Flamma Amoris escrita por Karla Vieira


Capítulo 28
Sangue


Notas iniciais do capítulo

Bom dia amores! Tudo bem com vocês? Ainda não morreram de curiosidade? Bom... Espero que não me matem, né. Esse capítulo pode estar pequeno, mas o próximo está grande e eu vou revisá-lo pela décima vez para ver se dá para melhorar. Acreditem... Está muito legal. Bom, espero que gostem deste.



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Ethan Williams POV – Início da Madrugada de 11 de Maio.


– Por que você demorou, idiota? – Perguntou o Mestre, ríspido.

– Eu estava brincando com Marie Jean, Mestre. – Fletcher respondeu sorrindo malicioso e cruel ao mesmo tempo. Como eu não ouvi gritos, deduzi o que ele havia feito com ela e quis matá-lo no mesmo instante, mais do que eu já desejei na vida. Eu teria de achar uma maneira de me vingar dele antes que eu fosse... Morto.

O Mestre sorriu cruelmente.

– Acho que podemos promover o lindo reencontro entre o casal apaixonado, o que você acha, Gregory? – Perguntou. Fletcher sorriu.

– Acharia adorável.

– Pronto para ver sua namorada morrer, Ethan? – Perguntou o Mestre. – Pronto para vê-la implorar pela morte e não poder fazer nada para ajudá-la, somente olhá-la?

Não respondi. Meu cérebro trabalhava a mil para encontrar algo que pudesse salvá-la, e a única coisa que vinha era incerta e arriscada. Senti ser levitado, sem poder me mexer enquanto era levado até o tal do pátio. Fletcher entrou em outro quarto no meio do caminho e eu soube que era ali que Marie estava, mas por hora nada podia fazer por ela. Eu estava de mãos atadas.

Descemos uma escadaria enorme e passamos pelo hall de entrada da mansão abandonada. Saímos e o vento frio da noite veio contra meu corpo, enquanto eu era levado para um pátio gigante, com uma fonte igualmente grande no centro, com um anjo de mármore cujo nariz estava quebrado segurava um vaso de onde antigamente despejava água. Em frente à fonte havia um altar de mármore branco, com uns entalhos em latim e grego ao redor, na vertical. Esse era novo, não se encaixava com nada no jardim.

Fui colocado de joelhos no chão, e um grandalhão caçador que reconheci ser o Rogers ficou atrás de mim, fiscalizando-me. Nunca havia gostado deste cara e o sentimento era recíproco – imagino sua felicidade interior ao saber que eu era um traidor e que daqui a um tempo eu seria morto. Creio que ele nunca aceitou o fato de eu ter sido melhor caçador do que ele.

– ME SOLTA! – Gritou a voz de Marie Jean, e eu virei minha cabeça imediatamente procurando-a, e encontrei-a sendo arrastada pelo braço por Fletcher. Ela estava com suas roupas amassadas, com a blusa rasgada caída de lado no braço, mostrando a alça de seu sutiã e começando a mostrar o bojo deste. O colar que eu havia lhe dado estava em seu pescoço, brilhante.

Eu podia ver em seus olhos que ela havia chorado e que estava com medo. Não consigo descrever como eu me senti ao saber que eu era o culpado por tudo aquilo, que eu era o causador de seu sofrimento. Mas talvez eu fosse o único que pudesse salvá-la.

– ONDE ESTÁ HARRY? E FRED? – Perguntou ela aos berros, sem notar-me.

– Para quê tanta gritaria, querida? – Perguntou Fletcher. – Seus amiguinhos estarão aqui logo, logo.

Dito e feito. Outros dois caçadores vinham carregando um Fred inconsciente, com um filete de sangue escorrendo por sua testa, um Harry que se debatia, raivoso, com um corte em sua bochecha, e um Andrew que vinha aparentando calma, com um hematoma horroroso em seu olho direito. Os três foram deixados de qualquer jeito, amarrados, em um canto.

– Não se preocupe, Marie, foram todos convidados para a nossa festinha. – Disse o Mestre. – Até sua mãe.

Marie arregalou os olhos.

– Onde ela está? Não! Deixem-na ir! Ela não tem nada a ver com isso! Por favor!

– CALE-SE! – Vociferou o Mestre. – Rogers, busque a mulher. Ethan não será tão insano em tentar fazer algo contra nós.

Quando Rogers saiu, Marie olhou-me. Pela primeira vez não me olhou com raiva no olhar. Olhou-me com medo, com pena, com mágoa e mais medo. Não consegui sustentar seu olhar. Baixei-os ao chão, me sentindo um bastardo. Logo Rogers estava de volta arrastando pelo braço uma mulher idêntica a Marie, porém mais velha. Sua mãe.

– MÃE! – Gritou Marie, começando a chorar.

– Não se preocupe, meu anjo. Seja forte. – Disse a mulher, somente, aceitando ser amarrada contra uma árvore, com um semblante calmo. Seus cabelos estavam desgrenhados, havia uma cicatriz em seu supercílio e ela estava muito, muito magra.

– Agora que estamos todos reunidos aqui, vamos começar nossa festinha. Venha cá, Marie... Você é o centro das atenções esta noite.


Marie Jean POV – Madrugada de 11 de Maio.


Fui arrastada até o altar, onde me prenderam pelos braços com as palmas das mãos viradas para cima. Eu conseguia ver tudo: Ethan caído de joelhos no chão a minha esquerda, Fletcher parado me olhando na minha direita, Harry, Fred e Andrew amarrados em um canto e minha mãe amarrada em outro; e o céu estrelado e escuro acima de mim, com a lua cheia alva e brilhante. Se o momento não fosse tão aterrorizante, eu até diria que ele estava bonito.

– Então vamos começar, Marie... Você sabe o que vai acontecer aqui, hoje, não sabe?

– Eu vou morrer.

– Também. Mas Ethan irá morrer também, sua mãe também, seus amigos também. Não irá restar ninguém. E sabe por quê? Porque você é uma bruxa medíocre. Uma garota que nunca deveria ter nascido e deve morrer. Tem noção que é por sua culpa tudo isto?

Não respondi nada. Apenas continuei olhando para o céu em vez de olhar para a face hedionda daquele homem. Ele possuía uma cicatriz longa que vinha da sobrancelha direita até a linha de seus lábios; olhos em um tom de violeta assustador; o mais comum nele era seus cabelos negros com alguns fios grisalhos.

Ele sorriu e se distanciou um pouco, e eu sabia que ele estava atrás daquele altar. Um segundo depois ouvi o ruído de fogo sendo aceso, e vi seu brilho refletido no cenário ao meu redor. Voltou a ficar ao meu lado e levou sua mão a minha face e a acariciou, e tentei desviar.

– Tão bonitinha... Mas tão medíocre. Tão impura.

O homem segurou a minha mão e logo senti o ardor de uma adaga perfurando minha pele. Dois riscos foram feitos: um na vertical e outro na horizontal, formando uma cruz. Mordi meus lábios para conter o gemido de dor.

– DEIXE MINHA FILHA EM PAZ! – Gritou minha mãe. – MATEM-ME, MAS DEIXEM-A EM PAZ!

– CALE-SE, MULHER! – Vociferou o caçador que estava atrás dela, batendo em seu rosto e fazendo-a cair deitada. Mamãe não fez nada; não gemeu, não choramingou, nada.

O homem, o mestre dos caçadores, repetiu o mesmo ato na outra mão. Pude vê-lo fazer o mesmo em suas mãos. Aquilo deveria ser algum tipo de canalizador no feitiço, mas, sinceramente, não era isso que eu estava preocupada naquele momento.

O lugar estava em absoluto silêncio, apenas cortado pelo crepitar do fogo atrás de mim. O homem aproximou-se com a adaga, e olhando em meus olhos, levou-a na altura de meu peito e fez um furo em minha pele exposta pela blusa rasgada. Gritei. O sangue começou a fluir para fora de minhas veias, e o homem passou a adaga gelada rente a minha pele, pegando sangue. Saindo do meu campo de visão, ele foi para trás de mim, e voltou em seguida para cortar uns fios do meu cabelo. Desta vez, quando ele se afastou, senti o cheiro de queimado e supus que ele estava jogando aquelas coisas no fogo.

Uma lágrima escorreu de meus olhos e de repente eu não enxergava mais o céu acima. Eu conseguia ver Ethan de costas, ajoelhado no chão, e a mim mesma mais a frente. Minha visão voltou ao normal.

Perdoe-me” disse a voz de Ethan na minha mente. Olhei-o. Ele estava com lágrimas nos olhos. Desviei o olhar e nada respondi, nem mentalmente.

O homem estava de frente para mim, agora. Ele rasgou minha camisa na barriga, deixando-me com parte dela de fora. Ele levou a adaga até ali, fazendo um longo arranhão que ia em direção ao cós de minha calça. Gritei, remexendo-me de dor, sentindo as lágrimas arderem em meus olhos e o ferimento queimar. Ele fez outro corte, agora na horizontal, repetindo o desenho de cruz que havia feito em minhas mãos.

– Está doendo? Para que tanto grito? É só um arranhãozinho... – Disse o homem, cínico. Minha vista estava ficando turva devido à dor. – Impuro anima capti in impuro corpus, possidendi a tenebris potentia, per sanguinem vinculum ...

Ele começou a circundar o altar, riscando um círculo com a adaga suja de meu sangue. Onde ele riscava, surgia uma linha de fogo. Minha visão ficava cada vez mais turva enquanto ele dizia as palavras, riscando o chão ao meu redor. O meu sangue ficava cada vez mais gelado, e eu sentia meu coração bater descompassado, e insuportavelmente rápido e doloroso. O ar começou a faltar em meus pulmões, a medida que parecia haver duas mãos frias e queimantes em meu pescoço, apertando-o.

Entendi que eu estava morrendo.


Ethan Williams POV – Madrugada de 11 de Maio.


Marie começou a ter uma espécie de convulsão enquanto o Mestre realizava o feitiço. Suas veias estavam saltadas em sua pele, arroxeadas; seus olhos estavam virando-se nas órbitas, mudando de castanhos para avermelhados, e o sangue que escorria de seus ferimentos manchavam sua pele que ficava cada vez mais branca. Eu sabia o que estava acontecendo. E eu precisava impedir.

Preciso de sua ajuda para salvá-la” eu fiz o feitiço para comunicar-me na mente de Holmes e Andrew. Fred ainda estava inconsciente. “Eu preciso que vocês distraiam os outros caçadores e o Mestre para que eu possa agir. Vou fazer com que as suas amarras afrouxem. Ao meu sinal, ajam, seja lá como for. Por favor”.

Holmes assentiu discretamente. Andrew só me olhou e eu soube por seus olhos que ele me ajudaria. Focalizei meu pensamento para que as amarras deles afrouxassem, e me surpreendi ao ver que o Mestre não havia posto feitiço para que eles não se soltassem. Afrouxei as minhas, e tirei do bolso uma adaga que eu levava sempre enfeitiçada, para parecer outro objeto. Desta vez, era uma caneta.

Olhei para Marie. Sangue começava a fluir de seus poros – de todos eles. O feitiço estava em reta final. O brilho em seu colar começava a piscar, e a diminuir lentamente. A vida estava se esvaindo de seu corpo, na medida em que seus poderes eram transferidos para o Mestre, que estava parado do lado de fora do círculo de fogo recitando as palavras em latim.

Marie estava morrendo.

AGORA!” exclamei na mente dos dois, e os dois levantaram e começaram a travar uma luta corpo a corpo com os outros três caçadores e Fletcher. Eu corri até onde Marie estava, focalizando o pensamento para que o Mestre fosse lançado para longe, e como ele foi pego de surpresa, funcionou. Imediatamente o círculo de fogo traçado ao redor do altar apagou.

E tudo aconteceu muito rápido.



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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? O que aconteceu muito rápido, será?