Eu estava sentada no banco daquela praça, pensando na minha vida, quando ouvi um barulho ao meu lado. Continuei na mesma posição que estava até o ser ao meu lado se pronunciar.

— Oi.

Levantei a cabeça. Olhos castanhos, cabelos negros e despenteados, óculos e sorriso no rosto. Eu conhecia aquele rosto. Aquele estilo.

— Olá.

Eu disse, fria. Não queria me aproximar dele, ainda mais com essa sensação. Ele não era diferente, era só outro entre tantos.

— Sou James Potter.

Ele estendeu a mão. Eu não podia baixar a guarda, ou poderia parecer gentil. Eu não queria parecer sociável, muito menos gentil. Mas quando ele me disse seu nome, eu sabia que conhecia. O surto de memória na minha cabeça foi impossível de diferenciar. Era alguém importante. Pelo menos, era importante para mim. Ou já fora um dia.

— Prazer.

Seu rosto se contorceu em confusão, e eu quase dei risada. Era ridículo.

— Não vai me dizer seu nome?

Olhei para ele, fria novamente. Ele achava mesmo que era só chegar aqui, iniciar uma conversa e eu já ia abaixar a guarda e dizer meu nome? Não. Resolvi provocar.

— Deveria?

Ele se indignou e disse, praticamente berrando:

— Claro!

Dei de ombros. Eu não queria papo. Queria que ele fosse embora e que áquea sensação sumisse.

— Sou Lily.

Eu disse, me rendendo. Ele ficou com uma expressão confusa. Não era só eu que conhecia ele então? Interessante. Isso me rendia apenas mais dor de cabeça. Odeio isso. No fim, ele desistiu e sorriu.

— Nome bonito - Sorri involuntariamente.

— Obrigada.

Ele fez uma cara de espanto.

— Oh! Ela tem educação!

Eu quase revirei os olhos. Quase. Porém, apenas dei risada.

— É, acho que tenho – respondi.

— Por que está aqui?

Eu não queria contar. Mas senti que talvez pudesse confiar nele. No fim, disse:

— Eu... Sai de casa.

— Por que?

Quase respondi: “Não é da sua conta!”, mas ele parecia preocupado.

— Desentendimentos. Com meus pais e minha irmã.

— Hm.

Ele parecia saber de algo. E eu queria saber o que era. Ele me olhou com pena, e aquilo me deixou irritada.

— Não devia se importar.

Ele estava ganhando pontos comigo. Porém, quando me olhou com pena, eu fiquei irritada. Muito irritada. Eu não queria ninguém tendo pena de mim. Eu sabia ser forte, sabia me virar sozinha. Olhei para ele, irônica.

— Não me importo. Acho bom você ir embora. Não quero você aqui.

— Tudo bem.

Ele disse, triste. E então, eu sabia quem era aquele garoto. “Tudo bem”. Ele não lembrava. Eu lembrava. E aquilo machucava. Eu não queria saber quem ele era. Queria que ele sumisse do mundo. Pra sempre.

— Boa sorte na vida – Ele me disse.

— Vou ter.

Respondi, fria. Ouvi-o murmurar “Até logo Lily”, mas ignorei. Voltei a apoiar minha cabeça nas mãos e comecei a chorar baixo. Por que, de tantas pessoas no mundo, tinha que ser justo ele a aparecer aqui?

“A gente podia namorar Lily. Ia ser bonitinho. Mamãe disse que a gente fica bonitinho juntos!” “Não Jay. Eu não vou namorar, sou muito nova”.
“Tudo bem”.