Flamma Amoris escrita por Karla Vieira
– Ela está prestes há completar dezessete anos. Temos que agir antes do aniversário dela. – Disse o rapaz, envolto pelo capuz da jaqueta, olhando as costas da poltrona vermelha, iluminada pela luz do abajur – a única fonte de luz na sala.
– Eu sei. – Disse uma voz grossa vindo da poltrona. – O plano está pronto.
– E quem deverá cumpri-lo, senhor? – Perguntou o jovem rapaz. O homem se levantou da poltrona, virando-se para o rapaz, que fitou seu rosto macabro, com uma gigante cicatriz vinda da sobrancelha direita até a linha dos lábios; seus olhos eram de um intenso violeta e não mostravam um brilho amigável. Seus cabelos negros bagunçados, com pouquíssimos fios grisalhos.
– Você. – Disse o homem. O rapaz ficou surpreso; não esperava tal responsabilidade para si.
– E-Eu, senhor? – Perguntou o rapaz.
– Há outro alguém nesta sala? – Retrucou o homem mais velho, rispidamente. Ele respirou fundo, e continuou. – Sim. Você. É você que deverá por o plano em prática. Não se preocupe, vai ser divertido para você. Vai brincar com as emoções dela. Enganá-la. E no fim, vai trazê-la a mim. E se você fugir do plano ou falhar, você sabe seu destino.
O homem apontou para um canto da sala, que se iluminou fracamente e mostrou uma imagem horrenda; o rapaz estremeceu. De repente, sentiu como se duas mãos frias apertassem seu pescoço e o impedissem de respirar. Arregalou os olhos e tentou falar, ansiando por ar, porém sua voz não saiu. Sentiu seu sangue ficar gelado, fazendo-o tremer freneticamente, e seu coração começou a bater violentamente, chegando a doer. E o pior de tudo: sentiu uma dor aguda no peito, como se uma faca incandescente estivesse transpassando-o; olhou para seu peito e viu uma mancha de sangue na camisa. Ficou com medo. Olhou para suas mãos e viu que estavam ficando cinza. E de repente, tudo parou.
Horrorizado, olhou para frente e notou que seu mestre o olhava com um sorriso de escárnio na face. Apoiou as mãos no joelho, arfando. Seu peito ainda doía e ainda sentia frio.
– Eu não vou falhar mestre. – Disse o rapaz, tentando soar firme. O homem mais velho riu sarcasticamente.
– É bom para você que não falhe garoto. O que você sentiu é apenas uma amostra do seu castigo, se você falhar. Agora suma da minha frente.
O rapaz praticamente correu para fora da sala, desesperado por sair da presença do seu mestre. Correu pela mansão até chegar a seu quarto; ou seu antigo quarto. Teria de se mudar. Fechou a porta e encostou-se a ela. Foi até a cômoda e olhou-se no antigo espelho com moldura de ferro negro. Seus cabelos loiros bagunçados, seus olhos azuis cor do céu em dia ensolarado. Sorriu para o seu reflexo e viu seus dentes levemente tortos – a única coisa que mudaria em si mesmo. “Até que sou bonito” pensou.
Abriu o guarda roupa e pegou a mala. Colocou de qualquer jeito todas as suas roupas lá dentro; que não eram tantas quanto os rapazes da sua idade tinham, mas ele não se importava. Pegou alguns dos seus itens pessoais como sua adaga prateada com o símbolo da sociedade da qual fazia parte, seu livro pessoal (que era como um manual para si – lá continha tudo o que ele sabia e/ou precisava saber) e outras coisas digamos que, mais normais.
Pegou uma mochila e colocou dentro dela seus livros (que iam desde os livros da sociedade até livros de ficção como Harry Potter), seu diário – que ele mesmo não gostava de chamá-lo assim, parecia coisa de garota, mas era o que o caderno era – e algumas outras coisas mais. Logo, seu quarto estava completamente vazio. Exceto por uma gaveta, da qual se lembrou no último instante. Abriu-a e encontrou um pequeno e antigo álbum de fotografias. O álbum da sua família – lá se encontravam as fotos e os momentos mais “especiais” de sua família desde 1589, quando tudo começara. Colocou o álbum dentro da mochila, e olhou uma última vez para o quarto.
– Vamos lá, Williams. Você tem trabalho a fazer.
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O que me dizem?