P.O.V. Hayley

Quando finalmente Demi terminou de se arrumar e tomou seu café da manhã (após minha enorme insistência) saímos e fomos para a escola. O caminho não era muito longo, a escola ficava a somente algumas quadras dali. Nia só ia com a gente de vez em quando, normalmente quando seu pai não ia trabalhar, já que ele a levava todos os dias a caminho do trabalho. Conversamos o caminho todo (como sempre) e nem percebemos quando finalmente chegamos à esquina da escola.

A entrada e o ‘campus’ da escola estavam lotados de rostos conhecidos, alguns que eu tinha vontade de nunca ter visto. Mas não importava, não me importava mais o que eles pensavam. Olhei para Demi e ela parecia ter os mesmos pensamentos que eu.

P.O.V. Demi

Ver todos aqueles rostos novamente não me animou nem um pouco, quase todos eles não gostavam de mim desde que estudamos juntos na pré-escola. Hay parecia estar pensando o mesmo que eu, mas seu rosto era mais animado que o meu naquele momento.

–E aí Demi, pronta pra mais um ano?

–Pra mais um ano de zuações, professores chatos e exclusão social? Pode apostar que sim! – eu disse rindo de nossa agradável situação.

–HAHA Relaxa – disse a Hay com aquela risada que sempre me fazia sorrir – Ninguém vai nos derrubar! Somos invencíveis! – disse ela fazendo pose de lutador e dando um soco no ar.

–É, agora nós somos.

Não que eu me sentisse forte ou “invencível”, mas concordei com ela. Hay era bem mais forte do que eu, assim como Nia. Não forte fisicamente, mas emocionalmente. Nia nunca sofreu bullying tanto quanto nós, mas ela sempre estava lá para nos defender e pra pagar de excluída conosco (não que ela se importasse). Não ter sofrido com isso durante sua vida escolar não tornava a vida dela mais fácil que a nossa, muito pelo contrário. Seus pais eram músicos e a vida toda ela foi cercada por pessoas que queriam alcançar o sucesso de qualquer forma. Nia se cobrava demais e sempre se sentiu pressionada a fazer o melhor (mesmo que isso fosse além de suas capacidades). Ela sempre foi a garota descolada e que tinha uma vida invejada por todos. Mas não era bem assim. O fato de se cobrar tanto e de ser tão cobrada às vezes a fazia entrar em colapso e sua busca pela perfeição na maior parte do tempo se transformava em lágrimas. Ela também tinha a mania de se doar totalmente às pessoas sempre que a pediam ajuda, queria sempre mostrar como era melhor e como era capaz de fazer tudo. Mas no fundo ela sabia que não podia fazer tudo, e sempre que algo dava errado ela se culpava. Eu tentava ajudá-la ao máximo dizendo que não era culpa dela e que ela não podia ser perfeita o tempo todo. Na verdade todos nós tentávamos. Acho que era isso que nos unia cada vez mais. O fato de todos nós termos problemas maiores do que nós conseguíamos agüentar.

Essa nossa união também melhorou algumas coisas na minha vida quando se diz respeito ao bullying. Eu era tímida e nunca fazia nada quando me provocavam, mas já as duas nunca ficavam quietas quando os outros nos incomodavam, elas SEMPRE revidavam. As garotas tinham medo delas e os meninos, bem, eles continuavam nos zuando, mas com menos freqüência agora. Aquelas duas eram loucas, mas eu gostava daquilo. Eram as loucas que eu mais amava no mundo.

P.O.V. Hayley

Após ficarmos um tempo paradas ali fora esperando Nia (que não apareceu), resolvemos entrar na escola e ir logo para a sala. Melhor ficar lá sentadas do que ali, onde aqueles olhares tentavam nos intimidar. Não que aquilo me assustasse ou me amedrontasse, mas eu sabia que Demi realmente não gostava disso e queria permanecer o mais longe possível daquelas pessoas.

Ao chegar na sala, vi que nada tinha mudado. Espera, tinha algo diferente. Na verdade uma pessoa diferente. Era uma garota loira sentada perto da parede. Ela tinha os cabelos cacheados (muito bonitos por sinal) e estava lendo um livro. Ela estava sentada perto do nosso lugar de costume, e nos dirigimos até lá para colocar nossas coisas na carteira. Demi não tinha nem percebido a garota, obviamente. Quando digo que ela só funciona depois das dez da manhã é porque É VERDADE. Quem sabe ela notasse que havia alguém diferente ao lado dela depois de uma meia hora, até lá o jeito era esperar por Nia e pela lindíssima aula de matemática que viria a seguir.