Capítulo 2

“Se o "felizes para sempre" existisse

Eu ainda estaria segurando você assim

E todos esses contos de fadas são cheios de besteiras

Mais uma maldita canção de amor e estarei de saco cheio”

(Maroon 5 - Payphone)

POV: Renesmee

Tinha um menino falando comigo, estranho. Porque ele era o moreno que estava lá na frente e isso, ele ta falando comigo, não era normal, a não ser que ele quisesse rir de mim, como todos.

E, ele disse “Oi”, mais eu não respondi, ele poderia começar a rir da minha voz, ou de qualquer coisa que fosse, e o estranho, é que eu sentia que me magoaria se isso acontecesse. Posso ignorar quando as pessoas ficam rindo de mim ou me esnobando, mas a verdade é que no fundo aquilo tudo me machuca.

- Qual é o seu nome? – Ele tentou puxar conversa, mais eu não respondi, só olhei para seu rosto bonito e corei. – Hm, não gosta de falar é? – Eu olhei para seus olhos negros e não respondi. – Certo, meu nome e Jacob. – E sorriu.

- Renesmee. – Falei baixo assim que vi seu sorriso.

- Nome legal. - Disse, e ficou olhando para o céu azulado.

Ele não riu de mim, não implicou comigo, apenas perguntou por perguntar e ficou olhando o céu. Diferente esse garoto, definitivamente... Encantador.

Senti minhas bochechas ficando vermelhas e ele também, que me olhou e sorriu.

- O que foi? – Perguntou me deixando nervosa.

- Nada ué. – Abaixei minha cabeça olhando meus pés.

Jacob riu baixinho e voltou sua atenção para o que ele olhava antes. Continuei com a cabeça abaixada porque minhas bochechas ainda continuavam vermelhas. Como eu daria tudo para não ser eu mesma nesse momento.

- O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte. – citou ele.

- Charles Chaplin – murmurei com um pequeno sorriso.

- Sim – concordou – Toda vez que olho o céu essa citação de alguma forma vem a minha cabeça. Um lugar infinito e com tantos mistérios, mas que observa todo o mundo de forma plena e calma, nos trazendo luz e desejo de liberdade. É algo estranho às vezes, mas afinal quem nunca se questionou sobre as belezas do mundo?

Jacob não me questionava e de certa forma parecia entender minha forma silenciosa de ser. Arisquei olhá-lo mais uma vez. Como um rapaz tão bonito como ele perdia seu tempo comigo? E ainda mais me fazer corar desse jeito? Nem percebi que ele me encarava e que eu muito menos sorria de lado assim como ele.

Corei por ter sido pega e ele sorriu mais ainda. Porque eu tinha que corar o tempo todo? Um buraco para que eu me escondesse seria bom nesse exato momento.

Respirando fundo, decido que não vou dar mais ouvidos a nada que ele venha dizer. Não estou em busca de amigo ou qualquer coisa que ele queira me oferecer. Sem contar que se Megan o visse aqui, falando comigo, minha vida viraria um inferno pior do que já é – e a quem eu estou querendo enganar, não preciso disso.

Mesmo assim, não deixo de perceber que de certa forma ele parece gostar do meu jeito, e mesmo não querendo, isso me enche de algo que eu não posso explicar em palavras.

Volto a encarar o céu pensando nas palavras ditas por ele a momentos atrás.

POV: Jacob

Ela sem dúvida era encantadora em todos os aspectos. Linda, tímida e até o modo como fica corada é adorável.

Renesmee parecia uma garota perdida no meio de tanta gente obviamente diferente de si. Não era por menos que evitava falar com aquelas pessoas, que certamente, nunca iriam entender seu jeito de ser e suas bochechas coradas. Já tinha conhecido outras garotas assim, garotas essas cujo os pais não as davam cartão de credito sem limite quando aprendiam falar.

Decidi naquele instante que queria ficar próximo dela. Não me importava muito com a minha vida social sendo jogada no lixo, já que de certa forma, ela não era lá grandes coisas.

Eu era apenas o pobre menino rico, exilado da chatice da cidade grande, e afinal de contas, assim eu poderia me sentir em casa, de volta a reserva.

- Você... É novo certo? – Escutei ela falando comigo e virei meu rosto surpreso.

- Sim. – Respondi fazendo um movimento afirmativo com a cabeça. – Acabo de voltar de Washington, pra ser mais exato. Minha mãe estava passando um tempo por lá, na reserva de onde ela é descendente.

- Ata. – Ela balança a cabeça em sinal de compreensão.

- O que seus pais fazem?

- Meu pai é advogado e a minha mãe tem uma marca de roupas intimas femininas. E os seus?

- Meu pai é cineasta e a minha mãe é escritora.

- Ah... certo. – Ela disse meio sem jeito.

- Então, como as coisas funcionam aqui? – Dei uma risada meio contida. – Não é como aqueles filmes adolescentes onde tem a abelha rainha, menosprezando os outros e tudo mais.

- Pra ser sincera, isso aqui é desse jeito mesmo que você acabou de descrever.  – Ela colocou um punhado do cabelo atrás da orelha. – E sinto que a “abelha rainha” não vai gostar nada de vê-lo aqui.

- Porque não? – Perguntei intrigado.

As bochechas dela que a pouco já haviam voltado ao seu tom levemente pálido, começaram a ficar coradas de novo.

- Digamos que eu não sou uma pessoa que ela aprove.

- E porque ela não aprovaria? – Pergunto intrigado, e olho em seus olhos. – Você é bonita e do mesmo nível social que ela, não há o que desaprovar.

- Ah... Obrigada. – Seu rosto ficou mais vermelho ainda e ela morde o lábio inferior.

- Não há do que agradecer Nessie. – Disse dando um apelido a ela e sorrindo.

- Do que me chamou?

- Nessie... Desculpe, é só que seu nome é meio complicado, achei que um apelido não faria mal. – Bati de leve meus ombros no dela. – Afinal, seremos amigos daqui pra frente certo?

- Seremos? – Disse em duvida.

- Sim. – Volto a olhar para o céu. – Sabe, antes eu não queria voltar para Los Angels porque achava que não fosse encontrar pessoas normais, que dessem para conversar. – Olho de relance para ela e vejo que está me encarando. – Ainda bem que encontrei você, caso contrario iria enlouquecer com todas essas pessoas medindo o nível social e supondo quanto à conta bancaria dos meus pais tem.

- Megan não disse nada sobre você não falar comigo? – Ela perguntou meio intrigada.

- Para ser bem sincero disse.

- Jacob, certo? – Eu fiz que sim com a cabeça. – Você deveria seguir o que ela diz, eu não sou boa companhia.

- Até agora está sendo bem agradável.

- Não, eu quero dizer... Não gosto de ficar batendo papo com as pessoas.

- Mas isso é o que nós estamos fazendo. – Interrompo-a rindo.

- Eu sei, mas... Eu não gosto, tudo bem? – Ela respira pesadamente. – Você não vai conseguir muitos amigos andando comigo... E você acabou de chegar, e eu acredito que não vai querer ficar só.

- Nessie. – Falo seu mais novo apelido com calma, vendo ela estremecer. – A gente vai se dar bem.

- Hey Jake. – Viro meu rosto e vejo Megan com o rosto vermelho, aparentemente de irritação, querendo a minha atenção. – O que você está fazendo ai? – Pergunta e em sua voz percebo o alerta.

Dou de ombros sentindo os olhos de Nessie em mim, que ao perceber que estou esperando que ela diga algo ou faça algo, da de ombros.

- Estava conversando. – Me levanto. – Mas já to indo pegar meu horário.

- Eu te acompanho. – Ela praticamente canta em cima de mim.

- Não precisa, já aprendi o caminho. – Dou um corte e sigo o caminho que a pouco ela tinha me levado.

Sinto que esses anos que vou passar nessa escola será turbulento, e que mesmo que eu não queria me envolver com aquelas pessoas, será algo inevitável. Solto um suspiro e dou uma breve olhada para trás. Ao longe, Nessie está me olhando, enquanto Megan a ameaça de forma deliberada.

Continuo a seguir o meu caminho, com a ideia fixa de que aquela agora – a minha mais nova amiga Nessie – terá que aprender comigo a não levar desaforos para casa e dar um basta naquela tal de Megan.

Ela pode não ter me dado tantas informações de quem é ou de como é, mas em seus olhos meigos e distantes, há uma marca que não pode ser deixada de lado, a marca de quem já sofreu e de que não precisa de uma adolescente birrenta em seu encalço.

(...)

POV: Renesmee

Sabia que aquele garoto iria me arrumar problemas, mesmo que Megan na real fosse um grande problema antigo.

Eu conhecia ela desde antes da minha vida desmoronar, e naquela época, eu era um pouco mais sociável e digamos, popular. Tudo bem que ser popular aos 9 anos de idade não é lá um grande fato, mas eu era.

Megan para ser bem sincera, nunca gostou muito de mim. Eu sabia que por cima daquela banca toda dela, que sua família a cada ano vinha falindo mais e mais, e mesmo que meu pai não tocasse no assunto em casa – já que ele é um homem totalmente profissional – o pai de Megan havia aparecido por lá há algum tempo, pedindo ajuda.

Meu pai, estando mais frio do que há alguns anos atrás, disse que sem pagamento não haveria como ajudar. Ele já tinha quebrado um grande galho para a família dela há alguns anos atrás, e pelo o que eu soube, eles agora vivem da pequena herança que a mãe de seu pai tinha deixado. Era lastimável que alguém a ponto de ir a falência tratasse as outras pessoas com tamanha falta de respeito.

Não sou mesquinha e realmente nunca fiquei jogando na cara das pessoas o quanto a minha família era afortunada. Ela era de fato muito rica, e isso vinha a varias gerações. E certamente se eu fosse outra pessoa, já teria acabado com a graça de Megan há muito tempo, mas, esse tipo de atitude não fazia muito o meu estilo.

O sinal finalmente tocou e eu me levanto para caminhar até a minha aula de artes, minha aula favorita. Ando pelos imensos corredores da escola sem me importar que as amigas de Megan me olhem com nojo.

Entro na sala da Sra.Caramelo e sento-me em minha cadeira onde apenas eu ocupo. Dou um suspiro aliviado por não ter que dividir com ninguém aquele lugar – principalmente com alguém insuportável.

- Bom dia queridos. – A Sra.Caramelo diz sorrindo para todos nós. Ela sempre é assim, calorosa conosco, mesmo que já tenha seus cinquenta e poucos anos.

- Bom dia Sra.Caramelo. – A turma responde.

- Bom, bom. – Ela cantarola andando de um lado para o outro, sempre agitada. – Hoje teremos um trabalho em dupla. – Ela diz feliz. – É claro que é um trabalho grande que vai valer para metade do bimestre. – Ela continua e vai até o quadro rapidamente. – Eu quero que vocês criem um cartaz grande com sua dupla, onde tenha desenhos feitos por vocês, de como é a vida que vocês vivem como é o ambiente em que você mora, as pessoas ao seu redor. – Escuto meus colegas de classe reclamar. – Quero que vocês entrem em um acordo com seus parceiros para que fique algo harmônico. Darei duas semanas para que me entreguem... – Sua voz é cortada quando escutamos alguém batendo na porta e enfiando a cabeça dentro da sala.

- Desculpe-me... – Jacob diz começando a se desculpar.

- Tudo bem meu rapaz, sei que é aluno novo. – Ela diz ainda no seu ritmo sorridente, fazendo sinal para que ele entre na sala. – Turma, esse é Jacob Black. – Aponta para ele que está ao seu lado. – Pode sentar-se ali, ao lado da nossa adorável Renesmee Cullen. – Ela pisca de um olho só para mim como se estivesse me fazendo um favor.

Jacob da um imenso sorriso ao ver que vai ser meu parceiro, e eu sinto meu rosto corar. Nada contra ele, mas isso era algum tipo de carma?

- Voltando, voltando. – Ela diz e volta a explicar sobre o trabalho.

Anoto tudo em meu caderno, enquanto sinto os braços de Jacob encostando-se ao meu. Meu corpo naturalmente fica contraído com o contato, mas ele não parece perceber.

- Disse que seriamos amigos. – Ele sussurra em meu ouvido.

- Que coisa não? – Resmungo e volto a escrever.

Ele da uma risadinha baixa, e começa a anotar tudo também.

Reviro meus olhos ao escutar o burburinho que se segue nas carteiras logo atrás da nossa que fica na primeira fileira. Definitivamente, era algum tipo de carma.

(...)