Ele sentiu o braço formigar e levantou sem sentir a própria mão. O peso do corpo da loira que ele abraçava deitado o fez ter uma forte câimbra. Levantou-se e se dirigiu até o banheiro, onde fez sua higiene matinal. Se perguntou se algum dia Sam acordaria primeiro que ele. Esse pensamento só encorajou a decisão tomada sabe Deus a quanto tempo.

A primeira noite que passaram jutos, há anos atrás foi a mais especial, mas não foi a melhor. Não usaram preservativos, o que quase os levou a uma paternidade prematura, e a mãe quase os flagrou no quarto, a salvo pela porta trancada. Lembrou-se do sonho que teve e sorriu ao ver Sam dormindo recordar o trabalho que teve em desperta-la sem fazer barulho.

Vestiu-se e foi trabalhar. Já fazia algumas semanas que estava namorando com Sam e só de lembrar, era comum sorrir sozinho na rua levando credito de insano.

A mãe aprovou, e disse que demorou um pouco mais do que ela previra. Carly insistiu em dar uma festa pra comemorar, mas Sam dispensou. Pedro, Sam contou, lhe desejou felicidades por telefone, mas não quis entrar em detalhes. Ah, mas Melanie foi a melhor. Primeiro achou que fosse brincadeira, depois pediu desculpas a Freddie pelos insultos. Mas de forma extremamente doce, deixou claro que mais uma pisada de bola e ela entraria em contato com tio Carmine.

A empresa ainda não se adaptara com a falta que Sam fazia. Depois da inauguração, não retornou mais, e a louca estava tendo que gastar uma grana para pagar indenizações. Tinha um contrato de mais três anos, mas não aguentou nem mais um dia.

Apenas Freddie a apoiava nesta decisão, as demais pessoas, familiares e amigos diziam que ela estava se precipitando, pondo os pés pelas mãos. O relacionamento deles melhorava a cada dia. Sair para se divertir estava difícil no momento, tinham muito trabalho, mas um ajudava o outro nisso e já era alo a mais para partilharem.

Ainda assim, sempre arrumavam tempo para sair juntos principalmente, restaurantes, onde Sam mais amava ir. E o melhor: os momentos que passavam sozinhos, na cama trocando beijos, caricias e tudo o mais que um casal apaixonado tem direito. Os beijos, entretanto, não se restringiam a quando estavam sozinhos, não mesmo. Sentiam quase que uma necessidade vital dos toques, dos beijos, do corpo um do outro.

Freddie dirigiu-se a sua sala e sobressaltou-se ao encontrar uma carta formal que dizia que ele deveria ir para a Europa dentro de cinco dias para ajudar na divulgação do produto que iria ao mercado no próximo mês. A principio não gostou, pois teria que permanecer fora por uma ano e meio, viajando por vários países europeus. Mas achou que era uma boa oportunidade de viajar com Sam.

Chegou animado em casa, tinha todo o plano em mente. Trocou de roupa respondeu os emails. A noite tinha um jantar com Sam num restaurante. Era o programa preferido dela. Jantar, almoço ou café da manhã. E alem disso, havia algo mais planejado para essa noite.

Quando entrou no restaurante, por volta das sete, ela já o aguardava. Estava linda, e Freddie reparou que já havia muitos homens, alguns, mesmo acompanhados (esses mais discretamente) observando sua namorada.

O restaurante era amplo, decorado em cinza e vermelho, e havia uma banda ao fundo tocando musica clássica. Ele fez um gesto sutil para os músicos e se dirigiu a loira que nem sequer o vira aproximar-se.

–Sam? –Cumprimentou a loira distraída.

–Oi! –Ela levantou saindo por completo dos devaneios e o beijou apaixonadamente.

–Desculpe o atraso! Tenho uma noticia pra te dar. –Disse enquanto sentavam-se.

–É? Fala. Ah, eu também tenho uma!

–Primeiro as damas.

–Não. Fala você e não discute!

–Tudo bem. –Ele segurou as mãos da loira e olhou nos seus olhos. –Vamos viajar!

–Pra onde? –Perguntou sorrindo confusa.

–Uma ano e meio pela Europa com despesas pagas. O que acha?

A loira murchou.

–Um ano e meio? Por que?

–Eu tenho que divulgar o jogo e tudo mais, e não quero ficar sem você. Vamos por favor!

–Não posso. –Disse soltando as mãos de Freddie. –Tenho coisas pendentes aqui.

–O que? Podemos deixar um advogado cuidando dos seus processos e...

–Sabe onde eu estava hoje a tarde Freddie? –Interrompeu com um ar misterioso.

–Não.

–Na praia. –Respondeu -quando eu me formei, comprei um anel de diamante caríssimo e prometi a mim mesma que meu trabalho seria minha maior prioridade a minha vida toda. Acabei de jogar ele no mar.

–Não entendi. –Disse confuso.

–As coisas pendentes que me prendem aqui não podem ser resolvidas por um advogado. Você vai, eu te espero. Não vai ser a primeira vez.

–Sam, não fala assim. E um ano passa rápido, o que tem aqui de tão importante?

–Meu curso. –Ela desviou o olhar entregando a mentira. –Tenho que reiniciar minha vida, procurar outra coisa pra fazer, pra trabalhar.

–Ok, já entendi. Você não quer ir.-Disse decepcionado. - Mas me diz por que.

–Por nada, meu amor. –Ela sorriu voltando a beija-lo. – Como você disse, um ano passa rápido, logo estaremos juntos de novo. Se você não me trocar por outra...

–Engraçadinha... Eu vou te mandar dinheiro. Alias, se não quiser mais trabalhar...

–Não começa, senhor machista! Que dia você vai?

–Daqui a cinco dias. –Disse displicente.

–Já? –Sam fez um biquinho charmoso. –Se não me ligar todo dia, eu te mato!

–Por que não vai comigo? Vai ser divertido.

Sam baixou a cabeça pensativa. Definitivamente ela não iria. Freddie não entendia o por que, então se lembrou que ela tinha algo a lhe dizer.

–O que você queria me contar?

–Que... –Ela sorriu ansiosa. –Eu vou trabalhar num laboratório de biotecnologia. Começo na semana que vem.

–Legal! –Disse entusiasmado. Freddie era o único a apoia-la na louca e repentina troca de área. –De que?

–Ah, no começo só de assistente, mas já vou ter um entrosamento com os equipamentos.

–No que precisar de mim, sabe que pode contar comigo, heim?

Ela assentiu sorridente e eles fizeram seus pedidos. Continuaram conversando sobre muitas outras coisas, e vez por outra Freddie pegava Sam olhando pro nada com um sorriso ansioso. Ela estava diferente. No fim do jantar, Freddie procurou as palavras.

–Sam, você sabe que eu te amo, não é?

–Olha eu to sem dinheiro... Você paga a conta!

–Você esta muito engraçada hoje! –Disse revirando os olhos. – E quero ficar com você pra sempre.

Freddie retirou uma caixa preta do bolso e percebeu o riso debochado morrer no rosto de Sam.

–Você aceita casar comigo?

Sam perdeu a voz. É claro que ela queria, ficou evidente em seu sorriso bobo, mas não conseguiu responder.

–Tudo bem, pode me responder depois. –Disse vermelho.

–Sim! –Apressou-se nervosa antes dele guardar a caixa. –Eu aceito. Eu até ia te pedir, mas acho que modernidade tem limite...

Freddie riu e pôs o anel no anelar de Sam. O anel era de rubi e só então ela reparou que os músicos do lugar começaram a tocar Running Away. Não conseguiu evitar as lagrimas.

-Voce ainda lembra dessa...

-Minha preferida eternamente... -Respondeu Freddie sorrindo de lado.

Sam levantou e abraçou-o o mais forte que pode. As pessoas do restaurante aplaudiram o jovem e recente casal de noivos. Freddie estava decidido a fazer uma super festa de casamento digna de reis para eles.

Cinco dias depois, no saguão do aeroporto, la estavam eles se despedindo. A certeza de que Sam lhe escondia algo só aumentava, mas ela continuava normal, exceto por falar constantemente em códigos. Fugia das investidas de Freddie, dizendo que ele estava ficando paranoico, mas sabia que ela guardava algum segredo.

–E então? Não vai mesmo me dizer o que há de errado?

–Não há nada de errado. -Ela tinha os olhos marejados. -Nos veremos em breve não é?

–Sim. Nos veremos em breve.

Ele a beijou mais uma vez de forma que chamou a atenção de quem passava. Dez anos sem se comunicar nos não os separou, o que poderia dar errado em um ano? Ainda mais agora que estavam noivos! Mais do que nunca riria sozinho pelas ruas por um bom tempo agora.

–Quando eu voltar esteja preparada por que vamos nos casar!

Ela sorriu feliz e emocionada voltando a beija-lo.

Freddie se dirigiu ao portão de embarque com um certo peso no coração. Alguma coisa o dizia que deveria ficar, mas sem saber o que, resolveu partir. Era apenas um ano, e ele prometeu a si mesmo não passar um dia se quer sem falar com ela. Olhou pra trás mais uma vez e viu a loira sorrindo e contendo as lagrimas que teimavam em cair.

Lembrou-se do que sentiu quando ela foi embora. A dor dilacerante da despedida. Apressou o passo para fazer com que aquilo não durasse mais do que o necessário.

Dentro do avião, uma certeza. A prioridade na vida de Sam tinha mudado, e ele esqueceu de lhe perguntar o que era agora. Se deixou convencer de que era o amor entre eles mas alguma coisa lhe dizia que estava enganado.