menino parou o que fazia.

- Ela saiu para não sei onde com ele ontem. Passaram horas sumidos. – explicou Fernanda.

- Ela não me contou nada sobre ninguém. – Kurt disse, voltando a arrumar os discos.

- Relaxa. Vou falar com ela depois. Ali é muito boba para sair com cara como o Axl. – Fernanda deu uma risadinha. – Ela tem que tomar cuidado. Pode parecer clichê, mas ele é totalmente capaz de mostrar a ela o caminho errado... Depois abandona-la lá. – a morena voltou a ficar séria.

- Já disse isso a ela? – perguntou Kurt, visivelmente preocupado.

- Ainda não...

***

Alice estava sentada no sofá assistindo TV, quando ouviu a campainha tocar. Levantou-se e foi até a porta, olhou pelo olho mágico e ficou surpresa.

- Axl? – disse quando abriu a porta.

- Er... Oi, Alice. –disse o rapaz com um sorriso.

- Oi... O que você está fazendo aqui? Sem querer ser antipática... – ela deu um meio sorriso.

- Bem, primeiro vim pedir desculpas por ontem. Segundo, queria te chamar para sair comigo hoje à noite. – ele disse.

- Eu... Olha... É que... – ela não tinha palavras.

- Veja esse convite junto como um segundo pedido de desculpas.

- Ah... Tudo bem. – ela sorriu e fitou o chão, sem graça.

- Ótimo, te pego as nove – ele sorriu.

- Ok. Então... Até mais – ela acenou.

- Até. – ele acenou de volta e se dirigiu as escadas.

Alice fechou a porta sem acreditar no que havia acabado de acontecer. Voltou para o sofá. Alguns minutos depois, ouviu um barulho na fechadura da porta. A mesma se abriu e Fernanda entrou.

- Oi! – ela disse com o mesmo sorriso simpático de sempre.

- Oi! – Ali sorriu. – Onde está o Kurt?

- Está na loja, ele vem mais tarde.  – a morena respondeu fechando a porta e se dirigindo ao sofá.

- Na loja?

- Consegui um emprego para ele lá, me ajudando.

- Ah! Entendi... Eu preciso procurar um emprego inclusive... – ela disse olhando para Fernanda.

- Tentei de colocar lá também, mas a loja é pequena. Meu chefe não viu necessidade em três funcionários. Mas, passamos por um Café e eles estão precisando de garçonete. Anotei o endereço. – ela disse tirando um pedaço de papel do bolso. – Não fica longe daqui.

- Obrigada F. – Alice sorriu, pegando o papel e abrindo. – Vou lá hoje a tarde.

- Certo! – a amiga sorriu de volta. – Ah, Alice. Quando eu chegar da loja, no final da tarde, preciso falar com você. – o sorriso sumiu de seus lábios.

- Falar o que? – a ruiva perguntou confusa.