Fantasiverden escrita por Lirium-chan


Capítulo 2
Utenlandske


Notas iniciais do capítulo

YEAH! POSTEI NA SEXTA-FEIRA! *Sim, estou feliz porque fiz no prazo auto-imposto*
Então. Estou muito agradecida a todos que mandaram reviews. Sério pessoal, muito obrigada! E é bom saber que há esse número de pessoas que goste do casal - que precisa de mais atenção.
"Utenlandske" significa "Estrangeiro" em norueguês. E embora eu não tenha mesmo focado nisso, acho que se encaixa.
Outra coisa. Eu tentei escrever em primeira pessoa. E até escrevi metade assim. Mas fiquei morrendo de medo que tivesse OOC. Então achei melhor fazer narrador observador mesmo. Desculpem '-' *apanha*
Todos os nórdicos aparecem agora.
Boa leitura~~



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Havia dormido um sono sem sonhos naquela noite. Acordou extremamente bem disposto, como o usual, se espreguiçando teatralmente ainda sentado na cama e colocando-se de pé. Correu para abrir as cortinas desbotadas da janela, admirando a manhã cinzenta e fria que fazia lá fora. Exclamou um animado “Bom dia!” para ninguém, tendo em vista que a rua estava completamente vazia. Apressou-se até o banheiro com uma hiperatividade fora do comum, praticamente patinando no piso enquanto corria. Fez a sua higiene pessoal, e demorou-se na frente do espelho. Ao contrário do que se pode pensar, não estava admirando a própria beleza – embora esse fosse um comportamento comum para ele. O dinamarquês se encontrava simplesmente muito entretido em fazer caretas no seu reflexo e rir do resultado de suas palhaçadas.

Mathias tinha cabelos loiros, eram curtos e incrivelmente rebeldes. Os olhos eram azuis claros, límpidos e quentes como um céu de verão. Possuía alta estatura e um porte físico médio. Ele parecia poder passar uma eternidade brincando ali, isto é, se o seu estômago não tivesse lhe feito o favor de avisar que precisava comer. A principal vantagem de morar naquela pensão é que ela ficava sobre um bar/restaurante. E, segundo ele, poucas coisas são mais prazerosas do que viver perto de um bar - uma delas é o próprio ato de beber. Desceu a escadaria até o bar aos saltos, sentando de frente para o balcão de madeira e batendo com os dedos na mesa alegremente enquanto esperava ser atendido. Uma mulher de avental veio ao seu encontro, ela tinha olhos abatidos e uma expressão de puro tédio. Perguntou ao loiro se ele gostaria de tomar café e ele fez o seu pedido com um enorme sorriso no rosto, logo depois ela voltou a desaparecer na cozinha. Olhou ao redor, constatando que ele realmente deve ter acordado muito cedo, desde que não havia praticamente ninguém ali, isto é, excerto por um velho senhor que parecia beber da mesma xícara de café a séculos.

Passou a olhar pela janela distraidamente, sendo visivelmente surpreendido com quem viu. Do outro lado do vidro, certo norueguês passava completamente alheio a qualquer olhar que seguisse sua figura. Eram os mesmos cabelos loiros, a mesma pele cor de leite e o mesmo olhar indiferente, fazendo parecer que o mundo poderia explodir que ele não deixaria aquela expressão de lado. Definitivamente era o mesmo da noite anterior. Mathias observou, um pouco perplexo demais para o que pedia o momento, o rapaz sumir de sua vista tão rápido quanto surgiu. A verdade é que ele ainda se sentia estranhamente curioso a respeito daquele homem, e tinha uma necessidade sobrenatural de descobrir o seu nome.

– Você não deveria se envolver com esse garoto, filho.

Ele ouviu o velho, sentado numa cadeira atrás de si, aconselhar num tom respeitoso. Só então percebeu que ainda encarava o vidro, mesmo que não houvesse mais nada para olhar ali. Estava prestes a sair correndo atrás do norueguês, no entanto, as palavras do idoso despertaram seu interesse. Girou o corpo do banco, parando de forma que pudesse encarar o senhor mais diretamente.

– Por quê? Ele fez algo errado?

– Não diria que ele fez algo errado...

– Então o que?

Remexeu-se em cima do banco, como se o tom de mistério que o velho mantinha na voz o torna-se agitado.

– É... Uma questão complicada. Eu não sei se isso realmente interessa a alguém tão cheio de vigor quanto você...

O velho assumiu um ar ainda mais misterioso, propositalmente, fazendo o dinamarquês se agitar ainda mais.

– Me interessa! Me interessa! Vamos! Vamos! Conte-me!

O mais velho bebericou, lentamente, um pouco de seu café e começou a falar, como se fosse um grande sábio que revelava os segredos do universo.

– Está bem! Você parece um bom garoto, então lhe contarei! Tudo começou anos atrás. Eu me lembro como se fosse ontem. Estava fazendo uma noite fria naquele dia...

A voz morreu quando a narração estava tomando forma, sendo cortada por uma presença adicional. A mulher que estava na cozinha retornou com a refeição de Mathias, batendo o prato estrondosamente no balcão de madeira e assustando o loiro, que caiu. Embora não estivesse machucado, se contorcia exageradamente como quem levou uma concussão. A mulher cruzou os braços e olhou severamente para o velho homem.

Pappa! Você não deve ficar falando sobre esses assuntos! Por que não pode fazer como os outros e ficar quieto a respeito?! Sem falar – e ela apontou para o dinamarquês que ainda agonizava no chão – que esse tipo de coisa nunca foi da conta de... Estrangeiros!

Ela falou ‘estrangeiros’ como se Mathias tivesse algum tipo de doença venérea.

O pai encolheu os ombros diante da repreensão e se resignou a tomar seu café, sem desviar o olhar uma vez que fosse. O rapaz levantou do chão e voltou a sentar no banco com certa dificuldade. Tinha uma expressão infantilmente decepcionada na cara e olhava para a mulher como se ela fosse uma grande estraga-prazeres. Praticamente engoliu o café da manhã, atravessando porta afora apressadamente. Ele ainda queimava de curiosidade e, como foi dito antes, desistir não estava no dicionário do dinamarquês.

Não importava o quanto perguntasse. Ninguém parecia saber nada sobre o tal acontecimento de anos atrás. Todos lhe lançavam olhares assombrados ou se faziam de ocupados. Ainda conseguia olhares mais sombrios quando perguntava pela floresta. Não conseguia entender se todo esse boicote era por ser um forasteiro ou pelo assunto ser tão desagradável que não queriam conversar sobre. E poderia ser facilmente ambas as opções. Estava mesmo a andar sem rumo pela cidadezinha (mais por não saber realmente se orientar pelos arredores do que por opção) quando sua atenção foi chamada por um letreiro. “Floricultura Oxenstierna” podia ser lido em uma fonte clássica. As paredes no exterior eram pintadas de azul-bebê, tão quanto a porta era pintada de branco. Uma grande janela de vidro vertical estava ao lado da porta, servindo de vitrine para uma grande variedade de flores.

– Ahn... Desculpe. Você está aí parado faz algum tempo, senhor. Por acaso está aqui pela vaga?

Ele viu um jovem baixinho se aproximar, claramente saído de dentro da loja. Tinha cabelos curtos e loiros, assim como gentis olhos violetas e a pele um tanto branco demais. Usava um avental preto e simples. Mathias deve ter feito uma expressão muito confusa, porque o estranho apontou para uma placa, extremamente chamativa, a qual anunciava que havia uma vaga de caixa na floricultura.

– Ahhhhhh... Claro!

Sorriu animadamente. Estava precisando de um emprego, de qualquer forma. Era incrível como as coisas pareciam se encaixar bem para ele, desde que nem ao menos estava procurando por um emprego naquele dia. “Então entre, por favor.” Ouviu o mais baixo murmurar, sendo assim, o seguiu para dentro da loja. Por pouco não trombou com outro homem assim que atravessou a porta. Cabelos curtos, loiros. Olhos de um tom piscina, assustadoramente sérios e intimidadores por trás das lentes finas dos óculos. Ele era bastante alto também, parecendo medir cerca de 1,80 m. Encarou Mathias com aquela carranca pesada, cruzando os braços fortes na frente do tronco.

– Senhor... Oxenstierna?

Arriscou; um pouco desesperado para quebrar o silêncio.

– Berwald. E esta é minha esposa.

Tinha uma voz grossa, imponente. Quando disse essas palavras, apontou para o de olhos violeta, que o encarou nervoso e com certa dose de incredulidade.

– Eu não sou a sua esposa! Pare de fazer esse tipo de piada!!

O sueco o fitou levemente confuso, como se as palavras do menor não fizessem o mínimo sentido. Olhou para o rapaz na sua frente, que parecia estar passando de mal de tanto rir. Voltou o olhar para o outro, mostrando que tinha dúvidas.

– Piada?

O finlandês suspirou, resignado. Virou-se para Mathias com uma expressão de derrota, mas como quem já estava mais que acostumado.

– Tino Väinämöinen.

– Mathias Køhler.

– Você gosta de flores, Mathias?

– Se eu gosto?! Eu sou o Rei das Flores!

E apesar da afirmação extremamente comprometedora feita. Mathias ergueu a mão direita ao alto, sorrindo convencido se autoproclamando Rei das Flores. E nesse exato momento, como que para completar a cena, eis que surge alguém dos fundos, carregando uma enorme caixa nas mãos, que parecia muito grande para carrega-la, de modo que não se podia ver o seu rosto. Depositou a caixa no chão, olhando para o dinamarquês como se apenas a voz dele o irritasse profundamente.

– O que você pensa que está fazendo aqui?

O outro, por sua vez, começou a apontar para o norueguês compulsivamente, gritando escandalosamente. Encontrava-se num estado de euforia tão grande que nem parecia caber em seu corpo.

– Você! Você! É você, não é? É você! É você! É você...

O menor assistiu o maior aponta-lo como fosse uma criança que acabou de ver o Papai Noel em pessoa – ou alguém vestido de Papai Noel, o sentimento é o mesmo. Andou até ele resmungando algo e lhe tapou a boca com certa violência.

– Hmmmff... – Se acalmou um pouco, puxando a mão do outro de sua boca. – O que você está fazendo aqui?

– Eu trabalho aqui.

Essa era a conclusão óbvia a qual deveria chegar, mas não pode evitar ser pego de surpresa. Só então percebeu que ele também vestia um avental por cima das roupas. Permaneceu naquele estado de choque por alguns segundos, tempo suficiente para que Berwald colocasse uma mão em seu ombro.

– Está contratado.

Anunciou, no tom sério e direto de sempre. Todos mergulharam em mais um momento de silêncio, como se estivessem tentando entender quais critérios o sueco havia usado para contratar o rapaz. Tino meneou com a cabeça, andando calmamente até o vidro da vitrine, retirando a plaqueta como se aquilo selasse um acordo. O recém-contratado se apossou das mãos do norueguês, balançando-a em um aperto de mãos.

– Mathias Køhler. Parece que vamos trabalhar juntos a partir de agora!

Ele disse, com um sorriso feliz em face. O de olhos metódicos se virou para o chefe, livrando-se do aperto da outra mão.

– Você sabe que vou matá-lo, não sabe?

– Hn.

O dinamarquês irrompeu em uma de suas gargalhadas escandalosas. Passou os braços ao redor do menor numa espécie de abraço desajeitado, recebendo, como resposta, um olhar fuzilante.

– Você tem um excelente bom humor... - e ele deu uma pausa no riso por um momento - Quase que ia me esquecendo de perguntar de novo! Qual o seu nome?

– Lukas Bondevik. E não me toque.

Livrou-se sutilmente do abraço do mais velho, se afastando em alguns passos cautelosos – lhe custou muito fazê-lo sem nenhum tipo de violência. Mathias lhe mostrou um sorriso indecifrável.

– Hey, Lukas?

– O que é?

– Você fica bem nesse avental de florista.

– Morra.

O céu completamente negro se elevava acima de sua cabeça. O frio era ainda mais intenso de noite, mas ele já estava perfeitamente bem acostumado com isso. As poucas pessoas com quem cruzava lhe lançavam, ora ou outra, um olhar de temor, piedade ou julgamento. Sabia lidar com esses olhares, há muito que deixara de se importar com o que pensavam ou deixavam de pensar sobre si. Adentrou na floresta calmamente. Há muito que todos deixaram de andar ali dentro, era difícil ir muito a fundo sem se perder. Mas ele sabia que o principal motivo era ele. Porque ele sempre estava ali. Sempre tinham receio a respeito dele, a respeito da floresta. Não importava. É porque eles não podiam ver o que ele via. Era porque eles não acreditavam. Havia ficado surpreso quando viu Mathias ali. Apenas alguém de fora, alguém que não sabia, poderia se enfiar mata adentro de maneira tão inconsequente. Mas agora tudo estava de volta aos eixos. Por que ele não seria idiota o suficiente para entrar no seu lugar de novo, certo? Ninguém é tão estúpido. Existe um limite pra tudo, mesmo para a estupidez.

Lukas fechou os olhos; ele estava entre os seus adorados carvalhos. Era como se ali fosse o lugar mais seguro da face da terra, ali ele poderia viver no seu mundo sem medos ou perturbações. Era tudo perfeito e maravilhoso, não precisava mais negar suas crenças e suas verdades. Abriu os olhos novamente, pressentindo a chegada deles. Um a um, seus amigos mágicos começaram a surgir na sua frente. As fadas viam lhe cumprimentar, iluminando os arredores com sua aura brilhante. Ele escutou o barulho de um enorme bando de trolls fazendo uma caminhada, alguns destes lhe acenaram de longe. Várias criaturas mágicas corriam e voavam ao seu redor, pareciam estar se divertindo. Ele apenas os olhava, esperando por ele.

– Você veio me ver hoje também, Lukas.

Ouviu aquela voz tão conhecida, indo ao encontro dela. A figura era translúcida aos seus olhos, mas ainda era ele. Os cabelos brancos, levemente prateados que lhe caiam despenteados pelo rosto. Os olhos ametistas e o cenho levemente irritado. Um papagaio-do-mar com olhar matreiro sobre o ombro. Flutuava na frente de Lukas, parecendo ser enganosamente mais alto que ele.

– Não poderia deixar de vir. Seria bom se você me chamasse de irmãozinho, não acha?

Emil pendeu a cabeça levemente para o lado, com uma expressão birrenta em face.

– Te chamar de irmãozinho? E você vai me chamar do que? Querido irmão mais novo?! Eu não gosto disso. Até mesmo os mortos devem ter direito a orgulho. Eu não vou ceder!

O fantasma cruzou os braços, teimoso. Ação esta imitada pelo seu irmão mais velho, que parecia compartilhar do mesmo sentimento.

– Não vou desistir da mesma forma. Vou dobrá-lo, cedo ou tarde. Tenho a noite inteira para gastar nisso, você sabe.

– E eu tenho a eternidade.


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Notas finais do capítulo

Glossário:
Pappa: Pai em norueguês (tenho certeza que vocês perceberam isso, mas por via das dúvidas).
Pois é gente. O Ice é um fantasma. E eu não sei o que vocês pensam disso. Mas é importante para o desenrolar da fic, ok? Não estou apenas fazendo isso porque é legal ou nada do gênero. Tá dentro do tema de "fantasia". O que aliás não deu pra trabalhar muito além do finalzinho, eu tinha que introduzir os nórdicos e deixar um suspense, sabem como é. Espero que não esteja maçante. Qualquer erro, sugestão, crítica, se quiser elogiar também é só mandar review. E mande caso acompanhe, para eu saber o que você está achando. Até porque o único fantasma do qual eu não tenho medo é o Ice, então nada de leitores fantasmas U-U *apanha*
Eu realmente não tive ânimo demais pra corrigir dessa vez, então desculpe algum erro absurdo que eu possa ter cometido.
Beijos, Lirium-chan.