Fantasiverden escrita por Lirium-chan


Capítulo 3
Venn


Notas iniciais do capítulo

Não. Me. Matem!
Eu tentei! Mas só consegui fazer metade semana passada e teve mais trabalho e... Vocês não querem saber disso -Q
Ahem, então. Eu tentei fazer este capítulo o melhor possível, mas não sei se ficou como deveria.
De qualquer forma. Mil desculpas pela demora!
O nome do capítulo é "Venn" que significa "Amigo" em norueguês.
Boa leitura~~



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Mathias empurrou a porta da floricultura com animação desnecessária, fazendo um barulho estrondoso com a força empenhada para tal. Correu os olhos pelo interior da loja. Havia o caixa, um grande balcão de madeira que tinha uma velha máquina registradora em cima. Havia prateleiras para todos os lados, cobertas de vasos com flores assim como todo o resto do estabelecimento. Era bem limpo e iluminado, trazendo um ar familiar para qualquer um que entrasse ali. Retirou o enorme casaco que vestia, pendurando no guarda-pó ao lado da porta.

Hej!

Cumprimentou, levantando a mão direito distraidamente e sorrindo. Lukas não se incomodou em olhá-lo aquela altura, parecia concentrado em regar algumas flores num canto da loja.

Hei.

O Dinamarquês franziu o cenho, olhando para as costas do outro como se ele houvesse acabado de fazer algo muito errado.

– Você está enganado, Lukas – e balançou a cabeça como quem procura ensinar modos para uma criança muito mal-educada – Eu lhe cumprimentei em dinamarquês, logo, você precisa me responder em dinamarquês!

O menor deixou o regador de lado, se virando para o outro e fitando os olhos azuis eletrizantes do mesmo. Era incrível como conseguia incomodá-lo com menos de uma fala.

– Claro! – e cruzou os braços nesse momento – Erro meu. Por que você não entra mais uma vez e começamos de novo?

Mathias sorriu brilhantemente, concordando com a ideia. Andou alegremente até a saída sendo seguido pelo olhar do menor. Lukas retirou uma chave do bolso, girando-a em duas voltas na fechadura e trancando a porta para o seu enorme deleite. O outro loiro tentou forçar a própria entrada novamente e, não tendo sucesso, passou a empurrar a maçaneta com toda sua força.

Tino e Berwald permaneceram admirando a cena por alguns segundos. Talvez quisessem entender porque o novo funcionário tentava derrubar a porta tão violentamente. O finlandês olhou para o maior, constatando que ele ainda tinha aquele olhar frio e amedrontador no rosto, fazendo parecer com que a cena o irritasse profundamente. Deu algumas leves tossidas, esperando chamar a atenção do dinamarquês – que, naquela altura, estava esmurrando a porta sem piedade.

– Err... Eu acredito que a porta esteja trancada.

Tino pendeu a cabeça por lado, como se ainda estivesse um pouco incerto do que dizer naquele momento. Mathias fitou a porta longamente.

– Ahhh... Claro que está trancada! – suas mãos ainda estavam na maçaneta – Eu sabia! Eu sabia! Só estava... Testando ela!

Ele bateu mais uma vez nela com a mão direita, como quem afirma que a porta está funcionando bem.

– Hm. Vou abrir.

Berwald declarou em sua voz grave, retirando um molho de chaves do bolso e começando a procurar a da floricultura.

– É estranho. – comentou Tino, esfregando as mãos nervosamente – Geralmente o Lukas chega aqui bem cedo, antes de nós, e começa a regar as flores em adiantamento. Não era para a porta estar trancada.

– Ah! Mas ele já está lá dentro!

Ele sorriu, apontando para o vidro embaçado pela neve. Podia-se distinguir, não muito claramente, o vulto do norueguês que regava flores serenamente, tal como disse o finlandês e como estava antes da abrupta chegada do dinamarquês. O de olhos violetas exclamou um “Ah” compreensivo, imaginando o ser extraordinário que o homem na sua frente era, já que conseguia fazer o inabalável Lukas perder a calma em um piscar de olhos.

– Não deveriam deixa-lo entrar. – resmungou quando Berwald finalmente abrira a porta – Seria muito mais agradável se ele congelasse até a morte aí fora.

– Não se preocupe, Lukas. Eu posso estar sem meu casaco, mas não vou morrer de frio tão facilmente! – Ele riu, dando tapinhas leves no ombro do norueguês antes de entrar.

– Infelizmente. – Murmurou, depois voltando sua atenção ao Finlandês – Pensei que fossem ao mercado de peixes, Tino.

– Estávamos indo para lá. Mas viemos checar se tudo estava bem por aqui e acabamos por encontrar o Senhor Køhler gritando com a porta.

Tino justificou-se, abrindo um sorriso ameno.

– Entendo. Vocês acham que retornam antes do almoço?

– Por quê?

A voz do sueco cortou o ar, fazendo com que o pequeno ao seu lado estremecesse.

– Eu pretendo sair no intervalo para o almoço. E, sinceramente, tenho medo de deixar essa lástima cuidando da loja.

Lukas olhou de esguelha para Mathias, que se contorcia pateticamente na vã tentativa de vestir o avental. Ele só podia estar fazendo aquilo de propósito.

– Eu tenho certeza de que ele vai se sair muito bem. – O finlandês sorriu meio torto – Vamos demorar, mas não vejo grandes motivos para não deixar que ele cuide da floricultura enquanto saímos, não é mesmo?

– Sim. – Berwald pousou uma mão grande e quente no ombro de Tino – Vamos a um encontro.

– N-não é um encontro! Eu já lhe pedi para parar com essas piadas estranhas!

Ele saiu de perto do sueco como se houvesse acabado de levar um choque, falando numa mistura de embaraço e medo, mesmo que o outro ainda o olhasse como se não conseguisse entender o motivo de tal reação. O incomum par foi embora, ao que suspirou Lukas e, mais falando consigo mesmo, disse:

– Fala que não é a esposa do chefe, mas quem é que cuida do homem e cozinha para ele? Ora, francamente.

O mais alto se postou em sua frente com enorme sorriso, o que respondeu com um sutil arquear de sobrancelhas. Constatou-se que ele havia tido sucesso na difícil missão de vestir o avental.

– Para onde você vai?

Usou um tom de voz infantilizado para fazer a pergunta, como se já não fosse capaz de irritar o menor com o tom usual. Ele parecia mesmo fazer aquilo de propósito.

– Então você estava ouvindo, é? – Deu de ombros. - Não é da sua conta.

– É para a floresta?

– Não insista nisso, como eu já disse, não é da sua conta.

Mathias estralou a língua, colocando uma mão no ombro do outro. Lukas estreitou os olhos para a mão em seu ombro.

– Pensei que as pessoas compartilhassem esse tipo de coisa com os amigos! – Ele sorriu confiante – Só estou preocupado com você.

O norueguês livrou seu ombro do toque incômodo e voltou seu olhar ao dinamarquês, fitando-o com uma frieza glacial.

– De que lugar na terra você tirou que somos amigos? – Ele se apressou em cortar o outro, pois o mesmo fez menção de responder a pergunta retórica – Não! Não somos amigos. E. Não. Me. Toque.

– Você vai demais para lá. O que pode haver de tão interessante, quando você já tem alguém fascinante como eu bem aqui, é o que não entendo!

Lukas optou por ignorar a última frase dita, lançando um novo tópico a conversa antes que o outro resolvesse insistir mais e, ignorando sua própria vontade de esganar e/ou amordaçar a pessoa em sua frente, perguntou se Mathias estava, de alguma forma, familiarizado com o trabalho como caixa. O mesmo deu uma volta ao redor do balcão, olhando a velha caixa registradora como se fosse uma relíquia que seu avô guardaria no porão e com uma confusão tão genuína que foi fácil deduzir que ele não fazia ideia de como usá-la.

– Onde está a calculadora? – Sorriu, voltando o olhar ao outro, que devolveu um leve arquear de sobrancelhas, como quem diz “Sério?” – Ok. Acho que posso usar a do meu celular ou algo assim.

Lukas suspirou exasperado. Ele explicou o melhor que podia como funcionava a caixa registradora, mostrou como manter a loja em bom estado e como tratar os clientes. Tudo de uma distância profissionalmente segura – como fez questão de ressaltar ao outro. Olhou o relógio pendurado na parede, constatando que poderiam encerrar as atividades para o almoço.

– Estou saindo. – Avisou tediosamente, desamarrando o avental e vestindo seu casaco. – Se você for comer alguma coisa, lembre-se de virar a plaqueta na porta para indicar que a floricultura está fechada.

– E se algum cliente aparecer? Eu não sei o nome de todas essas flores ou como arrumar buquês!

–Você vai ficar bem. Em geral, não aparece ninguém. A não ser que alguém morra e precisem de uma coroa para o túmulo.

Lukas deu de ombros, fazendo com que o mais alto se arrepiasse do balcão de madeira. Apenas agora ele havia percebido, mas, desde que chegara, não vira uma única alma entrar ali para comprar nada.

– Está falando sério?

O menor rolou os olhos, já de saída. Foi fechando a porta que, com um leve tom de sarcasmo, disse:

– Vamos cruzar os dedos!

E então ele se foi com um estrondo.

Mathias tamborilou com os dedos no balcão, aparentava morrer de tédio a partir do momento que o outro saíra. E não fazia nem meio minuto. O relógio fazia o barulho costumeiro de “tic-tac” e tudo naquele lugar tinha um cheiro forte de flores, que começava a fazê-lo sentir-se enjoado aquela altura do dia. Era como se tudo conspirasse para que ele fosse atrás do rapaz. Estava morrendo de curiosidade e tinha certeza de que Lukas estava indo para aquela floresta de novo. Não entendia de onde vinha toda essa certeza. Ele só sabia. Resolveu-se por seguir seus instintos. Atirou o avental de trabalho de trabalho em algum lugar no chão e correu para fora da loja, lembrando vagamente de puxar o seu casaco e vesti-lo enquanto corria na rua.

Não demorou a avistar a figura do norueguês, ele andava calmamente nas ruas, sem mostrar pressa nenhuma. O primeiro impulso que teve foi o de gritar e acenar, mas provavelmente seria mandado de volta imediatamente. Sem falar de que não conseguiria descobrir nada. Contentou-se em seguir o menor de uma distância calculada e se misturando a multidão. Claro, não havia uma multidão. No máximo algumas pessoas aqui e ali e donos de vendas debruçados sobre suas barracas no meio das ruas. Mas ainda sim era impossível ser notado, Lukas parecia absorto demais em seus pensamentos. Era como se fizesse questão de ignorar o resto do mundo.

Não se passou muito e, como previa, seguiu o rapaz até a entrada floresta. Com certeza ainda não sabia como sair dali sozinho. Chegou a hesitar por um momento, mas decidiu que entraria lá de qualquer jeito, afinal, Lukas sabia o caminho e só precisaria segui-lo de volta. Esperou até o outro quase sumir de sua vista para recomeçar a segui-lo – queria evitar ser descoberto, pois provavelmente faria barulho ali dentro. Tropeçou algumas vezes, e quase foi descoberto em todas elas. Chegou a, ridiculamente, imitar um esquilo numa dessas vezes.

Lukas cessou o andar numa clareira, ao que Mathias permaneceu olhando-o atrás de um carvalho. O norueguês fechou os olhos como se estivesse apreciando uma música muito harmoniosa e quisesse aproveitar ao máximo. Ele os abriu depois de um tempo, murmurando um “Ah, parem com isso!” e balançando as mãos no ar como se algo estivesse voando e brincando na frente do seu rosto. Depois se abaixou e moveu as mãos como se estivesse acariciando um animal de estimação, mesmo que, para Mathias, não houvesse nada lá. Às vezes virava a cabeça para algum lugar, ou acenava com as mãos e cumprimentava alguém. Mas o dinamarquês não conseguia ver ninguém ali. Ele começou a mover os lábios, aparentemente conversando com alguém.

O mais alto fez um movimento de aproximação – num esforço de conseguir entender as palavras soltadas pelo outro. Pisou em falso e, pela sétima vez naquele dia, deu de cara com a neve. Daquela vez ele havia caído dentro da clareira e isso, somado o barulho ao gemido de dor que ele soltou, conseguiu chamar a atenção de Lukas. O menor deixou a conversa de outrora morrer, virando-se para fitar o outro com o cenho franzido.

– Você... O que você pensa que está fazendo? Não pode entrar aqui! Ninguém entra aqui!

Seu tom continuava normal, não havia elevado ou abaixado a voz em momento nenhum, mas Mathias conseguiu perceber uma dose de censura e um toque de medo. Ergueu a cabeça e se pôs de pé, para olhá-lo de cima.

– Eu só... Só estava curioso! Todo mundo aqui faz tanto mistério por causa de você e essa floresta! Eu só achei que devia descobrir.

– Ah! Você achou? – Lukas lhe lançou um olhar reprovador – Idiota! Eu não ligo! Você me viu agora a pouco, não foi?

Mathias assentiu. Embora ainda não compreendesse por completo o que havia presenciado.

– Eu estava falando com meus amigos. As criaturas mágicas.

O dinamarquês o olhou nos olhos. Era incrível como a voz do outro era sempre suave e controlada, não importava a situação. Não parecia estar sendo sarcástico, e não havia nenhuma outra explicação para aquilo. Ele, por outro lado, não acreditava em seres mágicos, fadas e todas essas besteiras. Deixara de acreditar neles há muito tempo. Começou a rir.

– Acho que você é um pouco velho para brincar com fadas. Mas acho que é fofo, de qualquer modo.

Lukas teria batido nele se o tivesse chamado de fofo em outra ocasião, mas agora ele tentava processar a reação do loiro. Deveria estar chamando-o de louco, esquizofrênico, qualquer coisa. Se afastar e manter uma distância segura do “garoto estranho que vê coisas”. Mas não. Ele riu e fez uma piada. Como se não fosse capaz de levar nada a sério e como se aquilo fosse algo perfeitamente aceitável. Estava acostumado a ser evitado pela maioria das pessoas, e agora não sabia reagir quando alguém aceitava tão normalmente essa característica sua.

– Então! – Mathias exclamou, sorrindo como se estivesse entrando em alguma brincadeira. – Com quem você estava falando?

Fixou seus olhos nos azuis do outro, como se estivesse numa espécie de desafio. Havia a possibilidade de Køhler ser idiota o bastante para achar que ele estava brincando. Olhou para o fantasma do irmão atrás de si, ele fitava Mathias com incomum curiosidade e seu papagaio-do-mar, Mr. Puffin, fez um comentário mal-educado a respeito do cabelo do estranho. Voltou o olhar para o dinamarquês.

– Com Emil. Ele é meu irmão e está... Bem, está morto.

O queixo de Mathias caiu e ele arregalou os olhos. Não era capaz de ver nada além das árvores, da neve que cobria tudo gentilmente e do céu cor de grafite sobre as suas cabeças. Mas ele sentiu uma brisa congelante passar e arrepiar os pelos de seu corpo. Parece que Emil estava lhe dizendo olá.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
Hej= "Oi" em dinamarquês.
Hei = "Oi" em norueguês.
Imagino que vocês tenham notado isso, mas ok -Q Eu ia usar "Olá" mas acontece que é "Hallo" e é a mesma coisa nas duas línguas.
...x..
O que acharam?
É, eu sei que as coisas demoram a acontecer. Mas tenham paciência comigo, sim? As coisas acontecem progressivamente mesmo. O amor vai se desenvolvendo com o tempo e a história vai no ritmo certo. Outra, se vocês acharem que eu estou enrolando demais é só dar um puxão de orelha XD
Qualquer erro e coisas assim é só avisar. Eu não sei exatamente como seria a reação do Den, mas tentei deixar o menos OOC possível. Não se sabe muito sobre o personagem, então desculpem qualquer coisa.
Obrigada a todas que mandaram review, eu me sinto muito agradecida e feliz com todos eles~~
Quanto ao próximo capítulo, sai em mais ou menos duas semanas - quando eu entrar de férias.
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