POV Jade

Que estranho. Meus olhos estão doloridos e eu não consigo abri-los. Não tenho controle sobre nenhuma parte do meu corpo. nem mesmo minha boca que estava ressecada. 

Onde eu estou? Ok, agora me sinto estúpida. É claro que estou num hospital, numa daquelas sala brancas e vazias terrivelmente monótonas. Aquele cheiro e tão familiar... A quanto tempo estou aqui? Um dia? Dois?

Dores atrapalham meus pensamentos, intervindo em meio a eles como se para distrair-me. 

Todo aquele silêncio torturante pelo qual estou submetida é interrompido por um ranger de porta. Quero dizer que estou aqui, e certamente mandar quem é que seja sair. Quero levantar-me e ir em busca do Beck. 

Beck. Beck. Será que ele está bem? Será que ele teve mais sorte que eu, e consegue controlar algum membro?Ouço um arrastar de pernas continuo, cada vez mais próximo. Um suspiro pesado e cansado. 

Senti uma mão leve encostar em minha testa, só então percebi que ela estava molhada. Talvez suor, talvez sangue. 

Em um ritmo raramente oscilante, ouvi a doce voz suave do Beck cantarolar algumas músicas acompanhado dos perfeitos acordes a violão. Despertando em mim diferentes sentimentos e vontades em cada uma delas.

A primeira música foi Com As You Are de Nirvana. Nirvana, sua banda predileta graças a mim. Ouvi sua voz cantarolar aquela canção tao familiar encheu meu peito de agonia e transtorno por perceber a exaustão e o desespero misturados a amargura e a desesperança em sua voz. 

Venha no seu tempo, se apresse

A escolha é sua, não se atrase

Descanse, como um amigo

Como uma antiga lembrança, lembrança

Lembrança, lembrança

Logo em seguida ele cantou Okay. Ela era um dueto e eu sempre cantei ela com ele. Ele começou suavemente e senti seu nervosismo aumentar junto com um pouco de esperança. Ele esperou que eu começasse. Eu tentei. Daria tudo pra ver seu lindo sorriso agora, para abraça-lo e protege-lo, enche-lo de beijos e dizer que tudo vai ficar bem pra sempre e que eu nunca vou deixa-lo... Mas eu não pudi, não conseguir cantar mesmo que acompanhasse toda a melodia e cantasse comigo mesma.

Meus pensamentos eram os únicos que podiam me ouvir. Ele recomeçou a música quando percebeu que esperar por mim era inútil.

Não há mão levantada

Eu estou te dando a minha

Você não tem que acabar desperdiçando seu tempo

Há coisas que eu poderia dizer

Mas escute do meu jeito

Quero deixar você saber que está tudo ok

O sentimento de culpa corroeu todo meu corpo e dilacerou a minha alma, quando ouvi e  ele choramingar meu nome. 21 Guns, Green Day.

Reconheci a melodia e rezei pra que ele não a cantasse. Aquela era uma das músicas que certamente relatariam como ambos nos sentíamos e talvez nenhum de nós estivéssemos dispostos e vê-la tão de perto e enfrentar a verdades daquelas palavras cantadas pelos próprios personagem daquela trágica história. 

Quando você está no final da estrada

E perdeu todo o controle

E seus pensamentos te assombram

Quando sua mente arrasa com sua alma

Sua fé anda por vidros quebrados

E a ressaca não passa

Nada é feito para durar muito

Você está em ruínas

Pudia sentir a desilução em sua voz, e percebi que chorava ao cantar Always Sufferinf de Rollign Stones. Era como seu eu estivesse morrendo por dentro também, já que já parecia está morta por fora. 

Se lembra de quando

Em dias de verão

Eu cantaria uma canção de amor

Como você sorriria

Me enchendo de elogios

E o sol brilhou

Agora a chuva cai devagar

E as noites são longas

E o trem

Chora tão assombrosamente

Ela se foi

Não Beck, eu não fui, eu estou aqui. Estou aqui com você. Como queria gritar, Deus como isso está me torturando.  

A ultima a ser cantarolada foi Wild Rorses. Invadindo-me como uma tsunami arrasadora, senti meu peito apertar de saudade do seu olhos, seu sorriso.

Algumas das melhores e piores lembranças eram lançadas a mim como um filme com a perfeita trilha sonora. Gun's Roses, ouvimos essa música, na verdade todo o cd. em nosso aniversario de um ano...

Pudi ver seus sorrisos mais uma vez mesmo que turvo nas lembranças enquanto me estendia uma caixa de presente. Uma tesoura preteada com nossos nomes na lamina e o Cd que eu tanto queria e que pra sempre me lembraria.

Talvez essa musica tenha me marcado mais por ser ao som dela que demos o primeiro beijo no aniversario de um ano, logo apos uma briga sobre garfos de pratas e garçonetes insinuadas... E agora aquela poderia ter sido a trilha sonora de um triste final.

A infância é algo fácil de viver

As coisas que você queria eu trouxe pra você

Dama sem graça,

você sabe quem eu sou

Você sabe que não posso deixar você

deslizar pelas minhas mãos

A música acabou e pude perceber que ele me observava serio. Tentei me mexer, mostrar-lhe que podia ouvir, que eu ainda estou aqui. mas foi inútil. 

Ele afastou-se de mim, eu queria gritar seu nome e agarrar sua mão, no entanto nem mesmo minha respiração eu consegui alterar. Ela era calma e neutra, tão diferente de mim. Lagrimas se acumulavam em mim, ou talvez eu quisesse que elas acumulassem. ao menos assim ele saberia que eu nunca o deixarei. Porque estou sendo tão fraca? Vamos Jade, você é mais forte que isso, você é maior que... Talvez não... 

Meu rosto ardeu, com uma lagrima única, solitária e completamente invisível aos olhos dele que apenas continuava a mancar em afastando-se de mim.   

Relances de vozes suam fraca em minha mente. Atordoante e amedrontador. 

"Eu te amo." - Era o Beck que dizia, pouco antes de tudo ser apenas escuridão. 

"Ela não vai suportar" - Um voz rouca que demostrava cansaço e experiencia. 

"Soube que ela é má e que ninguém a suporta" - Uma mulher, talvez 18 anos, talvez 20. 

"Ela tem um ótimo namorado para alguém tão odiada" - Outra discordava. Essa talvez um pouco mais velha. Não muito. 25 anos talvez?

Flashes. Gritos. Lembranças, torturas. Um pedido. 

Beck: Não me deixe.