- Eu não consigo ver voce e o Cebola juntos sem pensar que existe alguma coisa entre voces. Eu vejo como ele te olha e como voce olha pra ele.

- Mas o Cê gosta da Monica.

- Ele pode até gostar dela, Isa, mas também sente algo por voce. – Quando escutei isso, percebi que o Cebola gosta de duas pessoas, assim como eu. Será que era sobre isso que ele queria conversar comigo? – E eu vejo que voce gosta dele também.

- Luca... eu gosto de voce...

- Também, certo?

- Sim. – disse, magoando mais ainda o garoto que eu gosto. Ele pegou meu rosto e, com serenidade, sorriu.

- É melhor darmos um tempo. Pra voce decidir. E pra ele também. Apesar de tudo ele é meu amigo.

Eu me ajoelhei e dei um abraço no Luca. Não tinha percebido que ele sabia de tudo. Escutamos a porta sendo destrancada, a Magali e a Monica dando risadinhas.

- Bem pombinhos, parece que deu tudo certo.

- É claro, Monica. Nossos planos não são iguais aos do Cebola.

- Pois é meninas, falou. Eu to morrendo de fome e voces nem deixaram um lanche pra gente.

- Eu tava indo comprar algo pra voces mas quando paramos de escutar os gritos, suspeitamos que tinha dado certo. – Monica disse, dando espaço pro Luca sair.

- Então Isa, deu certo mesmo? Voces voltaram?

- Não voltamos, demos um tempo, Magá.

- Mas isso significa que não deu certo então?

- Na verdade deu certo sim. Conversamos bastante, mas decidimos dar um tempo. Agora eu to morrendo de fome, vamos embora, antes que minha mãe guarde a comida.

Combinamos de encontrar o casal Cas ( era assim que chamávamos o Cascão e a Cascuda) para esclarecermos a história. Tínhamos que fazer isso devagar, e as meninas ainda tinham muita raiva de mim, por causa do churrasco. Ficamos a tarde toda tentando convencer a Cascuda de que eu tinha feito isso por causa do plano, e depois que eu disse a ela sobre a conversa que tive com Luca, ela me desculpou e voltamos à amizade.

No dia seguinte eu tentei conversar com Cê, mas ele sempre tava ocupado com alguma coisa, então deixei quieto. Iria na casa dele mais tarde. Quando deu umas seis e meia da tarde, cheguei lá e a Mariazinha atendeu a porta e quando me viu, fechou a cara, emburrada.

- Oi, ex-cunhada.

- Oi Maria, o seu irmão está?

- Ele tá sim, mas não quer mais saber de voce, ouviu? Ele só fala na Monica.

- Isso é mentila... digo mentira.

- Cebola, eu queria te chamar pra irmos dar uma volta, quem sabe pra comprar uma certa bonequinha...

- Sério que voce vai comprar minha Blérbie?

- Sim.

- Então eu devo ir junto, porque voce não vai saber qual modelo que eu quero.

- Filha deixa de ser interesseira. É um presente, então vai receber qualquer um. – disse Dona Cebola quando entrou na sala.

- Tudo bem, Dona Cê. Hoje eu quero fazer um agrado pra Maria.

- Ela vai ter que ir mesmo? Mãe! – O Cebola ficou reclamando.

- Cê, lembra que ela nos viu aquele dia? – sussurrei pra ninguém mais ouvir.

- Mas eu não vou ficar tomando conta dela não. E se ela me desobedecer volta pra cá na mesma hora.

- Vão logo e com cuidado.

Assim, saímos os três juntos comprar a boneca da Mariazinha que eu tinha prometido e também darmos uma volta, para que o Cebola pudesse me falar sobre o que quer que fosse que ele queria me dizer no colégio ontem.

- Ainda bem que voce sai pontualmente do serviço.

- Pois é. To gostando muito de lá. Mas o que deu em voce para querer comprar essa boneca hoje?

- Eu queria dar uma volta no shopping, e aproveitar e escutar o que o senhor tinha pra me contar ontem.

- Ah, sobre ontem... Eu queria conversar sobre ... Maria para de pular feito pipoca. E corre mais devagar.

- Correr devagar? Essa é nova. – Maria disse isso e foi correndo pro playground do shopping.

- Calma Cê, ela é só criança. E assim é mais fácil da gente conversar. Antes de voce falar, eu queria te dizer que eu e o Luca demos um tempo.

- Sério? Era isso que voce tinha que resolver no anfiteatro?

- Sim. Na verdade ele sabe que voce ... e.. eu... que sentimos algo um pelo outro.

- Isso não muda o que aconteceu na casa da Aninha. Eu ainda estou bravo com voce por ter feito aquilo comigo. Mesmo tendo sido a única opção que voce pensou na hora pra ajudar a Magá.

- Desculpa. Eu...

- Eu não terminei, Isa. Estava muito confuso sobre o que sentia por voce e eu sempre gostei de uma garota, sabe. Ela era tudo pra mim e eu não admitia isso. Mas depois daquilo eu pensei muito e vi que deveria continuar a investir nela.

- Voce tá me dizendo que...

- Que eu quero ficar com a Monica.

Quando escutei isso senti como se tivesse caído em um buraco sem fundo. Eu fiquei sem o Luca pra ficar com o Cebola e ele vem me dizer que não me quer?

- Sabe Cebola, eu sempre soube que voces iam ficar juntos. Até te disse isso uma vez, se lembra? Pois então, acho que já deveria ter se declarado pra ela, pois ela gosta de voce. Ela mesma me disse isso no fim de semana que passamos no clube.

- Sélio? Pô Isa por que não me disse isso antes?

- Bem agora voce sabe né? Eu vou com a Mariazinha na loja que ela tá querendo pra comprarmos a Blérbie. Daqui a pouco a gente volta. – disse isso para fugir dele. Não queria que ele visse meus olhos se enchendo de lágrimas.

- Maria? Vamos logo na loja porque tá ficando tarde né?

- Isa por que essa cara de choro? O que meu irmão idiota fez?

- Ele não fez nada, amore. Nada.

Escolhemos a boneca dela e fomos embora. Nesse tempo eu consegui me recompor e encontramos o Cebola na praça de alimentação com três sorvetes na mesa.

- O seu é de morango com maracujá né?

- Sim, meu favorito. – dei um sorriso triste, mas ele não percebeu, espero.

- E o meu é esse enorme de chocolate com flocos. Ebaaaaaaaaaaaa.

Terminamos os sorvetes e fomos pra casa. Quando ia me despedir do Cebola ele pegou minha mão e disse:

- Vai me ajudar a conquistar a Monica?

Dei um sorriso falso, e com a voz falha, e os olhos úmidos eu respondi:

- Claro.