“Deixe queimar” – Set Fire To The Rain, Adele.

Novamente destruindo um planeta, novamente sendo o culpado de tudo, os olhos verdes estavam céticos olhando ao céu enegrecido, em breve choveria, e as primeiras lágrimas do céu não tardaram em chegar.

Loki fechou os olhos, a muito tempo atrás havia perdido o medo de tempestades, quando Thor o havia confortado que ele nunca deixaria uma tempestade atingí-lo. Mas o medo estava voltando, tempestades eram ruins, traziam agouro a ele.

Tempestades lembrava o irmão mais velho, tempestades o fazia recordar aqueles olhos azuis profundos como o céu vibrante de Asgard pela manhã, a pele bronzeada como o ouro, o cabelo vibrante, com uma textura que dava vontade tocar. Jamais esqueceria o dia em que recebeu um abraço apertado do irmão, aquele foi o dia que se apaixonou perdidamente por ele.

oOo

Era um dia qualquer, Thor já tinha seus dezenove anos Asgardianos, enquanto Loki estava com os dezesseis ainda, ele não via a hora de conseguir crescer mais um pouquinho para conseguir se igualar ao mais velho. Era tudo o que ele mais queria, apenas ser igual ao irmão.

Mais um dia de treino, estava cálido. Loki sempre se sentava sob uma árvore de um fruto doce como o mel e passava horas comendo frutas e lendo seus enormes livros de romance. Odin sempre incentivava os filhos a treinarem, mas Loki realmente preferia ficar em baixo das árvores lendo e bem afastado do mais velho, talvez assim ele não fosse a chacota deles.

Thor sempre treinava algumas horas por dia, não tão longe dali. Loki levantou o olhar assim que uma sombra tampou a iluminação de seu livro. Era o mais velho. Estava perfeito. Estava sem camisa, o suor escorria desde a testa até o peito, a arma pendia em seu cinto reluzente, era apenas um adolescente, mas já impunha muito mais poder que vários homens velhos de Asgard.

O mais velho se sentou ao lado do irmão, tentando fazer companhia ao irmão que tentava manter sua atenção no livro, mas era quase impossível, Thor era meio atrapalhado, então até a respiração dele atrapalhava ao moreno.

— Hum? — Murmurou Loki, passando de uma página a outra. — O que você quer, Thor?

— Eu? Nada! — Sorriu ironicamente, pegando uma das frutinhas da bandeja de Loki.

— Já se cansou de seus amigos? — Perguntou Loki, colocando a mão na bandeja para pegar outra frutinha vermelha, não esperava que a mão de Thor estivesse ali. Fez de tudo para não ficar corado. Mas foi impossível.

— Não, claro que não... — Respondeu Thor, não se importando com o contado da mão do irmão, simplesmente passou uma das frutinhas para a mão dele, aumentando ainda mais o contato de peles. — É só que... Pensei que pudesse me ajudar.

— Eu? Ajudar o grande Deus das Tempestades?... — Sorriu ironicamente Loki. — Que honra!

— Irmão! — A voz de Thor saiu ainda mais grossa do que sempre fora, séria, não estava brincando. Odiava quando Loki se fazia de rejeitado.

O moreno apenas o olhou, o olhar paciente como sempre, colocou o livro aberto sobre o colo, cruzando os dedos da mão. Os olhos verdes encaravam o rosto nervoso do outro Deus.

— Estou ouvindo. — Falou Loki, a voz calma.

— Me ajuda em uma pequena travessura? — Loki sorriu instantaneamente, foi impossível Thor não sorrir com aquilo.

Era como um troféu para Thor, ter um sorriso sincero de Loki, os impulsos fez com que o loiro agarrasse o menor e o abraçasse com força, uma força digna de Thor, esmagadora. Se Loki morresse ele sabia que já estaria no mais alto posto de Valhalla, apenas por aquele abraço.

— Obrigado irmãozinho! — Sorriu imensamente o loiro, se levantando em um solavanco.

— Espera! Nós não chegamos a um pagamento... — Falou Loki, sorrindo para o loiro.

— Pagamento?...

— Claro, sou eu quem vou fazer tudo, como sempre... — Realmente sempre era Loki quem tinha que organizar tudo nas travessuras que os irmãos aprontavam.

Thor nunca se importava de pagar as coisas que Loki pedia, as vezes eram mirabolantes, como por exemplo quando ele pediu que extraísse o coração de uma rã para poder fazer uma poção. O loiro aprendeu que Loki odiava rãs. O loiro sempre bolava as travessuras mais por desfechos do que para se divertir, era o único momento que sempre podia ver o outro sorrir.

— Tudo bem, o que você quer desta vez? Olhos de escorpião? Sementes de ervas daninhas?... Coração de peixe?

— Por Asgard, não Thor. Olhos de escorpião não tem nenhum sentido... — Respondeu Loki, fazendo uma careta. O que era uma completa mentira, pois fizera Thor ir buscar isto semanas depois. — Em verdade, é algo que faz tempos que não fazemos...

— O quê? — Perguntou Thor, curvando a sobrancelhas.

— Vamos dormir hoje lá na floresta. Faz tempo que não acampamos. Frigga nunca me deixaria fazer isto sozinho e você sabe que não tenho amigos...

— Claro! — Sorriu Thor.

Foi uma dos melhores acampamentos que Loki jamais fizera, pois foi uma noite confortável, apenas Thor havia ido, não havia levado nenhum de seus irritantes amigos. Então ele apenas foi com Thor caçar algo para comerem, era mais pela aventura de conseguir o próprio alimento, o moreno odiava matar animais, mas para o loiro havia sido algo super legal de se fazer com o irmão. A noite foi também deliciosa, os dois dormiram na mesma barraca, foi difícil para Loki conseguir dormir, e mesmo que ele não soubesse, foi difícil também para o loiro.

oOo

Era uma boa lembrança, fez Loki sorrir apesar do momento, ele sentia-se bem, tinha vontade de fechar os olhos e apenas tentar acordar daquele pesadelo que estava acontecendo. Fez isto, fechou os olhos e ficou apenas sorrindo, ouvindo a destruição ao seu redor.

Se imaginava em Asgard, com o mais novo e o mais velho, recebendo agradecimentos de Odin, recebendo afeto de Frigga. Todos felizes ao redor da mesa de jantar, conversando com felicidade. Era tão bom...

Mas era apenas um sonho. Um maldito sonho que nunca se tornaria realidade. Ele era um perdedor, sempre seria. Ao lado de Thor seria sempre apenas um pobre coitado que tivera o azar de nascer filho de quem era.

A chuva batia contra seu rosto, era acolhedor, logo viria algum dos amigos de Thor para matá-lo, ele deveria estar preparado, também não morreria por ninguém. Havia apenas uma pessoa que conseguiria matá-lo. Que apenas uma palavra poderia acabar com seu coração.

Ele jurou para si mesmo que se tudo acabasse bem falaria a Thor de seus sentimentos por ele, independente do quão errado fosse, ou se Thor não o amasse, apenas falaria as palavras que sempre ansiou por falar.

— Loki. — Falou uma voz impassível, calma, carinhosa.

Foi impossível os olhos se manterem fechado. Era ele.

oOo

O avião foi atingido, Clint teve trabalho para conseguir fazer com que ele pousasse no meio de uma das ruas agora destruídas de Nova Iorque.

— Vai explodir! — Gritou Clint, fazendo com que todos saíssem.

Correram para longe, e em seguida uma explosão fez com que destroços do avião se espalhassem por todos os lugares. Felizmente aquela rua estava abandonada de pessoas, enquanto os alienígenas disparavam contra prédios.

— Fique atrás de mim. — Ordenou Steve para o garoto que olhava tudo com angustia. Agora via tudo o que ele estava causando. Ele ficou receoso, Steve cobriu o rosto com o capuz de capitão américa e sacou a arma de um lugar em seu cinto.

— Eu preciso ajudar... — Sussurrou Hugo, movendo-se para trás, era sua obrigação ajudar em algo.

— Não você não precisa. — Falou Natasha, o surpreendendo, ela estava atrás dele, o segurou. — Por favor querido, deixe que nós defendamos o nosso planeta, apenas fique e assista.

No primeiro estalo que Natasha deu contra um dos alienígenas, fez com que o garoto tampasse o ouvido, ele nunca pensou que estaria envolto de uma guerra, pelo menos sempre desejou estar o mais afastado possível delas, desde que havia visto como era uma por meio de Odin. Vários outros disparos começaram, vindo tanto dos vingadores quanto dos alienígenas.

Ao fim, haviam vários dos bichos caídos ao solo, se corroendo em um plasma roxo, enquanto ficava apenas a armadura que os protegiam do ambiente diferente da Terra.

— Isto é horrível. — Comentou Hugo, enquanto os três humanos que o cercavam recarregavam suas armas.

— Mas necessário. — Falou Steve, puxando o gatilho. — Eles irão matar dos nossos, por favor, entenda o que estamos fazendo...

— Eu entendo... Mas... Não poderiam apenas tentar conversar com eles...

Clint riu ironicamente, como se o garoto falasse a maior besteira do universo, ele se sentiu realmente acuado por aquilo. Então ficou realmente nervoso. Algo verde e grande pulou ao lado deles, se assustaram, mas era o Hulk.

— Ei, ei, ei! — Falou o Homem de Ferro pousando ao lado do Hulk. — Ei sei que você está com raiva de mim... — O Hulk tentou dar um soco no Stark. — Mas... Apenas direcione a raiva de mim para eles... É fácil grandalhão.

O gigante verde deu um rosnado, algo havia sido entendido, felizmente a tempo, pois no final daquela grande avenida apareceu uma enorme criatura, que parecia uma baleia mas era um monstro horrível, que flutuava, atacando os prédios ao redor dele.

— Vai lá grandalhão! — Estimulou Stark, e saiu do caminho do Hulk que começou a correr em direção ao monstro. — Dez dólares que o bicho vai comer o Hulk.

Apenas alguns segundos depois o gigante verde tinha abatido a criatura com um forte soco na nuca dela, fazendo-a cair e se transformando em algo nojento. Começaram a aplaudir mas Stark apenas acenou a cabeça, se tivesse apostado com alguém teria perdido.

— Olhem. — Falou Steve, sério, apontando ao céu, milhares de novos seres como aquele ingressavam ao planeta, se espalhando pela cidade. — Nós não vamos conseguir.

— Isso já foi o suficiente. — Sussurrou Hugo, nervoso, aquilo era tudo sua culpa, ele tinha que parar a máquina que alimentava o portal. — Ele apenas queria que Thor já tivesse beijado Loki, era apenas um beijo que ele precisava.

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— Não há como parar isto, Thor. — Falou Loki, cético, o rosto paralisado em uma expressão que ele pensou nunca ter, entre a dor e a angústia.

— Eu sei. — O rosto de Thor se iluminou com um sorriso, ele nunca pensou que daria ouvidos para um garoto que ele mal conhecia. Mas não precisava de um garoto para fazê-lo fazer algo que ele queria fazer havia tempos.

Thor se aproximou, Loki se manteve imóvel. Até um momento que o irmão estivesse próximo o bastante para que os olhos pudessem transferir sentimentos. A água deixava o cabelo de Loki escorrido, enquanto o de Thor ficava em um emaranhado.

— Eu não vim aqui por nada disto. — Respondeu Thor, encarando seriamente ao irmão.

Loki mexeu um pouco a mão, havia uma pequena adaga nela, aquilo nunca pararia o Grande Thor, mas era sua única defesa contra qualquer outra coisa. Thor apenas tocou na adaga e ela se caiu, Loki nunca o feriria.

O Deus do Fogo estava fraco demais, então apenas caiu de joelhos, se segurando nos braços do Deus dos Trovões. As mãos de Thor estavam cálidas, convidativas, Loki apenas fechou os olhos, esperava morrer, que o Grande Thor apenas tivesse misericórdia dele para uma morte rápida.

Mas não ouve morte, apenas tudo começou a queimar ao redor, Loki não controlava seu poder, era demasiado difícil controlá-lo naquele momento, sentindo-se como um perdedor de sempre, quase ajoelhado para o irmão, submisso.

A chuva queimava como o grito de um trovão ao longe da chuva, Thor não tinha nada a ver com aquilo, mas, em partes, também tinha, ele se sentia daquele modo. Fez o mais prudente, não deixaria o irmão caído de joelhos. O loiro apenas puxou o irmão para si, em um abraço corpo-a-corpo que tantos anos antes havia ansiado em dar.

Estava tudo escuro, os olhos de Loki estavam completamente fechados, esperando por uma morte que nunca viria. Mas, o lado de Thor que ele nunca conheceu se revelou, ele não estava sendo esmagado, em parte, era um abraço, sentiu um beijo em sua testa.

— Eu prometi sempre te proteger. — O loiro sussurrou, sentindo o corpo fraco de Loki contra o seu. — Eu prometi sempre estar contigo.

— Por favor... Thor... — Gemeu Loki, sentindo-se extremamente bem naquele abraço. — Não me solte... Eu não quero morrer... Eu não quero ir embora...

— Shii...! — O loiro silenciou o moreno. — Você nunca irá, enquanto eu existir, você existirá. Eu juro. Eu fui tão burro em te esconder isto por tantos anos...

O fogo queimava vivamente, apenas mais uma palavra de Thor faria com que todo aquele mundo explodisse em chamas, mas Loki conseguiu controlar o que sentia. Daquele modo algo do fogo que tinha em si foi contido.

Finalmente Loki teve coragem de abrir os olhos, daquele modo a escuridão acabou e o primeiro que viu foi um universo azul, que ele jurou que nunca veria novamente, mas, ele estava ali. O segurando, o apoiando, mesmo quando ele mais falhou.

— Você não precisa me esconder as coisas Loki. — Falou Thor. — Eu já sei de tudo, sei que temos outro irmão. Ele está a salvo, ele conseguiu escapar, tudo se resolveu. Isto não foi necessário.

Loki sentiu uma pontada no peito, novamente ele era um perdedor, sempre seria. Tudo acabou bem, Thor seria o vencedor novamente, mas afinal, ele não se importava, apenas queria que aquele momento durasse para sempre.

A chuva levava algo que Loki jamais poderia pensar, um novo trovão ecoou pelos céus, e a única coisa que ele ouviu foi o nome dele. Thor. O nome que sempre estava na sua cabeça.

Mordeu os lábios, eles formigavam. A pele estava mais pálida do que nunca, parecia que Thor irradiava luz para ele, a cada relâmpago no céu a silhueta dele se destacava, mostrando o quão imponente ele era.

— Thor... — Sussurrou Loki, com medo do que o irmão o faria.

— Fique quieto. — Falou Thor, puxando bruscamente o moreno para um bote certeiro como o de uma cascavel do deserto.

A chuva realmente chamava seu nome, os trovões era a felicidade de Thor. Loki não conseguiu se segurar, ansiava tanto por aquele beijo que pensou que nunca viria...

A língua do loiro pediu passagem, não foi necessário muito esforço da parte dele, Loki cedeu. O moreno sentiu a textura da língua dele, era cálida e enérgica, ele podia sentir um raio energizar-se contra ele, mas não era um raio, era o próprio Thor.

Enquanto a chuva caía sobre os dois corpos, era como se ela lavasse a alma e a consciência de ambos, como se nada jamais tivesse acontecido, como se existissem apenas os dois. As asas de Loki já não eram negras e sim brancas, novamente puras e o semblante de ambos já não era mais preocupado, temeroso ou raivoso, e sim amoroso, terno. Eles se amavam. Se pertenciam.

O telhado daquele lugar pegou fogo, mas Loki não tentou controlar seu amor, aquele era o primeiro e mais perfeito beijo dele, então apenas deixou queimar.