Every time you Lie

Na sexta feira, por volta das quatro horas da tarde, eu estava sentada na minha cama em um dos quartos da reabilitação quando uma enfermeira bateu na porta.

- Pode entrar... - Falei enquanto tentava voltar ao tom de voz normal.

- Tudo bem por aqui? - Ela perguntou.

- Tudo sim...

- Que bom, porque eu trouxe algo para você!

Ela abriu mais a porta e pude ver um vestido preto tomara que caia e nos ombros dela uma mochila.

A enfermeira colocou tudo em cima da cama e sorriu pra mim, sem dizer uma palavra sequer, ela deixou o quarto.

Assim que abri a mochila, tinha uma camiseta preta - que por sinal, era uma das minhas favoritas -, uma jaqueta de couro e uma calça jeans preta. Em um dos bolsos paralelos estavam meus óculos, minha maquiagem e algumas correntes e anéis que eu gostava de usar.

Terminei de tirar a roupa de dentro da mochila e achei um envelope.

“Você escolhe com qual das duas será você mesma no baile”

Isso era tudo o que estava escrito no papel, e atrás havia o nome de Dallas.

Mesmo com poucas palavras, ela conseguiu me fazer sorrir naquela noite.

Fiquei olhando para o vestido e para a roupa que eu costumava usar no dia a dia.

Acabei escolhendo a roupa mais simples. Eu iria a um baile de calça jeans, botas, camiseta e uma jaqueta de couro e isso para mim estava ótimo, porque era o modo que eu me sentia mais eu mesma.

Levei algumas horas para me arrumar e quando terminei, do lado de fora da clínica já estava tudo escuro. Eram sete e meia da noite.

- Você está linda! - A enfermeira que havia passado no quarto mais cedo falou ao me ver sair do quarto - Aproveite a noite Srta Lovato. Não é sempre que temos a chance de viver mais um dia, e essa é a lição que a maioria das pessoas que está aqui dentro precisa aprender.

- Obrigada por tudo! - Foi só o que eu disse a ela e ela sorriu.

A Enfermeira pegou minha mão e me guiou até os portões da clínica, onde do lado de fora havia um rapaz elegante.

Sorri ao vê-lo encostado em seu carro olhando curiosamente para o portão por onde eu passava.

Ele vestia uma camiseta azul marinho, uma calça jeans com lavagem e tênis brancos.

Os cabelos estavam levemente bagunçados - como ele costumava deixar - e seus olhos azuis quase brilhavam como sinalizadores no escuro.

Assim que me viu, ele se aproximou com um largo sorriso no rosto. Antes que pudéssemos ficar pertos, corri na direção dele e o abracei.

- Você conseguiu! - Ele disse enquanto me segurava firme, quase como se tivesse medo de que eu tentasse escapar.

- Foi por vocês... - Respondi antes de selar nossos lábios.

Era ali que eu queria estar e foi por causa de um momento como aquele que eu lutei dentro da reabilitação para me manter forte.

- Pronta para o baile? - Ele perguntou desafiador e eu sorri.

- Pronta para qualquer coisa!

Como sempre, eu não imaginava o que qualquer coisa poderia significar numa noite como a que eu teria.

Jeremy e eu fomos para a escola onde o baile aconteceria.

Todos os garotos usavam smoking e as garotas vestidos, enquanto eu e Jeremy estávamos completamente... À vontade.

- Tem certeza que viemos ao lugar certo? - Perguntei em tom de brincadeira e Jeremy apenas levantou os ombros como se estivesse em dúvidas.

- Acho que sim... Mas se não for o lugar certo, a gente muda de lugar!

- Ótima idéia!

A quadra estava cheia de jovens. Não serviam bebidas alcoólicas no baile, mas estava bem óbvio que alguns jovens não estavam sóbrios, principalmente os garotos da equipe de futebol.

Por falar em equipe de futebol, algo estava estranho.

Os garotos do time olhavam para Jeremy como se estivessem com raiva dele, mas Jeremy parecia não notar. Ele continuava sendo gentil com todo mundo - principalmente comigo.

Diferente do que eu pensei que seria um baile de escola, aquele não estava entediante. Jeremy e eu dançamos a noite inteira e rimos muito também. Contei para ele tudo o que eu fizera durante o período na reabilitação e como eu sentira a falta da minha família e dele também dentro da clínica.

Tudo estava perfeito, e eu pensava que nada poderia estragar a noite.

Mas é como sempre dizem: Quando você pensa que as coisas não podem piorar, elas pioram e você descobre que sim, qualquer coisa pode piorar!

- Jeremy, posso falar com você? - Lindsay se aproximou de nós.

- Eu não tenho nada pra falar com você! - Ela era a única pessoa com quem Jeremy não fazia questão de ser gentil.

- Sim, nós temos! Por favor, eu preciso conversar com você... É um assunto sério!

- Tudo bem então... Pode falar!

Lindsay ficou muda por um tempo, abaixou a cabeça e quando levantou, olhou para mim e respirou fundo.

- Acho melhor conversarmos em particular! - Ela falou.

- Não... Eu e Demi estamos juntos, então se você tem alguma coisa pra falar fale agora e na frente dela, ou então não vai falar nunca...

- Depois não venha me culpar pelas coisas!

Talvez fosse eu achando tudo estranho, mas Lindsay tinha um brilho diferente nos olhos, algo que eu não sei descrever.

Um calafrio percorreu minha espinha e um desespero pareceu tomar conta do meu corpo... Tudo antes mesmo que Lindsay dissesse alguma palavra.

Sem notar, apertei a mão que eu já segurava de Jeremy e ele olhou para mim sem entender. Balancei a cabeça negativamente e ele voltou a atenção dele para Lindsay.

- Eu estou grávida Jeremy! - Foi o que ela disse antes que tudo silenciasse.

Minhas pernas vacilaram e a música pareceu parar, mas quando olhei em volta, os outros jovens continuavam a dançar normalmente.

Tudo parecia estar em câmera lenta e eu não sentia mais o peso do meu próprio corpo.

- Você é o pai Jeremy... Essa é a única certeza que eu tenho! - Lindsay continuou falando com um Jeremy sem reação.

Ele não se mexeu, não parecia respirar sequer.

A Expressão dura que ele tinha quando Lindsay começou a conversar com ele tinha desaparecido do seu rosto, deixando agora, uma expressão neutra. Nem triste, nem feliz, nem confusa...

- É impossível isso! - Ele falou por fim - Você está mentindo!

- É impossível? - Ela perguntou - Tem certeza de que isso é impossível Jeremy? Fazem duas semanas Jeremy... Duas semanas!

Minhas mãos escorregaram das de Jeremy e eu coloquei minhas mãos sobre o rosto, tirando-as e olhando para ele em seguida.

- Demi? - Ele chamou com uma expressão preocupada no rosto.

Ele tentou se aproximar, mas eu o afastei com uma mão, balançando a cabeça negativamente.

Olhei novamente para ele, que continuava com a expressão preocupada, e então comecei a me afastar dele, ainda olhando em seus olhos.

Esbarrei em alguém que estava atrás de mim antes de me virar e deixar a quadra da escola correndo.

***

- Demi? - Jeremy chamava no estacionamento da escola, embora eu tivesse certeza de que ele não podia me ver, prendi a respiração e enxuguei as lágrimas que escorriam por meu rosto.

Eu estava sentada no chão, atrás de algum carro, abraçada aos meus joelhos.

Meu corpo formigava, mas eu não tinha certeza do porquê.

Talvez ódio, raiva, desespero, decepção... Não sei ao certo o que eu sentia naquela hora, mas senti que eu estava prestes a explodir.

- Demi? - Jeremy chamou de novo, dessa vez já em pé ao meu lado.

- Não chega perto de mim! - Falei com o tom mais rude do que o que eu pretendia.

- Por favor não faz isso comigo!

- Não fazer o que?

Ergui o rosto para encará-lo. Levantei-me do chão sentindo a raiva dominar o meu corpo. A sensação era a mesma de quando eu havia brigado com Lindsay no corredor da escola, poucos dias antes de ir para a reabilitação.

- Eu pensei que você fosse diferente Jeremy! Eu realmente pensei.

- E eu sou!

- Não! Você não é! Você só queria uma pessoa pra brincar? Não tem nada de diferente nisso... Os outros atletas também adoram brincar comigo, mas você conseguiu ser o pior deles! Quer saber? Você é um idiota Jeremy Hunter! Mas eu acho que sou mais idiota, afinal... Cai na suas brincadeiras!

Dei mais um olhar severo para ele antes de sair correndo pelo estacionamento sem ao menos olhar para trás.

Eu só queria chegar em casa, no meu quarto e esquecer esse maldito baile da escola.

Tudo o que me havia acontecido durante esse mês... O mês que eu pensei que as coisas estavam realmente sendo diferentes, agora eu desejava que nada tivesse acontecido.

Queria esquecer o que havia acontecido entre mim e Jeremy.

Cheguei em casa batendo as portas e logo me enfiei no quarto. Ninguém ousou me incomodar, e eu não queria ser incomodada.

Agora eu só queria ter o meu tempo, e pedir que eu sobrevivesse a mim mesma por mais alguns dias.