“Harry segurava minha mão levemente e seguíamos com nossa caminhada lenta. O rumo? Não sabia. Mas aquele era o tipo de momento em que nem por uma pequena fração de segundo você se perguntaria o motivo de estar fazendo aquilo, apenas pelo fato de que você estava exatamente com a pessoa que você queria estar, não importava o lugar, a hora, só ela, e mais ninguém.

–Não sei se poderei te ver logo...-disse ele quebrando o silêncio, que não me incomodava assim como geralmente, pelo contrário, mas que não poderia ser comparado à sua voz encantadora, mas dessa vez pude perceber seriedade e preocupação nela, assim como em seu rosto.

–Por quê? – paramos de caminhar e perguntei mesmo com medo da resposta.

–Todos sabem muito bem que não sou bem-vindo aqui – respondeu rapidamente.

–Por mim, você é e sempre será - disse fitando seus brilhantes olhos castanhos.

Ele abriu um sorriso fraco e triste.

–Mas nunca pelos seus pais...

–E eles precisam saber de suas visitas?-perguntei sorrindo para ele.

Quando Harry ia me responder, alguém no salão em que eu estivera me chamou, lembro de ter ouvido um outro nome que não era o meu, mas estranhamente eu sabia que era a mim que procuravam.

–Acho que já tenho minha resposta... - disse quando reconheci que a voz era de minha mãe.

Soltei minha mão delicadamente da dele, me despedi e saí andando rumo ao salão, mas poucos passos depois me virei para vê-lo uma última vez, para minha sorte, ele ainda estava lá e me observava”

–Filha! Vamos! –disse minha mãe batendo na porta do meu quarto como em todas as manhãs.

Seguindo minha velha rotina, só que naquela nova cidade, tomei banho, me arrumei, guardei meus materiais, tomei café e fui à escola de carro com meu pai. E desde o momento em que acordei não consegui parar de pensar no dia anterior, em que Harry me levou até minha casa, onde ele havia morado antes de mim. Naquele dia, após as aulas, ele fez o mesmo.

–Obrigada por me trazer até aqui.

–Ao seu dispor, milady-disse ele fazendo uma reverência.

Respondi o reverenciando também.

–Quer entrar um pouco?- ofereci- Só não ligue para a bagunça. Mudança...Parece que podemos construir um forte com as caixas...

Harry parecia distraído, vendo algo em casa. Fingi que tossia para chamar sua atenção.

–Ah, desculpa, não vai dar...hoje não.Eu tenho que ir.Tchau- disse ele se afastando de mim. Me virei para ver minha casa e encontrei meu pai. Fiquei parada no mesmo lugar, perguntando em minha cabeça o motivo de sua estranha reação, não conseguia pensar em nada que justificasse aquilo, até que me ocorreu a ideia de que tivesse alguma relação com meu pai, mas por quê? Depois de algum tempo passei a pensar que meu sonho havia sido uma espécie de pressentimento. Quisera eu que não fosse...

No dia seguinte, Harry continuou com seu comportamento estranho, o que me perturbava.

–Posso falar com você um minuto?-perguntei assim que cheguei à escola e o vi.

–A-agora não posso, tenho que ir-respondeu se afastando.

–Eu prometo que não vou demorar.

–Outra hora-quando ele disse isso, percebi que havia algo que estava escondendo de mim.

Na classe, Harry se sentou longe de mim. Quando a aula acabou fui procurá-lo mais uma vez.

-O que está acontecendo com você?

-Como assim?-perguntou arqueando uma sobrancelha.

-Não se faça de desentendido. Você me evitou o dia inteiro.

-Pergunte ao seu pai- disse cruzando os braços.

-Não entendi- disse confusa.

-Ah! Quer dizer que você não sabe?

-Eu perguntaria se soubesse?- rebati com frieza em minha voz.

-Certo. Então eu te conto: Seu pai foi o responsável pela demissão do meu. Deve ser por isso que você se mudou para cá. Não é mesmo?