Anti-social escrita por UnknownName


Capítulo 33
Finalmente, o segredo é revelado.




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─ Você está bem? ─ Sarah perguntou, se segurando para não rir.

─ Acho que virei estéril... ─ Manti as mãos sobre o local, com dor. Ela se aproximou, e eu fiz que estava praticamente morrendo. ─ Atenção, essas podem ser minhas últimas palavras.

Ela me deu um leve tapa nas costas. ─ Aff, você está bem! Besta! ─ Ela riu, e acabei por rir junto. Ficamos mais um tempo lá, e depois saímos para comer alguma coisa.

─ Cadê a pirralha? ─ Perguntei ao meu velho, ao olhar em volta da sala e não vê-la, enquanto pegava algo na geladeira.

─ Foi se encontrar com umas amigas. Volta em torno das 8. ─ Ele respondeu, não tirando os olhos do computador no qual mexia.

─ Melhor notícia do dia! ─ Exclamei, em comemoração. ─ Vou me livrar dela por 5 horas!

─ Vocês se conhecem desde quando? ─ Sarah perguntou, com um copo de água na mão. ─ Vocês se odeiam, mas parece que se conhecem já faz tempo.

─ Acho que desde lá pros meus 10 anos. Talvez menos. ─ Respondi, sem me importar. ─ Não nos demos bem à primeira vista.Na época eu simplesmente ignorava, mas agora não suporto mais.

─ Você tem conversado bastante. Está bem diferente de quando te vi pela primeira vez. ─ Ela sorriu, e eu sorri comigo mesmo por um tempo, também.

─ Têm me dito muito isso ultimamente. ─ Olhei para ela. ─ A culpa é sua, garota. Arruinou meus planos de solidão. ─ Brinquei, indo até a sala e me sentando no sofá, para assistir televisão.

─ Devemos agradecer à isso. ─ Meu pai falou, se intrometendo na conversa. ─ Não é qualquer pessoa que conseguiria isso. David, tem minha permissão para se casar com ela.

─ Q-Quê? ─ Lá vinha meus pais com seus argumentos vergonhosos. ─ P-Pare de falar essas coisas!

─ Só estou dizendo. ─ Falou, pensativo. ─ Só dizendo...

Franzi o cenho e coloquei no canal do Bob Esponja.

─ Vocês estão prontas, crianças?─ O marinheiro do quadro dizia, e eu, todo animado, respondi.

─ Estamos, capitão! ─ Em questões de desenho animado, sou uma criança eterna. Nunca vou parar de gostar deles.

─ Wooooow! ─ Sarah veio correndo se sentou-se ao meu lado. "OMG! Não estou sozinho nesse mundo!"

─ Bob Esponja Calça Quadrada Bob Esponja Calça Quadrada... ─ Cantávamos juntos, e eu apenas recebi um olhar de decepção total do meu pai, mas ele sorria, também.


...


─ Acho que eu vou comprar uma rede. ─ Comentei, em algum momento do dia, enquanto em meu quarto.

─ E vai colocar aonde? Não temos ganchos em nenhum lugar da casa. ─ Meu pai varria o corredor, enquanto conversava.

─ Eu posso comprar os ganchos também. Dá pra por nos dois pilares do quintal dos fundos. ─ Falei, atirando um avião de papel no ar.

─ Como quiser. ─ Falou, por fim.

─ Aaah, não sei a quanto tempo não deito em uma rede! ─ Sarah esticou os braços e se deitou na cama(ela estava sentada na mesma, antes disso).

─ Eu também. ─ Busquei o objeto de papel, voltei, e atirei-o novamente. ─ Amanhã eu vou comprá-la.

─ Posso ir junto? ─ A garota perguntou, olhando-me.

─ Claro. ─ Peguei meu celular, na escrivaninha. ─ Você pode ajudar a escolher. ─ Sorri e, não muito tempo depois, a campainha tocou.

─ Vá atender. ─ O homem ordenou e eu, sem chance, desci as escadas para fazê-lo. "Olha, está chovendo e eu nem percebi..."

A garota dos meus pesadelos se revelou, completamente encharcada e com cara de poucos amigos. ─ Ei, não entre em casa sem se secar antes! ─ Exclamei, diante da invasão da pessoa.

─ Não me dê ordens! ─ Ela retrucou, indo até a lavanderia pegar algo. Supus que era a bendita toalha.

─ Essa casa não é sua, garota! ─ Reclamei. Não suportava o fato de ela ser tão mal educada assim.

─ Ei, ei. Não vão começar a brigar. ─ Meu pai tentava acalmar a situação, que já estava bem tensa.

─ Eu não suporto essa pirralha! Ela não tem o mínimo de respeito com ninguém, e só sabe dar problema! ─ Sim, eu sabia que era infantil ficar discutindo e sim, eu ia continuar. Alguém tinha que falar alguma coisa.

─ Falou o moleque que ficou 15 anos inteiros ignorando todas as pessoas que falavam com ele. ─ Ela respondeu, sem dar importância ao que eu dizia.

─ Escuta, se você não parar de ser mimada e idiota desse jeito eu te expulso dessa casa, não me importando se seu pai já voltou ou não! ─ Ameacei, explodindo.

─ Você não tem o direito de fazer nada. Você fala de mim, mas durante toda a sua vida você ficou sozinho porque todo mundo te odiava, assim como a sua mãe! ─ Paralisei por um momento. Ela tinha ido longe demais.

─ Você sabe que não foi esse o motivo! Cala a boca! ─ Eu não tinha mais nenhum argumento, mesmo que o que ela tenha dito seja mentira, parcialmente. Recuei, e meu pai ficou entre nós dois e ordenou que cada um fosse para o seu quarto. Eu tinha sido mais infantil que nunca, eu sabia, mas, como já disse, eu quis fazer aquilo, e não me arrependo. Talvez um pouco.

Sentei-me em minha cama, e esfreguei o rosto, bufando. Atirei um travesseiro na parede, e acho que bati meu recorde de velocidade e força. Fiquei feliz, por um lado.

Ouviram-se batidas na porta, que se entreabriu. ─ Posso entrar? ─ A voz conhecida de Sarah soava, meio abafada.

─ Entra. ─ Me deitei, e peguei o livro que ainda não terminara de ler.

─ Eu conversei com o seu pai. Ele disse que a Isabel vai embora amanhã. ─ Ela se sentou em uma cadeira, com uma expressão acalmante.

─ Isso são ótimas notícias. ─ Dei um leve sorriso.

─ Ei, o que foi isso lá embaixo? Você nunca agiu assim antes, e logo depois que ela falou sobre a sua mãe, você entrou em um estado de fúria e desespero. Se você quiser conversar, eu estou aqui. ─ Vou confessar, suas palavras me deixaram mais calmo. Transmitiram alguma espécie de segurança.

─ Acho que não tem mais porquê esconder de você, né? ─ Sentei-me mais uma vez, e a olhei nos olhos. A mesma se aproximou, e sentou-se do meu lado.

─ Se não quiser falar, não tem problema.

─ Não, deixa. Não é legal te deixar confusa desse jeito. ─ Sorri, e depois olhei em uma outra direção, pensativo. ─ Lembra quando você me perguntou se eu já tinha amado alguém além de meu pai, e eu respondi que tinha amado minha mãe? ─ Ela assentiu ─ Então... Eu realmente amava, mas parte do que a Isabel disse não era mentira.

Recebi um olhar intrigado de sua parte. ─ Como assim?

─ Minha mãe nunca gostou de mim. Quando eu tinha uns 5 anos e meio, foi diagnosticado que eu tinha um tumor no meu cérebro. Quando minha mãe soube disso, passou a me tratar como lixo. E antes disso, ela já não gostava de mim. Eu tinha imenso carinho por ela, mas recebia sua indiferença. 3 meses depois de recebida a notícia, minha mãe fugiu de casa.

Ela estava pasma. ─ Nossa... Eu... Sinto muito.

─ Ainda não acabou... ─ Suspirei. ─ Ela acabou se envolvendo com o tráfico de drogas, e foi presa meio ano depois. Ela passou nove meses na cadeia, mais ou menos, mas se envolveu em uma briga com outra presidiária e morreu.

Ela ficou sem dizer nada por um tempo. ─ Deve ter sido difícil para você, né?

─ No momento em que eu soube que ela saiu de casa, eu fiquei perplexo. Foi ali que eu decidi viver assim para o resto da minha vida. Em seu enterro, eu derramei uma única lágrima, nada mais. Venho vivendo assim por causa disso... Não quero que aconteça novamente. Mas parece que você conseguiu despertar meu outro lado, não é? ─ Sorri em sua direção.

─ É. Você sabe que eu jamais faria algo assim, não é? ─ Entreolhamo-nos por alguns segundos.

─ Não é questão de você fazer isso ou não. ─ Fitei o chão. ─ Eu quero dizer, mesmo que contra sua vontade, isso quase aconteceu.

─ Isso é... Bom, não vai acontecer de novo. Prometo. ─ Ela estendeu a mão, e levei alguns segundos para entender que era para apertá-la.

─ Certo. ─ Abri um sorriso largo. Acho que devemos arriscar perder para poder ganhar, não é mesmo?




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