Um banho frio, numa tarde quente. Algumas pessoas simplesmente ligariam seu ar condicionado e aproveitariam o gelido ar artificial. Mas ela resolveu tomar um banho frio, para depois abrir as cortinas e vestir uma roupa confortável.

O barulho da água junto a sua voz macia cantando era algo encantador. Uma musica antiga, romântica e suave. Um barulho agudo e compassado se misturou ao agradável som do banho.

“Que saco” Sussurrou. Saiu do banho enrolada numa toalha lilás deixando pegadas de água pelo quarto. Atendeu o telefone um pouco esbaforida.

–Oi!

–Sam? É a Carly, ta ocupada?

–Tô, eu te ligo daqui a cinco minutos, certo?

–Tudo bem.

Voltou a seu banho, mas não demorou muito. Vestiu-se e retornou a ligação.

–Agora pode falar.

–Vamos no cinema comigo e o Griffin, hoje?

–Não da, tenho dois relatórios pra amanhã. –Colocou o telefone no viva voz enquanto se maquiava.

–Por favor, todo mundo vai...

–Tudo bem, vou ver o que eu posso fazer, te ligo as cinco, ta bem?

–Se você não ligar, ás seis passo ai pra te levar arrastada!

–Ok, Carly.

Sam desligou o telefone rindo da persistência da amiga. Foi então que se deu conta de que não perguntou quem era esse “todo mundo vai”. Não fazia diferença, ela não iria mesmo... Estava sobrecarregada de trabalho, estava em falta com algumas aulas de pilates, e ainda dava aulas de informática voluntariamente no seu antigo reformatório.

Por volta das seis, o interfone tocou. Estranhou quando anunciaram quem era, mas ela permitiu que subisse. Pedro entrou pelo elevador privativo embalado para presente. Vestido de roupa esportiva, com um perfume suave e encantador.

–Boa noite, Samantha. Já ouvi falar de gente enrolada, mas você realmente...

–Nem vem que não tem se vai ficar aqui vai ficar me vendo trabalhar a noite toda...

–Vai la dentro se trocar agora. Mudança de planos, vamos pra boate, dançar e beber muito.

Sam percebeu que não adiantaria insistir. E também ele voltaria pra sua cidade em algumas semanas, não custava ser gentil.

–Eu volto num minuto. –Disse sorrindo.

–Um minuto, sei... –Murmurou Pedro que ficou aguardando por 45 minutos. O que foi um Record.

Sam escolheu um vestido azul salto prata e maquiagem leve. Não estava muito afim de caprichar no visual. Deixou a cascata de cabelos soltos com a franja toda para frente (já que atualmente só usava de lado). Se olhou no espelho e se sentiu mais nova. Parecia a Sam de 15 anos, de franja e quase sem maquiagem. Sorriu para o seu reflexo. Colocou algumas joias e saiu do quarto.

Pedro já estava quase deitado no sofá, aparentando cansaço pela demora. Assim que a viu pareceu impressionado. Abriu a boca pra falar, fez uma expressão estranha como se não a reconhecesse e por fim disse.

–Linda!

–Tenho certeza que sua namorada também é. Agora vamos, antes que eu desista!

Foram de taxi, já que pretendiam beber. O rapaz não deixava de corteja-la sempre que podia o que só lhe causava mais aversão a ele, já que mesmo namorando agia assim com outras.

Entraram no lugar juntos, formando um atraente casal. Era notável a atenção e os olhares que atraiam quando estavam juntos, sem dúvida um casal muito bonito. Se dirigiram á área VIP onde os demais os esperavam.

Estavam sentados a uma mesa afastada da multidão, Carl, Griffin, Gibby, Tasha e outro casal. De costas. De imediato Sam reconheceu os cabelos castanhos á sua frente, mas não reconheceu a mulher riva ao seu lado.

–Até que em fim! –Exclamou Carly assim que os viu. –Pensei que não tinha conseguido trazer essa teimosa!

As atenções da mesa se dirigiram a eles no mesmo instante. Freddie não se deu o trabalho de se virar, pois já sabia de quem se tratava, permaneceu no mesmo lugar com a estranha aos seu lado.

Quando alcançou a mesa, o casal cumprimentou a todos e sentaram sorridentes. Os demais não perceberam o desconcerto entre a recém chegada e o jovem que voltou sua atenção ao copo de uísque.

Sam se perguntava que diabos Carly estava pretendendo com aquilo e por trás de seu sorriso havia um vontade imensa de perguntar que brincadeira de mal gosto era aquela. Carly iniciou as apresentações.

–Há, pra quem não se conhece, Sam, Pedro, essa é Lilian, uma amiga do Freddie, Freddie e Lilian esse é o Pedro, amigo da Sam.

Pedro sorriu largamente e apertou a mão dos dois. Sam nunca conseguiu ser falsa tai o motivo de sua fama de grossa. Permaneceu olhando-os completamente sem expressão. Depois dirigiu o mesmo olhar a Carly que retribuiu interrogativamente. A garota não devia ter mais de 20 anos, estava de vermelho, um vestido hiper colado e curto e uma maquiagem perfeita para o Hallowen. Carly estava com um vestido solto, tomara que caia amarelo e Tanha com um short preto e uma blusa dourada.

–Lembro de você, do casamento da Mel. –Disse Pedro.

–Ah, claro também lembro de você. Sabe que cheguei a pensar que você era algum animador contratado?

Todos riram, inclusive Pedro. Mas Sam sabia que não fora um elogio, e sim um escárnio.

–É algumas pessoas tem o poder de levar alegria onde vão, outras de levar energias negativas...

–Isso é verdade. –Respondeu Lilian educadamente. –Que tipo você acha que é?

Sam não conseguiu acreditar na petulância dela, mas não deixou por menos.

–O positivo. –Respondeu seca.

A mesa que ficou tensa desde a pergunta de Lilian explodiu em risos. A ruiva chamou Freddie para dançar e ele assentiu.

Indignada é pouco para descrever o sentimento de Sam em relação a Carly. De longe viu Lilian abocanhar os lábios de Freddie fazendo seu estomago revirar.Convidou educadamente Carly a ir com ela ao toalete retocar a maquiagem. As duas se dirigiram juntas ao local, e assim que Sam fechou a porta atrás de si esbravejou:

–Que porra é essa aqui, Carly?

Carly arregalou os olhos. Chegou a sentir medo da reação de Sam.

–Primeiramente, veja como fala comigo. –Respondeu com cautela e firmeza. -E depois por que você esta assim?

–Você ta de sacanagem, não é? Me convida pra sair e chama Freddie e uma qualquer que ainda me insulta na frente de todo mundo? Ta querendo que eu de um escândalo pra você ter matéria no teu jornal?

–Você realmente se acha, não é? –Seu tom agora era profundamente ofendido. -O centro do mundo. Te convidei por que é minha amiga, o Freddie também é e quem começou a provocar foi você.

–Esquece! –Disse em completo estado de fúria. –É muito fácil pra quem ta de fora sair pensando o que quer. Eu to caindo fora.

–Sam, espera. Me desculpe, não sabia que... Sei lá pra mim não tem coisa melhor e mais comum do que sair com vocês... São meus melhores amigo, eu amo vocês, não queria que ficasse assim...

Sam esfregou furiosamente os cabelos. Os olhos da amiga mostravam a sinceridade de suas palavras.

–Me desculpa a grosseria. –Disse num suspiro. -Mas é que realmente não da...

–Mas e o Pedro? Vai dançar com ele, se divertir, esquece o Freddie.

Sam soltou um riso sarcástico.

–Carly, eu também gosto de você. Mas por mais divertido que pareça ser bancar o cupido, vai por mim, não é legal...

–Divertido? Sam isso é triste. Todo mundo se diverte, namora e você atracada com seus relatórios e programas de computador... –Carly falava arrastado com muita paciência.

–Cada um faz o que quer da sua vida... –Sentenciou antes de dar um forte abraço na amiga. –Agora vou dar uma boa desculpa e me retirar daqui. Não tenta impedir, sim?

A morena afirmou com um sorriso arteiro que fez Sam se preocupar.

Sorriram uma para outra e se retiraram do loca voltando juntas á mesa. Sentaram-se com expressões carregadas. Freddie e Lilian ainda não haviam voltado e Gibby havia levado Tasha para dançar.

Carly disse algo para Griffin e logo depois pediu para irem dançar. Ao que o marido reusou, ela arrastou Pedro que não teve escolha.

Sam não gostava daquilo. Griffin olhou para a loira enfezada sorrindo como uma criança.

–Vinho?

–Por que não foi dançar com a Carly? –Mandou na lata.

–Agora não quero!

Do nada, ele se levantou e foi ao encontro do casal que se aproximava. Sam não virou para ver o que eu havia de errado, até Freddie sentar na mesa. Sozinho. Só o que viu foi Griffin a distancia arrastando Lilian de volta para a pista. Se sentia humilhada, usada e manipulada.

–Parece que só sobramos eu e você. –Freddie tentou puxar assunto.

Silencio.

–Você esta diferente. O animador de festa ta te fazendo bem...

–Onde aprendeu a ser tão cínico?

–Onde aprendeu a ser tão fria?

Silencio. A garota tinha as faces rosadas, quase vermelhas.

–Onde arrumou aquele espantalho cabelo de fogo?

–A Lilian é minha colega de pós graduação. Bonita, não é?

–Muito bonita. –Sam o encarou nos olhos e tentou ser o mais natural possível. –Desejo de coração que vocês sejam felizes.

Ela se levantou e não demorou muito um rapaz a tirou para dançar. Só então se deu conta do quão observada estava sendo pelos amigos que estavam na pista, que aos poucos foram voltando para a mesa assim que ela levantou. Se sentiu um pouco humilhada e manipulada.

Passou meia hora longe da mesa dançando e bebendo com desconhecidos, de fato estava se divertindo. Quando retornou, eles pareciam conversar descontraidamente. Mas só pareciam. Pedro tinha um semblante confuso. Quase contrariado.

–Sam, pensei que tinha esquecido da gente. –Disse cauteloso. - Você esta bebendo muito é melhor comer alguma coisa. –Pedro alisava seus cachos enquanto falava. –Peguei uns salgados pra você.

–Obrigada! –Agradeceu sorrindo.

Comida, sua maior paixão, pegou um dos pasteizinhos na elegante cestinha, mas foi roubada bruscamente e viu o pastel ser jogado no recipiente pela mão de Freddie.

–Ela é alérgica a camarão. –Disse se dirigindo a Pedro com um olhar desaprovador.

–Eu não sabia... –Respondeu o outro se mostrando aborrecido. –Podia ter falado quando me viu pedir...

–Você namorou com ela a tanto tempo e não sabe? –Disse em tom desafiador.

Sam presumiu que aquela guerrinha já acontecia a muito tempo antes dela chegar. O tratamento de Pedro em relação a Freddie tinha mudado completamente, e ambos pareciam alterados. Lilian virava mais um copo de bebida. Aliás, a bebida parecia ser um grande refúgio para todos eles àquela noite.

–Quer que eu pegue outra coisa pra você, Sam? –Perguntou Pedro gentilmente.

–Não precisa, já pedi espeto de frango empanado pra mim, divido com ela.

Sam não deixou de sentir água na boca, e o que havia de mais se estavam todos na mesma mesa? Mas acontecimentos anteriores fizeram Pedro perder a paciência.

–Freddie, você ainda não percebeu que eu estou acompanhando ela? Pode por favor tentar ser menos inconveniente? –Ele praticamente esbravejou.

–Desculpe. Só não tenho culpa de você deixar ela sair tomando todas, dançando com estranhos e ainda tentar envenena-la com camarão. –Respondeu cinicamente. -Desculpa de verdade, mas ela é minha amiga e não tenho culpa se sei cuidar melhor dela que você.

Ninguém teve coragem de intervir. Assistiam a troca de farpas calados, constrangidos e chocados. Pedro dizendo que Freddie era um intrometido sem noção, Freddie dizendo que ele não fazia nada que preste pra ela e por ai vai... Sam estava confusa de mais para falar. Até que Lilian decidiu que não ia ficar sendo mais humilhada daquele jeito.

–Freddie! Já chega, deixa eles em paz, não pode bancar a babá de uma mulher de trinta e tantos anos.

Sam não tinha vergonha de seus 27 anos, não teria nem se tivesse 40. Mas aquilo já era de mais. Sabia que não aparentava nem 25, e aquela garota só queria provocar, Sam era famosa na área da tecnologia, Lilian sabia perfeitamente bem a sua idade.

–É deve ser mesmo humilhante não conseguir prender a atenção de um homem nem mesmo se vestindo com uma qualquer, não é? –Perguntou a loira saindo do transe.

–Você esta é com inveja de mim e resolveu fazer esse ridículo joguinho de sedução pra cima da boate inteira, ou pensa que ninguém reparou? -Irritado era eufemismo para o tom da garota.

–Joguinho? Querida, não sou eu que preciso dormir com um progamadorzinho que teve um projeto recentemente promovido pra conseguir me destacar.

–O que você esta insinuando sua vadia? –Os olhos de Lilian brilharam de fúria

–É com esse tipo de gente que você se mistura agora, Freddie? –Disse rindo vitoriosa da decida de salto da rival. -Que decadência!

–Decadente, eu? –Ele passou a gritar. -Esse ai quase te matou e não ta nem ai pro quanto você beba desde que consiga te levar pra cama, mas novidade, senhor advogado, eu voltei!

Aquele típico momento em que qualquer pessoa pensa em Eyes of the tiger.

Pedro acertou um soco no rosto de Freddie, que reagiu com outro de igual intensidade. Lilian, num surto de fúria, foi pra cima de Sam gritando “Culpa sua, vaca, vou acabar com você”. Carly não conseguiu deter, as duas caíram no chão com a ruiva por cima, mas não demorou para o jogo ser virado, Sam partiu a boca da garota e continuou a esbofetea-la. Freddie e Pedro, ou não viram suas acompanhantes se matando, ou estavam em demasia entretido com sua própria luta. Como qualquer multidão, ninguém tentou separar, apenas assistia, a maioria vibrava. Gibby foi chamar algum segurança para ajudar, aconselhando Tasha a se afastar. Griffin, com muito esforço, retirou Sam de cima da garota desfalecida e a segurou.

Aproveitando-se disso, Lilian levantou e acertou duas bofetadas na cara de Sam. Carly, absorta com a cena, não se movia, ignorando o pedido de ajuda do marido. Tomada de fúria, Sam livrou os braços das mãos de Griffin e o girou pelos pulsos arremessando-o com força por cima da mesa, fazendo-o cair com violência em cima de Carly. Os dois tombaram ruidosamente no chão.

Freddie e Pedro estarreceram com a cena, e pararam de trocar golpes ficando imóveis quase abraçados vendo Lilian ser pega novamente pelos cabelos e arremessada no chão. “Diz ai, é duro apanhar da vovó aqui, heim” Dizia a loira chutando a rival. Freddie se desvencilhou de Pedro e correu. Socorrer Lilian? Seria o certo, mas sabia que só ele, a segurança ou a policia seria capaz de parar Sam. E só ele poderia fazer isso sem machuca-la caso ela reagisse.

Pedro, ignorando o “Se afasta” sincero de Freddie, chegou perto tentando retira-la dos braços dele, mas Sam se debatia furiosamente e Pedro acabou levando um fortíssimo chute nas partes baixas, caindo de joelhos no chão urrando de dor.

Talvez apanhar durante toda a adolescência tenha feito Freddie dominar a arte de se defender de Sam, já que atacar parecia impossível, conseguiu se livrar de todos os golpes e leva-la até a calçada, parando um taxi e se enfiando dentro com ela antes que a policia aparecesse piorando tudo. Teve a perspicácia de pagar um empregado da boate que os conduziu pelos fundos.

Os seguranças só conseguiram passar pelo tumulto e chegar naquela área quinze minutos após a briga ter encerrado, encontrando uma mulher e um homem muito machucados. E um casal com expressão de dor por causa da queda de mau jeito.

Os seguranças perguntaram se era necessário chamar a policia, mas eles recusaram, Pedro como advogado aconselhou Lilian de que tendo ela dado o primeiro soco, seria processada por agressão e Sam apenas legitima defesa. E que defesa. Isso Sam soube apenas uma semana depois, no momento seria impossível.